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Revista Brasileira de Orientação Profissional

On-line version ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.21 no.2 Campinas July/Dec. 2020

https://doi.org/10.26707/1984-7270/2020v21n206 

10.26707/1984-7270/2020v21n206

ARTIGO

 

Barreiras à Carreira e Saúde Mental de Estudantes de Pós-graduação

 

Career-related Barriers and Mental Health of Graduate Students

 

Barreras en la Carrera y Salud Mental de Estudiantes de Posgrado

 

 

Juanita Hincapié PinzónI, 1; Guilherme Monteiro SanchezI; Wagner de Lara MachadoI; Manoela Ziebell de OliveiraI

IPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Barreiras à carreira são circunstâncias relativas ao indivíduo ou ao contexto que dificultam o avanço na carreira. Este estudo teve por objetivo identificar as barreiras de carreira percebidas por pós-graduandos brasileiros. Os 1619 participantes responderam a um survey on-line com instrumentos psicométricos para caracterização da amostra e uma questão aberta sobre barreiras à carreira enfrentadas. Realizaram-se análises estatísticas descritivas de média e frequência dos dados quantitativos e análises de redes semânticas dos dados linguísticos. Os principais resultados indicaram níveis moderados de depressão, ansiedade e estresse e que a “falta de tempo” e “o orientador acadêmico” são as barreiras mais recorrentes nos autorrelatos. Conclui-se que a orientação profissional e de carreira se faz relevante para auxiliar acadêmicos em formação a alcançarem sucesso e saúde mental em suas carreiras.

Palavras-chave: sucesso profissional; desenvolvimento profissional; papeis; autorrelato.


ABSTRACT

Career-related barriers are circumstances related to the individual or the context that hinder career advancement. This study sought to identify career barriers perceived by Brazilian graduate students. The 1619 participants answered an online survey with psychometric instruments and one open-ended question regarding the main career barriers faced. Descriptive statistical analyzes included mean, and frequency of the sample characterization data and semantic network analyzes of the linguistic data on the career-related barriers. The main results indicate moderate levels of depression, anxiety, and stress and that “lack of time” and “the academic advisor” are the most recurrent barriers in self-reports. We conclude that professional and career guidance is relevant to assisting academics in training to achieve career success and mental health.

Keywords: professional success; professional development; roles; self-report.


RESUMEN

Las barreras profesionales son circunstancias relacionadas con el individuo o el contexto que obstaculizan el avance profesional. Este estudio tuvo como objetivo identificar las barreras profesionales percibidas por estudiantes de posgrado brasileños. Los 1619 participantes respondieron una encuesta online con instrumentos psicométricos y una pregunta abierta sobre las principales barreras profesionales enfrentadas. Se realizaron análisis estadísticos descriptivos de los datos cuantitativos y análisis de redes semánticas de los lingüísticos. Los principales resultados indicaron niveles moderados de depresión, ansiedad y estrés, y que la “falta de tiempo” y “el asesor” son las barreras más frecuentes en los relatos. Se concluye que la orientación profesional y de carrera puede ayudar a los académicos a lograr el éxito en la carrera y a estar saludables mentalmente.

Palabras clave: éxito profesional; desarrollo profesional; roles; autoinforme.


 

 

Introdução

A educação superior no Brasil vem sofrendo reflexos da crise econômica e política dos últimos anos (Mancebo, 2017). Apesar de apresentar crescimento de 242% no período de 2004 a 2015, o investimento público na educação superior vem apresentando rápido declínio desde 2016, tanto em razão da Emenda Constitucional nº 95/2016, que impôs um teto e congelamento nos gastos federais (Canziani, Martins, & Santos, 2018), quanto de recorrentes cortes no orçamento universitário (Mancebo, 2017). Não obstante, essa realidade reflete-se em expressivos cortes nas bolsas e auxílios estudantis (Maués & Bastos, 2017), o que, por sua vez, prejudica o acesso e permanência na universidade (Maciel, Lima & Gimenez, 2016).

Atualmente, a concessão de bolsas e auxílios no país, bem como o financiamento de pesquisas, as notas no ranking da pós-graduação, o prestígio junto aos pares e a participação em eventos acadêmicos nacionais e internacionais estão estreitamente relacionados à quantidade e à qualidade das publicações dos pesquisadores e programas de pós-graduação, evidenciando a primazia da pesquisa. Como consequência, o paradigma da avaliação da pós-graduação é entendido, muitas vezes, como somativo (foco na avaliação externa) e não formativo (foco na avaliação interna). Isso porque os critérios não são definidos a priori, como estratégia para nortear o aperfeiçoamento dos programas de pós-graduação (PPGs), mas são usados para classificá-los competitivamente em relação aos outros. Como resultado, observa-se que a cooperação, base do desenvolvimento científico, passa a ceder lugar à competição e ao produtivismo (Patrus, Shigaki & Dantas, 2018).

Questões como essas podem ser compreendidas como barreiras de carreira, isto é, fatores impeditivos ou empecilhos no processo de desenvolvimento de carreira dos indivíduos (Swanson, Daniel & Tokars, 1996). Ainda que esses elementos tenham sido historicamente ignorados nas pesquisas de carreira, vêm ganhando crescente espaço nas últimas décadas (Mejia-Smith & Gushue, 2017). As barreiras são diversas, podendo ser externas, de cunho social, cultural e político, ou internas, de natureza psicológica (Mejia-Smith & Gushue, 2017; Urbanaviciute, Pociute, Kairys, & Liniauskaite, 2016).

Dentre as barreiras internas no contexto universitário, destacam-se os sintomas de depressão, ansiedade e estresse, bem como a ideação e tentativa de suicídio (Evans, Bira, Gastelum, Weiss, & Vanderford, 2018). A literatura científica aponta para uma crescente preocupação com a saúde mental dos estudantes universitários, em especial aqueles da pós-graduação (Evans et al., 2018; Lipson, Zhou, Wagner, Beck, & Eisenberg, 2016). Segundo Barreira, Basilico e Bolotnyy (2020), 18% dos estudantes desta etapa apresentam sintomas moderados ou graves de depressão e ansiedade. A literatura mostra um aumento na prevalência do sofrimento emocional desses estudantes nos últimos anos (Barreira et al., 2020; Duffy, Twenge & Joiner, 2019; Lipson et al., 2016).

Estas dificuldades psicológicas podem ser causadas ou intensificadas por barreiras externas, como as dificuldades no contexto laboral, que incluem papéis de trabalho, insegurança, controle e relacionamento com colegas, professores e supervisores (Levecque et al., 2017). Em especial, a sobrecarga de trabalho, caracterizada no contexto acadêmico pela elevação da demanda laboral, fruto do produtivismo acadêmico (Shigaki & Patrus, 2016), já tem efeitos negativos bem documentados na saúde mental dos pesquisadores, causando dificuldades no balanço entre a vida pessoal e acadêmica, bem como se apresentando como um dos maiores causadores de estresse entre a população universitária (Levecque et al., 2017).

A associação de altas demandas no contexto de trabalho, pressão por altas cargas laborais e produtividade acaba por esgotar os recursos dos estudantes, em especial o tempo. Isto pode gerar conflitos tanto no trabalho quanto na família, impactar o sucesso no trabalho (Wayne et al., 2017) e estar relacionado com a manifestação de doenças e diversas consequências negativas para os indivíduos, como o estresse, transtornos psicológicos comuns e até ideação e tentativa de suicídio (Biron et al., 2012; Faro, 2013; Levecque et al., 2017; López & Jiménez, 2019). A produção científica em grande volume, condição para que os programas de pós-graduação e instituições de ensino atinjam os indicadores e não tenham cortes no orçamento, submete os pesquisadores a dificuldades na conciliação com outras esferas da vida, tensiona as relações com o orientador e aumenta os níveis de mal-estar psicológico (Costa & Nebel, 2018; Faro, 2013; Rezende et al., 2018).

Um estudo realizado com 2.903 estudantes de mestrado e doutorado do Brasil, com o objetivo de problematizar a relação entre o desenvolvimento de doenças mentais e o ambiente da pós-graduação, evidenciou que os participantes referem sofrer cobranças intensas no que concerne à publicação de artigos em periódicos científicos (45%) e à participação em eventos e tarefas organizados pelo programa (36%). Demonstram, ainda, preocupação de perder o emprego ou a bolsa de estudos (63%), não conseguir terminar a tese/dissertação (62%), qualificar ou defender o trabalho dentro do prazo (63%) e não conseguir aprovação na defesa/qualificação (58%). Em relação à saúde mental dos participantes, os pesquisadores observaram que a grande maioria relatava ter sintomas de ansiedade (74%), enquanto 31% referiam sofrer com insônia e 25% informaram ter sintomas de depressão (Costa & Nebel, 2018).

Ainda assim, a literatura científica sugere recursos que podem auxiliar os estudantes a perseverarem frente às barreiras de carreira. O enriquecimento trabalho-família, por exemplo, denota a interferência positiva entre as experiências nos âmbitos familiar e laboral (Martins et al., 2017). Segundo Greenhaus e Powell (2006), espera-se que a combinação destas funções gere efeitos positivos ou negativos para o indivíduo, podendo ser determinante de sua saúde mental. Consequentemente, quando há maior envolvimento de qualidade das pessoas com o papel de família, os recursos desta esfera podem ser trasladados ao local de trabalho e vice-versa, gerando ganhos em ambos os âmbitos (Lapierre et al., 2018).

Além disso, destaca-se a percepção de sucesso na carreira, definido como a sensação de realização de objetivos na carreira (Guan et al., 2019). Este pode ser dividido entre realizações percebidas (sucesso intrínseco ou subjetivo) e reais (sucesso extrínseco ou objetivo) (Santos, 2016; Spurk, Hirschi & Dries, 2019). O sucesso econômico, por exemplo, é observável e consiste em resultados tangíveis como salário ou ascendência (Jaskolka, Beyer & Trice, 1985). Satisfação com o trabalho e percepção de realização, por sua vez, compõem aspectos subjetivos do sucesso (Santos, 2016; Spurk et al., 2019). Fatores como a conquista de metas e a sensação que se faz um trabalho útil tem um impacto positivo no indivíduo e seu entorno (Barreira et al., 2020).

As diferentes barreiras que os estudantes enfrentam, evidenciadas em estudos prévios, podem se configurar em um risco significativo para sua saúde física e mental, incorrendo em efeitos indesejáveis na percepção de sucesso, equilíbrio trabalho-família, oportunidades de carreira, entre outros (Daigle et al., 2019). A esse respeito, há evidências de que os recursos e experiências positivas desenvolvidos no domínio do trabalho podem beneficiar a família melhorando a qualidade de vida pessoal, enquanto a família pode beneficiar o trabalho, reduzindo o estresse e melhorando a qualidade de vida no trabalho (Gabardo-Martins, Ferreira & Valentini, 2016). Em contrapartida, o desequilíbrio na saliência de papéis ocupados e sua relação com o mal-estar psicológico estão relacionados com variáveis contextuais e da cultura acadêmica, que podem ser chave no mapeamento e prevenção das dificuldades e suas consequências (Evans et al., 2018; Hartung, 2002). Assim, o contexto acadêmico indica para o sistema pedagógico, político e social o desafio de lidar com a alta expectativa de sucesso, a competitividade e a produtividade e gera a reflexão a respeito das excessivas demandas e pressões sobre os pesquisadores (Santos et al., 2019).

O presente estudo teve por objetivo caracterizar os estudantes de pós-graduação brasileiros em relação às variáveis de sobrecarga de trabalho, percepção de sucesso, enriquecimento família-trabalho, dificuldades no contexto de trabalho e sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Buscou-se ainda identificar as principais barreiras ao desenvolvimento da carreira acadêmica percebidas por essa amostra.

 

Método

Trata-se de um estudo transversal, descritivo, que combina estratégias quantitativas e qualitativas de coleta e análise de dados. Os detalhes referentes ao método encontram-se descritos a seguir.

Participantes

Os participantes foram 1619 estudantes de mestrado e doutorado. Os critérios para inclusão na amostra eram que os participantes fossem residentes no Brasil e estivessem regularmente matriculados em uma Instituição de Ensino Superior (IES). A amostra não probabilística foi composta por 1619 participantes, com idades entre 20 e 58 anos (M = 29,7; DP = 5,80), matriculados em cursos de diferentes áreas do conhecimento, em pós-graduação de universidades Públicas Estaduais (28,0%), Públicas Federais (59,0%), Privadas (10,9%) e Comunitárias (1,50%), (0,60%) não foi reportado. Dentre os estudantes, 1144 (71,2%) eram mulheres, das quais 450 (39,3%) cursavam mestrado, 544 (47,5%) doutorado, 93 (8,10%) especialização, 57 (4,90%) não responderam e, do total, 70% eram bolsistas. Dentre os 462 homens (28,8%), 200 (43,3%) faziam mestrado, 208 (45,0%) doutorado, 28 (6,0%) especialização, 26 (5,70%) não responderam e, do total, 66,6% eram bolsistas. A maior parte dos participantes estudava nos estados de São Paulo (f = 374; % = 23,1); Rio de Janeiro (f = 258; % = 15,9), Rio Grande do Sul (f = 212; % = 13,0) e Minas Gerais (f = 188; % = 11,6).

Instrumentos

A coleta de informações sociodemográficas foi feita por meio de um questionário desenvolvido para uso nesta pesquisa, o qual tinha como finalidade caracterizar a amostra. As demais variáveis investigadas nesta pesquisa foram acessadas por meio das escalas descritas a seguir e pela seguinte questão aberta: “por favor, descreva a(s) sua(s) principal(is) dificuldade(s) com relação à pós-graduação”.

Para avaliar os sintomas psicológicos e utilizou-se a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse de 21 itens que acessam três subescalas (sintomas de depressão, de ansiedade e de estresse) compostas por sete itens cada. Este instrumento foi traduzido da Depression Anxiety Stress Scale (DASS-21), e adaptado à cultura brasileira por Vignola e Tucci (2014). Os indicadores de consistência interna são: α =0,92 (subescala de sintomas de depressão), α = 0,86 (subescala de sintomas de ansiedade) e α = 0,90 (subescala de sintomas de estresse) (Vignola & Tucci, 2014). A DASS-21 é respondida em uma escala tipo Likert de quatro pontos e resposta individual.

A Work-Family Enrichment Scale (Escala de Enriquecimento Trabalho-Família) foi desenvolvida por Carlson, Kacmar, Wayne e Grzywacz (2006) e adaptada para a realidade brasileira por Gabardo-Martins, Ferreira e Valentini (2016). O instrumento é constituído de 10 itens (cinco para avaliar enriquecimento trabalho-família e cinco para avaliar o enriquecimento família-trabalho), em formato de afirmativas que devem ser respondidas em uma escala tipo Likert de cinco pontos, que vai desde “Discordo fortemente” (1) até “Concordo fortemente” (5). O índice de consistência interna do instrumento foi α = 0,94.

O sucesso na carreira foi avaliado com a Escala Reduzida de Percepção de Sucesso na Carreira (EPSCR), construída e validada por Costa (2013) para uso no contexto brasileiro. O instrumento é constituído por 10 afirmativas acerca dos sentimentos de realização e satisfação da pessoa com a própria carreira, as quais acessam a percepção de sucesso subjetivo (cinco itens) e objetivo (cinco itens). O índice de consistência interna do instrumento foi α = 0,83.

As demandas de trabalho (sobrecarga de trabalho) foram medidas com a Escala de Sobrecarga de Trabalho de Spector e Jex (1998), adaptada para o contexto brasileiro por Gabardo-Martins (2017). O instrumento é composto de cinco itens que devem ser respondidos em uma escala tipo Likert de cinco pontos que vai desde “Nunca” (1) até “Várias vezes por dia” (5). Sua consistência interna foi de α = 0,89.

O contexto de trabalho foi avaliado a partir da Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho, construída e validada para o Brasil por Mendes e Ferreira (2008). A medida é composta por três fatores: Organização do Trabalho (índice de precisão α = 0,89); Condições de Trabalho (índice de precisão α = 0,72); e Relações Socioprofissionais (índice de precisão α = 0,87). Deve ser respondida em uma escala tipo Likert de 5 pontos, que vai desde: “Nunca” (1) até “Sempre” (5).

Procedimentos

Procedimentos Éticos

A coleta de dados deste estudo foi aprovada pelo Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Os indivíduos convidados a participar da investigação foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos. Os participantes deviam aceitar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para posteriormente responder aos instrumentos de coleta de dados. O estudo seguiu as condições estabelecidas pelas Diretrizes e Normas de Investigação com Seres Humanos em Ciências Sociais e Humanas na Resolução 510/1016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Coleta de Dados

Foram enviados e-mails de divulgação para as secretarias de diferentes cursos de pós-graduação com uma breve descrição do projeto, seus objetivos e explicações sobre a coleta de dados e a divulgação dos resultados. Para acessar o questionário on-line, primeiro foi necessário ler e fornecer o consentimento na plataforma virtual Qualtrics, onde foi apresentado para cada participante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa também foi divulgada em redes sociais, como o Facebook, e por e-mails convite a pesquisadores e estudantes que fazem parte da rede de contatos das pesquisadoras e dos membros da equipe de pesquisa. Para responder a todos os instrumentos da pesquisa, os participantes levaram, em média, 10,5 minutos.

Análise de dados

Primeiramente, excluíram-se da amostra total (n = 1665) os participantes que não haviam preenchido o instrumento de coleta de dados até o final (n = 46). Então, identificaram-se os dados faltantes (missings) no banco de dados dos participantes remanescentes (n = 1619). Estes foram substituídos pela média dos próprios participantes. Após, calculou-se os escores totais das dimensões e foram verificados os pressupostos de normalidade, homocedasticidade e esfericidade por meio das seguintes dimensões: Kolmogorov-Smirnov (p > 0,001); Shapiro-Wilk (p > 0,001) e KMO (> 0,80), teste de esfericidade de Bartlett (p < 0,001). Quando o pressuposto de homocedasticidade das variáveis ​​foi violado, utilizou-se a correção para heterocedasticidade.

O processamento estatístico das pontuações fatoriais gerados pelo método de regressão foi realizado por meio da extração minimum rank factor analysis (Shapiro & Ten Berge, 2002), utilizando a matriz de correlações policóricas (Holgado-Tello, Chacón-Moscoso, Barbero-García, & Vila-Abad, 2010) no programa estatístico R Studio. As pontuações geradas pelos instrumentos (questionário sociodemográfico e escalas para avaliar enriquecimento família-trabalho, sucesso na carreira, sobrecarga de trabalho, contexto de trabalho e os sintomas de depressão, ansiedade e estresse) foram submetidas a análises estatísticas descritivas de frequência, média e desvio-padrão também no software R Studio.

Os dados textuais das respostas abertas, por sua vez, foram submetidos à técnica quantitativa aplicada a dados textuais, através de análises descritivas e inferenciais com tratamento computacional dos níveis de análise linguística, chamada Processamento da Linguagem Natural (Natural Language Processing ou NLP). O NLP transforma uma entrada (linguagem escrita ou transcrita da fala em uso real) em uma saída textual (caracteres textuais ou transcrição explícita de um discurso oral) (Chanod, Hobbs, Hovy, Jelinek, & Rajman, 1999).

Por “linguagem natural” se entende aquela linguagem usada pelos seres humanos nas suas comunicações do dia-a-dia (Bird, Klein, & Loper, 2009). Empregando o pacote tm no R Studio (Feinerer, 2013), se criou um corpus de texto. Depois, a pré-análise ou preparação do texto envolveu a retirada de caracteres especiais e normalização do texto. Após a fase inicial, com o pacote qgraph (Epskamp, Cramer, Waldorp, Schmittmann, & Borsboom, 2012) do software estatístico R Studio e a descrição do texto feita em forma de frequências dos radicais mais empregados, utilizou-se um algoritmo de associação baseado na teoria de grafos para gerar uma matriz de adjacência representada por um objeto gráfico: a rede semântica.

As redes geradas são produto de uma análise quantitativa, e devem ser interpretadas a partir de uma abordagem qualitativa/abdutiva, uma vez que fornecem representações intuitivas da estrutura de cada rede. Nelas, as frequências dos radicais mais usados são representadas por vértices (ou círculos), enquanto as arestas (ou linhas) indicam as relações entre eles. A intensidade das arestas mostra a magnitude das associações, enquanto sua cor, vermelho ou azul, representa a direção (negativa ou positiva, respectivamente) das associações. O gráfico aplica um algoritmo de posicionamento (Fruchterman & Reingold, 1991), que faz com que as variáveis sejam aproximadas ou expelidas em função de seu grau de associação. A rede semântica resultante indica as correlações bivariadas, baseadas na matriz de proximidade dos radicais, isto é, co-ocorrência conjuntas, ou probabilidade conjunta (joint probability) dos radicais das palavras.

Finalmente, as comunidades ou grupos de vértices com maior probabilidade de se conectarem entre si do que com membros de outros grupos (Fortunato & Hric, 2016). Os clusters de agrupamento entre esses radicais foram feitos mediante o algoritmo de detecção de comunidade Walktrap, disponível no pacote igraph do R Studio (Nerurkar, Chandane & Bhirud, 2019), que evidenciam de forma mais clara formação dos conjuntos que reconstroem as problemáticas mais significativas para os estudantes. Cada cluster é representado por uma cor diferente para facilitar a compreensão das relações segundo a associação entre as frequências dos radicais nos comentários textuais.

 

Resultados

As análises estatísticas realizadas pretendem caracterizar a amostra investigada e mapear as barreiras à carreira percebidas por estudantes de educação superior. Os resultados foram organizados em três blocos em função das análises realizadas: 1) dados descritivos da amostra, 2) frequência de citação dos radicais linguísticos referentes às barreiras à carreira percebidas e 3) rede semântica dos radicais linguísticas.

Dados descritivos da amostra

A Tabela 1 apresenta as pontuações dos participantes nas escalas utilizadas para caracterizar a amostra e, quando disponíveis, informações sobre os estudos de validação dos instrumentos. Observa-se que os escores obtidos nas escalas de enriquecimento do trabalho para a família e de enriquecimento da família para o trabalho são menores do que os observados no estudo de validação do instrumento, especialmente para a última dimensão, o que sugere que os estudantes de pós-graduação podem ter uma dificuldade maior para lidar com as demandas de ambos os contextos do que a amostra do estudo original composta por trabalhadores brasileiros, de ambos os sexos (a maioria mulheres) e profissões variadas.

 

 

Em relação ao sucesso, não foi possível ter acesso aos dados relativos à amostra do estudo original. Todavia, observa-se que as médias da amostra do presente estudo estão próximas ao ponto médio da escala tipo Likert de cinco pontos para o sucesso total. O mesmo não ocorre com as dimensões, tomadas individualmente. Esse resultado sugere que os participantes percebem ter mais sucesso subjetivo do que objetivo na carreira acadêmica.

Em relação ao contexto de trabalho, a média observada também se encontra abaixo da média da escala (M = 2,81). Segundo os autores do instrumento, um escore 2,3 a 3,7 em contexto de trabalho indica uma “situação-limite”, capaz e potencializar o mal-estar no trabalho e ampliar o risco de adoecimento. Evidencia, portanto, um estado que requer atenção e providências de curto e médio prazo.

Merece destaque, dentre os resultados descritivos, a média elevada apresentada pela amostra com relação aos sintomas de depressão, ansiedade e estresse (obtidos por meio da DASS Total). Os escores obtidos pela amostra indicam, segundo a tabela de interpretação dos escores da DASS-21 presente no artigo de Vignola e Tucci (2014), a presença de sintomas moderados de adoecimento mental entre os estudantes de pós-graduação.

Frequência de citação dos radicais linguísticos referentes às barreiras à carreira percebidas

A Figura 1 apresenta o resultado da análise da frequência dos 30 dados linguísticos (radicais de palavras) mais referidos nos relatos que falam sobre as barreiras à carreira enfrentadas pelos estudantes, as quais podem se tornar fatores de risco significativos na pós-graduação. O radical “falt” apresentou a maior ocorrência, sendo que é a que mais aparece em combinação com outras: “falta de tempo”, “falta de orientação”, ”falta de prazo”, “falta de bolsa”; seguidos de “tempo” e “trabalho”. Da mesma maneira, a palavra “não”, que ocupa o quarto lugar de ocorrência, cumpre a sua função em conjunto com outras. Por exemplo: “não ter bolsa”, “não ter recursos”, “não ter prazo” “não conseguir conciliar...”, “não ter conciliação entre...”.

 

 

Rede semântica dos radicais linguísticos

A Figura 2 representa a rede semântica dos radicais linguísticos que constituem o sistema. Os nodos representam os radicais nas frases dos estudantes com frequências mais representativas e quando associados fornecem representações intuitivas da estrutura das frases que conformam a rede. A distância entre os nodos e amplitude da linha representam a força da associação entre as frequências dos radicais, razão pela qual o conjunto de nodos não faz referência a uma frase específica e sim a características repetitivas na estrutura semântica das problemáticas dos estudantes. Por isso, nesta rede, os radicais das palavras podem ser lidos em conjunto, conformando as barreiras à carreira que são repetitivas entre os estudantes. A rede se divide em clusters; a fim de explicar os subagrupamentos na rede, estes são organizados por um algoritmo de comunidade baseado na proximidade dos nodos; isto para diferenciar melhor os conteúdos a partir das relações entre eles. A ordem dos clusters e posicionamento na rede respondem ao dito algoritmo.

 

 

Para facilitar a compreensão da Figura 2, cada cluster tem do lado exemplos das frases que lhes constituem. Os exemplos não especificam a força da associação correspondente em si mesma devido a que os nodos na rede não representam frases pontuais, e sim o conjunto das relações entre frequências dos radicais que compõem a totalidade das problemáticas referenciadas pelos estudantes. Assim, a Figura 2 apresenta, ao redor, frases consideradas ilustrativas de cada um dos clusters. A fim de facilitar sua localização e sua compreensão, as cores das frases correspondem ao cluster que representam.

Dentre os clusters, destacam-se: “falta de recursos financeiros”, “conciliação trabalho/estudo”, “muita exigência (acadêmica) – poucas atividades (de lazer e em outros âmbitos da vida diferentes da pós graduação)”. A centralidade do radical “concili”: conciliar/conciliação, que é o nodo com mais arestas associadas (ou mais relacionada com outras barreiras referidas pelos estudantes), denota as dificuldades que são observadas também nas análises descritivas das variáveis estudadas. Uma interpretação qualitativa dos dados observados permite associar os conteúdos dos clusters às demais variáveis investigadas neste estudo.

Mais especificamente, o cluster verde constituído pelos radicais “falta” e “baixo” reúne também radicais que fazem referência a bolsas, recursos, financeiro e pesquisa, remetendo a critérios objetivos de avaliação do sucesso. Já o cluster amarelo, que congrega radicais como exigência, produtividade, cobrança, pressa, excesso e disciplina, fazem referência às características do trabalho dos pós-graduandos. Complementarmente, o cluster roxo, que combina os radicais referentes às atividades, à orientação, ao professor, à pós-graduação e ao programa, remete aos relacionamentos sociais no trabalho e, portanto, às características do trabalho. Por fim, o cluster azul, que combina os radicais “não” e “ter” com radicais que remetem à conciliação, ao tempo ao estudo e ao trabalho, além da ansiedade, remetem ao enriquecimento que os diferentes domínios da vida dos estudantes podem trazer para outros, por meio da conciliação de papéis e demandas.

 

Discussão

Os resultados apresentados neste estudo evidenciam a presença de sintomas moderados de depressão e ansiedade e sintomas leves de estresse entre os participantes (Vignola & Tucci, 2014). Esses achados vão ao encontro dos observados em outros estudos realizados com amostras de pós-graduandos, referidos previamente (Barros, 2012; Evans et al., 2018). Costa e Nebel (2017) atribuem-nos ao fato de que o ambiente da pós-graduação apresenta exigências e uma cobrança para que os estudantes participem de eventos acadêmicos e apresentem suas produções, escrevam e publiquem artigos em periódicos científicos qualificados, além de elaborar sua dissertação ou tese. Segundo os autores, essas demandas exigem alto grau de envolvimento cognitivo e emocional, podendo resultar em distúrbios mentais, principalmente em indivíduos mais vulneráveis.

Essa constatação remete a outro resultado apresentado, que diz respeito ao sofrimento que decorre das dificuldades para conciliar as atividades do trabalho, estudo, lazer e família. Este fenômeno é apresentado pelos pós-graduandos no que denominaram “falta de tempo”, condensação que sinaliza o conflito resultante entre o trabalho e os diferentes papéis que precisam ocupar. A centralidade na rede da palavra “conciliação”, relacionada nos relatos, como mostram as análises com o tempo dedicado ao estudo, às disciplinas, ao trabalho, à pressão por resultados, que deriva em cobrança e ansiedade, evidencia a importância de identificar esses aspectos e gerar ações, tanto globais quanto específicas, para prevenir seus efeitos. Segundo Wayne (2017), tal desequilíbrio pode afetar a saúde mental dos estudantes, bem como o alcance dos objetivos propostos. Ademais, a interferência nas demandas familiares pode gerar conflitos que se estendem ao trabalho através da exaustão emocional (Wayne, 2017).

Chama a atenção que, embora a média geral de enriquecimento tenha sido próxima ao ponto médio da escala, os resultados obtidos por dimensão foram inferiores aos do estudo de validação do instrumento utilizado neste estudo. Gabardo-Martins et al. (2016) explicam que o domínio em que o enriquecimento tem origem é o que mais se beneficia, pois os indivíduos tendem a atribuir as experiências positivas que vivenciam aos recursos gerados no domínio de origem. Neste estudo, as médias mais baixas dos participantes foram no enriquecimento da família para o trabalho, o que indica que a vivência na pós-graduação não contribui tanto para experiências positivas e satisfatórias junto à família quanto na direção oposta.

No que tange ao sucesso, é necessário destacar que se trata de um construto socialmente desenvolvido por múltiplos contextos históricos e culturais (Spurk et al., 2019). Os resultados das análises descritivas da amostra evidenciaram que, embora tenham escores médios de percepção de sucesso, seus escores na dimensão de sucesso objetivo são mais baixos do que a média do instrumento. Complementarmente, os participantes deste estudo referem barreiras relacionadas à ausência de bolsas e de recursos financeiros para a realização de suas pesquisas. Esses elementos podem ser tomados como indicadores de sucesso objetivo, uma vez que este diz respeito a aspectos observáveis mesmo por outros pesquisadores (Costa, 2013).

Os resultados deste estudo vão ao encontro daqueles observados por outros pesquisadores, que indicam que diferentes aspectos da vivência da pós-graduação, como avaliação constante, atmosfera competitiva, insegurança financeira, relação com os orientadores, professores e colegas, estão intimamente relacionados com a sobrecarga de trabalho e o embate entre trabalho e vida que fomentam um contexto de sofrimento (Levecque et al., 2017). Suportam também a ideia de que os estados emocionais negativos de ansiedade, depressão e estresse apresentados no ambiente acadêmico estão relacionados com fenômenos do produtivismo acadêmico (Shigaki & Patrus, 2016).

Por isso, é preciso considerar os fatores contextuais, sua potencial conexão com as experiências no trabalho e interferência no processo de aprendizado e na saúde mental, tanto de professores quanto de alunos (Barreira et al., 2018). Combinados aos resultados relativos à percepção de sucesso no trabalho, estes remetem aos observados em outros contextos, em que os excessos nas cargas de trabalho ligadas à busca de reconhecimento por parte de colegas, melhores salários e propostas de emprego, podem levar as pessoas a aumentarem suas jornadas de trabalho e apresentarem dificuldades para conciliar as demandas da família e o trabalho (Spurk et al., 2015).

A análise das barreiras que os indivíduos percebem em relação ao desenvolvimento da sua carreira, bem como das estratégias que utilizam para lidar com elas, fornecem informações que podem ser importantes para a estruturação de intervenções promotoras de atitudes e comportamentos facilitadores da gestão da carreira (Cardoso & Marques, 2008). Os conteúdos trazidos pelos participantes deste estudo permitiram identificar barreiras relacionadas principalmente à percepção do próprio sucesso. Algumas variáveis intervenientes como a falta de tempo para dar conta das múltiplas responsabilidades e conciliar as atividades acadêmicas com a família, amigos e lazer, são problemáticas que afetam os estudantes (e.g. “conciliar trabalho, pesquisa e família”, “Falta de tempo”). Igualmente, dificuldades advindas do contexto como a falta de recursos financeiros e outros fatores referentes aos prazos apertados, cobranças e exigência por produtividade (e.g. “Sobrecarga e estresse”, “Pressão para publicar”), também têm sido relacionadas por outros pesquisadores com sintomas psicológicos (Levecque, 2017). Da mesma forma, as relações sociais do trabalho, competitividade, falta de orientação e outras situações menos referenciadas como o machismo e o assédio, configuram barreiras importantes para os pós graduandos (e.g. “Falta de interação entre membros de laboratório de pesquisa”, “machismo”, “assédio moral”). Estas são problemáticas recorrentes para os acadêmicos, que, além disso, referiram menor diversidade de barreiras internas (e.g “Síndrome do impostor”).

Aprofundar a compreensão sobre as concepções e práticas do contexto de trabalho ajuda a identificar a sua influência nas representações do indivíduo sobre o entorno. Permite também clarificar resultados como a falta de recursos e dificuldades com o orientador de acordo a caráter dinâmico dos entornos laborais, organização do trabalho e relações socioprofissionais desde a perspectiva dos pós-graduandos e das dificuldades por eles manifestas (Ferreira & Mendes, 2008). Neste sentido, destaca-se a importância dos fatores promotores da saúde mental nas práticas pedagógicas e esforço conjunto no reconhecimento da diversidade nos processos de subjetivação e formas de existir dos estudantes de pós-graduação. É importante, portanto, pontuar que obter o título de mestre ou doutor/a significa alcançar o topo da trajetória acadêmica, e requer enfrentar as dificuldades intrínsecas à vida acadêmica. Isso significa dizer que alcançar tal titulação é, antes de tudo, uma questão de escolha de carreira (Costa & Nebel, 2018).

Contudo, para alguns estudantes, as barreiras apresentadas neste estudo podem se mostrar de difícil transposição. Por isso, é essencial pensar estratégias capazes de minimizar o sofrimento mental dos pós-graduandos do país. Exemplos citados pela literatura incluem a criação de unidades de atendimento psicológico especializado com profissionais da saúde (psiquiatras, psicólogos) aos mestrandos e doutorandos e a promoção de eventos acadêmicos que debatam este tema (Costa & Nebel, 2018).

No campo da OPC, as barreiras de carreira podem ser os motivos da busca por auxílio. Ao trabalhar as barreiras de carreira, pode ser muito produtivo compreender a história de vida dos indivíduos, e como percebem e lidam com as barreiras por meio de sua narrativa. O emprego desta estratégia permite resgatar a natureza inclusiva das trajetórias, significados e sentidos, potencializando a participação dos indivíduos na dimensão processual dos fenômenos (Barros, 2012). Isto é determinante na construção de carreira, já que as experiências, condições e processos particulares de cada realidade constituem os processos de vida nos diferentes contextos em que um indivíduo se relaciona (Duarte et al., 2010).

Algumas estratégias tangíveis para auxiliar os pós-graduandos a lidarem com as dificuldades na conciliação e transições entre os papéis desempenhados, envolvem implementar estratégias de apoio na adaptação e alcance das metas dos estudantes, bem como ações que os auxiliem a melhor compreender e gerir as condições de trabalho de forma a minimizar a sobreposição de tarefas e os efeitos que isto gera (Savickas & Porfeli, 2012). Outra possibilidade é auxiliar os indivíduos nas dificuldades que podem surgir na construção da vida laboral a partir da reflexão sobre as potencialidades no contexto em que está inserido, a fim de que possam solucionar problemas mediante o desenvolvimento e aplicação de estratégias de promoção pessoal (Savickas et al., 2009).

 

Considerações Finais

O presente estudo teve como objetivo caracterizar os estudantes de pós-graduação brasileiros em relação às variáveis de enriquecimento família-trabalho, sucesso percebido, contexto de trabalho, sobrecarga de trabalho e sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Buscou ainda identificar as principais barreiras ao desenvolvimento da carreira acadêmica percebida por essa amostra. Os resultados permitiram observar a presença de diversos elementos percebidos como barreiras e que estes estão relacionados principalmente a aspectos externos e de cunho social, cultural e político. Tais achados contribuem para a identificação de oportunidades de intervenção e auxílio aos estudantes de pós-graduação, no sentido de dar continuidade às suas trajetórias de carreira.

Todavia, algumas limitações deste estudo impedem de ampliar ainda mais suas contribuições. A primeira delas diz respeito ao caráter transversal e descritivo dos dados coletados e apresentados, que permitem apenas conhecer a realidade investigada, sem estabelecer relações de predição e causalidade entre as variáveis. Outra limitação diz respeito à constituição da amostra, que, embora ampla, não é representativa de todos estados brasileiros.

Sugere-se, portanto, que futuros estudos considerem a possibilidade de associar os aspectos individuais em saúde com variáveis sociais, culturais e biológicas que possam contribuir com características mais específicas, a fim de moderar a influência destes fatores na saúde mental dos estudantes. Igualmente, estudos longitudinais acerca das barreiras à carreira percebidas, bem como as estratégias empregadas para enfrentá-las, podem contribuir para embasar a formulação de intervenções capazes de atender às demandas dos acadêmicos e promover sua saúde mental.

A susceptibilidade no bem-estar emocional dos acadêmicos representa um chamado para o estabelecimento de pautas em saúde mental, desenvolvimento de recursos para a construção de carreira e reflexão acerca da cultura acadêmica sustentada no produtivismo (Evans et al., 2018). Estudar, compreender e refletir a complexidade e multidimensionalidade da saúde mental nos ambientes acadêmicos, como uma perspectiva que promove ferramentas no desenvolvimento de carreira das pessoas, é necessário. Em outras palavras, as instituições têm condições para e devem promover práticas de ensino que fomentem a construção de sentido, para que os alunos possam enfrentar as barreiras que se apresentam à construção de suas carreiras e contribuir para a promoção de um contexto de trabalho mais colaborativo, produtivo e saudável na Academia.

Por fim, apesar das limitações, os resultados observados se somam aos obtidos por diversos pesquisadores que evidenciam a importância de gerar propostas para mitigar o impacto dos fatores de risco aos quais estão expostos os acadêmicos no Brasil e no mundo, demandam a problematização do desestímulo de políticas governamentais para ensino superior, o desequilíbrio da demanda e mão-de-obra, o apogeu de contratos em curto prazo, os cortes de orçamento e o aumento de requisitos para a obtenção de recursos para a pesquisa (Walsh & Lee, 2015).

 

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Endereço para correspondência:
Juanita H. Pinzón, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Escola de Ciências da Saúde, Universidade Católica do Rio Grande do Sul. (PUCRS) - Av. Ipiranga, 6681, Prédio 11, Sala 902 - Bairro Partenon, Porto Alegre - RS, 90160-091.

Recebido: 17/03/2020
1ª reformulação: 17/07/2020
2ª reformulação: 31/08/2020
Aceito: 01/09/2020

 

 

1 O primeiro autor recebeu suporte financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, que visa garantir a qualidade dos programas de pós-graduação brasileiros.
Sobre os autores:
Juanita Hincapié Pinzón é psicóloga formada da Universidade de Antioquia (UdeA). Especialista em Psicologia Organizacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atualmente é bolsista CAPES de doutorado da mesma instituição, e integra o Grupo de Estudos sobre Desenvolvimento de Carreira (GEDC) e atua como colaboradora voluntária no Grupo de Avaliação em Bem-Estar e Saúde Mental. E-mail: hincapiepjuanita@gmail.com
Guilherme Monteiro Sanchez é psicólogo formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e mestrando em Epidemiologia Clínica e Psicossocial na Universidade de Groningen. Atua como colaborador voluntário no Grupo de Estudos sobre Desenvolvimento de Carreira (GEDC) e no Grupo de Pesquisa Educação e Violência (GruPEV). E-mail: guilhermemsanchez@gmail.com
Wagner de Lara Machado é psicólogo, mestre e doutor em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua como professor do curso de graduação e do programa de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Coordenador do grupo Avaliação em Bem-estar e Saúde Mental. E-mail: wag.lm.psico@gmail.com
Manoela Ziebell de Oliveira é psicóloga, mestre e doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua como professora do curso de graduação e do programa de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (nível 2). É presidenta da Associação Brasileira de Orientação Profissional (gestão 2019-2021) e integrante do GEDCast, um podcast cujo objetivo é compartilhar pesquisas científicas na área de carreira com o público em geral. E-mail: manoela.ziebell@gmail.com

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