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Revista Brasileira de Orientação Profissional

On-line version ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.22 no.2 Campinas July/Dec. 2021

https://doi.org/10.26707/1984-7270/2021v22n210 

10.26707/1984-7270/2021v22n210

SEÇÃO ESPECIAL

 

A elaboração do material didático Projeto de vida: relato de uma experiência1

 

 

Cassia Moraes Targa LongoI; Simone Cristina SucciI; Viviane Pedroso Domingues CardosoI

ISecretaria da Educação do Estado de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 

Não é possível refazer um país, democratizá-lo, humanizá-lo e torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda (Freire, 1996, p.67)

Todos as pessoas precisam de projetos que lhes deem condições de materializar uma vida que tenha sentido e significado, uma vez que, segundo Bauman (2015), a falta de sonhos e projetos leva à morte da personalidade. A educação é uma ferramenta valiosa para dar vida aos sonhos e projetos do indivíduo quando reconhece seus estudantes como sujeitos protagonistas de uma vida digna que possibilite o desenvolvimento de sua consciência, autonomia e valores humanos que os tornem capazes de se libertar dos estereótipos sociais. A construção do Projeto de Vida oportuniza ao adolescente a reflexão sobre quem ele é e quem ele gostaria de ser e o ajuda a traçar planos para que alcance seus ideais. Nessa visão, o sentido de Educação Integral se entrelaça aos princípios do Projeto de Vida ao defender o desenvolvimento do estudante em suas dimensões intelectual, física, socioemocional e cultural, elencando competências e habilidades essenciais para sua atuação na sociedade contemporânea e seus cenários complexos, multifacetados e incertos.

Como educadoras, entendemos que em um processo integral de ensino, o estudante deve ser visto de forma sistêmica e reconhecido em todo o seu potencial de desenvolvimento. Para tanto, é necessário a flexibilidade para pensar em estratégias metodológicas que promovam o protagonismo, a consciência e a autonomia dos estudantes. Assim, surgiu o nosso interesse em participar da elaboração material didático Projeto de Vida, como componente do Currículo Paulista em 2019.

A elaboração do material didático foi um momento de suma importância por nos oferecer o estatuto de agentes responsáveis por um processo de ensino que possibilita a efetiva elaboração/ transformação de vidas, por meio de práticas didáticas. Recebido o desafio, o Grupo de trabalho partiu para a produção do material, enfrentando diversos fatores que, mais tarde, foram considerados essenciais para que o processo tivesse sucesso e desse os frutos esperados tanto por parte dos estudantes quanto dos professores.

Ademais é importante lembrar que a partir da implementação do Programa Inova Educação3, a construção de um novo material de Projeto de Vida trouxe o desafio de que esse seria o suporte didático que subsidiaria metodologicamente a expansão do componente para todos os estudantes dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio da rede estadual. Desde 2020 o componente de Projeto de Vida tem feito parte da grade curricular de cerca de dois milhões e seiscentos mil estudantes que receberam os materiais didáticos4 construídos a partir das reflexões que apresentamos neste artigo. A seguir abordamos os seguintes tópicos: (a) Educação Integral e Projeto de Vida; (b) Projeto de Vida como componente curricular; (c) o grupo de trabalho que preparou o material didáticos; e (c) as etapas desenvolvidas no grupo de trabalho.

Educação Integral e Projeto de Vida

Pensar em educação integral é, segundo Gonçalves (2006), buscar uma formação mais completa possível para o indivíduo, ainda que consideremos não haver hegemonia ao que chamamos formação completa, ou seja, nos pressupostos teóricos e abordagens metodológicas que a constituem. Ao discorrer sobre a temática da educação integral Gonçalves (2006) se apoiou no conceito

que considera o sujeito em sua condição multidimensional, não apenas na sua dimensão cognitiva, como também na compreensão de um sujeito que é sujeito corpóreo, tem afetos e está inserido num contexto de relações. Isso vale dizer a compreensão de um sujeito que deve ser considerado em sua dimensão biopsicossocial. (Gonçalves, 2006, p.59)

Para a realização da educação integral, conforme as concepções do autor, "a educação escolar precisa ser repensada, de modo a considerar as crianças e os adolescentes sujeitos inteiros, levando em conta todas as suas vivências e aprendizagens".

O autor salienta que adotar tais práticas não significa trabalhar apenas com o que os alunos querem, "e, sim, com aquilo que é proposto como conteúdo escolar, curricular, só poderá ser significativo se dialogar com os interesses do grupo, seus conhecimentos prévios, seus valores e seu cotidiano".

Em São Paulo, a concepção da educação integral como pilar para o desenvolvimento do sujeito como um todo, contemplando seus aspectos físicos, cognitivos, socioemocionais e culturais, constituiu o Programa de Ensino Integral. Na educação integral, defende-se que a escola deve proporcionar a formação de sujeitos autônomos, solidários e competentes nas dimensões pessoal, social e profissional, por meio da organização do currículo e em diferentes tempos e espaços de aprendizagem adequados para a consolidação dos conhecimentos e dos valores para a vida. As escolas que aderem e integram o Programa de Ensino Integral têm como missão ser um núcleo formador de jovens, primando pela excelência na formação acadêmica potencializando o projeto de vida dos estudantes ao enaltecer a formação ética, social, além do desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.

O Programa de Ensino Integral - PEI - foi implementado nas escolas, pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, nos anos de 2011 e 2012, amparado pela LC nº 1.164, de 04 de janeiro de 2012, alterada pela LC nº 1.191, de 28 de dezembro de 2012, tendo como um dos pontos de partida a escuta da rede que clamava por uma escola pública de qualidade com resultados educacionais de sucesso. Baseado nos objetivos do Programa Educação Compromisso de São Paulo, o PEI propõe-se ser reconhecido internacionalmente, até 2030, como uma rede de ensino integral pública e de excelência, entre as 25 melhores do mundo. As premissas do programa fundamentam-se em cinco pontos: I. Formação continuada; II. Corresponsabilidade; III. Protagonismo Juvenil; IV. Excelência em Gestão; V. Replicabilidade. (Woorwald & Souza, 2014, p.35).

A implementação do PEI iniciou-se com 16 escolas de Ensino Médio e, em 2013, ampliou para mais 22 escolas de Ensino Fundamental e, desde então, vem passando por um processo de expansão no número de escolas participantes. Em 2020, um número maior de escolas optou pela adesão ao PEI e atualmente o Programa alcançou o número de 1077 escolas participantes, que funcionam em dois modelos de jornada (9 horas com um turno e 7 horas com dois turnos) e que atendem estudantes das etapas do Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) e Ensino Médio.

Desde a sua implementação, o Programa de Ensino Integral adota os componentes da Base Nacional Comum Curricular - BNCC - e a Parte Diversificada5, tendo como eixo central o apoio ao desenvolvimento do Projeto de Vida6 dos estudantes, alicerçados nos princípios pedagógicos, a saber: os quatros pilares da educação7, a Pedagogia da Presença, Educação Interdimensional e o Protagonismo Juvenil. Desse modo, o Programa estrutura-se para assegurar aos estudantes: formação acadêmica de excelência; formação de competências para o século XXI; e formação para a vida. Assim, o trabalho com esses valores perpassa todo o Projeto Pedagógico da escola, em especial as aulas de Projeto de Vida, pelas quais o estudante tem a oportunidade de refletir acerca de sua identidade, seus propósitos e suas escolhas pessoais e profissionais.

O Projeto de Vida como componente curricular

O Projeto de Vida é o componente curricular considerado "o espírito da escola", pois tem o objetivo de levar o estudante à reflexão a fim de que construa o seu projeto de vida. Entre os anos de 2014 a 2018, as aulas de Projeto de Vida na escola do Programa de Ensino Integral (PEI) se organizavam assim: os estudantes do Ensino Fundamental – Anos Finais – e os estudantes do Ensino Médio tinham duas aulas semanais, cujos objetivos são descritos a seguir.

1) Desenvolver as habilidades e competências do século XXI, previstas nos Quatro Pilares da Educação.

2) Construir conhecimentos e valores que permitam a tomada de decisão.

3) Desenvolver a responsabilidade por suas escolhas, compreendendo que as escolhas que fazem na atualidade influenciam o seu futuro.

4) Perceber a importância da escolaridade para que seus planos futuros possam ser realizados.

5) Vislumbrar diferentes cenários e possibilidades para sua formação acadêmica e profissional.

6) Aprender a projetar e traçar caminhos entre o hoje e o amanhã.

7) Colocar em prática todas as possibilidades de vivência do Protagonismo.

8) Construir o seu Projeto de Vida.

Em 2019/2020, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo institui o Programa Inova Educação em todas as escolas estaduais da rede pública, por meio do Currículo Paulista. Tal programa foi implementado pela rede estadual em 2020, cujo propósito é oferecer oportunidades para todos os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, trazendo em seu escopo três componentes curriculares: (a) Projeto de vida, (b) Tecnologia e Inovação, e (c) Eletivas (São Paulo, 2019, Res. SE 66). Para a incorporação dos três componentes na grade curricular, alterou-se a duração das aulas que eram de 50 minutos e passaram a 45 minutos e, ainda, estendeu-se o tempo de permanência dos estudantes nas escolas (15 minutos/dia). Dessa forma, as modificações contribuíram para o aumento do número de aulas diárias, que passaram de 6 para 7 aulas/dia.

O componente de Projeto de Vida, fundamentado na competência geral 6 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reafirmada no Currículo Paulista, tem como premissa para a Educação Básica o que se segue.

Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. (Brasil, 2018, p. 09).

O componente Projeto de Vida, agora oferecido à maioria dos estudantes da rede estadual de educação, propõe-se a ser a mola propulsora que se articula e integra com os demais componentes curriculares, irradiando os desejos e sonhos dos estudantes das escolas de Ensino Fundamental (anos finais) e Ensino Médio, além de contribuir na implementação do Currículo Paulista e por consequência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na rede estadual de ensino. Com a finalidade de contemplar os anseios que o componente Projeto de Vida demanda, o material didático propõe atividades educativas intencionais que permitem ao estudante construir e potenciar seus sonhos durante sua trajetória na educação básica, de modo a se engajar nos projetos que envolvem a sua comunidade e a contribuir com a melhora do entorno para, assim, definir metas a curto, médio e a longo prazo para a sua vida. Sob essa perspectiva, as atividades pedagógicas do material primam por desenvolver o autoconhecimento, a identidade, a percepção de si e do outro, no apoio ao significado da vida familiar, comunitária e profissional. É importante ressaltar que no processo de ensinar e aprender, o professor também revê, reflete e reconstitui o seu projeto de vida, uma vez que coparticipa de tomadas de decisões, de escolhas e de planejamentos da escalada de seus sonhos. A partir das mudanças nas matrizes curriculares e da homologação das Diretrizes Curriculares de Projeto de Vida (São Paulo, 2020), os Cadernos do Professor e do Aluno passaram por reformulações: até então (quando o componente era ofertado apenas nas escolas PEI), havia um único exemplar contendo sugestões de atividades para os anos/séries; em 2019, porém, o material foi desmembrado em oito exemplares, de modo a contemplar os professores e os estudantes, bimestralmente.

O Grupo de trabalho do material

A elaboração do componente curricular Projeto de Vida, que integra os Cadernos do Professor e do Estudante, foi realizada por profissionais da Secretaria de Educação de São Paulo (COPED e EFAPE8), com o apoio de integrantes do Instituto Corresponsabilidade pela Educação (ICE) e do Instituto Ayrton Senna (IAS). Além disso, contou com a leitura crítica da própria rede estadual, representada pela participação de Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico (PCNP) das Diretorias de Ensino, que se atentaram aos aspectos de conteúdo e clareza textual. Os representantes desses grupos passaram a compor o Grupo de Trabalho (GT), então composto por dez profissionais da educação, com idades entre 30 a 50 anos, que participaram de encontros semanais ao longo do 2º semestre de 2019, nas dependências da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

As etapas desenvolvidas no grupo de trabalho

Inicialmente, o planejamento para a realização dos encontros do grupo envolveu: acolhimento; leituras e discussões sobre os temas da Educação Integral, da juventude e adolescência e das competências socioemocionais; execução de tarefas e encaminhamentos de demandas oriundas das reuniões, planejamento de mapa de atividades e apresentação de situações de aprendizagem. Foi possível perceber, logo nos primeiros encontros, algumas divergências teóricas entre os participantes acerca das concepções de Educação Integral, de Currículo, das propostas da BNCC e Currículo Paulista, no tangente ao componente Projeto de Vida. Ainda que tais discussões parecessem um entrave para o fluxo de trabalho, consideramos tais divergências importantes para que se ampliassem nossas reflexões e norteassem os caminhos a serem percorridos, com vistas aos propósitos da SEDUC-SP, uma vez que

do ponto de vista da ação comunicacional, ensinar não é, tanto, fazer alguma coisa, mas fazer com alguém alguma coisa significativa: o sentido que perpassa e se permuta em classe, as significações comunicadas, reconhecidas e partilhadas, são, assim, o meio de interação pedagógica (Tardif 2008, p. 249).

Desse modo, na perspectiva do diálogo e das trocas de interações pedagógicas, tais como proposto por Tardif (2008), fizemos um levantamento bibliográfico da literatura para disseminar os conhecimentos e saberes do grupo, os quais se configuraram em momentos formativos para os integrantes, por concordarmos que

não aprendemos a partir da experiência; nós aprendemos pensando sobre a nossa experiência [...]. Um caso torna material bruto de experiência de primeira ordem e coloca-a narrativamente em experiência de segunda ordem. Um caso formativo é uma versão relembrada, recontada, reexperenciada e refletida de uma experiência direta. O processo de relembrar, recontar, reviver e refletir é o processo de aprender pela experiência (Shulman, 1996, p. 208).

Pensando nisso, estabelecemos um cronograma de encontros para o cumprimento de tarefas para cada integrante, com base nas Diretrizes Curriculares de Projeto de Vida9. Para que o material fosse bem elaborado, foi importante conhecer o perfil público-alvo, ou seja, dos professores e dos estudantes; para isso, foi fundamental considerar a participação dos Professores Coordenadores de Núcleo Pedagógico na fase de validação do material, a fim de que este tivesse a voz da rede pública de ensino.

A leitura crítica final do material entregue para a rede foi feita pelos diretores do Centro dos Anos Finais e do Ensino Médio e validado pela Diretora do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão Pedagógica (DECEGEP) da Coordenadoria Pedagógica - SEDUC, uma vez que o componente Projeto de Vida é composto por conteúdos subjetivos, cuja intenção é transformar a cultura escolar. Nos demais encontros do grupo, ocorridos nos meses seguintes, buscamos conhecimentos mais aprofundados acerca da temática de Educação Integral e de Projeto de vida, os quais nos conduziram a indagações do tipo: "em que medida o componente Projeto de Vida pode contribuir na transformação social dos estudantes?" Desde então, o GT foi constituindo sua identidade e apropriando-se da temática que lhe cabia para, assim, discutir sobre as dúvidas e os anseios da rede, como vistas à formação docente que aconteceriam, concomitantemente, à implementação do Currículo Paulista (São Paulo, 2019).

Sob essa perspectiva, as professoras/pesquisadoras Cássia e Simone, autoras deste artigo, apresentaram ao GT, o Caderno Projeto de Vida, que fora utilizado pelas escolas estaduais entre os anos de 2014 a 2018 para, assim, valorizar as experiências da rede e delinear os próximos passos para a escrita do material didático. Nesse sentido, o ponto de partida eram as Diretrizes Curriculares de Projeto de Vida10 que apontavam concepções, pressupostos e conceitos orientadores, bem como a integração do Projeto de Vida com os demais componentes e com as competências socioemocionais. Foi fundamental, também, atentar-se aos eixos estruturantes do componente PV e as competências e habilidades para cada ano/série.

Outra fase do trabalho versou sobre a construção dos Mapa de Atividades à luz das Diretrizes Curriculares, por meio das quais definimos as Situações de Aprendizagem para cada ano/série e bimestre. A escolha das atividades pedagógicas foi realizada através da premissa apresentada pelas profissionais da SEDUC quando esclareceram ao GT que o material em pauta deveria atender ao perfil de seu público-alvo, ou seja, dos estudantes e professores da rede pública estadual e, assim, as atividades teriam como objetivo o desenvolvimento da cidadania e do projeto de vida do estudante, pensando em sua liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

É válido salientar que a discussão acerca dos princípios do Currículo Paulista para o componente Projeto de Vida eram pauta dos encontros do GT por entendermos que a confecção do material didático deveria atender e seguir tais princípios. É importante frisar que o Instituto Corresponsabilidade pela Educação trouxe pontos de reflexão sobre os materiais didáticos, como a expertise de implantação destes em outros estados. Já, o Instituto Ayrton Senna, ancorou os conceitos centrais das Competências Socioemocionais, os quais foram de relevância para a construção dos materiais didáticos. Dessa maneira, coube as técnicas da Secretaria da Educação, organizarem e construírem a versão final dessa produção considerando todas as especificidades da rede estadual.

Com o intuito de escrever o material, o GT se debruçou nos Cadernos do Professor e do Estudante, partindo de quatro pontos teóricos que embasam as Diretrizes Curriculares de PV, elencados a seguir.

1) Contribuições embasadas entre teoria e prática. Esse ponto busca recuperar as experiências educativas profissionais bem articuladas entre teoria e prática, embasadas em atividades que proporcionem o uso de metodologias ativas, por meio das quais o estudante possa exercer o protagonismo e a autonomia.

2) Considerações sobre os diferentes contextos regionais e peculiaridades da rede de ensino. Esse item considera algumas indicações constantes no Caderno do Professor, de diferentes tempos e espaços de aprendizagem, com vistas a atender a vasta peculiaridade da nossa rede estadual de ensino, no entendimento de que cada unidade escolar tem suas características e culturas. Nesse sentido, foi necessário realizar a escuta dos professores coordenadores do Núcleo Pedagógico.

3) O currículo de Projeto de Vida é um ponto de partida que pode ser complementado pelos professores e estudantes. Essa premissa coloca que os pontos essenciais do Projeto de Vida devem ser desenvolvidos pelos professores; porém, cada professor pode ampliar as possibilidades de acordo com as necessidades de sua turma. As atividades podem ser ampliadas e transpostas em sistema presencial e remoto.

4) Progressão temática das situações de aprendizagem que atendesse às emendas dos anos. Essa progressão temática implica a construção de uma lógica de progressão pedagógica. Avaliamos a progressão de conteúdos diante das temáticas de cada ano/ série no intuito de que o estudante as construa ao final de cada etapa. Cada atividade contempla um rol de competências socioemocionais para cada ano/ série de forma que a progressão se amplie e os conteúdos sejam aprofundados por meio das situações de aprendizagem.

Consideramos que esses pilares orientaram a produção escrita do material didático por estabelecer os princípios de sua construção de modo a garantir um estudante autônomo solidário e competente, onde tenha oportunidade de escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida.

 

Considerações Finais

As considerações que elencamos a seguir versam sobre diferentes aspectos do trabalho de elaboração do material didático. Em relação aos aspectos teóricos envolvidos, buscamos elaborar os conceitos e as atividades de maneira a atenderem os princípios básicos da educação integral como o protagonismo, a autonomia, a corresponsabilidade e os valores humanos. Desse modo, as atividades do material didático, propostas aos estudantes, foram discutidas e planejadas pelo GT e, posteriormente, validadas por profissionais da rede pública paulista.

Vale ressaltar que na fase da elaboração das atividades, o grupo precisou realizar algumas reuniões para alinhar questões conceituais, sobretudo no que dizia respeito ao nível das atividades que comporiam o Caderno do Estudante. Isso foi importante porque, em certas ocasiões, houve divergências de análises e de pontos de vista entre os integrantes. Todavia, essas situações sempre foram solucionadas a partir do entendimento do grupo de que era essencial atender aos princípios da Educação Integral, fundamentada em autores consagrados da educação e chanceladas pelos profissionais da escola.

Esses eventos nos permitiram verificar que a necessidade de primar por uma aprendizagem de qualidade acompanhou o grupo. Durante o processo, foi necessário compreendermos que essas restrições e divergências enriqueceram a produção, porque todos os integrantes entendiam que aquele movimento era em prol da construção de uma política pública educacional que de fato poderá impactar na vida de milhões de estudantes.

Nesse trabalho, consideramos fundamental o trabalho colaborativo, permeado por discussões, apontamentos e sugestões, tanto do GT quanto dos profissionais que realizaram leituras críticas e validação do material. Desse modo, reconhecemos que a evidência de que o material não seria o que é, se não houvesse a integração e a movimentação da equipe na execução dessa tarefa.

Acreditamos, portanto, que o nível de conhecimento teórico dos integrantes do GT e dos apoiadores, permitiu a construção de um material didático que, a nosso ver, teve um resultado positivo. Atualmente esse material está sendo distribuído para mais de dois milhões e seiscentos estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, ampliando significativamente o acesso às premissas do componente de Projeto de Vida para a rede estadual de educação e oferecendo à esses jovens a oportunidade de identificar suas potencialidades e de ter subsídios para planejar o seu projeto de vida.

Desse modo, acreditamos que a experiência por nós relatada, assinala uma constante preocupação em olhar o outro em sua forma integral, como um ser sistêmico e complexo que deve desenvolver suas habilidades de forma a atingir seus sonhos e realizar seu projeto de vida. Assim, ao contribuir com a construção do projeto de vida de um ser humano, também realizamos o nosso projeto de vida que, de alguma forma, perpassa a transformação de vidas.

 

Referências

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Woorwald, H.; Souza, D. (2014). Políticas públicas e educação. O novo modelo de escola de tempo integral – Programa de Ensino Integral. São Paulo, SE.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
cassia.santos@educacao.sp.gov.br
simone_succi@hotmail.com
viviane.cardoso@educacao.sp.gov.br

 

 

Sobre as autoras:
Cassia Moraes Targa Longo é graduada em Pedagogia, possui mestrado em Educação - Formação de Formadores -(PUC-SP). Autora de materiais didáticos, participou da elaboração Currículo Paulista e Currículo em Ação na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4423-9462
E-mail: cassia.santos@educacao.sp.gov.br
Simone Succi é graduada em Letras - Português e Inglês - UNESP (2.000). Mestre e Doutora em Linguística e Linguística Aplicada (PUC – SP). Formadora de professores e conteudista de material didático (Secretaria da Educação de São Paulo). Professora de textos jurídicos e acadêmicos (Curso de Direito/ FB – Faculdade Barretos)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9296-4728
E-mail: simone_succi@hotmail.com
Viviane Pedroso Domingues Cardoso é graduada e mestre em História (USP-SP). Professora da rede estadual desde 2012, já lecionou o componente de Projeto de Vida, foi redatora e coordenadora de etapa do Currículo Paulista e atua como Diretora do DECEGEP, departamento responsável pela produção dos materiais de apoio ao Currículo.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8481-2051
E-mail: viviane.cardoso@educacao.sp.gov.br
1 Conteúdo derivado de parte da Conferência intitulada Inova Educação no Estado de São Paulo: antecedentes e boas práticas apresentada na III Jornada Vida e Carreira: Projeto de Vida na Educação básica, e proferida por Cassia Moraes Targa Longo e Viviane Pedroso Domingues Cardoso em 04 de maio de 2021.
3 Maiores informações sobre o Programa Inova Educação poderão ser encontradas no seguinte endereço eletrônico: https://inova.educacao.sp.gov.br/ (Acesso em 24/04/2021).
4 Todas as versões digitais do material construído, tanto para o estudante quanto para o professor, podem ser acessadas na aba materiais e materiais de apoio do site do Currículo Paulista. Disponível em: https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/ (Acesso em 24/04/2021).
5 A Parte Diversificada se organiza em disciplinas obrigatórias do currículo no Programa de Ensino Integral sendo: Projeto de Vida, Tecnologia e Inovação, Eletivas, Protagonismo, Práticas Experimentais e Orientação de Estudos.
6 Apresentamos Projeto de Vida (PV) com letra maiúscula quando nos referimos ao componente curricular e em letra minúscula em referência ao projeto de vida do estudante.
7 Educação um Tesouro a descobrir. Os quatros pilares da Educação - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional de Educação para o século XXI, 1996.
8 COPED - Coordenadoria Pedagógica e EFAPE - Escola de Formação dos Profissionais da Educação.
9 As Diretrizes Curriculares do componente de Projeto de Vida da rede estadual de educação, encontram-se disponíveis na aba materiais de apoio do site do Currículo Paulista. Link direto disponível em: https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/wp-content/uploads/download/Projeto%20de%20Vida/Diretrizes%20Curriculares%20Projeto%20de%20Vida%20Revisa%CC%83o_V1.pdf (Acesso em 24/04/2021).
10 As Diretrizes Curriculares de Projeto de Vida. Disponível em: https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/wp-content/uploads/download/Projeto%20de%20Vida/Diretrizes%20Curriculares%20Projeto%20de%20Vida%20Revisão_V1.pdf. (Acesso em 19 abril 2021).

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