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Pensando familias

Print version ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.22 no.2 Porto Alegre July/Dec. 2018

 

EDITORIAL

 

 

Helena Centeno Hintz*

 

 

A terapia de família tem seguido sua evolução, traçando um caminho com muitas ideias, reflexões, pesquisas no intuito de explorar aspectos sistêmicos da vida familiar e como se pode intervir nesses processos. Inicialmente, a aceitação das pesquisas realizadas foi relevante para a construção do campo da terapia familiar, possibilitando que fosse devidamente reconhecida como um dos tratamentos para a área de saúde mental. Várias especificidades de problemas familiares, tais como transtorno do uso de substâncias, transtorno alimentar, transtorno bipolar, depressão, doenças crônicas e outras, foram estudadas, confirmando o reconhecimento da terapia familiar como um dos tratamentos possíveis. Junto a isso, o acréscimo de novos conhecimentos sobre famílias e seus relacionamentos incorporando novos contextos teóricos fortaleceram a possibilidade da terapia de família ser um tratamento indicado.

Atualmente, os trabalhos escritos ou o trabalho desenvolvido na clínica mostram uma tendência para a integração das diversas abordagens conhecidas, tornando menos usual a prática da forma pura de escolas de terapia de família. Esta mudança para a integração das teorias passou a ser relevante para o trabalho do terapeuta de família. Mesmo que novas terapias continuem a surgir enfatizando uma estreita faixa de conceituações e intervenções, o impacto destas terapias, muitas vezes é maior quando os conceitos e intervenções são integrados com métodos mais tradicionais.

Os avanços científicos em relação aos processos e resultados da terapia familiar são o resultado de novos desenvolvimentos na pesquisa de terapia familiar, tornando-a cada vez mais relevante para a prática clínica. O futuro da terapia familiar está ligado a sua co-evolução harmoniosa com outras disciplinas dentro dos aspectos bio-psico-social, exigindo uma abertura ao diálogo transdisciplinar. Atualmente o pensamento sistêmico e a terapia de família estão incorporados em diversos segmentos como nas políticas públicas, onde o foco na família tem a finalidade de proteção social de seus membros. As políticas de saúde e de assistência social introduziram serviços voltados à família e à comunidade, ancorando em ambas suas modalidades de atendimento, tais como internação domiciliar, médico de família, cuidador domiciliar, agentes comunitários de saúde, programas de saúde da família, centros de convivência, acolhimento, reabilitação. Nestes serviços, a terapia de família está sendo utilizada como forma de proporcionar cuidado com as pessoas em suas relações interpessoais.

De igual forma, o pensamento sistêmico encontra-se presente no sistema judiciário, podendo ser utilizado de forma eficaz em situações de mediação de conflitos, como em conflitos de separação conjugal litigiosa.

Nesta edição da Pensando Famílias encontram-se vários trabalhos que confirmam a ampliação do campo da terapia de família, comprovando os benefícios que a mesma pode fornecer às pessoas em sofrimento.

L. Zini, G. Frizzo, D. Levandowski apresentam um estudo sobre a depressão materna e a percepção de ajustamento conjugal de mães jovens, para compreender a sua repercussão sobre a sintomatologia psicofuncional do bebê. G. Alves, O. Rodrigues, H. Cardoso trazem uma análise sobre os indicadores de estresse parental, ansiedade e depressão de mães de bebês que apresentavam condição de risco ao desenvolvimento, relacionando-os a variáveis maternas e do bebê.

W. Fiuza e C. Lhullier discorrem sobre as possíveis aplicações da técnica de role-play no atendimento a famílias adotantes, utilizando como metodologia uma pesquisa qualitativa exploratória descritiva de caráter bibliográfico. O objetivo de P. Correia, V. Silva e R. Glidden, em seu artigo, é investigar aspectos relacionados à adoção na percepção de acadêmicos de Psicologia.

J. Zerbinati e M. Bruns apresentam o perfil de famílias com crianças transexuais, caracterizados como população de risco em desenvolver psicopatologias pela influência de fatores interpessoais e sociais como estresse, ambiente hostil e negligência familiar.

N. Vilela e M. Lourenço têm como objetivo em seu trabalho, através de pesquisa qualitativa e descritiva, analisar as fontes de conflito trabalho-família vivenciado por mulheres trabalhadoras do setor industrial.

A. Ferreira, A. Montanher, F. Mariano, G. Duarte e S. Felipe escrevem sobre a guarda compartilhada e seus possíveis benefícios e prejuízos. Dentro desse mesmo tema, G. Resmini e G. Frizzo apresentam um estudo sobre a experiência de diferentes membros da família com a guarda compartilhada.

O luto pela perda de um filho é abordado por A. Grizafis e S. Baumkarten através da observação e entrevistas realizadas com famílias que perderam seus filhos na Tragédia de Santa Maria.

J. Hannum, F. Miranda, I. Salvador e A. Cruz escrevem sobre o impacto do diagnóstico, estratégias de enfrentamento e o processo de sofrimento intenso em famílias de pessoas com Síndrome de Down.

D. Franco, A. Magalhães e T. Féres-Carneiro apresentam um estudo onde investigam a violência doméstica associada ao rompimento conjugal, com dificuldades de manutenção dos laços parentais.

B. Cardoso e C. Neufeld expõem um estudo teórico sobre o diagrama de Conceitualização Cognitiva, fornecendo um modelo para ser utilizado em casais para resolução de problemas na conjugalidade, ilustrando o processo com um caso clínico fictício.

A. Sehn, D. Porta e A. Siqueira têm o objetivo de investigar o contexto ecológico e o envolvimento com a infração de adolescentes que cumpriam medida socioeducativa em semiliberdade. Ficou evidente a ausência de relações saudáveis e estáveis em diversos âmbitos. Dessa forma, torna-se necessária que as políticas públicas voltem-se para a promoção do desenvolvimento saudável dos adolescentes.

P. Barroso, J. Pedroso e E. Cruz apresentam pesquisa em que investigam a rede de apoio social de famílias com crianças institucionalizadas.  Os resultados mostraram que a família é o principal apoio percebido pelas participantes e é, também, onde mais têm conflitos. Com uma rede de apoio social com poucas pessoas, a situação de vulnerabilidade das famílias tornou-se mais acentuada.

A diversidade de temas apresentados nos artigos certifica o alcance e a utilidade do pensamento sistêmico e da terapia de família nas questões que afligem as pessoas e famílias na atualidade.

 

 

* Helena Centeno Hintz.

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