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Vínculo

Print version ISSN 1806-2490

Vínculo vol.13 no.1 São Paulo June 2016

 

ARTIGO

 

Par Educativo – a Manifestação do V ínculo com a Aprendizagem

 

Educational Pair - the Manifestation of linkage learning

 

Pareja Educativa – la Manifestación del Vinculo con la Aprendizaje

 

 

Gabriel Pinheiro Silva1; Karina da Costa2; Nathália Rodrigues Campos3; José Maria Montiel4; Daniel Bartholomeu5

Centro Universitário FIEO

 

 


RESUMO

Este estudo buscou, por meio de uma pesquisa qualitativa e de cunho bibliográfico, selecionar obras de autores que tratassem sobre a questão vincular, com o propósito de delinear as bases de subjetividade do conceito de Par Educativo. As teorias utilizadas para comparação no decorrer do estudo foram Wallon e Pichon-Rivière, uma vez que apresentam similaridades na valorização do componente afetivo do ser humano, mesmo que com nomenclaturas diferenciadas, além do caráter dialético e da possibilidade de compreensão propedêutica entre ambas as teorias. Os resultados oriundos deste estudo demonstraram a importância da compreensão do termo Par Educativo e da subjetividade própria deste termo para que seu entendimento possa facilitar a compreensão teórica da utilização do Teste do Par Educativo, bem como a práxis educacional, psicológica e psicopedagógica envolvidas neste contexto.

Palavras-chave: Vínculo, Relação, Afetividade, Aprendizagem.


ABSTRACT

This study sought, through a qualitative research and bibliographic nature, selecting works of authors who address the issue link with the purpose of outlining the subjectivity bases of the concept of Educational Pair. Theories used for comparison throughout the study were Wallon and Pichon-Rivière, with views on the similarities of the appreciation of the affective component of the human being, even if with different nomenclatures, as well as the dialectical character and the possibility of understanding workup between both theories. The results derived from this studyshowed the importance of understanding the term Educational Pair and the subjectivity of the term for the understanding of this could facilitate the theoretical understanding of the use of the Education Par Test as well as the educational praxis, psychological and psychoeducational involved in this context.

Keywords: Attachment, Relationship, Affection, Learning.


RESUMEN

Este estudio buscó, a través de una investigación cualitativa y de naturaleza bibliográfica, la selección de obras de autores que abordan el tema de vinculación, con el fin de delinear las bases de la subjetividad del concepto de Pareja Educativa. Las teorías utilizadas para la comparación a lo largo del estudio fueron Wallon y Pichon-Rivière, pues hay similitudes de la apreciación del componente afectivo del ser humano, aunque con diferentes nomenclaturas, así como el carácter dialéctico y de la posibilidad de comprender estudio diagnóstico entre ambas teorías. Los resultados derivados de este estudio demostraron la importancia de entender el término Pareja Educativa y la propia subjetividad del plazo para la comprensión de que esto podría facilitar la comprensión teórica de la utilización de la Prueba del Pareja Educativa, así como la praxis educativa, psicológica y psicopedagógica involucrados en este contexto.

Palabras-clave: Vinculación, Relación, Afecto, Aprendizaje.


 

 

INTRODUÇÃO

As características do processo de aprendizagem humana são objeto de estudo de diferentes ciências e acompanham o desenvolvimento da própria espécie humana, principalmente pela busca de respostas que expliquem como se aprende, como se ensina ou qual a relação de ambos os fatores. Segundo Aranha (2006) e Pinheiro et al (2014) Rousseau já propunha uma discussão filosófica sobre aspectos da aprendizagem humana, dentre eles as relações afetivas. Pois em Rousseau, a afetividade e a moral eram a origem subjetiva do ser humano dentro de sua teoria filosófica (ARANHA, 2006; GHIRALDELLI JÚNIOR, 2006; PINHEIRO, 2014); dessa forma, iniciaram-se discussões sobre os componentes afetivos que envolvem as relações humanas e também a significação afetiva nos espaços de aprendizagem que perduram até a contemporaneidade.

Com o passar do tempo as discussões sobre o processo de ensino-aprendizagem mantiveram-se atreladas às características práticas e metodológicas de ensino, nas quais a responsabilidade de um ensino de qualidade poderia ser garantida por uma prática estritamente correta e treinada, deste modo, outros fatores que surgissem seriam variáveis insuficientes, que teriam pouca importância no desenvolvimento de uma aprendizagem de qualidade e efetiva. Assim, ao pensar em aprendizagem, estava-se automaticamente acoplando: as técnicas de ensino, a eficácia e a não participação dos alunos neste processo de formação, somente quando esta aprendizagem não ocorresse ou quando fosse considerada falha, o aluno teria alguma participação efetiva neste processo, a de não ter sido participativo ou suficiente para aprender.

Segundo Leite (2012), essa organização em que a razão está hierarquicamente em um estágio superior, manteve-se historicamente chancelada por diversos autores e teorias dominantes em alguns períodos. Porém, Leite (2012) afirma também que com o desenvolvimento de diferentes ciências e da contestação desta visão dicotômica de ser humano que ou pensa ou sente, a busca por uma teoria que abarcasse o ser em completude ganha destaque, principalmente a partir do século XX em diante, quando o pensar sobre a afetividade tornou-se um tema mais efervescente.

Na Psicologia é possível observar as contribuições de estudos de teóricos como Henri Wallon que busca estruturar o conhecimento do desenvolvimento humano e da formação do processo de aprendizagem de maneira científica, isto é, além de observar o crescimento biológico também valoriza a importância emocional e afetiva deste ser que se desenvolve através da relação com o outro (BASTOS, 2010; LEITE, 2012; ALMEIDA, 2014; PINHEIRO et al, 2014). É possível observar tal discussão também em Enrique Pichon-Rivière, psiquiatra argentino que desenvolveu sua própria teoria dos vínculos, assim como a teoria dos grupos baseada no mesmo arcabouço, que englobam a significação do indivíduo e o vínculo (PICHON-RIVIÈRE, 2007; BASTOS, 2010; CHAMAT, 1997). Ambos os teóricos citados contribuíram com o desenvolvimento das áreas da Educação, Psicologia e Psicopedagogia de diferentes formas, principalmente no recortepsicopedagógico. Pichon-Rivière, ao tratar sobre os vínculos e sua construção, estruturou diversas bases teóricas que serviram para a elaboração de diferentes instrumentos de avaliação psicopedagógicos, direta ou indiretamente, além de auxiliar de maneira propedêutica na elaboração de construtos e nomear relações observáveis nos processos de ensino-aprendizagem de maneira geral, um exemplo destes termos que se pode observar a relação entre vinculação, significação e aprendizagem é o Par Educativo.

O termo Par Educativo está presente nas discussões sobre educação graças a um teste chamado Teste do Par Educativo (TPE) de origem argentina, que busca avaliar, através de um desenho, a relação entre o aluno e a aprendizagem (VISCA, 2010; SAKAI et al, 2012; BARTHOLOMEU et al, 2014). Este teste além de utilizado para observar a relação vincular entre o aluno e a aprendizagem por meio da manifestação gráfica projetiva, observa também a relação entre aluno e professor (BARTHOLOMEU et al,2014).

O TPE foi o responsável pela discussão deste termo Par Educativo ou Pareja Educativa, no idioma de origem, justamente por pressupor a questão vincular, relacional ou afetiva. Ao pensar em um Par Educativo, é possível observar a questão da construção das relações, principalmente as de aprendizagem através de vínculos (CHAMAT, 1997; PICHON-RIVIÈRE, 2007) como na relação de formação do eu através do outro (ALMEIDA, 2014). Estas relações vinculares podem ser tidas neste conceito como questão fundamental de conexão com a aprendizagem e desenvolvimento de um relacionamento com o conhecimento estabelecido com significância; logo, um Par Educativo, além de nome de um teste, também pode ser concebido como unidade relacional e condição para o estabelecimento de bases de aprendizagem, tendo assim, como ponto de partida, o desenvolvimento do ser humano como um eterno aprendizado. Portanto, esta unidade chamada de Par Educativo pode ser um indicador de valoração da atribuição afetivamente atribuída no processo de ensino-aprendizagem.

Trocas vinculares e a valorização da significação afetiva são pontos em que tanto a Psicologia quanto a Psicopedagogia podem debruçar esforços de investigação e análise utilizando como base alguns teóricos criadores destes termos e se apropriar dos mesmos utilizando suas teorias de maneira propedêutica, principalmente ao tratar da questão de vinculação, na qual a significação da relação entre sujeito e objeto é parte do processo de aprendizagem (CHAMAT, 1997). A participação do aluno no processo de ensino-aprendizagem vai além de somente cumprir tarefas e não lidar ou discutir o tema, o aluno é parte do Par Educativo e como tal necessita de uma vinculação saudável com a aprendizagem. Tratar a compreensão do Par Educativo é também possibilitar o estudo das vinculações que não obtém sucesso, das relações conflituosas e das dificuldades de aprendizagem que geram diferentes níveis de desinteresse e desistência de alunos que não conseguem estabelecer significação com a escola como espaço de aprendizagem.

Neste estudo buscou-se por meio de uma pesquisa qualitativa e de cunho bibliográfico, selecionar obras de autores que tratem sobre a questão vincular com o objetivo de traçar as bases subjetivas do conceito de Par Educativo. As teorias utilizadas para comparação no decorrer do trabalho (Wallon e Pichon-Rivière) foram selecionadas dadas as similaridades da valorização do componente afetivo do ser humano, mesmo que com nomenclaturas diferenciadas, além do caráter dialético presente nos dois teóricos e na possibilidade de compreensão propedêutica entre ambas asteorias. Logo, este trabalho tem por finalidade demonstrar a importância da compreensão do termo Par Educativo e da subjetividade própria deste termo para que seu entendimento possa facilitar a compreensão teórica da utilização do Teste do Par Educativo, assim como a práxis educacional, psicológica e psicopedagógica.

 

À GUISA DE DISCUSSÃO:

Ao se falar em subjetividade, diversas são as respostas possíveis para os questionamentos sobre o ser humano, a mente, o pensamento ou sentimentos e até sobre as atividades de como aprender; isso fica evidenciado durante o desenvolvimento da humanidade, pois as questões não visíveis que permeiam as discussões dos seres humanos foram inspiração para teorias que viabilizaram novas práticas de estudo, investigação, avaliação e intervenção no espaço físico. Dentre estes questionamentos, há um que segue atrelado ao desenvolvimento humano, que é o do desenvolvimento da mente, da alma, do ser humano como um todo além do corpo que nasce, cresce, envelhece e desvanece paulatinamente. Buscar o ser humano em completude, entender como se pensa, como se aprende ou como funciona a memória, as diversas áreas científicas se desenvolveram e se desenvolvem para responder da melhor forma estes questionamentos que envolvem o pensar e suas relações com o físico.

Neste estudo, o recorte selecionado foi o da aprendizagem, em especial o processo de aprendizagem baseado na vinculação, um conceito que abarca concepções introdutórias em diversas teorias e que também cria pontes entre conhecimentos diversificados, porque, ao vislumbrar intersecções entre a aprendizagem com o ato de ensinar, ou seja, transformar esta equação em um processo de ensino-aprendizagem parte-se de uma concepção de ser humano, de desenvolvimento teórico e prático que gere uma práxis voltada para um ser humano integral. Segundo Leite (2012), a afetividade é parte integrante dos estudos em Educação deste o século XVIII, mas possui maior destaque do século XX em diante. A valorização da afetividade como parte do processo de ensino- aprendizagem é a força que gera direta ou indiretamente a inquietação de pesquisas que tratem a Educação como espaço onde se encontre a origem, o sucesso e o fracasso neste processo.

É possível se observar o desenvolvimento do ser humano em diferentes espaços, que pode ser compreendido como aprendizagem e esta aprendizagem mesmo que não sistematizada ocorre de maneira eficaz ou não dependendo de fatores biológicos e da significação que o individuo atribua a ela. Sendo assim, a afetividade não se mostra uma faceta oposta à racionalidade, mas sim, como Leite (2012) salienta, é parte do todo, de um ser completo. Diversos teóricos buscaram teorias que explicassem a relação com a aprendizagem humana além das estruturas físicas envolvidas no processo, mas também procuraram os componentes subjetivos inerentes às significações que ocorrem durante o processo, podendo chamá-las de afetivas ou de vinculares.

Partindo-se do desenvolvimento teórico que explica esta significação como integrante da afetividade humana, é possível encontrar Wallon, médico francês que desenvolveu uma teoria do desenvolvimento pautada na relação entre o biológico e o afetivo, visando um ser integral e inter- relacionado (GALVÃO, 2012; PINHEIRO et al, 2014). Leite (2012) coloca que essa concepção recebe o nome de holística, por contemplar o ser humano que pensa e sente simultaneamente. Estudar, então, o ser holístico pressupõe processos integradores do físico e do emocional deaprendizagem e de desenvolvimento. Pinheiro et al (2014) explicita que os estudos de Wallon lidam com o desenvolvimento infantil e que este desenvolvimento ocorre de maneira conjunta, tanto psíquico quanto motor; desta forma, os estudos wallonianos observam o recorte do desenvolvimento e da aprendizagem em espaços de enfoque motor em determinados momentos e com focos emocionais e afetivos em outros.

Segundo Galvão (2012), Leite (2012), Pinheiro et all.(2014) e Almeida(2014), na teoria de Wallon, a emoção e a afetividade são as forças que impulsionam o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano, mesmo que de maneiras diferentes, ambas estão presentes no processo de construção da pessoa, assim como seu desenvolvimento holístico, porém em Wallon emoção e afetividade, apesar de englobarem aspectos parecidos, diferenciam-se enquanto função e origem. As emoções em Wallon, segundo Galvão (2012) Pinheiro et al (2014) e Almeida (2014), são originárias dos anteparos biológicos e possuem impactos físicos e sociais de modo espontâneo, diferentes da afetividade que engloba a subjetividade dos processos emotivos, sendo um desdobramento desta emoção inicial. Leite (2012) salienta isso explicando que, para Wallon, as emoções são responsáveis pelo contágio humano, enquanto que a afetividade, além de englobar esta emoção, desdobra-se com os sentimentos que possuem origem psicológica.

O contágio que Wallon trata é um mecanismo humano de conquista emocional principalmente observado nos bebês como forma de comunicação ou de estabelecimento de relações (ALMEIDA, 2014). Deste modo, é possível observar que para Wallon o desenvolvimento humano necessita e ocorre basicamente através da troca com o outro, mesmo que através do contágio emocional ou significação afetiva atribuída (ALMEIDA, 2014). Por meio desta significação afetivo-emocional atribuída do ser humano ao ambiente, pode-se observar uma relação nutrida por estes elos fluidos, plurais e individuais, dotados da possibilidade de desenvolvimento da cultura, do conhecimento científico, da manutenção afetiva do relacionamento e de novas relações mediadas com conceitos abstratos ou objetos. Esta significação observada em Wallon que constitui e introduz uma concepção de ser integral abre espaço para possíveis ligações com teorias posteriores que também lidem com este produto volátil e subjetivo que está entre o ser e o mundo, podendo ser chamado de vínculo.

Os vínculos podem receber diferentes denominações em diferentes teorias, porém, a teoria que embasa e converge para a formação de um Par Educativo é a teoria de vínculo segundo Pichon- Rivière. Nesta teoria estabelece-se que na relação entre um sujeito e um objeto, formula-se uma correspondência que possui uma significação e este processo recebe o nome de vínculo (PICHON- RIVIÈRE, 2007; CHAMAT, 1997). Esta estrutura complexa e plural se estabelece sempre nas relações, assim, o vínculo sempre termina por internalizar algo entre essas relações objetais, sejam estes vínculos saudáveis ou não (PICHON-RIVIÈRE, 2007). É possível observar um movimento dialético nas relações humanas ao pensar o ser humano como um ser vincular, por estruturar-se através dos movimentos de criação de significado através do outro, construção ou modificação de si e possível construção e modificação do outro.

Buscar teorizar o vínculo somente como relações perceptíveis dentro desta teoria sem também pensar o mesmo de maneira internalizada pode comprometer a totalidade desta construção, pois a vinculação não ocorre somente em domínios conscientes da mente humana, mas também é um fenômeno que abarca o ser humano em outras esferas, tornando-se desta forma uma elaboração em que o ser vincula-se a diferentes objetos internos e externos. Segundo Chamat (1997) e Pichon- Rivière (2007), as vinculações externas são reflexos das relações internas de vínculos subjetivos, ou seja, os vínculos apesar de plurais e muitas vezes sutis, possuem grande impacto nas relações, tal qual a emoção, a afetividade e o contágio em Wallon.

Traçando um espaço em que a aprendizagem ocorra não somente baseada em aspectos objetivos, mas sim que tenha porcentagens físicas e psíquicas, o ser vincula-se através destes pressupostos afetivos de significação, repleto de emoções e sentimentos que compõem o entendimento de mundo e a importância do acontecimento ocorrido, ou da relação estabelecida, ou com outro sentimento presente. A pessoa ao vincular-se estabelece uma gama de significações pessoais com diferentes objetos componentes da situação, atribuindo sentido ao espaço, às pessoas componentes do seu grupo social e às temáticas ou situações vividas naquele espaço.

No recorte da aprendizagem, o vínculo se mostra possível inclusive enquanto característica necessária humana, dada a necessidade de troca com o outro, seja por contágio emotivo, ou por outros motivos, como trabalhar juntos ou sobreviver. A organização de si mesmo em Wallon se dá por parte da integração com o outro que, ao mesmo tempo em que é contagiado emocional e afetivamente, também contagia e, impacta em ambos: cultural, social e afetivamente (ALMEIDA, 2014).

Tomando como ponto de partida essa relação vincular (PICHON-RIVIÈRE, 2007) e o contágio (ALMEIDA, 2014), a necessidade da troca no espaço de aprendizagem, formal ou não, toma um espaço diferenciado e que não deve ser negligenciado, principalmente pela observação do componente intrínseco humano que é a do relacionamento, onde cada indivíduo e o grupo adquirem vinculações com os conteúdos ensinados e com a aprendizagem. Essas relações vinculares podem ser observadas dentro de estudos diversos, observando, por exemplo, a relação do aluno com a aprendizagem e com o representante deste processo de ensino-aprendizagem sistematizado (o professor), podendo receber o nome de Par Educativo.

O Par Educativo é um termo advindo de um teste de origem argentina que, segundo Visca (2010), Sakai et al (2012) e Bartholomeu et al (2014), visa analisar através de uma técnica projetiva com um desenho a percepção vincular da relação aluno-professor, ou do aluno com a aprendizagem de forma mais ampla. Este termo pode ser compreendido ao abarcar a premissa de vinculação pichoniana, em que o ser desenvolve seus mecanismos de aprendizagem através da vinculação e através do processo de significação e possa desenvolver relações e novos vínculos com a aprendizagem, com o grupo em que está inserido e consigo de maneira transformada. A partir do Teste do Par Educativo (TPE) é possível observar as questões vinculares e de contágio presentes no espaço de aprendizagem, principalmente quando essa aprendizagem não ocorre dentro do esperado ou com dificuldades. A análise destas relações pode tanto auxiliar na compreensão de outros vínculos como possibilitar um olhar mais claro da relação estabelecida dentro do espaço de aprendizagem, mesmo que de maneira não consciente (CHAMAT, 1997).

Um Par Educativo, neste recorte metodológico, pode ser encarado como indicador da vinculação entre o aluno e a aprendizagem representada por algum mediador - no caso escolar, um professor -, porém retomando os vínculos anteriormente citados, a vinculação não se prende aoexterior do ser, isto é os vínculos internos podem ser fruto tanto do contágio com conceitos mais transcendentes e abstratos, como por uma disciplina, um material ou livro que foi significativo, ou uma lembrança que motive a elaboração de vínculos novos pautados em vínculos pregressos (CHAMAT, 1997; PICHON-RIVIÈRE, 2007).

O Par Educativo pode também ser compreendido como unidade de estudo vincular que parte do pressuposto de observação de relações únicas, a partir das quais é possível que o ser humano estabeleça diversos vínculos com diversos Pares Educativos, formulando assim o que Visca (2010) chama de Rede de Vínculos, que através de diferentes testes baseados em técnicas projetivas psicopedagógicas possibilitaria a observação da qualidade e da consciência destes vínculos pela pessoa (VISCA, 2010). A importância das relações humanas dentro do espaço de aprendizagem fomenta a discussão da constituição de um ser humano vinculador, contagiante e contagiado afetivamente que se estabelece através de trocas dialéticas de significação, na qual o ser se caracteriza e se compreende enquanto humano pela capacidade inicial de desenvolvimento através da vinculação como mantenedora da subjetividade de um ser que pensa e sente mutuamente (LEITE, 2012).

Buscar a subjetividade de um Par Educativo, está intrinsecamente ligado a conhecer a estruturação de pensamento através da significação de um ser que se relaciona, interage, sente e modifica tanto a si próprio como o outro. Pode ocorrer também de maneira inversamente proporcional, onde mutuamente os membros do par passem por este processo, porém obtendo resultados diferentes um do outro, justamente pela natureza individual do vínculo e sua multiplicidade.

O conceito de Par Educativo pode transpor o teste ou uma avaliação, podendo ser uma unidade de valoração da relação entre o aluno e a aprendizagem para a compreensão e auxílio dentro do espaço de aprendizagem, sendo levada em consideração a presença e a importância de uma relação significativa dentro desse processo. Esta significação sadia ocorre de maneira dialética, conforme destaca Chamat (1997), em que o vínculo se desenvolve de dentro para fora e volta-se para o interior do ser novamente como em um formato espiralado, cheio de significação em que ambos, sujeito e objeto, reconhecem-se separadamente. (PICHON-RIVIÈRE, 2007).

O vínculo construído no Par Educativo necessita ser compreendido para o entendimento do processo de ensino-aprendizagem pautado na pluralidade dentro do espaço de aprendizagem. Logo, o respeito, o fomento e o cativar neste espaço são maneiras de tentar estabelecer vínculos novos com os alunos e docentes, buscando sempre estabelecer uma vinculação saudável e agradável com a aprendizagem. Ao contagiar os alunos com emoções positivas e não com o medo, vínculos persecutórios tenderiam a não ser formados, porém a construção vincular depende das significações de cada indivíduo, não sendo possível garantir como ocorrerá a vinculação.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de caracterização da aprendizagem é parte de diversos questionamentos teórico- metodológicos em que as características relacionais do processo de ensino-aprendizagem por vezes eram ignoradas, tamanha a valorização da racionalização do conhecimento e de mecanização de práticas de ensino. Neste sentido, diferentes teóricos contribuíram com a construção de pesquisasque comprovassem que o ser humano poderia organizar-se de maneira integral/holística, na qual os aspectos afetivos não seriam variáveis opostas ao raciocínio, mas sim complementares. Ao observar e compreender o ser humano como um ser que pensa e sente concomitantemente, os paradigmas educacionais e de pesquisas sobre a Educação tornaram-se plurais, viabilizando e fomentando estudos de outros aspectos além de metodologias pragmáticas.

Possibilitando estabelecer uma relação entre a afetividade inata do ser humano e sua significação dos fatos, pessoas e grupos sociais, um ser humano diferente passa a fazer parte de um processo de ensino-aprendizagem também diferenciado, em que as relações humanas são mecanismos de contágio, troca e crescimento como na teoria embasada por Wallon. Portanto, ao estabelecer que as relações e suas significações particulares possam afetar a aprendizagem do ser humano, o Vínculo se torna uma possibilidade de estudo e de teoria que alicerça um paradigma diferenciado de atuação e formação.

As relações que se estabelecem e suas significações reverberam nos conteúdos cognitivos, onde o ser humano enquanto aluno se insere ou busca dentro de um espaço de aprendizagem, seja ele formal como uma escola ou não. Neste processo de estabelecimento de vínculos, o ser humano estabelece parcerias através do contágio afetivo, logo esta aprendizagem se organiza subjetivamente em relações dialéticas mútuas através da significação e da ressignificação das relações, trocas e práticas, em que estes parceiros vinculares podem ser chamados de Pares Educativos.

Um Par Educativo pode ser compreendido como uma unidade didática de compreensão da vinculação estabelecida entre as relações de aprendizagem, sendo composta por alguém que ensina e representa o elo com a aprendizagem e alguém que aprende. É possível observar, então, que o Par Educativo não privilegia os aspectos lógicos e conscientes, mas também observa aquilo que se sente e está presente no ser humano enquanto ser completo, unindo o biológico e o psicológico.

Partindo da compreensão das relações humanas pautadas em vinculações, como propõe Pichon-Rivière e no contágio afetivo como posto por Wallon, é possível observar que a afetividade é a força-motriz que impulsiona o desenvolvimento humano e a aprendizagem, sendo o paradigma e o arcabouço da aprendizagem e do desenvolvimento relacional, pautada na inter-relação social para esta construção. Compreender o Par Educativo é uma forma de instrumentalizar o pensamento para fomentar a práxis educativa e a formação profissional diferenciada, enaltecendo a participação da subjetividade das relações no processo de ensino-aprendizagem, não dissociando isto do pensamento ou da estruturação efetivamente cognitiva.

 

REFERÊNCIAS

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1 Gabriel Pinheiro Silva - Pedagogo, Especialista em Psicopedagogia e Mestrando no Centro Universitário FIEO – Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu – Psicologia Educacional, Osasco, SP.
2 Karina da Costa - Psicopedagoga, Especialista em Psicopedagogia Hospitalar e Mestranda no Centro Universitário FIEO – Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu – Psicologia Educacional, Osasco, SP.
3 Nathália Rodrigues Campos- Psicopedagoga e Mestranda no Centro Universitário FIEO – Programa de Pós- Graduação Strictu Sensu – Psicologia Educacional, Osasco, SP.
4 José Maria Montiel - Psicólogo, Doutor em Psicologia, Docente e Orientador no curso do Centro Universitário FIEO – Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu – Psicologia Educacional, Osasco, SP.
5 Daniel Bartholomeu - Psicólogo Doutor em Psicologia, Docente e Orientador no curso do Centro Universitário FIEO – Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu – Psicologia Educacional, Osasco, SP.

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