SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 issue16A conquista da autonomia e a inclusão escolarAn introduction to the limitations and domains of psychotherapy in the field of neuroscience and genetics of behavior author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

article

Indicators

Share


Psicologia para América Latina

On-line version ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  no.16 México June 2009

 

ANÁLISIS Y CONSTRUCCIONES TEÓRICAS EN PSICOLOGÍA

 

Análise comportamental das emoções

 

 

Ilma A. Goulart de Souza Britto; Paula Virgínia Oliveira Elias

Universidade Católica de Goiás

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Em função da importância da investigação das emoções dentro de uma ciência psicológica, o presente estudo tem o intuito de discutir questões referentes aos estados emocionais, bem como sobre o caráter evolutivo biológico das emoções sob a ótica do Behaviorismo Psicológico de Arthur W. Staats. Por se tratar de uma teoria pouco difundida, pretende-se apresentar outros princípios-chave propostos pelo autor, além de apresentar a posição de B. F. Skinner sobre as emoções. Para tal, os estados emocionais são considerados como produto da história evolutiva e pessoal em conjunto com as contingências presentes. Assim, aspectos da inter-relação entre respondentes e operantes necessitam ser abordados. A partir desta concepção, a análise das emoções deve ser realizada por meio da identificação das conseqüências que mantêm os estados emocionais e de suas funções para o indivíduo, já que os estados emocionais exercem função importante na manutenção de vários transtornos comportamentais.

Palavras-chave: Emoções; Inter-relação respondente e operante; Behaviorismo psicológico.


ABSTRACT

Due to the importance of investigation of the emotions in psychological science, the present study aims to discuss the issues referring to emotional states, as well as biological evolutionary character of the emotions under the perspective of Psychological Behaviorism of Arthur W. Staats. Because it is not a wide-spread theory, this paper intends to present other key principles proposed by that author, as well as B. F. Skinner’s position regarding the emotions. In order to achieve this, the emotional states are considered a product of the evolutionary and personal history together with the present contingencies. Thus, some aspects of interrelation between respondents and operants need to be approached. From this conception, the analysis of the emotions should be carried out through the identification of consequences that keep the emotional states and their functions to the subject, since the emotional states have an important function in maintenance of several behavioral disorders.

Keywords: Emotions; Interrelation between respondents and operants; Psychological behaviorism.


 

 

O trabalho pioneiro de Darwin, em 1872, constituiu uma das primeiras fontes de informação sobre as emoções dentro da perspectiva evolucionista. Foram descritas reações de medo, choro, dor, ansiedade, mau humor, surpresa, alegria, horror, raiva, dentre outras, considerando suas origens evolucionárias em relação a sua utilidade biológica. Darwin descreveu as topografias e as reações respondentes nas quais as emoções são expressas. Reações de fuga ou luta, por exemplo, tinham a função de salvar as vidas de muitos animais na historia da evolução (Millenson, 1967/1975; Brannigan & Humphries, 1981).

Os estados emocionais podem ser considerados como produto da história evolutiva e pessoal, em conjunto com as contingências presentes e descritas pela pessoa que se comporta, se internas. Entretanto, podem assumir formas externas como o tremor, palidez, sudorese, etc. Cabe ao analista do comportamento identificar as conseqüências que mantém os estados emocionais e quais funções exercem para a pessoa. A posição de Skinner (1989/1991) é a de que se deve olhar para a história genética e ambiental com a função de mudar a ênfase do sentimento para aquilo que é sentido, não ignorando os sentimentos, posto que “como as pessoas se sentem é freqüentemente tão importante quanto o que elas fazem” (p. 13).

Em termos específicos, Keller e Schoenfeld (1950/1973) apontam que modificações orgânicas acompanham as respostas emocionais. Modificações fisiológicas podem ocorrer concomitantes ao comportar-se. Quando um estímulo é apresentado ou retirado, um reforço é concedido ou recusado algo ocorre com o organismo, cujo resultado é amplas modificações na força das reações. Para circunscrever os efeitos destas modificações se diz que o organismo está emocionado. O fato relevante aqui é o de que os estados emocionais exercem uma função importante na manutenção de vários transtornos comportamentais, tornando-se necessário investigar suas ocorrências. Parte dos comportamentos-problema apresentados pelas pessoas pode ser, também, derivada dos estados emocionais em suas variações e intensidade.

O presente estudo tem como objetivo discutir os estados emocionais e o caráter evolutivo biológico das emoções sob a ótica do Behaviorismo Psicológico de Arthur Staats, definido por ele como behaviorismo de terceira geração. Por se tratar de uma teoria pouco difundida, pretende-se apresentar outros princípios-chave propostos pelo autor, além da posição de Skinner (1953/1970) sobre as emoções.

 

A emoção como estado corporal

A importância das emoções dentro de uma ciência psicológica é uma questão que deve ser investigada. As descrições científicas não mudam a natureza dos fenômenos descritos, tampouco uma ciência natural do comportamento ignora os fenômenos internos. Existem fenômenos que ocorrem sob a pele do organismo, não como causa do comportamento, mas como parte das relações funcionais em si. Uma ciência do comportamento deve lidar com esses eventos sem presumir que tenham uma natureza especial (Skinner, 1953/1970; 1989/1991).

A emoção é um estado do corpo. O que uma pessoa sente relaciona-se a eventos dos três sistemas nervosos (interoceptivo, proprioceptivo e exteroceptivo), os quais são importantes para a economia interna do organismo quando este entra em contato com as contingências (Skinner, 1974/1999). Eventos que ocorrem dentro do corpo podem, de fato, estar sob o controle de estímulos internos ou externos sujeitos a seqüência numa rede de relações funcionais. A escassez de estudos relacionando os aspectos fisiológicos e comportamentais das emoções contribui para o enfraquecimento dessas duas importantes áreas de pesquisa.

Skinner (1953/1970) reconhece as emoções como predisposições para classificar o comportamento em relação às várias circunstâncias que o afetam. Isso requer conhecimento de como elas foram induzidas e como podem ser alteradas para que se possa reconhecer o comportamento emocional e as condições manipuláveis das quais é função. Por exemplo, um homem enraivecido pode esmurrar a mesa, insultar, começar uma briga ou, de algum modo infligir danos. Por outro lado, um homem apaixonado pode oferecer flores, declarar amor, procurar estar sempre junto da pessoa amada. Uma pessoa tímida recusa comparecer em eventos sociais, evita falar em público. Através dos exemplos, observa-se que essas predisposições caracterizam três tipos de emoções: raiva, paixão e timidez.

Como Skinner (1953/1970) salienta, algumas emoções como alegria e tristeza afetam o repertório total do organismo. A primeira, diz-se excitante e a segunda, deprimente. Tais fenômenos, em suas diferentes variações e intensidade dos estados emocionais, conduzem a alguns enunciados para a classificação topográfica de determinados transtornos comportamentais sem, contudo, especificar suas funções. Uma pessoa pode chorar de alegria porque passou no vestibular, enquanto outra pessoa pode chorar porque perdeu um ente querido.

Outras emoções, como as fobias, afetam também o repertório do organismo, mas de modo mais específico. As fobias são geradas pelas circunstâncias que antecedem a condição emocional. Por exemplo, na agorafobia a mudança no comportamento é o resultado da colocação do organismo em um espaço amplo e aberto; uma outra pessoa pode ter um comportamento adaptado em diferentes contextos e revelar medo excessivo em andar de avião. Os estímulos aversivos modificam a probabilidade de certas classes comportamentais. As alterações corporais resultantes são chamadas ansiedade.

No contexto terapêutico é comum observar pessoas expostas a eventos aversivos relatarem estados emocionais negativos como conseqüência da experiência: se a pessoa é reforçada por falar ou escrever sobre sentimentos, disso resultará melhora dos seus estados emocionais negativos. Verbalizar ou escrever o que se sente são duas maneiras que uma pessoa encontra para lidar com os efeitos dos eventos aversivos.

A principal conclusão que se tira de tudo isso, naturalmente, é a de que a emoção é um estado interno ou uma condição corporal do organismo, onde as topografias e as freqüências dos comportamentos envolvidos podem ser alteradas. Skinner (1989/1991) esclarece que descrevemos o efeito interno de um reforçador quando se diz que ‘ele nos dá prazer’ e, neste sentido, ‘eu te amo’ significa ‘você me dá prazer ou me faz sentir bem’. Catania (1998/1999) argumenta que os processos operantes e respondentes podem interagir. Quando os procedimentos respondentes são combinados com os procedimentos operantes, concluir-se-á: processos emocionais.

 

Emoção e comportamento

Arthur W. Staats desde a década de 1950 tem procurado desenvolver um programa teórico para explicar as complexidades do comportamento. Juntamente com sua esposa publicou a obra Comportamento Humano Complexo (Staats e Staats, 1963/1973). Nessa obra procurou analisar os processos de aquisição e manutenção da complexidade das ações humanas por meio dos princípios fundamentados em pressupostos behavioristas. Staats tem denominado sua teoria com nomes distintos: Behaviorismo Social, em 1975, Behaviorismo Paradigmático, em 1983 e em 1996, Behaviorismo Psicológico (Britto, 2003).

Desde então, o trabalho de Staats teve um impacto no estabelecimento da teoria de aprendizagem do comportamento humano. Em seus escritos Staats procura abranger e integrar as investigações do fenômeno comportamental submetendo-o a análise observacional e provas experimentais. Neste sentido, foram desenvolvidas técnicas metodológicas para explicar a aquisição dos déficits e inadequações comportamentais em relação aos comportamentos-problema apresentados por uma pessoa (Staats & Staats, 1963/1973; Staats, 1964; Staats, 1996).

Em seu trabalho mais recente (Staats, 1996), focalizou os aspectos históricos do desenvolvimento do behaviorismo, incluindo as semelhanças e influências entre os behavioristas de primeira, segunda e terceira geração. Focalizou ainda a fragmentação teórica na psicologia e o papel que o ecletismo exerce para a falsa unificação desta ciência.

Como indica Staats (1996), para estudar o comportamento humano complexo não é possível restringir o estudo a um fenômeno, uma área, ou um pequeno conjunto de conceitos e princípios. Não temos uma teoria explicativa do comportamento humano complexo cujo alcance é o amplo campo da psicologia, onde múltiplas metodologias são necessárias. Em sua análise, os eventos internos podem assumir funções estimuladoras e, desse modo, afetar o comportamento numa rede de relações funcionais.

De fato Staats (1996) propõe um modelo teórico que possibilita estudar o comportamento humano complexo como um todo, com implicações para a pesquisa, teoria e prática. Para o entendimento dos assuntos humanos a ênfase foi no método científico com a aplicação da observação indireta e o método experimental-longitudinal para demonstrar os princípios-chave apresentados nesta teoria: os repertórios básicos de comportamento, a teoria de três funções do estímulo, a teoria comportamental de fenômenos, tais como a inteligência e a personalidade, dentre outros.

Virués-Ortega (2005) observa que nas últimas cinco décadas Staats contribuiu de modo relevante para a psicologia do desenvolvimento, psicologia da aprendizagem, comportamento emocional, teoria da linguagem, teoria comportamental da inteligência, uso comportamental dos testes psicométricos, além das relações entre as abordagens behavioristas e cognitivistas no processo de unificação do behaviorismo e a psicologia. Rompendo com a desunião que caracteriza a Psicologia, A. W. Staats orienta a unificação entre o behaviorismo e as demais abordagens, que compõem o conjunto de subdisciplinas psicológicas, na tentativa da construção de uma teoria geral que integre a Psicologia.

O Behaviorismo Psicológico estabelece a teoria das três funções do estímulo. A primeira função do estímulo, eliciar uma resposta emocional; a segunda, reforçar e a terceira, direcionar (função discriminativa) comportamentos de aproximação ou comportamentos de fuga ou esquiva. Com efeito, um estímulo que eliciar uma resposta emocional atua como reforçador quando é apresentado contingente ao comportamento e direcionará o comportamento de aproximação, se positivo, ou de fuga/esquiva, se negativo. Desse modo, a propriedade de incentivo (diretiva) se diferencia da propriedade de reforçamento e se define de maneira independente de seus efeitos sobre o comportamento.

O poder do estímulo, de eliciar emoção, define o que será reforçador. Respostas emocionais não aprendidas são respostas reflexas construídas na estrutura biológica e evolutiva dos organismos. Na relação emoção e reforçador a emoção adquire importância, uma vez que ela define o que será reforçador para o organismo no sentido de influenciar quais comportamentos poderão ser adquiridos e mantidos. As relações do estímulo em provocar emoção e reforçar são básicas na relação de interdependência entre o condicionamento clássico e operante para as respostas emocionais e motoras (Staats, 1996).

Staats (1996) oferece uma tentativa de explicar os fundamentos da emoção. Se o estímulo eliciar uma resposta emocional positiva o organismo aproximará. Por outro lado, se o estímulo eliciar uma resposta emocional negativa, direcionará comportamentos de fuga ou esquiva. Os organismos podem aprender respostas motoras aos estímulos emocionais internos que adquirem funções estimuladoras, uma vez que a resposta envolvida produz sensações ao experimentar uma emoção. As emoções devem ser entendidas como parte adaptativa para a sobrevivência dos organismos. O comportamento é direcionado, em parte, pelas respostas emocionais positivas ou negativas, e assim, os organismos aproximam, lutam por ou evitam, fogem e lutam contra.

Um aspecto importante do trabalho de Staats (1996) foi tratar dos níveis e alcance da aprendizagem humana. As influências controladoras dos Repertórios Básicos de Comportamento – Basic Behavioral Repertoire (BRB) – quais sejam, Repertório Lingüístico/Cognitivo, Repertório Emocional/Motivacional e Repertório Sensório Motor, determinam a habilidade do indivíduo para aprender, para experimentar e comportar-se em situações que se encontram ao longo da vida.

Os comportamentos complexos, por exemplo, podem ser avaliados por meio dos déficits nos repertórios comportamentais, os quais reúnem os comportamentos que, por sua ausência, prejudicam a adaptação do indivíduo em seu ambiente social; também, os comportamentos inadequados que, com sua presença, prejudicam a adaptação. Staats (1996) assinala que os conceitos dos repertórios básicos de comportamento emergiram, em boa parte, no contexto do estudo da linguagem. Britto (2004) apresenta maiores detalhamentos sobre os repertórios comportamentais propostos pelo autor.

Nesta teoria, as palavras e as emoções adquirem importância na determinação do comportamento. As funções eliciadoras, reforçadoras e controladoras das palavras possibilitam a visão integrativa entre os dois condicionamentos, uma vez que as palavras adquiriram funções emocionais via emparelhamento de estímulos. Assim, os humanos que possuem um grande repertório de palavras emocionais positivas e negativas podem experimentar vicariamente respostas emocionais extremamente variadas por meio da linguagem. Por exemplo,um cliente pode experimentar emoções positivas ou negativas às palavras habilmente colocadas pelo terapeuta no contexto clínico.

Staats (1996) afirma que parte dos problemas humanos envolveria mudanças nos eventos que evocam uma resposta emocional no indivíduo. Por exemplo, a pessoa depressiva necessita de estímulos verbais que provoquem respostas emocionais positivas. Vários problemas clínicos envolveriam emoções inapropriadas ou deficitárias. Tais problemas podem ser tratados mudando as respostas emocionais ou criando outras. Um modo efetivo de produzir tais mudanças pode ser através do uso das palavras, sejam elas faladas, escritas ou sinalizadas. Na visão de Staats (1996), as palavras nos dão o modo mais fácil e efetivo para influenciar o comportamento de uma pessoa.

A seu modo, Staats (1996) afirma que é necessário analisar o comportamento humano complexo de maneira detalhada. O foco central são as condições de aprendizagem. A análise requer estudos observacionais e experimentais dos modos pelos qual o comportamento complexo humano é aprendido. Através de uma análise detalhada podem ser obtidos a predição e o controle dos fenômenos comportamentais complexos.

Revendo os fundamentos das tradições behavioristas, Staats (1996) afirma que vários temas não foram resolvidos pelas primeiras gerações behavioristas. Uma das questões propostas era se havia um ou dois tipos de condicionamento. Guthrie e Hull, por exemplo, foram partidários da teoria de um fator. A postura de Skinner, afirma Staats (1996), foi a de que havia dois tipos de respostas: 1- uma resposta emocional, considerada um tipo inferior de resposta, envolvendo glândulas e músculos lisos, via sistema nervoso autônomo (tais respostas são reflexas, lentas, imprecisas e aprendidas por contigüidade, via condicionamento respondente); 2- havia também uma resposta motora, a qual envolvia a musculatura esquelética, via sistema nervoso central. As respostas motoras foram consideradas rápidas e precisas. A estas respostas Skinner deu o nome de operantes. Tais respostas são aprendidas e fortalecidas via reforçamento. No entanto, Skinner (1938) reconheceu o paralelismo entre dois tipos de respostas. Respostas emocionais, essencialmente clássicas, e respostas motoras, essencialmente operantes.

Ainda assim, Staats (1996) afirma que embora Skinner tenha reconhecido os dois tipos de condicionamento, não os considerou de igual importância. Priorizou os operantes e considerou as respostas emocionais como eventos colaterais os quais não tinham poder explicativo em relação ao comportamento e condicionamento operante. Staats (1996) afirma que Skinner deixou de dar a devida importância ao condicionamento clássico, “não construiu métodos para ele, não estabeleceu fundamentos ou programas de estudo para aqueles que seguiram sua abordagem para estudar a emoção, como as emoções são aprendidas ou quais são os seus efeitos sobre o comportamento humano” (p. 40).

Staats (1996) considera o condicionamento clássico e o condicionamento operante inter-relacionados. Demonstra as condições em que um mesmo estímulo, por exemplo, comida estava envolvida em ambos os condicionamentos. Comida foi usada por Pavlov para eliciar a resposta salivar num cão. E comida foi usada por Skinner para reforçar o comportamento de pressão à barra de um rato. O mesmo estímulo funciona, então, de modo comportamental, em ambas as formas de condicionamento em condições diferenciadas.

A propriedade de um estímulo que evoca emoção pode ter a função de produzir o condicionamento clássico. Se apresentarmos um estímulo neutro emparelhado ao estímulo eliciador de emoção, então o estímulo neutro passará a evocar a resposta emocional. Há aqui transferência de função. Além disso, um estímulo emocional tem uma segunda função: pode atuar como estímulo reforçador. Os estímulos eliciadores de emoção são importantes também pela função diretiva: no caso positivo, controlará comportamentos de aproximação e se negativos, comportamentos de fuga ou esquiva (Staats, 1996).

Staats (1996) afirma que a emoção afeta o comportamento. O modo como uma pessoa sente afeta o que ela faz. Assim, a condição sentida pode adquirir funções estimuladoras e exercer controle discriminativo sobre os comportamentos subseqüentes. O autor aborda a relação íntima entre emoção e comportamento pelas três funções do estímulo, posto que o estímulo só adquirirá uma função reforçadora se eliciar uma resposta emocional. Caso não elicie a resposta emocional ele não adquirirá essa função.

A análise das emoções dentro dessa perspectiva requer que se analise o significado evolutivo biológico das experiências emocionais. Quando uma pessoa experimenta estados fisiológicos ela sente, isto é, o sentir adquire funções estimuladoras. Portanto, sentir implica estímulos extras quando os indivíduos experimentam sensações corporais que são parte das reações respondentes, cuja discriminação possibilita nomear a condição sentida verbalmente.

Contudo, diz Staats (1996), uma pessoa não experimenta mudanças na pressão sanguínea, ritmo cardíaco, digestão dentre tantas outras respostas fisiológicas, uma vez que tais ações internas dos órgãos do corpo não produzam experiências estimuladoras extras. A função estimuladora proporciona o mecanismo mediante o qual as emoções podem influenciar o comportamento. Nas palavras do autor, “A razão pela quais as respostas emocionais internas produzem sensações estimuladoras é que o organismo pode aprender assim respostas motoras para aqueles estímulos emocionais” (p. 52). Qualquer estímulo verbal ou não verbal que produza uma resposta emocional pode afetar o comportamento. A esse respeito, os estímulos verbais, por exemplo, adquirem funções eliciadoras que evocam a própria condição sentida.

De tudo que foi dito acima, nota-se que o autor diferencia o que é experimentado (estados corporais, sensações estimuladoras ou processo sensorial discriminado interno, físico e não mental) do sentimento: verbalizações do sentir aprendidas pela comunidade verbal como se este fosse à causa do comportamento. E mais, emoções são condições sentidas que adquirem importância para o individuo em seu processo de adaptação ambiental.

De certa forma, o medo é um processo comportamental adaptativo, no sentido evolutivo, pelas seguintes razões: o indivíduo pode aprender respostas de medo diante de certas contingências; o indivíduo pode aprender também respostas de esquiva que são produzidas pelas sensações internas experimentadas frente a um evento aversivo. A razão evolutiva pela qual sentimos nossas emoções é porque simplesmente nós aprendemos a nos comportar de maneira adaptada. Entretanto, as circunstâncias podem ser de tal modo que o comportamento afetado pela emoção seja desadaptativo. As emoções negativas são partes adaptativas do comportamento humano. Nosso comportamento é direcionado, em grande medida, pelo que temos de respostas emocionais negativas, e então evitamos, fugimos, lutamos contra; como pelo que temos de respostas emocionais positivas, para aproximarmos ou esforçarmos para obter (Staats, 1996).

Staats (1996) destaca que os organismos evoluíram para operar de acordo com os princípios do condicionamento clássico e operante. Se estes tipos de respostas não têm função para o ajustamento dos organismos, por que, pergunta o autor, os organismos foram construídos de maneira que experimentam suas respostas emocionais? Por que aprendem também tais respostas em relação a tantos estímulos diferentes?

A análise de Staats (1996) esclarece que a resposta emocional é mantida pela evolução através das formas superiores de vida para a variedade dos organismos. Há, também, um aparato biológico envolvido na aprendizagem e na experiência das emoções. Esse aparato não teria se desenvolvido e se mantido se não tivesse significado adaptativo para o comportamento dos organismos.

Dentro desta perspectiva, pode-se afirmar que as emoções devem ser entendidas como atividades dos organismos, sendo estes um todo indivisível em seus ambientes, isto é, como o resultado de uma inter-relação única entre suas condições biológicas e ambientais. Desnecessário dizer que as variáveis biológicas não são as únicas responsáveis pela emoção, mas a história interativa individual. Analisar essa classe de eventos requer uma abordagem da emoção como fenômeno comportamental, esse entendido como a interação entre os organismos como um todo em seus contextos históricos e presentes.

 

Referências Bibliográficas:

Brannigan, C. R. & Humphries, D. A. (1981). Comportamento Não-Verbal Humano, um Meio de Comunicação. Em: N. Blurton Jones (org.). Estudos Etiológicos do Comportamento da Criança (pp.37-66). São Paulo: Pioneira.        [ Links ]

Britto, I. A. G. S. (2004). Sobre Delírios e Alucinações. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, Vol. VI, (1), 61-71.        [ Links ]

Britto, I. A. G. S. (2003). A Depressão Segundo o Modelo do Behaviorismo Psicológico de Arthur Staats.Em: M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão, Y. K. Yngberman, C. B. Moura, V. M. Silva e S. M. Oliane. Sobre Comportamento e Cognição: a história e os avanços, a seleção por conseqüências em ação. Vol.12, 60-68. Santo André: Esetec.        [ Links ]

Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed. (trabalho original publicado em 1998).        [ Links ]

Keller, F. S. & Shoenfeld, W. N. (1973). Princípios de Psicologia. São Paulo: EPU (trabalho original publicado em 1950).        [ Links ]

Millenson, J. R. (1975). Princípios de Análise do Comportamento. Brasília: Coordenada (trabalho original publicado em 1967).         [ Links ]

Skinner, B. F. (1938). The Behavior of Organisms. New York: Appleton-Century-Crofts.         [ Links ]

Skinner, B. F. (1970). Ciência e Comportamento Humano. Brasília: FUNBEC (trabalho original publicado em 1953).        [ Links ]

Skinner, B. F. (1991). Questões Recentes na Análise Comportamental. São Paulo: Papirus (trabalho original publicado em 1989).        [ Links ]

Skinner, B. F. (1999). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix (trabalho original publicado em 1974).        [ Links ]

Staats, A.W. & Staats, C. K. (1973). Comportamento Humano Complexo. São Paulo: EPU (trabalho original publicado em 1963).        [ Links ]

Staats, A. W. (1964). Human Learning. Studies Extending Conditioning Principles to Complex Behavior. New York:Holt, Rinehart and Winston, Inc.        [ Links ]

Staats, A. W. (1996). Behavior and Personality: Psychological Behaviorism. New York: Springer Publishing Company, Inc.        [ Links ]

Virués-Ortega, J. (2005). Causes of Unity and Desunity in Psychology and Behaviorism: An encounter with Arthur W. Staats’ Psychological Behaviorism. International Journal of Clinical and Health Psychology. Vol. 5 (1), 161-173.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Ilma A. Goulart de Souza Britto
psyilma@terra.com.br

Paula Virgínia Oliveira Elias
pvoelias@terra.com.br

 

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License