EDITORIAL

 

Editorial

 

 

O volume 8, edição especial da Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, pretende ser um espaço no qual se discutem temas a partir do diálogo entre a Psicologia Clínica e a Saúde Coletiva. Os autores e as autoras desta edição são docentes do curso de Psicologia da UFMG e comporão, em breve, um novo departamento, que se intitulará Psicologia Clínica e Saúde Coletiva, sendo esta a primeira produção desse grupo.

Apesar da diversidade de inserções e matizes teóricos a lhes orientar, eles assumem o caráter político da clínica, independentemente do setting em questão. Nesse mesmo sentido, sustentam que a reforma da clínica passa necessariamente pela reforma do pensamento dos atores que a protagonizam, o que gera desafios para a formação.

O artigo Uma questão preliminar às ações coletivas de combate ao machismo trata do machismo a partir do ponto de vista da psicanálise, em especial, da teoria da sedução generalizada, de Jean Laplanche. Trata-se de uma investigação que demonstra o alcance do pensamento clínico para se pensar questões políticas importantes.

Os "mutirões da saúde" como ação interdisciplinar de atenção primária à saúde aborda

uma intervenção que teve como foco a saúde do idoso e a saúde da mulher. Nesse artigo, demonstra-se a eficácia desta iniciativa no cenário do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde).

O artigo A política de saúde mental mineira: rumo à consolidação sistematiza a discussão sobre aspectos históricos e éticos no que tange à política de saúde mental mineira, tomando a prática de Belo Horizonte como referência.

No artigo À margem da cidade: trajetórias de invisibilidade e exclusão de travestis em situação de rua encontramos o relato de uma pesquisa que analisa trajetórias de vida de mulheres em situação de rua em Belo Horizonte. Valendo-se da história de vida como procedimento metodológico, os autores explicitam a condição de vulnerabilidade e invisibilidade da população estudada. Tal pesquisa sugere caminhos para intervenções clínicas e políticas importantes.

A Psicanálise pode ajudar a deter a roda-viva da violência social? é um artigo que demonstra como crianças em situação de violência são um público que tem aumentado nos serviço de clínica social da UFMG. Os casos analisados demonstram como a violência permeia os processos de identificação das crianças produzindo um risco concreto da manutenção do ciclo de violência. O atendimento psicanalítico tem efeitos concretos sobre uma questão de saúde coletiva importante na realidade brasileira.

Em A análise da implicação como dispositivo de transformação do processo de trabalho, baseado no referencial teórico-metodológico da análise institucional, demonstra-se como a restituição de uma pesquisa sobre a análise da implicação de trabalhadores no apoio matricial em saúde mental deu continuidade ao processo de análise e potencializou o trabalho em curso.

Em Saúde mental e estratégia de saúde da família: uma primeira experiência de aproximação destaca-se o protagonismo dos agentes comunitários de saúde na preparação para a implantação do apoio matricial em saúde mental em um município mineiro. Analisam-se os atravessamentos institucionais e limitações metodológicas da experiência.

A psicologia frente aos desafios do envelhecimento populacional apresenta algumas contribuições da psicologia clínica a uma questão cara à saúde coletiva: a saúde da população de idosos. São analisadas as estratégias para a promoção do envelhecimento ativo e para a prevenção de condições adversas próprias à faixa etária estudada.

Fechando o número especial, temos o artigo Psicologia das Emergências, no qual é feito um levantamento sistemático da produção em português de trabalhos acadêmicos sobre a psicologia das emergências. A pesquisa demonstra a necessidade de maiores estudos nesse campo de atuação que põe em relevo o diálogo entre ferramentas clínicas e atuação com o coletivo.

 

Fábio Roberto Rodrigues Belo
Cláudia Maria Filgueiras Penido