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Revista de Psicologia da IMED

On-line version ISSN 2175-5027

Rev. Psicol. IMED vol.11 no.2 Passo Fundo July/Dec. 2019

https://doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i2.3455 

EDITORIAL

 

A Produção Científica como Resistência às Políticas de Desmonte

 

 

O título deste editorial é uma cópia do tema do II Congresso Brasileiro da ABECiPsi (Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia), realizado na Universidade São Francisco (USF), campus Campinas, nos dias 11 e 12 de abril de 2019. Foram dois dias de discussões produtivas entre editores de várias revistas científicas de Psicologia do país. Todos engajados em garantir a qualidade da produção científica em meio ao panorama de desvalorização e desinvestimento na ciência nacional.

Foram muitos relatos de colegas indicando as dificuldades em manter as atividades de revistas científicas diante dos cortes financeiros constantes. O cenário é considerado preocupante! Vivemos um período histórico de contestação da área acadêmica, que vem sendo atacada por quem deveria protegê-la diante do seu papel fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação. Não cabe aqui listar tudo o que as pessoas, em seu cotidiano, utilizam graças à ciência, pois a lista é imensa e o público alvo ao qual este editorial é dirigido sabe bem da importância da pesquisa e da produção científica. É justamente por sabermos a importância da ciência em nosso cotidiano que precisamos adaptar nossa linguagem e transmitir ao público em geral nosso método e nossas descobertas de forma acessível.

Em uma das conferências que tive o privilégio de assistir durante o congresso, em um slide, o seguinte diálogo foi apresentado: "Sua ciência não sabe de tudo", ao que o interlocutor respondeu: "Verdade, mas pelo menos ela possui evidência para tudo que alega saber". Talvez este seja o motivo das sucessivas tentativas de deslegitimar pesquisadores e institutos de pesquisa. A ciência está alicerçada em fatos e não em opiniões! Infelizmente, tem sido frequente a censura a estudos científicos e conclusões alicerçadas em fatos em detrimento de opiniões sem embasamento. Recentemente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fiocruz foram atacados. Dados sobre desmatamento, sobre desemprego e sobre o consumo de drogas no país revelando a necessidade de ações imediatas de enfrentamento foram considerados inverídicos, mesmo sendo obtidos por meio de métodos científicos. Alguns dados, inclusive, foram proibidos de serem divulgados, ou seja, censurados.

O método científico, ou seja, a busca rigorosa e sistematizada de evidências empíricas para comprovação de suposições e hipóteses, precisa extrapolar os muros das instituições de ensino superior. É preciso que todos entendam como se realizam as pesquisas e, consequentemente, como seus dados e resultados são obtidos. Mais do que isso, é preciso adaptar o método científico para que faça parte do cotidiano das pessoas. Um exemplo disso é a necessidade de nos educarmos para buscar as evidências que sustentam as informações que consumimos. Não importa quem disse ou onde foi dito, é necessário que o/a consumidor/a da informação seja extremamente crítico/a e busque as evidências que as embasam.

Pesquisadores/as podem fazer a diferença, por exemplo, ao adaptar o método científico para a conscientização de alunos, durante sua formação básica. A CAPES indica, em seu documento de área para a Psicologia, que os PPGs precisam atuar na educação básica, contribuindo para a sua melhoria. Uma iniciativa poderia ser a promoção de encontros entre pesquisadores, pós-graduandos e estudantes de educação básica no quais discutam diferentes notícias vinculadas pela mídia. Para cada notícia, os estudantes formulam hipóteses e suposições e as testam por meio de busca de evidências de diferentes formas - por exemplo: em entrevistas com profissionais e na consulta a referências bibliográficas.

O desmonte das políticas científicas não ocorre somente por meio do corte de investimento financeiro. Ele também ocorre por meio dos ataques aos pesquisadores, buscando desacreditar seus estudos e divulgando informações inverídicas sobre descobertas científicas muito bem consolidadas (A terra é redonda! Vacinas são protetivas!). É preciso enfrentar o desmonte da ciência brasileira praticado por meio do obscurantismo populista. É urgente ir ao encontro da população, resistir aos ataques e construir, junto às pessoas, a conscientização que queremos ver na sociedade.

*Agradeço às mestrandas Linéia Polli e Kélin da Silva pela revisão e sugestões.

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