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Revista Psicologia e Saúde

On-line version ISSN 2177-093X

Rev. Psicol. Saúde vol.5 no.2 Campo Grande Dec. 2013

 

Pra não dizer que Freud e Lacan não falaram da solidão

 

So that it may not be said that Freud and Lacan did not speak about loneliness

 

Para no decir que Freud y Lacan no hablaban de la soledad

 

 

Isabel Tatit1; Miriam Debieux Rosa

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

 

 


RESUMO

Este trabalho partiu de impasses surgidos no atendimento clínico em consultório particular seguindo uma abordagem psicanalítica. Nossa escuta revelou a presença de uma intensa imaginarização e inflação de um discurso de auto-suficiência associado a essa dificuldade. Nesse sentido, entendemos ser importante atribuirmos maior peso a um significante muitas vezes responsável pela possibilidade de flexibilizar o discurso de auto-suficiência: o significante da solidão. Verificamos haver simetria entre o discurso de auto-suficiência dos pacientes e o discurso sobre a solidão presente na mídia de forma hegemônica. Assim, quando se apresenta como um contraponto ao discurso dominante, a solidão pode ser expressão da singularidade do sujeito, do ponto de vista da Psicanálise, uma experiência ética. Este trabalho pretende dar embasamento a essa reflexão por meio de uma revisão da solidão nas obras de Freud e Lacan.

Palavras-chave: Clínica; Psicanálise; Singularidade; Ideologia; Contemporaneidade.


ABSTRACT

This work emerged from impasses arising in clinical care in private practice following a psychoanalytic approach. Our listening also evidenced the presence of an intense imaginarization and inflation of a self-sufficiency discourse associated with this difficulty. In this sense, we believe it is important to assign greater weight to a signifier often responsible for the possibility of flexibility in the self-sufficiency discourse: the signifier of loneliness. Thus, when presented as a counterpoint to the dominant discourse, loneliness can be an expression of the subject's uniqueness and, from the standpoint of psychoanalysis, an ethical experience. This work intends to give basis for this reflection through a revision in Freud's and Lacan's theories concerning the notion of loneliness.

Key-words: Clinical; Psychoanalysis; Uniqueness; Ideology; Contemporary.


RESUMEN

Este trabajo se inició a partir de las cuestiones que se plantean en la práctica clínica con enfoque psicoanalítico. Nuestra escucha también reveló la presencia de un imaginarization intensa y una inflación de un discurso de autosuficiencia asociadas con esta dificultad. En consecuencia, creemos ser importante asignar un mayor peso a un significante muchas veces responsable por la posibilidad por flexibilizar el discurso de autosuficiencia: el significante de la soledad. Hemos encontrado una simetría entre el discurso de la autosuficiencia de los pacientes y el discurso sobre la soledad en los medios de comunicación hegemónicos. Por lo tanto, cuando se presenta como un contrapunto al discurso dominante, la soledad puede ser una expresión de la singularidad del sujeto, del punto de vista del psicoanálisis, una experiencia ética. Este trabajo pretende dar bases para la reflexión a través de una revisión de las obras de Freud y de Lacan en la idea de la soledad.

Palabras-clave: Clínica; Psicoanálisis; Singularidad; Ideología; Contemporánea.


 

 

Este trabalho2 parte da experiência de atendimento clínico desde o início de 2009, seguindo uma abordagem psicanalítica. As narrativas frequentemente repetidas por esses pacientes eram sobre as rupturas com suas famílias, bem como sobre a dificuldade em fazer vínculos e, finalmente, sobre a necessidade de um isolamento. Ao longo de nossa pesquisa deparamos com alguns impasses para a clínica que nos pareceram como manifestações de uma questão contemporânea. A escuta da solidão em nossa clínica revelou a presença de uma intensa imaginarização e uma inflação de um discurso de auto-suficiência. E nesse sentido entendemos ser importante atribuirmos maior peso a um significante muitas vezes responsável pela possibilidade de flexibilizar esse tipo de discurso: o significante da solidão.

Neste artigo, no entanto, não se configurará qualquer referência que temática estar em voga em congressos e nos meios de numa abordagem teórica do tema.

Além de a temática estar em voga em congressos e nos meios de comunicação ao longo do período dessa pesquisa (2010-2012), diversos psicanalistas contemporâneos (Ferrari, 2008; Tanis, 2003; Katz, 1996) trazem a idéia de que a solidão seria uma experiência dominante na atualidade.

Ao longo de nossa trajetória percebemos a importância de não estigmatizarmos nem patologizarmos ainda mais os discursos sobre isolamento, fazendo da solidão ou do isolamento um mal a ser subtraído. De fato a pesquisa foi mais proveitosa ao nos alertar dos equívocos de uma análise predirecionada dos pacientes que trazem essas temáticas do que no encontro de técnicas adequadas para uma clínica da solidão. Aliás, uma clínica especificamente para a solidão, do ponto de vista psicanalítico, não existe. Nossa prática clínica é voltada para o sujeito.

Outro ponto que vale ser lembrado é o fato de a solidão não ser propriamente um conceito na obra de Freud e Lacan. No entanto, entendemos que há uma série de conceitos fundamentais que se articulam à solidão e que podem contribuir para pensarmos esse tema tão caro a nossa clínica. É nessa direção que daremos início a uma leitura de Freud e Lacan, em busca de um refinamento da temática da solidão.

O compromisso com a ética psicanalítica nos leva para além de concepções universalizantes a respeito dessa noção. Lacan (1964) afirma que o sujeito está no intervalo - e por isso é que a interpretação não seria apontar o sentido, mas a posição do sujeito. O sentimento de solidão parece ser um intervalo entre os discursos sociais que engolem o sujeito e que impõe a necessidade de sermos felizes e sociáveis. Em alguns casos se sentir só é um escape da singularidade. Por outro lado, o isolamento descrito por alguns pacientes em nossa clínica aparece reforçando um registro imaginário, que valoriza falicamente a auto-suficiência, optando assim por uma colagem aos discursos contemporâneos do "um por um", do "salve-se quem puder", do "cada um por si", bem como do self-made man, self-esteem,self-realization, self-reliance.

A solidão contra a "miséria psicológica da massa"

[...] há um certo tempo, forjamos um terceiro ideal sobre o qual não estou certo de que pertença à dimensão original da experiência analítica - o ideal de não-dependência, ou, mais exatamente, de uma espécie de profilaxia da dependência.

(Lacan, 1959-60, pp. 21)

A tese central de Freud (1930) no texto sobre o mal-estar é a de que há uma dimensão de conflito inerente ao sujeito em seu campo social que se presentifica em dois níveis: o da renúncia pulsional, que entendemos ser a troca "de um tanto de felicidade por um tanto de segurança" (pp. 82) e o surgimento do que Freud chamou de "miséria psicológica da massa", que, por sua vez, pode ser evitada. Quando há uma cristalização nesse estado, "a ligação social se estabelece principalmente pela identificação dos membros entre si" (1921), e o sujeito cede a todos os ideais civilizatórios, identificado cegamente a um grupo. No estado de "miséria psicológica da massa" as singularidades são esvaziadas e submetidas a uma unificação do desejo, das escolhas, dos modos de apreender o mundo.

Por que as pessoas devem ser, todas, bem relacionadas socialmente, amigáveis, populares, rodeadas por outras pessoas? Freud já criticava o mandamento do supereu cultural "amarás teu próximo como a ti mesmo", discurso que incita sem muito questionamento o vínculo com todo e qualquer outro próximo. O sujeito sofre da punição desse ideal social de ter que se relacionar, Freud diz que o "[...] super-eu da cultura, exatamente como o do indivíduo, institui severas exigências ideais, cujo não cumprimento é punido mediante 'angústia de consciência". (Freud, 1930, pp. 117)

O sofrimento do sujeito é uma manifestação contra o que está posto socialmente. Essa é uma descoberta freudiana desde seu trabalho com as histéricas. Há, nesse sentido, uma política nos sintomas a ser considerada pela Psicanálise. Dessa forma, a solidão é tomada por nós como manifestação do mal-estar no laço social. A solidão se manifesta contra a miséria psicológica da massa, miséria essa que postula uma posição de gozo universal cristalizada para todos os sujeitos: "goze sendo auto-suficiente e sociável".

Entendemos que a solidão, ao contrário da segregação e do isolamento, não se faz inimiga da cultura, como poderiam afirmar alguns. Não podemos confundir solidão com segregação. A solidão não é apenas o refúgio em um mundo próprio, uma fuga do desprazer, ou uma faceta do individualismo, da indiferença ao outro, do narcisismo, onipotência, entre tantos outros nomes que poderíamos usar, reduzindo a experiência de solidão. Obviamente há movimentos inibitórios que servem como tentativas de isolamento, de criação de um espaço com risco zero e protegido, buscando um velamento das dificuldades na relação do sujeito com os outros. Há ainda, práticas segregativas advindas do Outro, nas quais a solidão passa ser uma condição forçada.

Defendemos, no entanto, que a solidão singular de cada sujeito se distingue destes por incluir o mal-estar da falta. Inclusive, o sujeito não precisa nem tampouco estar sozinho para vivenciá-la, pois, como afirma Dunker (2011), a solidão é uma versão do que a Psicanálise chama de separação ou castração, uma vez que nessa experiência, o objeto ao qual poderíamos nos identificar, para cobrir nossa falta e a nossa falta no Outro é finalmente deslocado de sua função encobridora. A Psicanálise deve levar em conta esse mal-estar sem se oferecer como um objeto substituto a esta falta. Não parece ser uma tarefa fácil, mas entendemos que dar ouvidos às falas dos sujeitos sobre sua experiência de solidão ou de isolamento pode ser uma direção possível de tratamento. Insistimos, por fim, que a solidão não cede aos ideais civilizatórios contemporâneos, pois questiona os atuais imperativos do "ser sem-solidão", do "ser popular", do "ser independente e com elevada auto-estima", resistindo ao estado de "miséria psicológica da massa".

Solidão X Contágio

La soledad no es el resguardo seguro em uma conciencia aparatada de los demás sino el afuera, es decir, el riesgo de confesarse frente a um mundo cruel y prejuicioso [...] Estar solo no es estar acompañado por uno mismo; es querer que se oiga uma palabra que los egoístas, infelices e injustos no quieren escuchar.

(Rousseau apud Pereyra, 2010, pp. 48)

Em "Psicologia de grupo e análise do ego", Freud (1921) afirma que apesar de cada indivíduo resultar de numerosas mentes grupais, já que sua constituição se dá por vínculos de identificação, tal indivíduo pode "[...] também elevar-se sobre elas, na medida em que possui um fragmento de independência e originalidade" (Freud, 1921, pp. 139). Este trecho tem relevância para o nosso trabalho, pois revela algo que é do próprio sujeito, algo que chamaremos de margem de liberdade do sujeito, de um espaço que é solitário, ainda que não seja exatamente um espaço que exclua toda e qualquer relação com o campo social, se faz como um intervalo, uma margem de solidão. Essa possibilidade de solidão, apesar de se incluir no laço social, rompe com os modelos que serviram de sustentação narcísica ao sujeito, e dessa forma entendemos que esse para além do Eu, que tem a ver com a condição solitária do sujeito, envolve separações, angústias, que podem -como vemos em nossa clínica - se manifestarem como movimentos de segregação e isolamento.

Nesse texto Freud discute sobre o poder de influência do grupo sobre a vida mental de um indivíduo, e ao recuperar as idéias de Gustave Le Bon, o psicanalista reforça que ao se unir a um grupo cada sujeito sente, pensa e age de modo muito diferente caso estivesse sozinho.

Essa primeira ideia já nos interessa, na medida em que Freud fala explicitamente do comportamento diferenciado de quando o sujeito está em um "estado de isolamento" (pp. 84), opondo ao comportamento associado a um grupo, que Le Bon chama de grupo psicológico. Ao compor um grupo como esse, as qualidades específicas de cada um esmorecem, e a heterogeneidade do "como fazer" de cada um se dissolve na homogeneidade das idéias do grupo. O indivíduo isolado age de modo diferenciado, pois não está exposto ao efeito de sugestionabilidade que tem um grupo, que adquire para o sujeito uma função de certo modo hipnótica.

E aqui consideramos que alguns movimentos de isolamento que chamaremos de separação (pois ocorrem, na realidade dentro do campo social) possam ser uma tentativa de brecar essa homogeneização, essa submissão de cada um ao discurso social comum alienante.

Ainda assim, a concepção de isolamento trazida por Le Bon no texto de Freud se aproxima do homem inserido na civilização, mas se opõe à condição do sujeito engolido pela massa. O sujeito isolado para Ler Bon, não está segregado das relações sociais, mas também não se dissolve na massa, conseguindo sustentar sua capacidade intelectual e crítica e não se deixando levar pela influência da fascinação das multidões.

Em um dos poucos momentos de sua obra que Freud fala diretamente sobre a solidão é a partir das reflexões de Le Bon. De forma ousada afirma que as grandes decisões no domínio do pensamento e as descobertas que envolveriam a trabalho intelectual "só são possíveis ao indivíduo que trabalha em solidão" (Freud, 1921, pp. 94). Importante salientar que logo o autor relativiza, ou melhor, avalia que não é porque está solitário que o sujeito não sofre influência dos outros em seu trabalho. Essa ponderação vai ao encontro da ideia de uma solidão que possa ser ética, ou seja, da manutenção de uma margem de separação e de liberdade na qual o sujeito consegue estabelecer em relação aos outros, margem esta que não o segrega completamente.

 

A lógica do sacrifício pela civilização (solidariedade pastoral) X A solidão

Freud (1927), em "O Futuro de uma ilusão" se revela um grande entusiasta da civilização e da ciência. Se realizarmos uma leitura desse texto a fim de investigarmos o ponto de vista freudiano quanto aos movimentos de um sujeito que se isola diante da civilização concluiremos que, apesar de o psicanalista achar pouco provável que um indivíduo consiga viver isolado, é fato que há um movimento hostil dos sujeitos contra o campo social. Já antecipando o que discutirá em "Mal-estar na civilização" o autor articula essa hostilidade à exigência social que impõem sacrifícios ao sujeito, a fim de viabilizar uma vida em sociedade. Além de afirmar que todo indivíduo é inimigo da civilização, por apresentar tendências destrutivas e anti-sociais, Freud acrescenta que em um grupo grande de pessoas essas tendências são ainda mais fortes. Sendo assim, como um apoiador dos laços sociais, declara: "A civilização, portanto, tem de ser defendida contra o indivíduo, e seus regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a essa tarefa" (Freud, 1927, pp.16). Para o autor esses regulamentos só serão sustentados por meio de "certo grau de coerção", uma vez que considera os efeitos da educação muito limitados e insuficientes para esse fim.

Entendemos que em nossa clínica o que se apresenta não é propriamente um desinvestimento libidinal do campo social ou uma recusa efetiva deste, mas sim uma resistência ao fardo que é para esses sujeitos tanto o ambiente de trabalho quanto o ambiente familiar: família e trabalho, duas instituições poderosas do campo social submersas em ideais sociais. Como diremos adiante, trata-se de uma recusa neurótica dos vínculos sociais. Nesse sentido, é evidente que discordaremos que o tratamento para os pacientes que se isolam momentaneamente deva ser ancorado em soluções coercitivas das "instituições e ordens", já que são exatamente essas que contribuem para o sofrimento do sujeito. Fundamentalmente porque essa renúncia instintual da qual Freud fala, a fim de que o sujeito participe da civilização, não deve se equivaler à entrada do sujeito nessa lógica do sacrifício, como às vezes o autor parece defender, em "O Futuro de uma Ilusão". Nossos pacientes já participam da civilização, o tratamento recairá nas modalidades de vínculo que eles estabelecem enquanto sujeitos já imersos nas relações sociais. A noção principal de uma ética psicanalítica é a de que nessas variadas formas de se lidar com o campo social, o sujeito não sacrifique seu desejo apenas para corresponder aos ideais sociais. Nesse sentido, Freud dará as primeiras coordenadas que Lacan desenvolverá sobre as relações entre sacrifício e renúncia pulsional a partir da distinção dos termos frustração, privação, castração e ao trazer à tona sua noção de supereu.

O supereu diz respeito à renúncia pulsional, pois resulta da internalização da coerção externa e é uma vantagem cultural, segundo Freud. Nesse momento Freud é um defensor do supereu, mas a problemática com a qual o próprio psicanalista se ocupa é que há um excesso de privação e restrição cultural que recai sobre as classes sociais dos "oprimidos", nas palavras de Freud (1927): "Em tais condições, não é de esperar uma internalização das proibições culturais" (pp.22). Aqui fica evidente como a lógicado sacrifício que teria como recompensa para o sujeito as "vantagens mentais da civilização", pode envolver uma questão problemática: se nem todos se beneficiam da civilização, porque haverão de se sacrificar por ela?

A lógica do sacrifício nos leva a uma reflexão pautada na esfera das satisfações narcísicas, que concebem as relações humanas como relação de "custo/benefício", como se as trocas sociais não fossem simbólicas, como se pudesse haver um apagamento das heranças simbólicas. A questão é: o sujeito deve se submeter aos ideais de sua civilização em troca de vantagens narcísicas? Ou em nome de seu desejo, que o inscreve simbolicamente e, ao mesmo tempo, singularmente num campo social?

Lacan (1959-60) revela a dimensão moralizante do imperativo superegóico, transpondo a discussão do supereu como instância reguladora para o campo do gozo. Nesse sentido, a ética da Psicanálise proposta por Lacan se diferencia do campo da moral superegóica. Autores como Safatle (2008) e Zizek (1992) trazem a tona essa concepção levantando exemplos do campo social a fim de ilustrá-las. O discurso médico que parece ser hegemônico atualmente sobre a solidão3 deixa implícita a seguinte posição: "goze sendo auto-suficiente e sociável", posição que parece paradoxal, mas que se trata do que Zizek chama de "estruturas normativas duais". Ao rever Lacan, o autor entende que o processo de socialização se dá por meio da internalização de duas estruturas normativas, a lei simbólica e a lei do supereu. A primeira é mais explícita e visa normatizar os modos de interação social, a segunda impõe de forma implícita os imperativos de conduta que atualmente "são pautados por exigências de satisfação irrestrita" (Safatle, 2008, pp. 15). A internalização de ambas as estruturas envolve um imperativo que simultaneamente enuncia a lei e a transgressão (seja sociável e seja auto-suficiente).

O sacrifício pela civilização também foi discutido por Freud e Lacan no nível do sujeito em sua relação com o próximo. Em "Mal-estar na Civilização", como dissemos, Freud aponta que uma das principais causas de sofrimento do sujeito se dá na relação com os outros. Lacan, ao retomar essa sua idéia se aprofundará na discussão a respeito do mandamento "Amarás a teu próximo como a ti mesmo", extraindo o caráter gozante uma vez que se trata de um imperativo. Lacan (1959-60) credita à Freud a percepção de que esse mandamento é a presentificação da função religiosa no homem. Ao tratar dessa função, Lacan retomará a fase de Nietzsche "Deus está morto" e acrescentará que está morto desde sempre. O autor sustenta que na história humana sempre houve o reconhecimento da função do Pai, que nomeará como Nome-do-Pai, uma vez que Deus já está morto. Essa fórmula muda as bases do problema ético para Lacan, visto que, o que está no cerne de o "Mal-estar na Civilização" é o repensar sobre o problema do mal, "[...] dando-se conta de que ele é radicalmente modificado pela ausência de Deus" (pp. 222). A subversão da ética da Psicanálise está nesse ponto, pois se distancia do moralista que evita esse tipo de problema sobre o mal, ao considerar que apenas a via do bem é direcionada pelo prazer. Para Lacan isso é um engodo, pois o prazer tem um aspecto paradoxal, que envolve o gozo, como Freud (1920) já se dava conta em seu "Além do Princípio do Prazer". Portanto, para ambos os autores esse amor ao próximo é uma armadilha, posto que imaginamos as dificuldades dos outros a partir do espelhamento das nossas: "Meu egoismo se satisfaz extremamente bem com um certo altruísmo, com aquele que se situa no nível do útil, e é o pretexto por meio do qual evito abordar o problema do mal que desejo, e desejo ao meu próximo." (pp. 224).

Philippe Julien (1996) destaca de forma precisa que a conseqüência desse esforço da sociedade a serviço do "Amarás teu próximo como a ti mesmo" é sim a constituição de uma fraternidade, mas na segregação, ou seja, o amor entre um grupo que sustenta um ódio a um outro grupo. Como se, ao pretendermos cegamente guiarmos por um amor absoluto, culminaríamos na intolerância, uma vez que não podemos deixar de considerar a agressividade, a maldade que existe em todos nós. Essa é a contribuição fundamental freudiana: não devemos desconsiderar o mal-estar constitutivo, a agressividade, o mal que existe em todo sujeito, questionando assim a possibilidade do amor pleno ao próximo.

Entendemos que os sujeitos que tentam recusar de modo neurótico o laço social encarnam a impossibilidade do "Amarás teu próximo como a ti mesmo". Julien afirma que o ódio social nasce da suposição de um saber sobre o gozo do Outro que parece escandaloso, e assim o sujeito tenta se colocar fora do laço. Parece que algo insuportável neles mesmos é visto como insuportável nos outros.

Em defesa de uma margem de liberdade

Freud (1921) fala da falta de liberdade do indivíduo em um grupo, na medida em que a união do grupo se faz por meio de um laço emocional intenso. Essa discussão entra em foco quando Freud discorre sobre a organização do grupo em torno de um líder, como ocorre na igreja e o no exército, em que o sujeito estaria preso a um laço libidinal que o une com o líder bem como com seus iguais. Em seguida o psicanalista analisará as implicações de um sujeito que rompe ou se desprende desses grupos aos quais antes era ligado. Aproveitaremos os exemplos freudianos para pensarmos a ruptura de nossos pacientes com suas famílias e com os grupos que antes eram considerados referência para aqueles sujeitos. Freud aponta para a emergência um possível pânico se houver uma desintegração do grupo:

Se um indivíduo com medo pânico começa a se preocupar apenas consigo próprio, dá testemunho, ao fazê-lo, do fato de que os laços emocionais, que até então haviam feito o perigo parecer-lhe mínimo, cessaram de existir. Agora que está sozinho, a enfrentar o perigo, pode certamente achá-lo maior.

(Freud, 1921, pp. 108)

Nesta passagem do texto "Psicologia de grupo e análise do ego" Freud nos alerta para alguns efeitos do relaxamento na estrutura libidinal do grupo como a cessação de todos os sentimentos de consideração, a emergência de pânico e medo. Entendemos que quando isso ocorre, o sujeito fundamentalmente se sente vulnerável em um meio que lhe parece mais instável, mas isso não significa imediatamente que o sujeito deve, portanto, sempre estar ligado por laços libidinais intensos a todo e qualquer grupo. Freud aponta para o fato de que em sua época a intolerância não mais se apresentava de forma tão violenta como já havia se apresentado, e isso decorreria do enfraquecimento dos sentimentos religiosos e da união dos indivíduos por esses laços libidinais intensos dos quais falávamos.

Atualmente, muito se escreve sobre a frouxidão dos laços contemporâneos, sobre a maior liberdade e autonomia dos sujeitos. Nosso trabalho como analistas, tanto na clínica quanto como pesquisadores é muitas vezes questionar sobre o estatuto dessa liberdade, visto que muitas das ações de nossos pacientes, como por exemplo, a escolha por mudar de cidade, por não casar, ainda aparecem como uma resposta à família. Poder se opor à família de certa forma é um sinal de liberdade do sujeito, mas isso não significa que essas escolhas não estejam sendo referenciadas. Para além do campo mais doméstico, há de se questionar a liberdade de escolha em uma sociedade que dita seus padrões não mais por meio de um pai opressor, mas por um autoritarismo de consumo.

Desse modo, o aforismo lacaniano "O desejo é o desejo do Outro" revela a principal questão para o sujeito neurótico, "então, afinal o que posso eu escolher?" O desejo do sujeito, como nos ensina Lacan tem sempre a referência no Outro, o que é diferente de dizer que as escolhas se colam na referência do outro, em sua dimensão imaginária. O que os pacientes nos mostram, é que ao radicalizarem sua margem de liberdade entendendo que escolher é romper com tudo que está dado, há uma irrupção de angústia e desamparo, ao se depararem com o impasse da necessidade de se diferenciarem dos outros, ou seja, de criarem essa margem de liberdade, tendem a formular frases que ultrapassam esse desejo de separação e diferenciação, ao expressarem muitas vezes que a solução para esse impasse encontrada por eles seria a de anularem suas referências simbólicas. Retomamos, no entanto, que o desejo do Outro é sempre referência para o sujeito inclusive para as escolhas inseridas na margem de liberdade de cada um.

O fort-da da solidão: a presença de ausência

A solidão não é, portanto, simples privação, ela é hipersensibilidade à ausente presença do outro [...]. Eis o princípio capital que se desenha aqui: a profundidade da solidão mede - tal qual uma sonda - a intensidade do desejo ardente do outro que não responde ao chamado.

(Assoun apud Tanis, 2003, pp.108)

A solidão é um sentimento da presença de ausência, ela é essencialmente simbólica. Quando Lacan retorna, em seu primeiro seminário ao jogo de carretel descrito por Freud, ele ressalta que a criança ao manejar a presença e a ausência do objeto por meio da emissão dos sons "ooo..aaa"4, estaria, em uma tentativa de controlar esses dois movimentos, "provocando-os", uma vez que antecipa a ausência e a presença do carretel, por meio da linguagem. Nessa passagem Lacan comenta que o jogo do fort-da ilustra "o momento em que o desejo se humaniza" (Lacan, 1953-54, pp. 228), que está para além do fato (importante) de a criança tentar dominar a sua privação, mas que por meio desse jogo, ela a assume. Aqui entra a maior contribuição de Lacan, em suas formulações em relação ao desejo e sua negatividade.

Lacan entende que ao usar a palavra para fazer aparecer e desaparecer o objeto, o sujeito destrói o objeto como tal. A relação com a mãe passa a ser mediada, e assim, invocando a ausência da mãe, para que por meio de um apelo ela possa se presentificar novamente, a criança estabelece uma nova relação, na qual supõe uma presença do outro ainda que ele esteja ausente. A voz do sujeito que provoca a ausência e a presença desse objeto, "[...] negativiza assim o campo de forças do desejo, para se tornar a si mesma, seu próprio objeto". (pp. 228). A idéia é que esse apelo endereçado da criança se faz da seguinte forma: o objeto é requisitado quando ausente, e sua ausência é evocada em sua presença. E a partir desse importante momento, a criança pequena, que ainda emite sons aproximativos, recebe as palavras (Fort/Da) do sistema discursivo que a rodeia: "[...] é já na sua solidão que o desejo do homenzinho se tornou o desejo de um outro, de um alter ego, que o domina e cujo objeto do desejo é, daí por diante, a sua própria pena" (pp. 228).

O caráter simbólico que envolve o jogo do carretel ainda não revela para criança o estatuto da recusa, do não, da negação de seu apelo (pp. 229). Da mesma forma mostraremos como o discurso de isolamento aparece como uma fala em análise que, assim como o jogo do carretel representa as ausências e presenças que marcaram a vida do sujeito, mas não implica necessariamente o confronto do sujeito com a própria negatividade e com a negatividade do outro. Explicaremos.

Assim como o jogo, esse discurso é repetitivo, na busca de alcançar um objeto que, como sabemos (desde o primeiro seminário de Lacan) já se apresenta no campo de uma negatividade, uma vez que a relação do sujeito de fato é a com a falta de objeto. Essa formulação é ainda mais avançada em seu seminário XI, quando Lacan retorna mais uma vez ao fort-da, dessa vez com avanços teóricos significativos a respeito do objeto, nesse momento, objeto a.

Lacan afirma "Não há fort sem da" (Lacan, 1964-65, pp. 226), palavras que na língua materna da criança que jogava o carretel significam "longe" e "aqui". O sentimento de solidão supõe que poderia haver uma presença aonde algo se ausenta. No entanto, como demonstra nossa clínica, muitos sujeitos, mesmo acompanhados, se sentem sós, e nesse sentido falam mais da dificuldade de lidarem tanto com a própria falta, quanto com a falta do outro.

Nossa hipótese é a de que muitos solitários, mesmo rodeados por parentes, amigos e colegas, ainda se queixam por não suportarem a ausência do outro, enquanto presente. Ou seja, quando o outro (presente) recusa um apelo, os sujeitos chegam a ficar mergulhados no sentimento de ausência, e uma das respostas dada por eles é o próprio isolamento. Por outro lado, nossos pacientes parecem sofrer da frustração que envolve a ausência (simbólica) do outro que está presente.

Em se tratando do sofrimento que a ausência envolve (ligado à frustração), Lacan (1962-63) reitera que a maior angústia do sujeito, de fato se daria na falta dessa ausência. De forma contundente ele afirma:

A possibilidade da ausência, eis a segurança da presença. O que há de mais angustiante para a criança é, justamente, quando a relação com base na qual essa possibilidade se institui, pela falta que a transforma em desejo, é perturbada, e ela fica perturbada ao máximo quando não há possibilidade de falta, quando a mãe está o tempo todo nas costas dela, especialmente a lhe limpar a bunda, modelo da demanda, da demanda que não pode falhar.

(Lacan, 1962-1963, pp. 64)

No reino da demanda e da necessidade não há espaço para a solidão, o outro está presente para suprir o sujeito. No entanto, como radicaliza Lacan (1954-55), o Outro verdadeiro é o que dá a resposta que não se espera (pp. 310). E, nesse sentido, a análise tende a esvaziar esse Outro a quem o sujeito responde como objeto narcísico, ou seja, como a frase que diz "sou o que o outro espera que eu seja". Esse Outro é castrado, bem como o sujeito. A solidão, assim como o jogo de fort-da, ilustra essa divisão do sujeito, uma vez que, ao entrar no campo da linguagem em que algo se perde, o sujeito se torna desejante, porém (e intrinsecamente) auto-exilado de si mesmo. Aqui faremos a passagem do que Freud chama de desamparo, ao que Lacan trabalha como falta. Lacan entende que quando o primeiro grito da criança é interpretado (por exemplo, o "ooo-aaa" como "fort-da") algo é perdido para sempre. "Algo" é aquela coisa que não foi significada pelo significante, para Lacan esse é o maior desamparo do sujeito, no primeiro grito algo se perde.

Uma solidão que possa ser ética

Lacan (1959-60) quer evidenciar em seu ensino que a dimensão ética trazida pela Psicanálise se situa para além do mandamento e do sentimento de obrigação. O autor fala da importância do "Mal-estar na civilização" de Freud, mas revela de modo mais explícito o caráter obsceno e feroz do supereu, e propõe como um ato ético uma contraposição aos seus imperativos. Lacan salienta da obra de Freud que a questão ética para o ser humano se dá por uma orientação do homem em relação ao real e não ao ideal (Lacan, 1959-60, pp. 23).

Dito de outro modo, a Psicanálise, na contramão de inúmeras vertentes filosóficas que discutem os valores éticos em termos de universalidade, aponta exatamente para além do que é universal, pois considera muito otimistas as reflexões que contam com o sentimento de obrigação relativo aos mandamentos sociais, visto que o que é próprio do sujeito, na realidade, é a atração da falta moral (Lacan, 1959-60, pp.12).

Lacan ainda propõe algo a mais acerca da experiência moral na análise, afora o que dissemos até agora em relação à entrada do sujeito na cultura - o que ele deve renunciar e a tendência à agressividade, ou atração pela falta, como nos ensinou Lacan - se refere à famigerada frase freudiana, que disparou interpretações tão distintas: Wo Es war, Soll Ich werden. Lacan entende que essa frase aponta para uma ética psicanalítica que se imbrica na dimensão do desejo. Ao invés da tradução "o Eu deve desalojar o Isso", adotada pela Ego Psichology, Lacan faz a leitura de que o eu (sujeito do inconsciente) que deve advir lá onde isso estava (Lacan, 1959-60, pp. 18). A interpretação de Lacan traz esse aspecto crucial quando diz que o é o sujeito do inconsciente e não o ego que deve advir na análise, posto que é o sujeito que se interroga sobre o que quer, trazendo à tona o desejo.

Abriremos um breve parênteses para comentar sobre a interpretação que entende a frase freudiana como "onde estava o isso, o Ego deve advir", ou "o Eu deve desalojar o Isso". Essa interpretação é um exemplo de um otimismo e de uma ingenuidade segundo Lacan uma vez que trata o Ego como o representante do princípio de realidade que pode e deve controlar o princípio do prazer. Lacan alerta que assim a Psicanálise advoga uma certa moral como guia das ações humanas, na medida em que essa frase assim interpretada promulgaria um ideal de conduta que se contrapõe à atração do sujeito pela falta moral.

Portanto, o caminho pelo qual Lacan sugere seguir os que se interessam pelo tema da ética é o que vai para além da ética enquanto reflexão dos valores e dos ideais universais. Em última instância, Lacan defende a inclusão do registro do real para que a Psicanálise não se junte às áreas de saber que ele adjetiva como moralistas, por se restringirem aos campos do simbólico e imaginário.

Partimos do pressuposto de que a solidão, mais do que significar algo (uma doença, uma dor social, uma capacidade, efeito da desintegração do ego) significa para alguém. A experiência de mal-estar do sentimento de solidão é, como reforça Dunker (2011), simbólica por excelência. Diferentemente do que essas pesquisas apresentam, a solidão não está associada a uma falta de objetos determinados. A perspectiva contemporânea parece transformar o vínculo afetivo com o outro em mais um objeto de satisfação que deve ser conquistado por cada indivíduo, em nome de sua "saúde e bem-estar".

Portanto, pensar a solidão como doença do indivíduo que sempre fracassa na relação com o outro é reduzir essa experiência a um estatuto imaginário das relações sociais, podendo legitimar inclusive a queixa do neurótico insatisfeito que sente falta de mais reconhecimento do outro. É um pensamento que achata e reduz, tanto a concepção de solidão, quanto a complexidade que envolve os vínculos entre os sujeitos, que em certo sentido, sempre fracassam.

Lacan (1960) nos alerta em seu Seminário VII, que devemos ser mais cautelosos quanto às análises que segundo ele pendem "para a facilidade" e que fazem "todo o tratamento deslizar para o manejo da frustração". Alguns analistas, segundo o autor, são fascinados pelas seqüelas da frustração e acabam adotando uma postura de sugestão, de reeducação emocional, restando assim aos pacientes repassarem suas demandas ao analista (Lacan, 1958, pp. 625). A prevalência dada à demanda é algo que o neurótico já faz, alerta o autor. Não devemos tratar a solidão, portanto, ao modo do neurótico, ou seja, tamponando a falta que ela envolve, como se houvesse um objeto pré-determinado a ocupar esse lugar. A solidão como presença da ausência do outro, é um sentimento que pode simbolizar a falta e, portanto, revela uma posição desejante ao invés de demandante.

Ao ouvir os sujeitos que se diziam solitários nos demos conta de que eles encarnavam, de certa forma, um conflito da sociedade homogeneizada, que valoriza a coesão de grupo, a harmonia, a felicidade, ao mesmo tempo que incita a auto-suficiência, a autonomia e a independência. Os sujeitos estavam sozinhos, mas não podiam sofrer por isso, pois deviam ser auto-suficientes. O discurso que trata a solidão como doença aposta em um ideal de auto-suficiência, (criticado por Lacan em seu seminário VII) e desconsidera o mal-estar constituinte do sujeito na relação com os outros.

 

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Recebido: 30/07/2013
Última revisão: 09/10/2013
Aceite final: 15/10/2013

 

 

Sobre os autores:
Isabel Tatit - Psicanalista, doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012). Membro do Laboratório Psicanálise e Sociedade e do Núcleo Psicanálise e Política da PUC-SP. E mail: : i_tatit@hotmail.com
Miriam Debieux Rosa - Psicanalista, coordena o Laboratório Psicanálise e Sociedade e o Projeto Migração e Cultura USP); coordena o Núcleo Psicanálise e Política (PUC-SP). Coordena a pesquisa Responsabilidade e responsabilização: diálogos entre psicologia, psicanálise e Sistema de Justiça Juvenil (CNPQ). E-mail: debieux@terra.com.br

 

 

1 Endereço 1: Rua Pratápolis, 122. CEP 05579-060, São Paulo, SP. Telefone: (11) 3721-8884
2- Este artigo é parte da Dissertação de Mestrado intitulada "Do discurso de isolamento a uma experiência de solidão", defendida em 2012 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Prof. Dra. Miriam Debieux Rosa. Trabalho realizado com apoio do CNPq (bolsa de Mestrado).
3 - Não nos deteremos neste trabalho na concepção médica da solidão. A esse respeito tratamos de forma exaustiva em nossa dissertação de mestrado, ainda não publicada.
Tatit, I. (2012). Do discurso de isolamento a uma experiência de solidão. Dissertação de mestrado não publicada, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.
4 - O jogo do carretel, nomeado de Fort-da por Freud em "Mais além do princípio do prazer" (1920), no qual o autor relata uma cena de seu neto, com dezoito meses, ao ser deixado pela mãe em seu berço, emite os sons aproximativos "ooo..aaa" (fort-da), enquanto repetidamente lança e puxa um fio preso a um carretel.