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Revista Subjetividades
Print version ISSN 2359-0769On-line version ISSN 2359-0777
Rev. Subj. vol.19 no.3 Fortaleza Sept./Dec. 2019
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v19i3.e8481
RELATOS DE PESQUISA
Adolescentes usuários de drogas e a desinserção social
Teenage drug users and "social disinsertion"
Adolescentes usuarios de drogas y la exclusión social
Jeunes usagers de drogue et l'exclusion sociale
Ilka Franco FerrariI; Mônica Eulália da Silva JanuzziII
IPsicanalista. Pós doutora pela Universidade de Barcelona; doutora em Psicologia pelo Programa de Clínica y Aplicaciones del Psicoanális na Universidade de Barcelona; Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) nos cursos de Graduação e Pós-graduação; membro da Escola Brasileira de Psicanálise, Seção Minas Gerais, e da Associação Mundial de Psicanálise
IIPós doutoranda em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Mestre e Doutora em Psicologia pela PUC Minas; Professora do Curso de Graduação em Psicologia na Faculdade Pitágoras - Betim - MG
RESUMO
O texto em questão buscou responder como as dificuldades de adesão ao tratamento, apresentadas por adolescentes usuários de drogas, podem beneficiar o trabalho realizado nos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenill (CAPSi) do estado de Minas Gerais. Nele se destaca, entre outras, a dificuldade que se chamou de desinserção social. O campo teórico/prático da psicanálise orientou o trabalho através do método do caso único, que permite resultados universalizados respeitando as singularidades, isto é, um universal alcançado a partir do singular. Fragmentos das entrevistas semiestruturadas realizadas com os cinco jovens estudados, indicados pelas equipes dos serviços por serem considerados paradigmáticos daqueles que apresentavam dificuldades de adesão, e com os profissionais que os acompanharam são utilizados para subsidiar as considerações apresentadas, considerando a cartografia própria da vida dos sujeitos implicados no processo. Constatou-se que os efeitos das destituições simbólicas do Outro, no contemporâneo, têm favorecido a instauração de modos subjetivos de desconexão social, a exemplo da toxicomania, e que o modo como a desinserção aparece, na singularidade de cada caso, no contexto da adolescência, indica a presença de um sintoma social da época. A descrença dos jovens na relação com o Outro Social aparece em suas relações com o CAPSi, um Outro Institucional. Mas, quando esse Outro se faz exceção e se apresenta como lugar de cuidado, de presença e interesse pelo sujeito, mudanças ocorrem entre a desinserção e a inserção possível, levando o sujeito a encontrar um lugar no Outro, não se apagando no coletivo da política pública.
Palavras-chave: adolescência; desinserção; drogas; psicanálise.
ABSTRACT
The text in question sought to answer how the difficulties of adherence to treatment, presented by adolescent drug users, can benefit the work carried out in the Psychosocial Care Centers of Children-Juvenile (CAPSi) of the state of Minas Gerais. It highlights, among others, the difficulty that has been called "social disinsertion." The theoretical/practical field of psychoanalysis guided the work through the unique case method, which allows universalized results respecting the singularities, that is, a universal achieved from the singular. Fragments of the semi-structured interviews conducted with the five youths studied, indicated by the service teams because they are considered paradigmatic of those who had difficulties with adherence, and with the professionals who accompanied them are used to support the considerations presented, considering the cartography of their lives involved in the process. It was found that the effects of symbolic dismissals of the Other, in the contemporary, have favored the establishment of subjective modes of social disconnection, such as drug addiction, and that the way disinsertion appears, in the uniqueness of each case, in the context of adolescence, indicates the presence of a social symptom of the time. Young people's disbelief in their relationship with the Other Social appears in their relationship with CAPSi, an Institutional Other. But when this Other becomes an exception and presents itself as a place of care, presence, and interest for the subject, changes occur between disinsertion and possible insertion, leading the subject to find a place in the Other, not disappearing in the collective of public politics.
Keywords: adolescence; "deinsertion"; drugs; psychoanalysis
RESUMEN
El texto buscó contestar como las dificultades de adhesión al tratamiento, presentadas por adolescentes usuarios de drogas, pueden beneficiar el trabajo realizado en el Centro de Atención Psicosocial Infantojuvenil (CAPSi) del estado de Minas Gerais. En él subrayamos, entre otras, la dificultad que llamamos de exclusión social. El campo teórico/practico del psicoanálisis oriento el trabajo por medio del método del caso único, que permite resultados universalizados respetando las singularidades, es decir, un universal logrado a partir del singular. Fragmentos de las entrevistas semiestructuradas realizadas con los cinco jóvenes investigados, indicados por el personal de los servicios porque eran considerados paradigmáticos de aquellos que presentaban dificultades de adhesión, y con los profesionales que les acompañaron son utilizados para subsidiar las consideraciones presentadas, considerando la cartografía propia de la vida de los sujetos involucrados en el proceso. Se observó que los efectos de las destituciones simbólicas del Otro, en el contemporáneo, favorece la implantación de modos subjetivos de desconexión social, a ejemplo de la toxicomanía, y que el modo como la exclusión se presenta, en la singularidad de cada caso, en el contexto de la adolescencia, indica la presencia de un síntoma social de la época. La incredulidad de los jóvenes en la relación con el Otro Social surge en sus relaciones con el CAPSi, un Otro Institucional. Pero, cuando este Otro hace excepción y se presenta como lugar de cuidado, de presencia y interés por el sujeto, cambios ocurren entre la exclusión y la inclusión posible, llevando el sujeto a encontrar un lugar en el Otro, no borrándose en el colectivo de la política pública.
Palabras clave: adolescencia; exclusión; drogas; psicoanálisis.
RÉSUMÉ
Le texte en question a eu comme objectif d'expliquer comment des difficultés d'adhésion au traitement présentées par des jeunes consommateurs de drogues peuvent bénéficier des travaux menés dans les centres de prise en charge psychosociale des jeunes (CAPSi) chez l'État de Minas Gerais, au Brésil. On fait attention, entre autres, à la difficulté qui s'est appelée d'exclusion sociale. Le champ théorique / pratique de la psychanalyse a guidé le travail à travers la méthode du cas unique, qui permet d'obtenir des résultats universels respectant les singularités, c'est-à-dire un universel obtenu à partir du singulier. Des entretiens semi-structurés ont été menés avec cinq jeunes étudiés, lesquels on été indiqués par les équipes de service à cause de leurs caractéristiques de patients paradigmatiques de difficile observance. Entretiens ou été aussi menés avec les professionnels qui les ont accompagnés. Certains fragments des entretiens ont été utilisés pour soutenir les considérations présentées, en considérant la cartographie de la vie des sujets impliqués dans le processus. Il a été constaté que les effets des destitutions symboliques de l'Autre, dans le monde contemporain, ont favorisé l'établissement de modes subjectifs de déconnexion sociale, tels que la toxicomanie. On a aussi constaté que la manière dont l'exclusion apparaît, dans chaque cas, dans le contexte de l'adolescence. , indique la présence d'un symptôme social du temps. L'incrédulité des jeunes dans leur relation avec l'Autre social apparaît dans leur relation avec CAPSi, un Autre Institutionnel. Mais lorsque cet Autre devient une exception et se présente comme un lieu de soin, de présence et d'intérêt pour le sujet, des changements se produisent entre l'exclusion et l'insertion possible, ce qui amène le sujet à trouver une place dans l'Autre, et ne disparaissant pas dans le collectif de la politique publique.
Mots-clés: adolescence ; exclusion ; drogues ; psychanalyse.
Em extensa pesquisa1, na qual se buscou investigar como as dificuldades de adesão ao tratamento apresentadas por adolescentes usuários de drogas podem trazer benefícios ao trabalho realizado nos Centros de Atenção Psicossocial e Infanto-Juvenill (CAPSi) do estado de Minas Gerais, importantes e variadas informações foram obtidas. Destacaram-se, como indicadores das dificuldades de adesão: a desinserção, o encontro com o objeto droga, a toxicomania e os cuidados específicos que os casos demandaram dos serviços frente ao desamparo que apresentam.
Aqui se faz um recorte focado no achado da "desinserção social", tal como o termo é abordado pelo psicanalista Jacques-Alain Miller (2009), por considerá-la crucial para o estabelecimento de uma leitura das especificidades encontradas nas dificuldades de adesão demonstradas pelos jovens estudados. O campo da atenção psicossocial contextualiza a problemática estudada a partir do trabalho que se realiza nos chamados CAPSi.
Apesar do processo de implantação da política de saúde mental para crianças e adolescentes (SMCA), no Brasil, ser contemporâneo à construção da política para o cuidado de pessoas com problemas decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas, ou seja, início do século XXI, as questões relativas ao uso de drogas na população infanto-juvenil não foram introduzidas imediatamente na agenda das políticas públicas. A despeito disso, as demandas relativas a esses casos emergiam no cenário social se dirigindo, também, e cada vez mais, à atenção psicossocial, convocando seus operadores a se posicionarem frente ao mandato do CAPSi acerca da especificidade de tais casos (Couto & Delgado, 2015; Ministério da Saúde do Brasil [MS], 2005; Portaria nº 816, 2002; Portaria nº 2197, 2004). Outro problema estrutural é que nesses casos se trata do exercício de clínica com significativa presença de encaminhamentos compulsórios, como escrevem Guerra e Silva (2013), ao destacarem os atravessamentos presentes na judicialização dos casos.
Em psicanálise pode-se encontrar contribuições acerca de uma clínica pragmática dos diversos modos subjetivos de desconexão social que se apresentam no contemporâneo, assim como apareceu no contexto da pesquisa realizada, proporcionando reflexões acerca das dificuldades do sujeito adolescente usuário de álcool e drogas na relação com o CAPSi, instituição que, no caso, surge como um Outro Institucional.
Fato é, de acordo com Pedrosa e Soares (2013) e Maia (2013), que cerca de 60% dos adolescentes envolvidos com o uso de drogasque foramencaminhados ao CAPSi em que os autores trabalhavam abandonaram o tratamento em 2013. A produção de dados mais específicos acerca das particularidades da questão é ainda pobre e incipiente no país, tanto em termos macro quanto microssociais. Em geral, reproduzem estereótipos da marginalidade nos quais os jovens se localizam. O tema requer, certamente, novas e várias contribuições. O trabalho que se realizou se situa nessa direção, já que contribui para dar visibilidade ao problema, evidenciando-o a partir da perspectiva dos próprios jovens.
Método
Trata-se de pesquisa qualitativa que, portanto, não conta com generalização de informações, mas com a possibilidade de transferibilidade de informações. Utilizaram-se formalizações psicanalíticas acerca do caso único como operador do estudo realizado, considerando que, segundo Miller (2006), uma pesquisa produz conhecimento a partir de duas vertentes: a da acumulação e a da investigação. A primeira tem importância porque é nela que se pode conhecer o que foi construído por aqueles que vieram antes de nós, cujo acúmulo de conhecimento, obviamente, contribui para se avançar frente à questão em que se está implicado. Mas essa via também tende a levar à repetição. A vertente capaz de situar o novo é a da investigação: "... pesquisar é buscar, esperar o novo" (Miller, 2006, p.15), condição em que não há a segurança que se faz presente nas repetições. O modelo do caso único está presente ao longo de todo o percurso da psicanálise freudiana e lacaniana, e sua característica de exceção nos diz do sujeito sempre constituído como aquele que escapa à regra das classificações e das generalizações. O caso, mesmo analisado entre outros, não produz seriação, mas a extração de elementos singulares que ensinam, tornando-o, assim, paradigmático. Gallo e Ramírez (2012, p.11) escrevem que a pesquisa em psicanálise é algo que sempre traz incertezas que não podem ser dominadas completamente, mas que é possível a construção de um percurso com sua legitimidade.
Decidiu-se que as informações seriam obtidas através de entrevistas semiestruturadas, por elas permitirem que a livre associação acontecesse e, consequentemente, que ocorresse o processo dinâmico das informações. A análise, portanto, se organizaria a partir de macro categorias, tendo como referência a afirmação de Miller, em La Naturaleza de los Semblantes (2001, p.9), de que uma categoria é "uma qualidade atribuível a um objeto, o que a converte em uma classe onde é possível colocar objetos de igual natureza, ou seja, um princípio de classificação", ainda que se trate de caso único.
Nessa vertente, a pesquisa em psicanálise coloca o pesquisador em condições de estar aberto à surpresa advinda do real veiculado pela palavra, pelos significantes presentes no discurso do sujeito que convoca a uma escuta que vai além das generalizações, das palavras enunciadas pelo sujeito, mas nelas reconhecendo os aspectos da enunciação.
Participaram do trabalho profissionais de cinco CAPSi do estado de Minas Gerais, situados em distintas cidades. Em cada um deles estudou-se o caso de um adolescente, indicado pela equipe como caso exemplar de dificuldades de adesão ao tratamento, e realizou-se entrevista com o profissional de referência do caso. O perfil de formação dos profissionais era: um formado em Terapia Ocupacional, outro em Psicologia, outro em Psiquiatria, e dois em Serviço Social. Totalizaram, portanto, 5 adolescentes e 5 profissionais.
Os procedimentos se iniciaram ainda em 2014, com uma fase preliminar e exploratória, que consistiu em entrar em contato com dezesseis CAPSi do estado de Minas Gerais, na época cadastrados no Ministério da Saúde (MS, 2014), através do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Nesse primeiro momento, o contato se deu via telefone, com os gerentes dos serviços. Quatro deles informaram que os CAPSi em que trabalhavam não atendiam adolescentes usuários de drogas e que esses casos eram encaminhados aos Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS-AD), de seus municípios ou de municípios vizinhos. No caso dos outros doze serviços,as equipes foram convidadas a participar a partir do contato com o gerente dos serviços e seis aceitaram o convite. No entanto a equipe de uma das instituições não chegou a indicar o caso, o que inviabilizou a participação.
Após as instituições aceitarem o convite, o projeto foi enviado aos três Comitês de Ética responsáveis pela aprovação de projetos de pesquisa. A partir dos aceites dos referidos comitês, os CAPSi envolvidos foram visitados para apresentação detalhada do projeto de pesquisa à equipe e organização de seu desenvolvimento. As equipes foram solicitadas a indicarem o caso a ser estudado, aquele que consideraram paradigmático da clínica de sujeitos adolescentes usuários de álcool e drogas e que apresentavam dificuldades de adesão ao tratamento. Ademais, as equipes também se disponibilizaram a oferecer condições para o estudo do caso, fornecendo os registros dos prontuários.
A etapa seguinte consistiu no encontro com os jovens e com os profissionais para a realização das entrevistas semiestruturadas. No caso dos jovens,buscaram saber: como havia sucedido o encaminhamento ao serviço; se o adolescente já conhecia o serviço ou se havia ouvido falar algo a respeito dele; quais foram suas primeiras impressões do serviço; o motivo pelo qual ocorreu seu encaminhamento; sua opinião sobre a adequação do serviço para atender casos como o seu; o que o levou a interromper seu tratamento no CAPSi; e, finalmente, como ele pensava que deveria ser o tratamento em um CAPSi. As perguntas orientadoras da entrevista com os trabalhadores consistiram em saber: como o adolescente chegou ao serviço; suas primeiras impressões sobre o caso; as primeiras condutas; as medidas que o caso exigiu dele e da equipe; os aspectos que destacaria no caso; e o que entendia haver contribuído para as dificuldades de adesão ao tratamento do adolescente.
Em paralelo também se fazia o estudo dos prontuários dos sujeitos. As entrevistas foram gravadas e transcritas, com exceção de dois jovens que desejaram que isso não ocorresse, o que foi respeitado e informado aos respectivos Comitês de Ética em Pesquisa.
Resultados e Discussão
A partir do estudo dos casos foi possível extrair quatro categorias que expressam certo aspecto do "universal", mas que ali se repetiam na singularidade de cada sujeito: a desinserção, o encontro com o objeto droga, a toxicomania e os cuidados específicos que os casos demandaram dos serviços no âmbito da atenção psicossocial. Reafirma-se que, neste texto, o foco das discussões está na desinserção.
Nos cinco casos estudados são encontradas cinco formas de desinserção. A primeira delas se lê no caso do jovem que, para a pesquisa, chamava-se Marcelo. Os demais nomes também são fictícios, buscando preservar suas identidades. Marcelo é o jovem que, por meio de sua história, percebe-se intruso na família que o criou e nunca o adotou decisivamente. "Intruso" era a nomeação que recebia do pai adotivo, quando este ficava bêbado, situação que começou a ser frequente na adolescência do jovem, momento que coincide com o período em que ele manifestou seu desejo em ter o sobrenome do pai, portanto, ser adotado oficialmente. A forma como se deu sua entrada no CAPSi sugere um acting out dirigido ao pai, porque entra em crise ao colocar, em seu repertório de uso da maconha, o excesso de álcool, marca do pai. Esse jovem, "intruso", não encontra lugar onde quer que esteja.
Aline, por sua vez, tem sua história marcada por relações familiares radicalmente desconectadas e por longa errância nas ruas, mediada pelo uso de crack. Em sua história havia, anteriormente, abuso sexual sofrido por um irmão e pela saída encontrada por sua mãe que, por motivos que se desconhece, deixou-a fora de casa.
O terceiro jovem, Adriano, envolveu-se com roubos e uso de arma de fogo após vacilarem suas coordenadas edípicas. Junto com a negligência materna, o jovem também descobre que seu pai biológico não era aquele que o criou, mas um homem envolvido com o crime, que perseguia adolescentes e que havia sido morto por um deles. Sua história se desconectava e, paralelo a isso, se diversificavam suas experiências com certas substâncias. "Eu fumava maconha, cheirava, baforava... Fazia de tudo, menos fumar pedra", dizia ele.
Willian é um jovem criado pela avó paterna e pelo qualo pai não se interessava. Cresceu na mesma casa que ele: "Eu só vejo ele, a gente não conversa". Encontra, no tráfico e no uso da maconha, um jeito "tranquilão", como dizia, de se manter na vida, mas que se refletia no desligamento e desinteresse que marcavam suas relações.
Jonas é um jovem cujas dificuldades com seus próprios limites, em decorrência do uso abusivo que fazia da cocaína, o leva ao tráfico, à prostituição e a uma progressiva e devastadora ruptura com o laço social estabelecido.
Tal como afirma Conca (2009) e se constata na pesquisa, a droga é um dos objetos bastante específicos que, no contemporâneo, se presta à desinserção. Mas a autora também comenta que a maioria das pessoas que consomem tais substâncias começa a fazê-lo na puberdade, a partir de finalidades diversas e, de início, a desinserção não se configura como uma delas. Os motivos mais comuns para o caminho da droga são a busca por um acesso rápido à satisfação, o equilíbrio do mal-estar que se produz no encontro com o outro, a identificação com seus pares grupais, a curiosidade, a diversão... E aqui não dá para esquecer que Freud (1930/1996d) já afirmava que as substâncias intoxicantes são usadas, pelos homens, por seus efeitos de anestesiá-los do mal-estar a que estão submetidos. Nesse sentido, em um primeiro momento, a droga não é um veneno, mas um pharmacón para a dor de existir (Santiago, 2017). O caráter paradoxal do objeto droga, destacado por Conca (2009), faz com que esse objeto se preste tanto à inserção quanto à desinserção.
A desinserção, mediada pelo objeto droga, surge, portanto, em um segundo momento, encobrindo o impossível da relação sexual para os seres falantes, o que é extremamente emblemático na puberdade, favorecendo o acesso a um gozo que não passa pelo corpo do Outro. Quando Jonas, por exemplo, decide abandonar o tratamento, intensifica o uso da cocaína e os efeitos disso foram ainda mais devastadores: "Fiquei pior do que eu entrei da última vez! Tipo assim, quando você se envolve, você tem recaída, você volta pra caralho, véio! Você não quer parar mais(...) É uma desgraceira mesmo."
Assim, a satisfação e o prazer, vivenciados em um primeiro momento, e que podem até serem facilitadores do encontro com o outro, facilmente podem dar lugar à solidão e ao isolamento. Como dizia Jonas: "Eu não assistia televisão, não ouvia rádio. Só ficava fumando droga. Eu e a droga!"
Não se pode deixar de mencionar que, todavia, se as formas de laço social desses jovens refletem a desinserção na relação com os serviços de saúde mental, elas também parecem apresentar tentativas de inserção em alguns momentos e em alguns casos. Conca (2009) escreve que devemos estar atentos para o momento em que se dá a virada na modalidade de uso, pois é aí que se verifica de que modo a droga conduz o sujeito à desinserção. Observação preciosa para o problema de pesquisa, tendo em vista que os CAPSi podem considerá-la em suas coordenadas para estabelecerem o cuidado psicossocial pela via do caso único. Exemplo disso é Aline, que ia ao serviço de saúde mental, ficava ali por um tempo, até se recuperar do uso abusivo do crack e da devastação que sua história na rua lhe submetia, e ia embora, explicando: "Eu vou, mas eu volto!" Após cinco anos de errância e de abandono nas ruas, ela começou a estabelecer uma relação com o serviço. Sempre que se restabelecia da compulsão do uso de crack, voltava para a rua para "fumar e transar", como dizia. De certa forma, na errância pelo território que habitava, o serviço inaugurou um lugar de onde se poderia ir e vir e, de algum modo, passou a funcionar como um lugar ordenador que instaura uma relação de cuidado do Outro Institucional com um corpo desinserido.
Willian passou vários anos frequentando o serviço, embora sem se vincular a ele, até que conheceu uma técnica de referência cuja intervenção o fez colocar à prova seu aparente desinteresse pela vida. Apesar de seu abandono escolar ter se dado há alguns anos, aprovou-se em processo seletivo de uma escola profissionalizante, momento que coincidia com o período em que se dizia vinculado ao serviço. "A 'X' (nome de sua técnica de referência) só ajuda. Eles aí só ajudam! Ué. (...) Eu até venho, não falho, só no médico que eu não vou, não!". Mas após ser transferido para o serviço de adultos, algum tempo depois que completara dezoito anos, volta ao tráfico de drogas e é preso. Jonas situa um momento de abandono do tratamento e outro em que se diz inteiramente vinculado a ele, apesar das muitas dificuldades que encontra para se manter inserido no laço social em decorrência do uso abusivo de cocaína.
A trajetória de Adriano parece responder por uma relação com a droga que o situa em uma posição diferente da dos demais. Sua dificuldade em aderir ao tratamento não tem na droga um lugar central, o que não dá lugar a uma ruptura social que se prolonga de modo indefinido. Nesse caso, a droga parece ter tido uma função circunscrita a um período pontual de sua vida. O modo com que faz uso de tais substâncias não o impede de se confrontar com o real do sexo que remete os sujeitos à proposição lacaniana da não relação sexual. O jovem tinha uma namorada antes de ser encaminhado ao serviço de saúde mental, mas termina o namoro porque um amigo havia se interessado por ela. Queria saber se ela não ia visitá-lo quando estava no CAPSi. Desejava emagrecer, no interesse de que outras garotas se interessassem por ele. A rigor, como escreve Laurent (2003, p. 41):
(...) há algo que separa a criança da pessoa maior; seguramente não é a idade; seguramente não é o desenvolvimento nem tão pouco a puberdade. No fundo o que separa a criança da pessoa maior é a ética que cada um faz de seu gozo. A grande pessoa é aquela que se faz responsável por seu gozo.
Nesse sentido, Adriano é o único jovem da pesquisa que parece conseguir atravessar o túnel da puberdade, que leva o sujeito da infância à vida adulta, como escreve Freud (1905/1996a), sem prescindir do Outro. Para sua técnica de referência, a ruptura do jovem com o tratamento não se inscreveu como algo da ordem de um abandono, mas, sim, de uma conclusão dada pelo próprio sujeito. Ele se uniu a uma companheira e estabeleceu um importante laço social com o trabalho que empreendeu junto a ela em um restaurante. Nos demais casos, não se observa relato algum nesse sentido, já que, para eles, o saber inconsciente parece se mostrar inacessível.
O exemplo mais paradigmático disso é Marcelo, o intruso, que nunca mais quis retornar ao serviço de saúde mental e, até o momento em que foi possível acompanhar seu caso, lançou-se na rua e no uso de drogas, mantendo-se desinserido de tudo o que se apresentava em sua vida. No Seminário 20, Lacan (1985b) é claro ao dizer que o laço social só se estabelece quando se institui o saber, S2. Esse saber ao qual se refere não se equivale ao conhecimento, mas ao que não se sabe, ao saber inconsciente. Se o acesso a esse saber está impedido para o sujeito, por consequência, ele também estará impedido de seu desejo e imerso no gozo. É importante ressaltar que o gozo implica apenas o sujeito e seu corpo, mas o desejo implica o sujeito ao Outro.
Quando a relação com o Outro deixa de ser uma via preferencial para o sujeito, como pode ocorrer na presença da droga, outra relação com o saber se estabelece, dispensando o inconsciente. Por essa via, Lima (2009) diz que, no contemporâneo, é isso que permite afirmar que a verdade seja veiculada como sendo capaz de ser "toda dita", encobrindo a abertura para o saber do inconsciente.
Desinserção: Modos Peculiares dos Corpos Falarem
Santos e Santiago (2011), bem como Mrech e Rhame (2011), lembram aos leitores que o termo desinserção pode ser encontrado em diferentes campos e a psicanálise é um deles. Miller (2009) estabelece com ele uma clínica pragmática, que investiga e intervém sobre os diversos fenômenos subjetivos de desconexão social em nossa época: "Digo clínica, porque, evidentemente, temos a dizer e a ordenar coisas que concernem aos fundamentos psicanalíticos da desinserção (...). Digo pragmática, em vez de tratamento ou cura, porque a situamos na ordem do saber-fazer-aí, do 'sair-se' bem com" (Miller, 2009, p. 13).
A clínica pragmática da desinserção contribui com a aplicação da psicanálise nas instituições através do estudo e elucidação dos modos sintomáticos pelos quais as situações de desconexão social se apresentam no contemporâneo, a exemplo da questão da drogadição e o modo com que incide sobre o sujeito no laço social.
Vale recordar que, para a psicanálise, as relações entre os seres falantes são sempre marcadas por um real em causa que resulta em certos desencontros estruturalmente tensionados na ordem simbólica. Assim sendo, todo movimento que supõe a homogeneização dos laços sociais e das subjetividades, mesmo aquelas reconhecidas pela condição de estarem excluídas socialmente, não encontra suporte na psicanálise. Miller (2008, p.167) escreve que, para a orientação lacaniana, há um modo de conceber o laço social que se distingue de outros campos de saber: "Se Lacan começou a promover, em um determinado momento, o termo discurso e sua reflexão sobre o laço social, não se trata de sociologia e nem de história. O laço social é o termo que responde à relação sexual".
Ao ser considerado em sua precariedade e impossibilidade estrutural, o laço social em psicanálise favorece uma melhor compreensão da afirmação lacaniana de que não há relação sexual para o sujeito da linguagem, ainda que se possa pensá-la para os demais seres da natureza determinados pelo estatuto biológico. Dessa forma, diante das dificuldades de adesão ao tratamento dos jovens que participaram da pesquisa pelo viés da desinserção social, não se levou em conta uma busca pela adesão idealizada às ações de cuidado oferecidas no campo da atenção psicossocial através dos CAPSi, mas a compreensão das especificidades que particularizaram o fenômeno para cada sujeito. O termo desinserção, tal como proposto pela psicanálise, problematiza, portanto, a noção de laço social.
Nessa perspectiva, a presença da desinserção, observada nos casos da pesquisa, evidenciou, também, importantes transformações em curso na relação do sujeito adolescente com o Outro. Instância de alteridade, lugar da palavra, da linguagem, da cultura e das determinações do sujeito, o Outro é onde "(...) o social é radical, é a raiz." (Miller, 2009, p.6). O termo Outro, com "O" maiúsculo, foi cunhado por Lacan (1985a) no Seminário 2, ganhando cada vez mais importância em toda sua obra. Distingue-se do outro com letra minúscula, o outro semelhante, no qual o sujeito se reconhece e se identifica a partir de um campo especular, imaginário, em que o eu é instaurado. O Outro se refere a uma alteridade cuja relação antecipa o sujeito, fundando-o no discurso. É o campo da linguagem, sobre o qual se encontra a "natureza" dos humanos. É nessa "natureza" discursiva que o sujeito é mergulhado ao nascer e não é outro qualquer, como diz Miller (2009, p. 10), já que se distingue por seu caráter simbólico e discursivo.
O real que se impõe na puberdade, tal como se verifica em trabalhos como o de Ramírez (2014), e que se fez presente nos casos, permitiu a construção de um percurso que orientou reflexões em direção à adolescência, parafraseando Miller (2015). Ali onde outros modos de laço social poderiam estar presentes, levando em conta a presença do Outro, encontrou-se a solidão, o desinteresse e a errância como respostas do sujeito adolescente frente às vicissitudes nas quais está submetido.
Contextos assim, que refletem os efeitos desconectivos na subjetividade do sujeito contemporâneo, denotam a importância que as contribuições de uma clínica pragmática da psicanálise podem trazer para a construção de intervenções possíveis diante da desinserção. Para essa questão não há uma fórmula em Freud e Lacan, conforme afirma Miller (2009), "(...) porque este não foi um problema da época deles. É um problema recente de nossos tempos" (p. 9). Somos levados, assim, a refletir sobre o lugar da psicanálise frente às questões sociais e políticas específicas da época atual, na qual se denota que, no lugar do Outro, surge no "zênite social" (Lacan, 2003, p. 411) a presença do objeto aequivalendo-se ao objeto mais-de-gozar. Trata-se do desafio de elaborar a posição firme da psicanálise desde seu interior diante das questões que a convocam no contemporâneo. Essa clínica pragmática produz seus efeitos dentro e fora do consultório, circulando e deslocando-se para diferentes contextos, territórios e instituições. Para que isso seja possível, foi preciso conceber o analista, segundo afirma Miller (2008), "como objeto nômade e a psicanálise como instalação portátil" (pp. 8-9). Não é sobre um lugar empiricamente constituído que se sustenta a prática psicanalítica, mas, sim, pelo discurso do sujeito. Aqui, o tema da desinserção vai delineando as especificidades de seus desafios, já que o discurso supõe o laço social na relação com o Outro.
A afirmação de que é na relação do sujeito com o Outro que se demarca, para o sujeito, o desejo de inserção, já que este "é um desejo fundamental no ser falante" (Miller, 2009, p.6), situa a questão em relação àquilo que trazem os casos da pesquisa. Na perspectiva traçada pelos jovens, a desinserção, mediada pelo uso da droga, estabelece enlaçamentos que passam, muito mais, pela identificação na via do consumo do que pela via simbólica do ideal do eu. Os sujeitos pesquisados estavam claramente em dificuldades em relação ao desejo, posto que isso parecia não se inscrever, ou se inscrevia de modo muito vacilante, no Outro.
Como se verifica em Miller (2016) e Laurent (2013), no contemporâneo, há modos peculiares dos corpos falarem, permitindo lê-los plenamente desinseridos, soltos, errantes, diferentemente de outras épocas, em que se instauravam, de forma mais evidente, modos circunscritos e entrecortados pelo gozo. Nesse contexto, o sujeito tende a prescindir do Outro através de movimentos que, como escreve Chiriaco (2009), podem se manifestar por rupturas extremas, como é o caso de uma jovem entrevistada, que permaneceu errante nas ruas por cinco anos sem contato com sua família, até formas discretas de errância subjetiva, como a de outro jovem que, mesmo morando junto a seu pai e convivendo com a mãe, manteve-se desinteressado de todos os aspectos que, geralmente, compõem os interesses e preocupações juvenis, a exemplo das relações amorosas, dos problemas da escola, dos projetos de vida futuros, dos conflitos parentais. Por consequência, nesses e nos demais casos estudados, o sintoma não veicula um sentido inconsciente, já que, apartado da relação com o Outro, não pode interrogar o sujeito. Uma nova configuração da ordem simbólica assim se estabelece, não respondendo mais através do sentido inconsciente, mas no corpo solitário e desinserido (Salum & Santiago, 2012).
As dificuldades de adesão ao tratamento desses jovens produziram reflexões que fizeram considerar suas desconexões sociais, colocando em pauta contornos de uma realidade social e psíquica. Aqui vale lembrar que Miller (2008, p.10), a partir de Freud, adverte que, em psicanálise, "(...) não fazemos distinção entre a realidade psíquica e a realidade social. A realidade psíquica é a realidade social", e este é o segredo da psicanálise no sentido de sua originalidade.
As limitações impostas pelo princípio da realidade, operação lógica que faz fracassar o princípio do prazer, é um programa que Freu, (1930/1996d) atribui à civilização e que, por sua vez, constitui o mecanismo dos processos inconscientes. Essa operação leva o sujeito a produzir seus próprios meios para regular os efeitos da perda, a exemplo da fantasia, do sintoma, da inibição e das adicções. Também há, aí, aquilo que a originalidade freudiana inscreve através da égide de um campo pulsional que traz a marca da experiência subjetiva que inaugura, ou seja, o papel desempenhado pelas pulsões tem lugar fundamental, sobretudo quando incide sobre a pulsão silenciosa, autodestruidora e desconectiva, que Freud (1919/1996c) nomeou como pulsão de morte.
O desinserido, como escrevem Mrech e Rhame (2011), revela um sintoma social justamente porque faz vacilar os pressupostos hegemônicos compartilhados pela maioria, possibilitando a emergência de novas formas de se haver com o laço social. Uma delas é desconectar-se dos significantes mestres "que regem a contemporaneidade" (Mrech & Rhame, 2011, p.1). Nessa operação, o desinserido revela, com seu sintoma, aquilo que falha na ordem social, permitindo compreender o que particulariza cada época a partir da construção de diferentes formas de lidar com o laço social, como ficando "à margem do funcionamento social" (Mrech & Rhame, 2011, p.1). Nessa perspectiva, as autoras observam que as dificuldades de aderência à lógica civilizatória, homogeneizante, também se expressam pela recusa em se ingressar em instituições vinculadas à gestão social, a exemplo dos CAPSi.
Em psicanálise, o termo sintoma, por mais diversos que sejam os caminhos para formalizá-lo, em Freud e em Lacan, sempre se refere a um modo singular de resposta do sujeito frente ao mal-estar estrutural dos seres falantes. Quando se especifica, sintoma social diz de modalidades de gozo presentes em determinada época, denunciando o mal-estar na civilização. Na atualidade da sociedade de consumo, por exemplo, todos estão no lugar de proletários na busca constante pela recuperação do gozo perdido, em um mais de gozar escravizante. Nessa ordem social, o objeto causa do desejo é suprimido pelos objetos contabilizáveis, consumíveis, que se instauram sob a égide do mais de gozo.
Nesse contexto, não é surpreendente que, em plena era da conectividade tecnológica e da interatividade, que as redes sociais promovem e espalham sem fronteiras, cada vez mais os sujeitos se vêm solitários. A desinserção encontrada nos modos de vida dos adolescentes pesquisados dão mostras de movimentos avessos ao laço social, levando à reflexão sobre os aspectos que a contemporaneidade põe em relevo,os quais incidem sobre a subjetividade.
Cartografias dos Sujeitos Desinseridos
No âmbito da atenção psicossocial, o território é o campo a ser considerado nas ações de cuidado que deverão ser estabelecidas com o sujeito. Refletir sobre ele, contando com formalizações psicanalíticas, pode ser útil à compreensão das dificuldades de adesão ao tratamento apresentadas pelos jovens da pesquisa.
Nas sociedades que se desenvolveram a partir da modernidade, supõe-se que a casa, a família, a escola e as instituições sejam espaços protegidos para a infância e a adolescência. Mas o que muitos casos denotam é a existência de certos paradoxos em relação a esses lugares, quando se revelam desprotegidos em muitos sentidos e de variadas formas. Certamente, isso foi decisivo para o surgimento de outro território que também é emblemático para se localizar certos movimentos de desinserção: a rua.
Estudos de Ariès (1981) e Badinter (1985, 2011) foram paradigmáticos para demonstrar que, ao longo da modernidade, a casa e a família tiveram funções bastante específicas no que se refere aos ideais burgueses e capitalistas. A proteção que estava em causa, em muitos aspectos, era a da propriedade privada. O mito do "amor materno", como a expressão indica, revelou-se uma construção que, na modernidade, se colocou a serviço desses valores, determinando um lugar social para a mulher e encobrindo o fato de que a maternidade nem sempre engendra seu desejo. Por outro lado, o pai provedor, representante da lei e da moral nos modelos hegemônicos de família, revelou-se destituído desse lugar idealizado. Em muitos casos, ele próprio se mostra terrificante e ameaçador.
A fraternidade dos irmãos, tal como aquela postulada por Freud (1912/1996b) para a origem da civilização, mostrou-se nem tão fraterna assim. As instituições destinadas ao cuidado ou à tutela de crianças e adolescentes surgem como ficções sociais, criadas para fazer suplência ou complementar aquilo que falha ou "escapa" à função da família. Na verdade, elas também se revelam reprodutoras dos ideais morais e disciplinares que operam práticas segregativas e elitistas. A escola desde a modernidade é lugar reservado pelas sociedades para a construção do saber. "Lugar de criança é na escola" é importante expressão do ideal moderno de modo que o jovem que não se encontra nesse lócus está, do ponto de vista social, em um não lugar.
É o que evidencia alguns dos casos da pesquisa através de significativas experiências com alguma ruptura social. Marcelo dizia ter vontade de voltar para a escola e sua mãe afirmava: "Eu vou matricular ele na escola!" De fato, ela o matriculava, Marcelo ia algumas vezes, mas o único lugar que parecia lhe caber era a rua. Adriano também não conseguia permanecer na escola e abandonou os estudos. Durante o uso de drogas, a rua foi o palco onde se envolveu com atos infracionais. Mas, embora não tivesse encontrado lugar no ideal moderno da escolarização, parece ter encontrado um pela via do trabalho. Jonas não gostava da escola: "nunca tive compromisso com a escola, eu parei com a escola. Eu ia pra escola só pra atentar. Eu não queria ir pra escola, não, pra estudar." Mas, se a escola não era lugar para ele, desejava-a para seu irmão: "desandava a molecada de doze anos, primo, pondo no tráfico... Só meu irmão que eu não deixei entrar. Meu primo sim, mas, meu irmão não deixei entrar, não. Você vai estudar!" Quando, em determinado momento de seu tratamento, aceita voltar a estudar, sua escolha recai sobre o curso de contabilidade. Fazer contas do que recebia com a venda da cocaína era algo que lhe trazia inúmeras dificuldades e que, obviamente, refletia sua questão com os limites: "Ganhava demais! Negócio de cabeça, negócio de fazer conta de droga... fazia conta de cabeça! Ô moça, eu sou ruim demais, sou ruim demais com esse negócio de droga...!" A relação com a rua esteve sempre presente, seja para buscá-la, para vendê-la, ou mesmo para fazer programas sexuais.
Para os sujeitos da pesquisa, a família, o serviço de saúde mental e a escola aparecem como não lugares em muitas situações. Não é irrelevante quando a jovem Aline diz na entrevista que o lugar onde morava era "invadido", referindo-se à rua, e que "morar sozinha é horrível". Para quem não tem lugar para o Outro, a solidão e a condição de morar em um lugar invadido não podem ser meras contingências.
A rua, que nas sociedades medievais recebia os modos de organização social que valorizavam o espaço público e a vida coletivizada (Ariès, 1981), não é a mesma para a qual os jovens da pesquisa se dirigiam quando não vinham ao tratamento. Como afirma Willian, os motivos para não ir ao serviço de saúde mental eram: "rua e droga. Ficava na rua e esquecia de vir, só isso mesmo. Esquecia de vir, ficava na rua". Rua e droga parecem surgir a serviço da manutenção da desinserção. "Um vazio sem borda" é a expressão usada por Ferreira (2001, p. 27) para se referir às relações paradoxais que meninos e meninas estabelecem com a rua. Território que recebe tudo e todos que estão à margem, a rua possui um forte simbolismo quanto a isso: "limpamos a casa e sujamos a rua sem nenhuma cerimônia", comenta Ferreira (2001, p.30). Na rua, todos são anônimos e "desgarrados", o que implica dizer que a permanência nela não é por acaso. Implica em rupturas: "rupturas drásticas com a família, a escola, a comunidade de origem e, muitas vezes, com a série de instituições e Programas de Assistência" (Ferreira, 2001, p. 35).
Mas, se por um lado, tais rupturas podem indicar uma relação do sujeito com o Outro no sentido de prescindir deste, por outro, como indica Lacadée (2016), a rua também pode ser um território que, quando esse mesmo Outro se faz presente, enquanto Outro Social, seja na figura das políticas públicas, seja de qualquer outra instância, não é sem efeitos para o sujeito.
Pensar a rua como um território do sujeito é algo que implica um princípio caro à política de SMCA (MS, 2005), o da territorialidade. É possível estabelecer um diálogo valioso entre a atenção psicossocial e uma importante vertente da geografia que tem nas ideias de Milton Santos, geógrafo e pensador brasileiro da segunda metade do século XX, uma interessante ressonância com a noção de territorialidade aí presente. Para Santos (1994, 2005), o conceito de território ultrapassa noções reducionistas de espaço geográfico e é impossível ser pensado sem a dimensão humana. Trata-se de uma concepção política, histórica e social, que ultrapassa o espaço delimitado pela ação do Estado, para ser circunscrito e transformado pela ação do mercado. O que o território "tem de permanente é ser nosso quadro de vida." (Santos, 2005, p. 255). Esse modo de pensar põe em evidência a relação entre o território, o indivíduo e a sociedade, alertando para o fato de que a não compreensão dessa lógica implica no "risco da perda do sentido da existência individual e coletiva" (Santos, 2005, p.255).
Marcelo estava em uma região em que acontecem disputas de pontos de tráfico e não se sabia até que ponto sua família poderia ou não estar envolvida. O território de circulação dos outros jovens da pesquisa também não diferia muito desse cenário. No caso de Aline, seu território consistiu, por muito tempo, apenas do espaço da rua. Para outros, como Willian, Adriano, Jonas e o próprio Marcelo, se percebe um traçado muito reduzido, uma delimitação muito simples, que se estabelecia da casa para a rua. Esse fato pode ser ilustrado pela fala da técnica de referência de Marcelo: "algumas vezes, as intervenções só eram possíveis de serem feitas em casa e, mesmo em casa, era assim, ele escapulia", indo direto para a rua.
No território, enquanto um enquadramento de vida, como escreve Santos (2005), o sujeito desinserido sustenta sua própria desinserção, mas também demonstra o esquadrinhamento do território social que demarca o pertencimento de alguns e o não pertencimento de outros na ordem social. Palavras de Jonas, por exemplo, possibilitam perceber que o território dos sujeitos desinseridos contam com seus modos de gozo, como ensina a psicanálise:
Igual, não tem pessoas que bebem socialmente? Por exemplo, que não frequentam bares, botecos, essas coisas, mas frequentam churrascaria, que bebe em churrascaria, essas coisas? Isso que é beber socialmente! Tem gente que é alcóolatra, eles não frequentam churrascaria, você pode ver. Os alcóolatras não frequentam churrascaria. (Entrevistado Jonas)
Observa-se, como escreve Delgado (2007), que a noção de território exige diálogo com os atores que o compõem a partir de cada caso, mas também com algumas tradições teóricas como a psiquiatria e a psicanálise. Em psicanálise não há formalizações sobre território, e sim certeza de que as relações dos sujeitos nos espaços que circulam contam com a causalidade psíquica e pelo lugar que o Outro constitui (Lacan, 2005).
Trata-se de uma cartografia do sujeito que supõe a demarcação de um território singular cujo enquadre é estabelecido por uma relação discursiva em que o sentido, e sua falta estruturante, encontram lugar na relação com o Outro. Na escrita dos casos, por exemplo, saltava um sentido que parecia se desfazer nas relações do sujeito com o Outro, onde se lia: desconexão, desamparo, desinteresse, desandar, delegado, descomprometido, desconcentrado, descordo, desconhecidos, desorganizado, desconfiado, desencadeamento, desatento, disruptivo, desentende, descobre, desgraceira, descansar. Essas palavras e suas expressões, para citar algumas delas, se repetiam nos casos, de modo a ultrapassar a cartografia da gramática para remeter à cartografia de sujeitos desinseridos.
Essa especificidade discursiva da visada psicanalítica jamais impediu o diálogo com o campo da atenção psicossocial, como se pode verificar nos inúmeros estudos publicados e sustentados nessa interface. A noção de sujeito, presente no texto da política de SMCA, por exemplo, embora não seja a mesma proposta pela psicanálise, supõe a sustentação de uma prática a partir da singularidade do caso. Consequentemente, a noção de território precisa ir além de referências duras ou meramente empíricas.
Ao se pensar numa cartografia do sujeito desinserido constata-se que ela subverte a própria lógica do termo já que, para a psicanálise, é o Outro que inscreve o lugar do sujeito. Isto pede uma cartografia que faça caber a causalidade psíquica que o move em relação aos laços que estabelece com seus objetos, bem como com aquilo que o leva a se desvincular deles. Sabe-se, com Lacan (1998), que mesmo sendo possível nomear o Outro de diferentes formas, tal como Outro Social, parental ou institucional, não há Outro do Outro. Sendo assim, como comenta Miller (2009), a radicalidade pela qual o social recai sobre o ser falante decorre da incidência do Outro para o sujeito, sendo,desse modo, o que nos permite equivaler o Outro àquilo que se entende como social.
Considerações Finais
Retoma-se, então, a pergunta: o que ensinam ao Outro Institucional, ou seja, aos CAPSi, os casos estudados de desinserção social constatada nos adolescentes usuários de drogas? Tais dificuldades revelaram que, como sujeitos de sua época, os jovens da pesquisa se apropriam do discurso dominante na condição de escravos do gozo, em solução autística, o que denota algo que falha na relação com o Outro. Nessa ordem social, em que se fragiliza algo do laço social, dirigir-se à margem desse funcionamento torna-se um modo de resposta que prescinde do Outro.
Resulta daí, como demonstram os casos da pesquisa, a descrença em relação ao Outro, o que pode ser notado na ausência de demandas. Os jovens da pesquisa não demandaram nada ao Outro, exceto Aline, que depois de alguns convites sem sucesso da equipe do Consultório de Rua para conhecer o CAPSi, enfim, procura ajuda.
O objeto droga serve para a manutenção da desinserção por veicular o imperativo contemporâneo de acesso direto ao gozo, o que pode ser identificado na fala de um dos jovens entrevistados: "se você quiser ter droga, você vai achar, você vai achar! Se você tiver no meio dos infernos, se você quiser achar droga, você vai achar (...) É muito fácil". Mas constatar a hegemonia do consumo e do capital, como ordenadores da ordem social, não consiste, como observa Ferrari (2004), no anúncio do fim dos tempos. O que está em causa é reconhecer como se instaura as condições do mal-estar inerentes da época, na busca por compreender como fica a relação do sujeito com o Outro diante da crise no simbólico.
Nas relações que os jovens da pesquisa estabeleceram com os serviços de saúde mental, aspectos que expressam a precariedade do laço social nos seres falantes se fizeram notar através das dificuldades apresentadas em aderirem ao tratamento. Eles puderam ser observados através dos atrasos, das infrequências, dos abandonos de tratamento, das tentativas de fuga, dos afastamentos por períodos indeterminados. Também puderam ser lidos nos esquecimentos de tratamentos ocorridos em outros períodos, no esquecimento de ter sido atendido por certos profissionais, na resistência em serem trazidos ao serviço ou em fazer uso da medicação. Aspectos inerentes ao laço social de qualquer sujeito, porque aí também se inscrevem as vicissitudes de seu modo de gozo.
Como um sintoma social na adolescência, as dificuldades de adesão ao tratamento dos adolescentes da pesquisa indicaram que um tratamento que desconsidera a particularidade da desinserção de cada sujeito contribui para a reprodução de experiências desconectivas que podem levar ao pior. É preciso descobrir no um a um de cada caso a função do consumo de drogas para o sujeito tendo "(...) em conta quais soluções pessoais cada um pode encontrar para descobrir sua forma particular de vincular-se ao Outro Social (Conca, 2009, pp. 76-77)". Santos e Santiago (2011, p. 3) ressaltam o equívoco das políticas que não reconhecem "o fracasso escolar, a [des]responsabilização subjetiva, o desemprego, a pobreza, a desestruturação familiar, a adição às drogas e ao álcool, além do isolamento na loucura" como sintomas sociais que suportam o mal-estar no sujeito contemporâneo. Não são raros os equipamentos sociais que assumem a função de cuidar e tratar de pessoas com problemas decorrentes do uso de drogas e que o fazem assumindo outros imperativos, como o da abstinência. Reduzir o tratamento à busca de se encontrar medidas que retirem do sujeito seu modo de gozo é o que fazem os serviços que tomam seu mandato social na vertente da gestão do gozo e de seus desvios, como escreve Tízio (1994).
Os sujeitos da pesquisa revelam que se encontram em dificuldades com o Outro. O lugar que lhes cabe nessa relação é desamparador e vacilante, já que, em muitos momentos, parece não haver lugar para eles nessa relação. A crise contemporânea do simbólico deixa o sujeito exposto a diferentes experiências desconectivas, mais ou menos devastadoras. Os efeitos que daí se produzem para os sujeitos advêm de um fundo de angústia, tendo em vista que a busca pelo objeto tende a não mais se dirigir ao Outro, mas ao mercado.
Apesar desse cenário, como escreve Miller (2010), não há que se nutrir qualquer nostalgia do tempo em que se supunha a existência do Outro. A crença em sua existência sustentou certos modos de vida que não se alinham mais aos que se encontram na atualidade. A civilização estaria, hoje, situada no tempo dos impasses éticos que a inexistência do Outro convoca e, deste modo, o "social do sintoma não é contraditório com a tese da inexistência do Outro. Ao contrário, a inexistência do Outro implica e explica a promoção do laço social no vazio que se abre" (Miller, 2010, p.16).
Os casos demonstram que abordar as dificuldades de adesão ao tratamento como um sintoma social na adolescência implica em considerar o serviço como um Outro Institucional. Por isso, adotar modelos de tratamento que exacerbam ainda mais as dificuldades dos jovens na relação com o desejo, fazendo série ao desamparo do Outro no contemporâneo, favorece e mantém a desinserção do sujeito. Exemplo disso são as inúmeras medidas de judicialização do tratamento, presentes no caso de Willian, que culminaram em uma internação compulsória, causando no jovem a impressão de que havia sido preso, e não tratado: "não adianta, já fui internado! Não era bom, não, viu? Você sabe que não é bom estar preso, né?" Essa foi a primeira de outras experiências de aprisionamento que o jovem vivenciaria. O caso também alerta sobre o momento da transferência para o serviço de adultos, momento que requer cautela e cuidados para que não se reproduzam novas desinserções.
Muitos são os impasses que se apresentam ao mandato a que se destinam os CAPSi, especialmente no que se refere ao cuidado de jovens que apresentam questões decorrentes do uso e do abuso de drogas. Como ressaltam Couto e Delgado (2015), há um tensionamento constante que aí se faz presente e que é intrínseco à prática psicossocial, e a complexidade dos impasses não pode ser impeditiva de que a política de SMCA avance. A esse respeito, o caso de Aline ensina que, à medida que o sujeito aceita dirigir algo ao Outro Institucional e o serviço se dá conta disso, pode particularizar a desinserção que apresenta. Assim, particulariza também o modo de cuidar desse sujeito. No caso da jovem, o serviço se oferece como um lugar no qual pode ir, voltar, se alimentar e descansar. Isto terá incidência sobre sua habitual errância, que a fazia vagar nas ruas sem rumo. Ao fazer exceção à série de abandonos e desamparos que a jovem vivenciava na sua relação com o Outro, o serviço instaura para ela um lugar em que, mais do que ficar, o que poderia resultar em outra forma de se exilar, a ação da equipe permite que possa se estabelecer novos laços, ainda que marcados pela precariedade estrutural a que os seres falantes estão submetidos.
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Endereço para correspondência:
Ilka Franco Ferrari
E-mail: ilka@pucminas.br
Mônica Eulália da Silva Januzzi
E-mail: monicaesilva@yahoo.com.br
Recebido em: 06/10/2018
Revisado em: 16/06/2019
Aceito em: 19/07/2019
Publicado online: 06/02/2020
1 Pesquisa doutoral concluída em 2018 no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas e que contou com financiamento da CAPES.