EDITORIAL

Profª. Drª. Luciane Prado Kantorski

Os transtornos mentais e comportamentais causam um grande sofrimento individual e social atingindo 450 milhões de pessoas no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 25% das pessoas desenvolvem uma ou mais desordem mental em algum momento da vida. Nesta condição os indivíduos são vítimas de violação de direitos humanos, isolamento social, baixa qualidade de vida e aumento de mortalidade, além do custo econômico e social que esta realidade representa.

A Organização Mundial de Saúde enfatiza o impacto dos transtornos neuropsiquiátricos, medidos por AVAD – anos de vida ajustados por incapacidade - que representa 13,8% e se reunidos todos os transtornos mentais e comportamentais e fatores relacionados chega a atingir 33%, constituindo-se em quatro das seis principais causas.

Em um quadro com esta magnitude a atenção em saúde mental se constitui em uma necessidade crescente, dada a complexidade das necessidades e da população envolvida. A problemática extrapola o campo da saúde e exige intervenções articuladas de modo mais amplo no campo das políticas públicas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde no âmbito da atenção básica os diagnósticos mais comuns são depressão, ansiedade e transtornos do uso de substâncias, e esses estão presentes conjuntamente ou não a transtornos físicos. A depressão é um problema que acomete cerca de 15% da população adulta, em um ano um clínico deverá atender consultas motivadas por transtornos de ansiedade em 12% das mulheres e em 6% de homens. Ainda, ressalta que pelo menos 20% das pessoas, no mundo, desenvolvem abuso ou dependência de alguma substância ao longo de suas vidas.

É neste contexto que se insere a Revista SMAD que vem se constituindo ao longo destes últimos anos num espaço qualificado de divulgação científica que dá fluxo a produção no campo da saúde mental, álcool e outras drogas.

Os artigos que se apresentam nesta edição da Revista SMAD além de representarem uma produção científica diversificada entre estados e países como Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul), México e Colômbia refletem o resultado de investigações com enfoques multidisciplinares retratando a complexidade dos temas no campo da saúde mental e da dependência química.

Diante dos desafios que se apresentam para a comunidade científica que desenvolve pesquisas que focam a temática central da Revista, este número apresenta uma importante contribuição no artigo do Prof. Dr. Rubens de Camargo Ferreira Adorno mediante a discussão consistente sobre os contextos de violência e de consumo de álcool e drogas e a necessidade de não se estabelecer relações deterministas entre esses contextos, dirigindo-se o foco dos estudos para a necessidade de se aprofundar a discussão sobre a redução de riscos sociais.

Os artigos que seguem tem basicamente duas linhas. A primeira versa sobre as relações da problemática do álcool e outras drogas em diferentes etapas da vida, ou seja, em idade escolar e na adolescência, privilegiando o enfoque da autoestima, dos diagnósticos de enfermagem e perfil, das concepções familiares, do padrão de consumo, da história de vida de dependentes e da propaganda e apologia ao consumo. A segunda linha encontra-se dirigida à abordagem histórica com um artigo que trata do reconhecimento do psiquiatra Jurandyr Manfredini entre estudantes da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (1954-1955) que conferiram a este a primeira denominação de seu Diretório Acadêmico e outro artigo que aborda o alcoolismo e a loucura em Lima Barreto enfatizando o pensamento balizado por teorias eugênicas que associavam racismo, alcoolismo, decadência moral e predisposição genética dos alcoólatras para a loucura.

Aos leitores, a oportunidade de acesso à produção divulgada e o convite a submeterem os resultados de suas pesquisas a Revista.

Profª. Drª. Luciane Prado Kantorski
Universidade Federal de Pelotas