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Analytica: Revista de Psicanálise
On-line version ISSN 2316-5197
Analytica vol.3 no.4 São João del Rei Jan. 2014
DOSSIÊ
A História da Psicanálise em Porto Alegre
The History of Psychoanalysis in Porto Alegre
L'histoire de la psychanalyse à Porto Alegre
La historia del psicoanálisis en Porto Alegre
Ana Maria Gageiro*; Sandra D. Torossian**
Universidade Federal do Rio Grande Grande do Sul - UFRGS - Brasil
RESUMO
Este artigo trata da história da psicanálise em Porto Alegre desde a chegada das ideias freudianas, por intermédio de seus precursores e pioneiros, tanto pela via médica quanto literária. Ressaltamos a aproximação geográfica com a Argentina tendo importante influência no cenário psicanalítico local desde seus primórdios, sobretudo nas primeiras gerações de psicanalistas formados pela Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) quanto na segunda metade dos anos 1970 com a chegada dos lacanianos argentinos fugidos da ditadura militar naquele país. Além do campo ipeísta, tratamos da movimentação em torno da psicanálise promovida pelos psicólogos formados nos cursos de Psicologia da capital com forte tradição psicanalítica no trabalho de consultório. Somados aos lacanianos e aos demais excluídos da formação oficial, reforçaram o contingente daqueles que passaram a defender e praticar a análise profana. Nesse cenário, a hegemonia da SPPA entra em declínio dando origem a uma segunda afiliada da IPA, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPPA). A tradição da clínica com fundamentação na psicanálise é forte na cultura porto-alegrense, estendendo-se para o campo da saúde mental, assistência social e saúde coletiva. É a partir do final da década de 1990 que os concursos para psicólogos em âmbitos municipal, estadual e federal se ampliaram e esses profissionais passaram a trabalhar com as políticas públicas na saúde mental, assistência social e educação, tendo o desafio de colocar a psicanálise em diálogo com novas ferramentas conceituais e de trabalho para a incorporação das políticas de seguridade social. Na mesma medida em que esses profissionais passam a ser desafiados a que a psicanálise possa interpelar os sujeitos em sofrimento nesses diversos campos, passam eles também a tensionar as instituições psicanalíticas no sentido de pensar a clínica e a intervenção social em múltiplos contextos.
Palavras-chave: História; Psicanálise; Porto Alegre; políticas públicas.
ABSTRACT
This article deals with the history of psychoanalysis in Porto Alegre since the advent of freudian ideas through their precursors and pioneers of both medicine and literature. Geographical approach with Argentina is highlighted as a major influence on the local psychoanalytic scene from the beginning, especially in the early generations of psychoanalysts formed by the Psychoanalytical Society of Porto Alegre (SPPA), but also in the second half of the seventies with the arrival of argentine lacanians who had get away from the military dictatorship in their country. Beyond the field of IPA we also treat psychoanalysis movement that took place by psychologists trained in Psychology graduation courses in the capital. Those courses had strong psychoanalytic tradition in the work at psychological office. These psychologists joined the lacanians and others excluded from formal training to strengthen the contingent of those who came to defend and practice the profane analysis. In this scenario the hegemony of SPPA had declined yielding a second affiliation with IPA: Brazilian Psychoanalytical Society of Porto Alegre (SBPPA). The clinical tradition with psychoanalytical foundation is strong in the Porto Alegre's culture and is extended to the field of mental health, social care and public health. In the 1990s, public contests for psychologists at the municipal, state and federal level are expanded and these professionals start working with public policy in mental health, social care and education being challenged to place psychoanalysis in dialogue with new conceptual and working tools, aim at incorporating social security policy. In the same way that these professionals were challenged to put psychoanalysis to question subject suffering in these various fields, they began to question psychoanalytical institutions to think clinical and social intervention in those multiple contexts.
Keywords: History; Psychoanalysis; Porto Alegre; public policy.
RÉSUMÉ
L'article analyse l'histoire de la psychanalyse à Porto Alegre dès l'arrivée des idées freudiennes à travers ses précurseurs et pionniers, aussi bien par la voie médicale que littéraire . On remarque la proximité géographique avec l'Argentine qui a exercé une forte influence sur la scène psychanalytique locale et cela dèsses débuts, notamment les premières générations formées par la Société Psychanalytique à Porto Alegre (SPPA) mais aussi au cours de la seconde moitié des années soixante-dix avec l'arrivée des lacaniens argentins.
Outre le champ de l 'IPA, nous abordons les rapports des psychologues avec la psychanalyse. Pour la plupart, ces sont des professionnels issus d'une formation dans le cours de Psychologie à Porto Alegre et marqués par une forte tradition psychanalytique, à laquelle s'ajoutent des lacaniens ainsi que d'autres exclus de la formation officielle. Tout cela a contribué pour renforcer le contingent des partisans de l'analyse profane.
Dans ce scénario, l'hégémonie de la SPPA laisse la place à une deuxième société affiliée de l'IPA, la Société Psychanalytique Brésilienne de Porto Alegre (SBPPA).
La tradition de la psychanalyse clinique est imposante dans la culture à Porto Alegre et s'étend vers le champ de la santé mentale, dans les services sociaux et de la santé publique.
Vers la fin des années quatre-vingt-dix des divers concours pour des postes dans les services publics ont été ouverts aux psychologues. Depuis ces professionnels travaillent dans le domaine des politiques publiques sur la santé mentale, dans les services sociaux, dans l'éducation, en ayant pour défi de mettre la psychanalyse en dialogue avec des nouveaux outils conceptuels et l'intégration des politiques de sécurité sociale. Dans la même mesure que ces professionnels sont mis au défi pour que la psychanalyse puisse interpeller les sujets en souffrance, ils aussi, tensionnant les institutions psychanalytiques à penser l'intervention clinique et sociale dans des contextes multiples
Mots-clé: Histoire; Psychanalyse; Porto Alegre; politiques publiques.
RESUMEN
Este artículo trata de la historia del Psicoanálisis en Porto Alegre desde la llegada de las ideas freudianas através de sus precursores y pioneros, tanto através de la Medicina como por la Literatura. Reslatamos la aproximación geográfica con Argentina como una importante influencia en el escenário psicoanalítico local desde los primordios, sobretodo en las primeras generaciones de psicoanalistas formados por la Sociedad Psicoanalítica de Porto Alegre (SPPA), pero también en la segunda mitad de los años setenta con la llegada de los lacanianos argentinos que habían huído de la dictadura militar de su país. Además del campo de la IPA, tratamos del movimiento alrededor del psicoanálisis por los psicólogos formados en los cursos de Psicología de la capital con fuerte tradición psicoanalítica en el trabajo de consultório. Estos se sumaron a los lacanianos y a los demás excluídos de la formación oficial para reforzar el contingente de aquellos que pasaron a defender y practicar el análisis profano. En este escenário la hegemonía de da SPPA entra en declínio otorgandole el lugar a una segunda filiación de la IPA, la Sociedad Brasilera de Psicoanálisis de Porto Alegre (SBPPA). La tradición de la clínica con fundamentación en el psicoanálisis es fuerte en la cultura portoalegrense y se extiende para el campo de la salud mental, asistencia social y salud colectiva. A partir del final de la década de noventa los concursos públicos para psicólogos en el ámbito municipal, estadual y federal se amplian y estos profesionales pasan a trabajar con las políticas públicas en salud mental, asistencia social y educación teniendo el desafío de colocar al psicoanálisis en diálogo con nuevas herramientas conceptuales y de trabajo para la incorporación de las políticas de seguridad social. En la misma medida en que estos profesionales son desafiados a interpelar con el psicoanálisis a los sujetos en sufrimeiento es esos diversos campos, pasan a tensionar también a las instituciones psicoanalíticas en lo referenta a pensar la clínica y la intervención social en múltiplos contextos.
Palabras claves: Historia; Psicoanálisis; Porto Alegre; políticas públicas.
Ao estudarmos as condições de implantação das ideias freudianas no Rio Grande do Sul, particularmente em Porto Alegre, deparamo-nos com a escassez de publicações e de pesquisas sobre o tema. As informações e elaborações trabalhadas neste artigo sustentam-se na pesquisa bibliográfica, nos documentos encontrados e nos testemunhos orais frutos do trabalho de tese, ainda inédita, de Ana Maria Gageiro sobre a história da psicanálise em Porto Alegre. Sandra D. Torossian dedica-se ao estudo das aproximações entre a psicanálise e as políticas públicas e o impacto desse encontro para os dois campos e para a formação de psicanalistas e de psicólogos em nosso Estado.
Constatamos que a chegada e expansão das ideias freudianas no Rio Grande do Sul obedeceu a uma invariante nos modos de implantação da psicanálise que se repetiu em outros países. Foram duas as vias de entrada do freudismo no sul do País: a via médica/psiquiátrica e a intelectual (literária ou filosófica).
Outra característica é a influência das condições históricas e geográficas nessa implantação. Considerando as dimensões continentais do Brasil, observamos que o movimento psicanalítico se desenvolveu de forma regionalizada, semelhante ao que a psicanálise teve nos Estados Unidos por força das mesmas condições. Nessa expansão regionalizada, têm-se protagonistas locais e um desconhecimento entre as regiões da produção escrita e de seus autores. Diante desse cenário, a proximidade geográfica do Rio Grande do Sul com a Argentina foi fator decisivo para que a psicanálise transmitida às primeiras gerações de analistas gaúchos, assim como no campo lacaniano, tivesse sotaque e mestres portenhos. É nas décadas de 1920 e 1930 que situamos o início do movimento em solo gaúcho.
Martim Gomes, professor de ginecologia, nascido na fronteira do Estado, em Quaraí, era conhecido por sua erudição e por sua paixão pela literatura. Gomes publicou em 1930 a obra A Criação Estética e a Psicanálise. Segundo Mokrejs (1993), nela o autor relata seus próprios sonhos e os interpreta a partir da psicanálise. Em 1933, Martins Gomes publicou um romance: As Loucuras do Dr. Mingote. O protagonista, Dr. Mingote, interpreta seus pacientes a partir da psicanálise.
Outra figura de grande expressão no cenário médico e literário gaúcho é Dyonélio Machado. Médico psiquiatra do Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre, trouxe para seu trabalho de psiquiatra as ideias e a técnica psicanalíticas. Foi aluno, no Rio de Janeiro, do professor Antônio Austregésilo em 1931 e foi tradutor para o português da obra Elementos de Psicanálise, do psicanalista italiano Eduardo Weiss.
Dyonélio trabalha, na construção dos personagens de sua ficção, com elementos que compõem conflitos psíquicos a partir da compreensão psicanalítica dando densidade aos personagens. Seu romance de maior destaque, até hoje considerado uma obra riquíssima, é Os Ratos, publicado em 1934, tornando-se uma das obras mais influentes da segunda geração do modernismo no Brasil e recebendo o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Além da riqueza na criação psíquica do personagem principal, o romance é uma crítica à proletarização da classe média.
Na mesma década, a psicanálise chegou à Universidade Federal do Rio Grande do Sul por meio do curso "Elementos de Psicanálise", dado como introdução aos estudos de criminologia e de psiquiatria forense, tendo como professor Celestino Prunes em 1934. O psiquiatra Luís Guedes teve contato com a obra de Freud durante sua graduação em Medicina no Rio de Janeiro, em 1904, onde foi assistente do professor Antônio Austregésilo (1876-1961) na cátedra de Clínica Neurológica. Guedes permaneceu por 37 anos na cátedra de Psiquiatria da Faculdade de Medicina em Porto Alegre. Traz em sua bagagem a herança do pensamento psicanalético de Austregésilo.1
Segundo Gageiro (1997), temos em Mário Martins a figura do fundador do movimento psicanalítico no Rio Grande do Sul pois possibilitará que, com sua volta da formação analítica feita na Argentina, iniciem-se análises didáticas em Porto Alegre. Juntamente com sua esposa Zaira Martins que também fez formação em Buenos Aires, Mário dá início ao primeiro grupo de estudos de psicanálise em Porto Alegre. Eles trazem uma importante herança da Argentina. Mário foi analisado por Angel Garma formado no Instituto de Berlim, Zaira estudou com Arminda Aberastury e, com esse legado, torna-se a primeira psicanalista de crianças e adolescentes de Porto Alegre a partir de 1960. Formada na tradição kleiniana será, a exemplo de Melanie Klein, a única mulher da sociedade psicanalítica que ajudará a fundar sem diploma médico. Os mestres da Associação Psicanalítica Argentina tiveram forte influência no grupo gaúcho. Além de Garma e Aberastury, tínhamos Celes Cárcamo formado em Paris, Marie Langer formada em Viena, Arnaldo Rascowsky e Pichon-Rivière.
Cyro Martins, ao retornar de sua formação na Argentina, passou a compor com Mário e Zaira a primeira geração de analistas de Porto Alegre. Eles deram início ao primeiro grupo a fazer formação na cidade que foi composto por Paulo Guedes, David Zimmerman e Lapporta. O segundo grupo a iniciar formação foi: Santiago Wagner, Roberto Pinto Ribeiro, GüntherWurth e Barros Falcão. José Lemmertz, que havia retornado de sua formação no Rio de Janeiro, passou a compor o grupo de didatas. Em 1954, teve início a terceira turma de candidatos a analistas: Fernando Guedes, Sérgio Paulo Annes, Luiz Carlos Meneghini e Germano Wolmer Filho.
O grupo de didatas, acompanhados pelos psiquiatras candidatos a analistas, fundou em 1957 o Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre.
Entre os anos de 1955 e 1961, esse grupo de Porto Alegre passou a intensificar as negociações junto à Associção Psicanalítica Argentina, à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e à Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, a fim de obter o reconhecimento como Study group pela IPA, fato que aconteceu durante o 22º Congresso PsicanalíticoInternacional em Edimbourg. Em 1963, durante o 23º Congresso Psicanalítico Internacional, em Stockholm, o grupo foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Essa Sociedade Psicanalítica, contemporânea ao golpe militar, que no Brasil reinou soberana durante 20 anos no Rio Grande do Sul como filiada da IPA.
Em 1961, surgiram em Porto Alegre duas revistas de psiquiatria nas quais predominavam trabalhos sustentados teoricamente pela psicanálise: os Arquivos da Clínica Pinel, dirigidos pelo professor titular Dr. Marcelo Blaya Perez, especializado em Psiquiatria na Clínica Meninger nos Estados Unidos e candidato do Instituto da SPPA; e Psiquiatria, uma publicação da disciplina de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, dirigida pelos professores Paulo Guedes, Meneghini e Zimmermann.
A psiquiatria gaúcha esteve desde sempre muito próxima da Sociedade Psicanalítica local. Podemos verificar isso a partir das Jornadas de Psiquiatria Dinâmica do Rio Grande do Sul, organizadas pelo Centro de Estudos Luiz Guedes, da disciplina de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina, nas quais predominavam os temas ligados à psicanálise.
Essa proximidade entre os dois campos determinou uma alternância de poder entre a direção do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a direção da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Durante as duas décadas em que a IPA porto-alegrense teve a hegemonia da formação analítica, é importante ressaltar que eram admitidos apenas médicos para essa formação. Psicanalista era sinônimo de psiquiatra.
Ao longo dos anos 1960 e 1970, a "cultura" da psicanálise se ampliou na cidade, nos serviços e nos recém-fundados cursos de Psicologia da capital. O curso de Psicologia da PUCRS data de 1953 e o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 1973. Cabe salientar que as disciplinas de clínica, técnicas psicoterápicas e outras ligadas às práticas clínicas eram lecionadas nos cursos de Psicologia por psiquiatras e psicanalistas. Esse ensino gerava uma demanda por formação psicanalítica vetada aos não-médicos. Essa situação gerou dois movimentos importantes em nosso Estado que fortaleceram e ampliaram a extensão da psicanálise.
Numa direção, houve um importante fortalecimento da Psicologia Clínica, ancorada na psicanálise. As psicoterapias praticadas por um grande contingente de psicólogos formados pelas nossas Universidades receberam um fortalecimento de estudos em psicanálise, especializações, constituindo-se diversas instituições de psicólogos e propondo o estudo dos textos freudiano e kleiniano.
Noutra direção, acirrou-se o debate sobre a formação psicanalítica. A experiência francesa, a partir de Lacan, acenava com a discussão sobre a análise didática, dispositivo fundamental nos Institutos da IPA na formação de psicanalistas. Os psicanalistas argentinos radicados em Porto Alegre por força da ditadura militar traziam suas contribuições para esse debate, pois tinham em suas bagagens um percurso de estudos na obra de Lacan ainda incipiente no cenário psicanalítico local.
A psicanálise fora do legitimismo da IPA na sua versão porto-alegrense
A primeira psicanálise fora do legitimismo fundado por Freud em 1910 apareceu no Brasil no fim dos anos 1950 e consolidou-se ao longo da década seguinte tendo a figura de Igor Caruso como o protagonista em Viena.
Nascido na Rússia de uma família nobre de ascendência italiana, diplomou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Louvain na Bélgica. Foi analisando de Viktor Emil Freiherr von Gebsattel (1883-1976), psicanalista alemão amigo de Rainer Maria Rilke (1875-1926) e de Lou Andreas-Salomé (1861-1937). Igor Caruso participou em Viena da reconstituição, depois da Segunda Guerra, da Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV).
Em 1947, Caruso considerou que a orientação da WPV era excessivamente médica e materialista. Ele deixou a instituição para criar o primeiro Círculo de Trabalho Vienense de psicologia profunda. Continuou tendo orientação freudiana, mas ele não aceitou os modelos de formação da IPA, desejando dar à psicanálise uma orientação intelectual, espiritual e filosófica.
Segundo Roudinesco e Plon (1998),
ele considerava a psicanálise, à luz da fenomenologia, como um método de edificação da personalidade humana destinado não a adaptar o sujeito, mas a levá-lo a resolver as tensões resultantes da sua relação conflituosa com o mundo. Grande viajante, Caruso foi professor na Universidade de Salzbourg e esteve em diversos países da América Latina, principalmente o Brasil (p. 104).
No Rio Grande do Sul, os grupos carusianos foram chamados de Círculos de Psicologia Profunda, Círculos Carusianos e também Círculos de Viena. No sul do País, desde seu início, o Círculo atraiu um grande contingente de católicos, tais como padres e gente fortemente ligada à igreja - católicos praticantes. Essa simpatia da Igreja por Caruso residia no fato de considerá-lo menos radical do que Freud. Uma outra razão para essa aproximação foi um fenômeno ocorrido na Igreja Católica do Brasil nos anos 1940 e 1950. Nesse período, algumas ordens religiosas, principalmente os jesuítas, aceitavam pessoas diplomadas em diversas áreas profissionais que quisessem deixar essas atividades e levar uma vida religiosa, tornando-se padres. Os monastérios de São Bento no Rio de Janeiro e em São Paulo receberam médicos, advogados e engenheiros que se consagraram à vida religiosa.
No sul, os jesuítas receberam o médico Gustavo Pereira Filho, o engenheiro Valerio Alberton e o advogado Malomar Edelweis, que se tornou adiante o grande mestre gaúcho do Círculo Carusiano. Malomar era padre na Diocese de Pelotas e, durante seus estudos de Teologia em Roma, tomou contato com as ideias carusianas, fazendo um percurso de análise com Igor Caruso em Viena. Voltando a Pelotas, tornou-se reitor da Universidade Católica, começando a trabalhar com psicanálise, e fundador do primeiro Círculo do Estado. Desse grupo de Pelotas, faziam parte o Dr. Siegfried Kronfeld e Gerda Kronfeld, que, por intermédio de Malomar Edelweis, partiram para Viena, em 1954, a fim de fazer formação analítica.
Outro padre se tornou figura importante no Círculo de Pelotas: Aloysio Köehler. Jesuíta que também seguiu uma formação analítica em Viena e, no seu retorno, fundou o curso de Psicologia da UNISINOS, em São Leopoldo, em 1971, com a colaboração do médico Ary Wolfenbüttel. Nessa cidade, formou-se outro Círculo Carusiano.
Pe. Edelweis mudou-se para Belo Horizonte em 1963, dando um grande impulso ao Círculo Carusiano de Minas Gerais. No estado de Pernambuco, o Círculo contou com a colaboração do psicanalista canadense Jacques Laberge, que, em 1972, passou a participar do movimento lacaniano, sendo um dos fundadores do Centro de Estudos Freudianos (CEF) de Recife.
Esse processo de ampliação do movimento carusiano se deu em paralelo à fundação da SPPA e de seu reconhecimento pela IPA, o que engendrou ferozes ataques da parte dos ipeístas que condenaram toda e qualquer iniciativa de implantação da psicanálise fora do legitimismo. A IPA local afirmou permanentemente sua exclusiva autorização para formar, praticar e falar em nome da psicanálise oficial. Segundo o Professor Luiz Osvaldo Leite2, era habitual que aqueles que estivessem em análise, segundo a linha carusiana, omitissem tal informação pelo constrangimento de não estarem numa análise "oficial".
Desde sua fundação, a SPPA só admitia médicos para a formação analítica, por isso e esse capítulo dos Círculos Carusianos traz dois debates muito caros ao movimento psicanalítico: o legitimismo reivindicado pela IPA e a questão da análise leiga.
Aqueles que se aproximaram do movimento carusiano, após o seu período mais "igrejeiro", foram jovens psicólogos, transferenciados com a psicanálise a partir de sua formação universitária desejosos de estudar Freud e de trabalhar a partir desse referencial.
Quando, a partir da década de 1980, o movimento lacaniano se afirmou no cenário gaúcho, muitos dos que estavam nos Círculos Carusianos passaram a participar da "nova forma de estar fora do legitimismo" - o campo lacaniano. Nesse sentido, a experiência dos Círculos é importante, apontando possibilidades de existência da psicanálise fora da IPA e como fenômeno precipitador do debate em torno dessa questão. Junto com essa experiência, foram pelo menos mais três acontecimentos que impulsionaram o cenário psicanalítico dos anos 1980 em Porto Alegre numa nova direção: a crise na SPPA, o retorno a Porto Alegre de psicanalistas que haviam feito sua formação na Argentina sendo recusados uma segunda vez pela IPA local e a fundação da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre.
Em 1971, Mário Martins se afastou da presidência da SPPA por problemas de saúde. Em 1975, as divergências internas se tornaram intensas na IPA de Porto Alegre e Mário Martins reassumiu como presidente para administrar a crise instalada, formando um grupo de conciliação. Mas ele adoeceu novamente ficando impedido de exercer suas funções por longos períodos. Nesses momentos, Luiz Carlos Meneghini assumia as funções de presidente.3
Nas eleições de 1977, Fernando Guedes foi eleito presidente e Meneghini secretário. Alguns meses após, a longa e dolorosa doença de que sofria, levou Guedes à morte. Meneghini foi presidente até 1979. Na eleição seguinte, diante da recusa obstinada de Sérgio Annes a assumir a presidência, novamente Meneghini se apresentou. Seu mandato terminou na mesma época do falecimento do mestre de todos, Mário Martins, em 1981. Assumiu a presidência Germano Volmer Filho.
Enquanto isso, outro importante membro da SPPA, Cyro Martins, deu grande impulso à psicoterapia de grupo. A técnica havia sido abandonada por seus mestres argentinos, mas Cyro acreditava no método, utilizando-o tanto em seu consultório quanto no Hospital São Pedro.
Crescia, tanto na SPPA quanto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a oposição a David Zimmermann e seu grupo, gerando a crise definitiva para a cisão. Havia, na visão dos opositores, um centralismo demasiado de Zimmermann tanto na SPPA quanto na Universidade.
Segundo Antônio Luiz Bento Mostardeiro4, a SPPA sempre gozou de uma reputação ruim junto à Associação Brasileira de Psicanálise e junto à IPA por ser um grupo bastante hermético e rígido. Um integrante do Sponsoring Commitee junto ao Study Group, hoje Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, teria comentado em uma de suas visitas que a nova Sociedade faria bem à SPPA, "obrigando-a" a abrir-se mais, sendo a cisão vista como necessária pela IPA.
Desde sua fundação, em 1963 até o final dos anos 1980, o número de didatas permanecia o mesmo; os que morriam não eram substituídos, o que provocava uma grande concentração de candidatos em análise entre poucos didatas.
"Durante alguns anos, em Porto Alegre, ser psicanalista foi sinônimo de ser psiquiatra".5 Essa afirmação de Eizirick demonstra a hegemonia da Sociedade tanto no campo da psicanálise quanto no da psiquiatria.
A virada no cenário em direção a uma psicanálise plural
Em 1983, David Zimmermann apresentou ao Departamento de Psiquiatria da UFRGS o projeto do Curso de Especialização em Psiquiatria para aprovação como acontecia todos os anos. O projeto foi recusado dessa vez sob a alegação de que outro grupo de professores já havia apresentado um projeto também de Especialização, o que impedia a existência de dois cursos análogos. Pertenciam ao grupo de oposição a Zimmermann e que se anteciparam na apresentação do projeto do Curso de Especialização: Paulo Fernando Bittencourt Soares, Claudio Laks Eizirick, Isaac Pechansky, Sérgio Machado e Sidnei Samuel Schestatsky. Sérgio Machado foi eleito coordenador do curso e Claudio Eizirick presidente do Centro Luiz Guedes, ligado ao Curso de Psiquiatria. Nesse mesmo ano, os Seminários de Zimmermann foram recusados pela Comissão de Ensino do Instituto da SPPA. Foi a entrada em cena de uma nova geração tanto na Universidade quanto na IPA local.
Zimmermann solicitou sua aposentadoria das funções de professor da UFRGS, contando com o apoio de professores e de psicanalistas que se juntaram a ele, deixando a Universidade e a SPPA: Antonio Luiz Bento Mostardeiro, Aida Zimmermann e Irene Abuchaim. Juntos, fundaram, em 1985, um Curso de Especialização que pertencia à Fundação de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas do Rio de Janeiro, onde Zimmermann era professor titular. Em 1987, foi criada a Fundação Mário Martins em Porto Alegre.
Outro evento que repercutiu na quebra da hegemonia da SPPA em Porto Alegre está ligado à volta a Porto Alegre de diversos médicos gaúchos vindos de Buenos Aires, onde fizeram formação analítica, pois haviam sido recusados como candidatos à SPPA. Em 1976, chegou Fernando Kunzler e, em 1980, chegaram Júlio Campos. Kunzler e Campos. Acompanhados por Alfredo Jerusalinsky, José Ottoni Outeiral, Prado e Paulo Brandão, eles fundaram o Centro de Estudos e Pesquisa sobre a Infância e Adolescência (CEAPIA).
Ao longo do início dos anos 1980, chegaram outros brasileiros que fizeram formação em Buenos Aires: Lores Meller, Abrão Slavutsky, Francischelli, Trachtemberg e Turkenicks. Segundo Meller (1995):
Fundadores 'estrangeiros', mas não totalmente, já que se tratava de brasileiros que voltavam depois de buscarem ares democráticos: 'retorno dos recalcados'. Como eles não eram verdadeiramente estrangeiros, isso acalmou os sentimentos xenófobos locais. Se situando entre IPA e não-IPA, ele podiam falar de Freud, Klein e de outros, pois tinham o reconhecimento da IPA, mesmo não pertencendo à Sociedade local.
à medida que chegavam a Porto Alegre, os "Argentinos"6 solicitavam à SPPA entrada na instituição. Notem que eles vinham com o reconhecimento da IPA argentina de sua formação naquela instituição. A IPA gaúcha impôs ao grupo, como condição para sua entrada, a apresentação de um trabalho inédito e a supervisão de um caso com um dos didatas da SPPA. Essas exigências foram tomadas como uma segunda recusa à entrada na SPPA.
Diante da recusa, os "Argentinos" fundaram, em 1985, o Centro de Estudos em Psicoterapia Psicanalítica (CEPP). Em 1989, o nome mudou para Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre (CEP de Porto Alegre), instituição de estudos e de formação em psicanálise. Mesmo assim, diversos profissionais que faziam seu percurso de estudos no CEP buscavam posteriormente a SPPA para ter reconhecimento da IPA. "Nos demos conta que preparávamos bons profissionais no CEP que pediam sua entrada na SPPA. Por que não fazermos nós o seu reconhecimento como analistas"?7 Iniciaram, então, as negociações entre os psicanalistas ligados ao CEP e os dissidentes da SPPA que apoiavam Zimmermann. Em 1994, o grupo recebeu aprovação da IPA para seu funcionamento como Study Goup. Disse Francischelli: "era preciso criar outra sinagoga na mesma cidade. Era preciso também acertar o coração e retirar a hegemonia da SPPA".8
Os "Argentinos" viveram, durante sua formação em Buenos Aires, profundas mudanças na situação da psicanálise portenha e foram herdeiros da fratura da APA que deu origem à Associação Psicanalítica de Buenos Aires.
Em 1975, Luis Olyntho Telles da Silva, presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, organizou, com os membros de sua diretoria (Maria Auxiliadora Sudbrack, Maria Angela Brasil, Rita Franci e Gladys Carnos), um curso sobre Freud com o psicanalista argentino Roberto Harari. Telles, que havia deixado o Círculo Carusiano, passou a fazer supervisão com Harari, dando início a um percurso na psicanálise lacaniana.
No ano seguinte, reforçou o contingente de iniciados na obra de Lacan, com a chegada dos argentinos Miguel Massolo, Alfredo Jerusalinsky, Silvia Eugenia Molina e Martha Brizio. Massolo havia estudado com Oscar Masotta na Argentina e oferecia grupos de estudos sobre Freud e Lacan, esse segundo lido em espanhol, pois ainda não era traduzido para o português. Silvia Molina iniciou suas atividades no Hospital de Clínica de Porto Alegre, onde conheceu Paulo César D'Avila Brandão. Esse encontro fortaleceu uma parceria de trabalho com crianças tanto na instituição quanto em consultório. Brandão retornava de uma Especialização em Buenos Aires sobre Problemas do Desenvolvimento, feita com a Dra. Lydia Coriat e o Dr. Bernaldo Quirós.
No interior do Círculo Carusiano, a figura de Paulo César D'ávila Brandão teve um importante papel para muitos lacanianos de Porto Alegre, pois ele era analista de vários destes. Sustentava e apoiava os psicólogos que iniciavam as "formações profanas", o que lhe rendeu perseguições e difamações. Quando Brandão faleceu, em 1977, seus analisados passaram a frequentar o Círculo, tornando-se membros dessa instituição até o definitivo aparecimento de instituições lacanianas.
Alfredo Jerusalinsky, que havia chegado a Porto Alegre em 1977, se aproximou do Círculo no ano seguinte, não permanecendo lá por muito tempo. Nascido na Argentina, diplomou-se em Psicologia e, no início dos anos 1970, integrou a Coordenação dos Trabalhadores da Saúde e, depois, o Centro de Ensino e Pesquisa. Trabalhou também no Centro de Neurologia Infantil no Hospital de los niños de Buenos Aires e no Hospital Álvarez, orientado pela Dra. Coriat. Como Alfredo também tinha vínculo com a Universidade de Buenos Aires, tornou-se muito visado quando a ditadura se instalou na Argentina.
Foi com uma bagagem de estudos em Lacan desde 1969 que Jerusalinsky desembarcou em Porto Alegre, encontrando uma psicanálise com crianças exclusivamente kleiniana. Winnicott era ainda bastante desconhecido e Bion era estudado pelos jovens médicos da SPPA, mediante o ensino de David Zimmermann, na divisão Mélanie Klein do Hospital São Pedro. O cenário era de medicalização da psicanálise. Os amigos e colegas que o acolheram na capital gaúcha recomendaram-lhe de apresentar-se como psicoterapeuta. Como ele vinha de uma formação analítica, por meio do divã de Arnaldo Tessermann, ele decidiu não aceitar o conselho dos colegas, pois "não podemos sustentar o que não somos."9 Anos de duras afrontas se seguiram.
O grupo ligado à Sociedade de Psicologia que trouxe Harari manteve um curso com ele em Porto Alegre. Essas vindas frequentes possibilitaram que alguns se analisassem e fizessem suas supervisões com o argentino. "Se não fosse o Harari, não teríamos sustentado 'ser lacaniano' em Porto Alegre. Ele era muito respeitado e nós iniciávamos a nos autorizar a trabalhar com divã pois éramos diplomados em Psicologia. Os estudos com Harari duraram onze anos, de 1977 a 1988".10
Outro importante espaço de prática e transmissão da psicanálise fundada em 1977 foi a Clínica da UFRGS. Sob o título inicialmente de Núcleo de Atendimento Psicológico ao Estudante (NAPE) ligada ao então Departamento de Psicologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, tinha o fito de oferecer atendimento psicológico aos alunos da graduação do Curso de Psicologia, estendendo esse objetivo à comunidade e posteriormente tornando-se campo de estágio curricular. A psicanalista argentina Martha Brizio foi a impulsionadora desse projeto desde seu início. Em 1979, passou a denominar-se Clínica de Atendimento Psicológico e, desde 2006, tornou-se Órgão Auxiliar do Instituto de Psicologia. Tem, no centro de seu trabalho, a escuta de pacientes baseada na teoria psicanalítica proposta por Freud e Lacan. Oferece também atendimento psicopedagógico, fonoaudiológico e terapia sistêmica de casal e família. O trabalho é executado por uma equipe técnica constituída de psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos, bem como de consultores de áreas que não estão disponibilizadas à equipe, como, por exemplo, em genética, numa proposta de trabalho interdisciplinar.Mantendo-se como instituição aberta à comunidade, propõe-se a receber pacientes neuróticos, psicóticos, sindrômicos, portadores de necessidades especiais etc., sem limite de faixa etária, que, por questões econômicas e/ou subjetivas, não podem acorrer a consultórios particulares.
Em 1978, deram-se as negociações para a futura fundação da Mayêutica de Porto Alegre, afiliada da Mayêutica de Buenos Aires. Em maio de 1980, deu-se a oficialização da fundação com seu registro legal datando de 17 de dezembro. Como membros fundadores, constam, além de Roberto Harari como convidado de honra, Luiz Olyntho Telles da Silva (presidente), Gladys Wechsler Carnos, Maria Angela Brasil, Maria Auxiliadora Pastor Sudbrack e Rita Maria Franci.
No ano seguinte, outra importante instituição foi fundada em Porto Alegre: o Centro Lydia Coriat. Paulo César Brandão, Alfredo Jerusalinsky, Silvia Molina e Zulema Garcia Yañes inauguraram, com essa instituição, um importante espaço de atendimento à infância, sobretudo no que se refere aos transtornos do desenvolvimento. Tornou-se, ao longo dos anos, um importante lugar de pesquisa e de formação no campo da psicanálise da infância.
No Curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luiz Osvaldo Leite encorajava seus alunos a lerem Freud. Muitos estudavam com Miguel Massolo e eram também engajados no movimento estudantil com estudantes da Filosofia, História e Sociologia. A psicanálise lacaniana em Porto Alegre rapidamente se articulou a uma ideia de subversão na medida em que possibilitava outra via de entrada na formação analítica e o fortalecimento do movimento de resistência à IPA, considerada pelos estudantes universitários como fechada, elitista e incapaz de um olhar para o social. Aqueles que eram ligados ao movimento estudantil e que eram políticamente engajados numa militância de esquerda se deram conta, como lembra Robson de Freitas Pereira, que "os Argentinos que vieram pra cá nos mostraram que era possível ler Freud, sem ser um reacionário. Podíamos estudar e praticar a psicanálise de outra forma, mais aberta. O discurso lacaniano sustentava nossa prática legitimando a que os psicólogos pudessem se autorizar psicanalistas".11
Seguiam as análises fora do campo ipeísta e outras instituições começaram a surgir: o Centro de Trabalho em Psicanálise e Grupos, o Centro de Estudos Freudianos de Porto Alegre e a Cooperativa Cultural Jacques Lacan.
Em 1981, o grupo Embrião - Centro de Estudos e de ação em Psicologia ligado ao Centro Acadêmico de Estudantes da UFRGS - organizou um simpósio chamado "Alternativas no espaço Psi". Cerca de mil pessoas encheram os jardins, as salas e o auditório do Colégio IPA de Porto Alegre.12 O objetivo do simpósio era mostrar o que havia de novo em Psicologia, Psicopedagogia, Psiquiatria e Psicanálise. O momento mais importante do encontro foi o debate que reuniu o psicanalista carioca Hélio Pelegrino, o psicanalista gaúcho Abrão Slavutsky e o filósofo Ernildo Stein, intitulado "Psicanálise e Ideologia". Pelegrino trouxe para o debate as dificuldades vividas por ele e seus colegas na Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro após as denúncias de que um de seus candidatos, Amílcar Lobo, colaborava com a tortura durante o regime militar.13
Esse simpósio foi marcante para o movimento psicanalítico gaúcho, inaugurando um espaço de debate público àqueles que até então estavam à margem da psicanálise oficial. No ano seguinte, o grupo Embrião organizou um novo encontro chamado "Mo(vi)mento Psi", que propunha vários temas de discussão. Um deles foi noticiado da seguinte maneira por um jornal da cidade:
De quem é a Psicanálise? Dos médicos, dos psiquiatras, dos psicólogos? Somente esses universitários têm o direito de acesso ao conhecimento da ciência do inconsciente? Sigmund Freud mesmo disse que não. Mas as instituições psicanalíticas, uma espécie de escola onde se 'aprende' a Psicanálise, dizem que sim. A discussão está viva e implica basicamente o poder dos que detêm o conhecimento da ciência descoberta por Freud. Isso talvez explique por que os intelectuais brasileiros ligados às ciências humanas e exatas não estudem intensamente o tema.14
Como no primeiro encontro, esse também teve uma grande participação de jovens estudantes, de intelectuais e de profissionais do campo "psi". Gregório Baremblitt, psicanalista argentino, radicado no Brasil, no Rio de Janeiro, desde 1977, propôs, em sua palestra, uma reflexão sobre o acesso ainda difícil para as classes populares a um tratamento psicanalítico. Na época, Baremblitt dirigia o Instituto Brasileiro de Psicanálise, que recebia, segundo ele, 800 a 1.000 pacientes. Dizia: "nós conseguimos tornar as terapias de grupo e individual acessíveis à população graças a uma forma organizacional que se aproxima de uma maneira comunitária de trabalho".15
Durante o mesmo simpósio, Jerusalinsky propôs questões sobre a formação em psicanálise num trabalho intitulado: "De quem é a Psicanálise?". Numa entrevista16, ele afirmou:
a psicanálise, apesar de seu viço, se encontra num impasse que traz perigo para seu futuro. Existem os Institutos de Psicanálise limitando o enriquecimento da ciência com a exclusão dos não-médicos. Existem numerosos grupos freudianos nos quais os trabalhos produzidos apontam para grandes progressos científicos, mas que aparecem de forma limitada na sua aplicação devido às interpretações dogmáticas das palavras do fundador da psicanálise: Sigmund Freud.
Nesse simpósio, os psicanalistas José Luiz Caon e Miguel Massolo também centraram suas abordagens na questão da análise leiga.
Na edição do jornal Zero Hora17 que cobria o evento, o jornalista mencionava o caráter interrogativo do encontro e a necessidade de integração dos profissionais que trabalhamna saúde mental. Ele chamava a atenção também para o fato de que os representantes da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre convidados para o encontro não compareceram.
Também nos anos 1980, o campo lacaniano gaúcho ganhou reforço com a presença de Alduísio Moreira de Souza. Nascido em Minas Gerais, viveu durante a década de 1970 na França, fugindo do regime militar brasileiro. Formado em psicologia, participou da Escola Freudiana de Paris, tendo seguido os seminários de Lacan. Em Porto Alegre, participou da Cooperativa Jacques Lacan, primeira experiência institucional do campo lacaniano na cidade.
Harari passou a ir a Porto Alegre com menor frequência ao mesmo tempo em que chegou Contardo Calligaris, psicanalista italiano que participou do movimento psicanalítico francês fazendo sua análise e supervisão com Lacan. Com ele, vieram Charles Melman, Marcel Czermak e Christiane Rabant-Lacôte para participarem da Primeira Semana de Atividades Psicanalíticas. Teve início um laço transferencial importante com os franceses na mesma medida em que declinou a relação de trabalho com os colegas argentinos. Alguns membros da Mayêutica de Porto Alegre vinham questionando a leitura de Lacan feita por Harari. A chegada dos franceses acendeu esse debate, fragilizando as transferências. Era também um momento em que, tanto na Mayêutica de Porto Alegre quanto nos demais grupos lacanianos da cidade, havia um desejo de autonomia e ampliação das discussões. Momento em que era necessária uma dissolução para crescer.
No cenário gaúcho, os anos 1980 marcaram o início da afirmação da análise profana. Em nível mundial, a Associação Psicanalítica Americana perdeu na justiça a causa que questionava a política de exclusão praticada, fazendo-a orientar seus Institutos afiliados a abrirem as portas aos "não-médicos". Na Assembleia Geral de março de 1989, foi comunicada a abertura do Instituto da SPPA aos psicólogos que desejassem seguir uma formação analítica.
Calligaris deu início a um diálogo com os representantes dos diversos grupos lacanianos de Porto Alegre ao longo do ano de 1989, apostando numa reunião de todos de forma associativa, a fim de aproximar os psicanalistas lacanianos da cidade ampliando as transferências de trabalho e ganhando força política por meio de um diálogo ampliado com a cultura e a pólis. Gradativamente, as instituições e grupos iniciaram seus processos de dissolução. Tratava-se de um trabalho delicado, pois era necessário romper com a tendência ao caudilhismo de nosso Estado, elemento que determinou nos grupos a questão: "quem é o patrão"?, "quem é o patrão desse grupo, desse CTG?"18
Em 17 de dezembro de 1989, deu-se a fundação da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA). A ata de fundação foi publicada no primeiro boletim da instituição em março de 1990. Ela informa os aspectos importantes da formação em psicanálise: "permitir a formação de analistas; assegurar a qualidade analítica dos membros que ela reconhece como analistas; sustentar a produção e a difusão do discurso psicanalítico em todas as situações que não comprometam as condições de sua enunciação - ou de seus efeitos".19
A ata de fundação retomou os três principais elementos da formação do analista: análise pessoal, supervisão e estudos da teoria. A primeira diretoria da APPOA era composta por: Contardo Calligaris, presidente; Maria Lúcia Bopp Kruel, secretária; Maria Angela Brasil, Maria Auxiliadora Sudbrack e Anna Callegari, acolhimento; Robson de Freitas Pereira e Neusa Calliari, tesouraria; Alduísio Moreira de Souza, Alfredo Jerusalinsky e Ana Maria da Costa, ensino; Gladys Carnos, Cleuza Maria Bueno, Diana Lichtenstein Corso, Lucia de Souza Serrano, publicações; Eda Tavares e Mário Corso, arquivos; Adão Luiz Lopes da Costa, Conceição Beltrão, Eliana dos Reis Calligaris e Yeda Swirski, eventos; Contardo Calligaris, Alduísio Moreira de Souza, Alfredo Jerusalinsky, Anna Callegari, Maria Angela Brasil e Maria Auxiliadora Sudbrack, comissão de analistas membros.
A década de 1990 iniciou-se com um novo ar para o movimento lacaniano. Em 1994, Calligaris mudou-se para os Estados Unidos e Alduísio Moreira de Souza também deixou a Associação.
Pouco a pouco, a psicanálise ampliou-se numa multiplicidade de instituições e grupos, propondo desde estudos da obra de Freud e dos principais autores pós-freudianos como instituições que oferecem um percurso de formação para a prática clínica com orientação psicanalítica. Os cursos de Psicologia das Universidades sediadas em Porto Alegre e de todo o Estado têm em seus currículos a psicanálise como um fundamento do campo da clínica. Em julho de 2001, no Congresso da IPA em Nice, foi reconhecida a mais nova afiliada, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre.
Psicanálise, saúde coletiva e as políticas públicas: um novo desafio
Os psicólogos formados a partir da tradição psicanalítica das universidades e do debate cultural da cidade, além de praticarem a clínica em consultórios, trazem para os mais diversos fóruns de discussão a relação da psicanálise com o campo da saúde mental, da assistência social, do jurídico e da educação. Situados num lugar de escuta do sujeito, entendem que as possibilidades de oferecer essa escuta se multiplicam. Ingressam nos serviços públicos ligados às áreas mencionadas qualificando a discussão sobre o lugar da psicanálise e do psicanalista no social.
A constituição brasileira de 1988 inaugurou um período vitorioso para o movimento de trabalhadores em saúde que lutaram pela implantação de uma política de saúde pública. Esse movimento, integrado por diversos profissionais das mais variadas áreas, dentre eles vários psicanalistas, conseguiu aprovar na assembleia constituinte a criação do Sistema único de Saúde (SUS), por meio da Lei 8.080/90, que garante o direito universal à saúde para toda a população brasileira, não restringindo somente aos assalariados vinculados ao INAMPS como era anteriormente.
O SUS é efeito de uma luta política que incorpora um novo paradigma de saúde, o qual, rompendo com a hegemonia da biomedicina, abre espaço para a incorporação dos processos sociais e da subjetividade no conceito de saúde. Além disso, garante a contratação, mediante concurso público, para vários campos profissionais, anteriormente centrados na contratação médica. É essa uma das grandes forças para a entrada de vários psicanalistas em diversos serviços e na gestão da saúde no País.
Num giro conceitual, passa-se a compreender que as "relações do sujeito com o seu corpo, com os outros, com as coisas, com as instituições e com as práticas sociais são mediadas pela linguagem, pelos códigos culturais estabelecidos numa tradição histórica e linguista" (Birman, 1991, p. 9). É assim que vai se abrindo passagem para o paradigma que hoje se denomina Saúde Coletiva. De acordo com Paim e Almeida Filho (1998), num já clássico texto sobre o tema "o trabalho teórico-epistemológico empreendido recentemente aponta a saúde coletiva como um campo interdisciplinar e não propriamente como uma disciplina científica, muito menos uma ciência ou especialidade médica" (p. 309).
Como campo interdisciplinar, a Saúde Coletiva acolhe as contribuições de vários campos do conhecimento, dentre eles a psicanálise, quando se trata de olhar para o sujeito do inconsciente. Esse acolhimento, por sua vez, faz com que o arcabouço teórico da psicanálise precise ser revisitado, especialmente quando se coloca em diálogo com outros campos do conhecimento e com outras epistemologias.
Concomitantemente ao movimento reformista do SUS, liderado pelo que se convenciou chamar de movimento sanitarista, acontece, no campo da Saúde Mental, a Reforma Psiquiátrica por meio do Projeto de Lei 3.657/89, apresentado pelo deputado Paulo Delgado. Tendo seu texto reformulado, a Lei da Saúde Mental foi finalmente aprovada em 2001. Trata-se, segundo Tenório (2001), da "tentativa de dar à loucura uma outra resposta social" (p. 20).
Figueiredo (2010, 2011) situa três tempos da clínica na reforma psiquiátrica. O primeiro - tempo dos ambulatórios - data da década de 1980 e tem como objetivo principal uma tentativa de reduzir ou prevenir internações. O segundo caracteriza-se pela implantação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e teve seu maior desenvolvimento na década de 1990. O terceiro tempo iniciou em 2000 com a proposta do trabalho em rede numa perspectiva intersetorial. Tempos esses cronologicamente datados, mas os quais, no entanto, sobrepõem suas lógicas.
Os mencionados tempos que a autora nos apresenta trazem três grandes desafios, ou feridas narcísicas, segundo sua conceituação, para os psicanalistas que inserem seu trabalho nesse campo. No primeiro, prevalece o dispositivo da consulta e, assim, o trabalho é bastante aproximado ao do consultório privado. No entanto, há aí um deslocamento quando se trata de desprivatizar a relação terapêutica. Trata-se de um profissional assalariado que não recebe o pagamento diretamente do seu paciente, mas mediado pelo Estado.
O segundo tempo caracteriza-se pelo trabalho em equipe, um trabalho coletivizado, deslocando a ideia de que cada um tem o seu paciente. O paciente-usuário referencia-se ao CAPS e para os psicanalistas ficaria potencializada a posição de "aprendiz da clínica" (Figueiredo, 2011, p. 53). A dificuldade aí reside na possibilidade de esbarrar no narcisismo das pequenas diferenças, quando à escuta se sobrepõe a disputa disciplinar ou pelo "paciente".
O desafio relativo ao terceiro tempo diz respeito ao trabalho em rede intersetorial, o qual requer a habilidade de construção do caso entre os variados setores das políticas públicas envolvidos. A transferência de trabalho e a posição de aprendiz poderão garantir, de acordo com Figueiredo (2010), o trabalho que esse novo desafio introduz. A direção do trabalho em rede dá-se na interface entre Saúde, Educação, Justiça, Assistência Social, Conselhos Tutelares e outros.
Em relação às políticas de saúde, o estado do Rio Grande do Sul segue as diretrizes acima mencionadas e compartilha das experiências da reforma. No entanto, Porto Alegre mostra-se um dos primeiros municípios brasileiros a implantar uma política de Assistência Social. Na gestão municipal do prefeito Olívio Dutra, iniciada em 1989, a assistência social, até então delegada ao gabinete da primeira dama e associada como política à Secretaria de Saúde, iniciou o processo de transformação que culminou com a criação da Fundação de Educação Social e Comunitária (FESC) em 1994. Esta, posteriormente se tornou Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC). Data dessa época, também, a criação de concurso público para preenchimento de vagas nas diversas políticas municipais, mas prioritariamente para as secretarias de saúde e assistência social.
É por essa via que um número significativo de psicólogos ingressou no campo público e precisa adequar suas ferramentas conceituais e de trabalho para a incorporação das diretrizes das novas politicas. São psicólogos, que na sua grande maioria vêm de formações nas quais a psicanálise tem um importante lugar, como já foi acima mencionado.
Os efeitos desse movimento se traduzem na necessidade de teorização das experiências. Assim, a partir de 2000, iniciou-se uma série de trabalhos fundamentalmente ligados aos programas de mestrado e doutorado. A psicanálise vinculada às políticas de Saúde e de Assistência Social ganhou espaço nas páginas de teses e dissertações em Programas de Pós-Graduação da UFRGS e PUCRS (Goidanich, 2004; Cabral, 2005; Simoni, 2007; Scarparo, 2008; Lerner, 2008; Lima, 2010; Gemelli, 2010; Waschburguer, 2010; Baldo, 2011, Goelzer, 2011; Ssusin, 2012).
No campo da graduação, são diversas as mudanças introduzidas nos currículos dos cursos vinculados à saúde a partir das diretrizes implantadas pelo MEC. A introdução de disciplinas ligadas às políticas públicas é um dos eixos dessa modificação curricular.
A Psicanálise vai migrando, assim, do currículo dos cursos de Medicina para o dos cursos de Psicologia. Passa a constituir uma das disciplinas que compõem o campo da Saúde Coletiva ao lado de outras Ciências Humanas como a Psicologia Social, a Antropologia e as Ciências Sociais.
Na UFRGS, a disciplina de Psicologia e Saúde Coletiva começou a ser ministrada em 2009, vinculada ao Departamento de Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia. Em 2014, foi aprovado pela CAPES o Mestrado em Psicanálise: Clínica e Cultura, vinculado ao mesmo Departamento; entre as linhas de pesquisa, inclui-se a interface com as políticas públicas. Com a aprovação, esse novo programa de pós-graduação passa a compor diversos espaços nacionais por meio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) e do Fórum permanente de psicanálise, ciência e políticas públicas.
As instituições gaúchas de formação psicanalítica passam a ter um trânsito pelas políticas públicas aparecendo, com frequência, essa temática nas pautas de estudo e nas supervisões. Precisa-se pensar a psicanálise em novos dispositivos de trabalho, a fim de entender como ela pode tornar-se uma importante ferramenta de leitura e de intervenção em diversas realidades institucionais. Dois exemplos recentes dessa transformação são: a criação de institutos e projetos vinculados a instituições psicanalíticas, como o Instituto APPOA - Clínica, Pesquisa e Intervenção ligado à Associação Psicanalîtica de Porto Alegre - e o Projeto Clínicas do Testemunho, da Sigmund Freud Associação Psicanalítica.
Ainda num esforço de diálogo entre o campo público e a psicanálise, alguns encontros foram produzidos pela Escola de Saúde Pública do estado do Rio Grande do Sul (ESP/RS), entre 2009 e 2010, dando lugar à publicação de um número específico do Boletim da Saúde sobre essa interface (BOLETIM DA SAÚDE, 2009). A ESP/RS apresenta outro terreno fértil para a construção desse diálogo, por meio do Centro de Referência em Redução de Danos (CRRD), com produções importantes sobre a temática da escuta (psicanalítica) a usuários de drogas no campo da Saúde Coletiva (CONTE, 2004; CONTE et al., 2004).
Uma história iniciada na década de 1930 até os dias de hoje nos parece demonstrar a força da psicanálise em sua capacidade de se renovar e de se colocar na pólis como um discurso potente e ainda produtor de laços de trabalho e de escuta do social, o que faz a disciplina freudiana ser ainda uma aposta possível.
Referências
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Endereço para correspondência
Ana Maria Gageiro
E-mail: agageiro2008@hotmail.com
Sandra D. Torossian
E-mail: djamb@terra.com.br
Artigo recebido em: 23.4.2014/4.23.2014
Aprovado para publicação em: 30.4.2014/4.30.2014
* Dra. em História da Psicanálise. Professora do Instituto de Psicologia da UFRGS. Departamento de Psicanálise e Psicopatologia.
** Dra. em Psicologia. Professora do Insttuto de Psicologia da UFRGS. Departamento de Psicanálise e Psicopatologia.
1 1 http://www.ufrgs.br/museupsi/index.htm
2 Professor Luiz Osvaldo Leite, ex-Diretor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, participante dos Círculos Carusianos. Entrevista concedida à Ana M. Gageiro em 24/10/1995.
3 Luiz Carlos Meneghini, analista didata da SPPA. Entrevista concedida à Ana M. Gageiro em outubro de 1995.
4 Antônio Luiz Bento Mostardeiro. Membro associado da SPPA e membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. Entrevista concedida à Ana M. Gageiro em outubro de 1995.
5 Claudio Eizirick, então presidente da SPPA, em entrevista à Ana M. Gageiro em outubro de 1995.
6 Nome dado ao grupo de gaúchos que fizeram formação em Buenos Aires. Neste trabalho, ele aparecerá sempre entre aspas.
7 Leonardo Francischelli é membro do CEP e membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. Entrevista concedida à Ana M. Gageiro em setembro de 1995.
8 Ibidem
9 Entrevista concedida por Alfredo Jerusalinsky à Ana Maria Gageiro em outubro de 1995.
10 Entrevista concedida por Maria Auxiliadora Sudbrack à Ana M. Gageiro em outubro de 1995.
11 Entrevista de Robson de Freitas Pereira concedida à Ana M. Gageiro em outubro de 1995.
12 Colégio/Faculdade que serviu de local para o encontro em Porto Alegre.
13 Esse tema foi trabalhado no livro de Helena Besserman Vianna. Não conte a ninguém. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
14 "A quem pertence a Psicanálise?" In: jornal Zero Hora, 1/11/1982.
15 "Psicanálise: abrindo as portas de um território das elites". In: Jornal Correio do Povo, 17/10/1982, p. 9.
16 Ibidem
17 Zero Hora, 02/11/1982.
18 CTG: Centro de Tradições Gaúchas. Lugar, uma espécie de clube social onde se dá o cultivo das tradições do estado do Rio Grande do Sul em torno do gaúcho. As músicas, as danças e as poesias giram em torno do culto ao homem do pampa, o gaúcho.
19 Ata de Fundação. In: Boletim da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, Porto Alegre Ano1, n. 1, março 1990.