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Desidades

versão On-line ISSN 2318-9282

Desidades  no.26 Rio de Janeiro jan./abr. 2020

 

TEMAS EM DESTAQUE

 

 

Juventude em rede: os sentidos que os jovens atribuem ao político e à política brasileira

 

Youth in media: the meanings that young people attribute to Brazilian politics and politics

 

Juventud en las redes: los significados que los jóvenes atribuyen a los políticos y política brasileña

 

 

Elise do Socorro Gomes BarrosoI, Ana Paula Vieira e SouzaII, Joana D’Arc de Vasconcelos NevesIII

I Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação de jovens e Adultos e Diversidade Amazônica, Brasil.

II Universidade Federal do Pará, campus de Bragança, Brasil.

III Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia, Universidade Federal do Pará, Brasil.

 

 


RESUMO

O propósito deste trabalho foi o de identificar as representações sociais expressas através da rede social Facebook em relação ao momento político brasileiro, diante de um ano eleitoral, com foco nos seguintes aspectos: o político; a política; o contexto político/social e a perspectiva futura política do Brasil. A metodologia se deu por meio da observação não participante, com base no campo das representações sociais. Com a análise dos dados levantados, foi possível constatar que, assim como jovens de vários outros locais do país, os desta pesquisa também mostram interesse pelo tema em destaque e expressam suas opiniões e descontentamentos com a realidade do país. Verificou-se também que os jovens estão mais atentos às questões políticas e tudo o que acontece na sociedade e que afeta direta ou indiretamente cada um deles, demonstrando saber discernir com maturidade o que é repassado pelos meios de comunicação.

Palavras-chave: juventude, redes sociais, representações sociais.


ABSTRACT

Matters referring to youth and everything it encompasses are increasingly reoccurring on today’s society. In this sense, the purpose of this work was to identify the social representations expressed through Facebook about Brazil’s political circumstances, facing an election year, focusing on the following aspects: politics, the social/politic context and Brazil’s future perspective. The methodology occurred by the means of non-participant observation, with bases on the field of social representation. With the data analysis, it was possible to verify that, as the youth from various other parts from the country, those in this research also show interest in the theme displayed, and express their opinions and discontentment with the country’s reality. It was also verified that the youth is more alert to political matters and everything that happens on society, and that affects directly or indirectly each one of them, and even demonstrate to know how to discern with maturity what is repassed by the communication mediums, and demonstrate how to discern with maturity what is passed on by the media.

Keywords: youth, social medias, social representations.


RESUMEN

El propósito del presente trabajo fue identificar las representaciones sociales que fueron expresadas mediante la red social de facebook, relacionado al momento político brasilero, enfrentando un año electoral, principalmente sobre los siguientes aspectos: el (los) político (s), la política, el contexto político/social y la perspectiva futura de la política del Brasil. Se utilizó la metodología observación no participante, basado en el campo de las representaciones sociales. Los datos recolectados fueron analizados, posibilitando constatar que así como los jóvenes de varios otros lugares en el país, aquellos en esta investigación también muestran interés sobre los aspectos evaluados, expresan sus opiniones y descontentos de la realidad del país. De la misma forma, se verificó que los jóvenes están más atentos a las cuestiones políticas, a todo lo que acontece en la sociedad, a lo que afecta directa o indirectamente a cada uno de ellos y todavía demuestran saber discernir con madurez lo que es transmitido por los medios de comunicación.

Palabras-clave: juventud, redes sociales, representaciones sociales.


 

 

Introdução

O período político que o Brasil vivenciou de 2013 a 2018 foi marcado por eventos que deram um novo rumo ao Pais, dos quais destacamos: as “jornadas de junho”, em 2013; o impeachment da presidenta Dilma, em agosto de 2016 – este acontecimento deu início ao governo definitivo de Michel Temer –; e o ano eleitoral de 2018. Todo esse período despertou conflitos sociais e encurtou ainda mais o distanciamento geográfico através das mídias sociais, que foram o principal recurso utilizado na corrida presidencial, tendo a juventude como uma parcela considerável dos envolvidos nessas ações. Neste sentido, o presente artigo se propõe a analisar os sentidos que os jovens desta pesquisa atribuem ao contexto político social e à perspectiva de futuro político do País.

Contudo, por que analisar as representações de jovens? Neste artigo, parte-se do princípio de que a juventude é uma categoria de análise que possibilita contemplar as múltiplas dimensões da constituição do ser jovem, em seus aspectos simbólicos, materiais, históricos e políticos, ou seja, na dupla dimensão: na forma como a sociedade constitui e atribui significado à condição juvenil e na forma como a situação é vivida no conjunto de realidades na sociedade (Abramo, 1994; Dayrell, 2003; Peralva, 1997).

Nessa direção, a representação de juventude está associada às dimensões intersubjetivas do que é ser jovem em contextos sociais distintos. Essa lógica envolve a habilidade de se apropriar da cultura em que os jovens estão inseridos e dos processos de reinterpretação dessa cultura de forma particular, o que permite definir identidades e estilos, possibilitando, consequentemente, a construção de diferentes culturas e diferentes tipos de juventudes.

Assim, dada à diversidade da própria juventude, parte-se do princípio de que as representações desses jovens sobre o contexto político/social e sobre a perspectiva de futuro político do Brasil devem ser estudadas, levando-se em consideração o momento sócio-político.

Enquanto sistemas de interpretação, as representações regulam a relação dos jovens uns com os outros e com o mundo, orientam e organizam as condutas e comunicações sociais, interferindo ainda, nos processos de desenvolvimento individual e coletivo, na definição das identidades pessoais e coletivas, na expressão dos grupos e nas transformações sociais (Duveen, 2012, p.7).

Assim, o presente estudo trata do exercício de compreender como os jovens estão construindo e dando sentido a essa realidade. Dessa forma, procurou-se observar o tipo de construção de realidade comum que pode ser identificada nesse determinado conjunto social – o de jovens que utilizam as redes sociais –, analisando os sentidos e significados atribuídos aos temas abordados, ou seja, como se expressam nas redes sociais, bem como a mobilização das subjetividades desses jovens.

Quando delimitamos nosso olhar sobre a juventude em rede, estamos nos reportando ao grupo social de jovens de 15 a 29 anos que se mostram abertos às inovações sociais e tecnológicas, jovens que dialogam por meio da rede com diferentes indivíduos e culturas, como por exemplo: a capoeira, os grupos de hip-hop, rock, rodas de samba, grupos religiosos etc. Esses, a partir de uma interação social, tornam suas formas de debates mais diversificadas, uma vez que cada jovem possui uma cultura diferente e, no diálogo com outras culturas, ampliam os processos de comunicações intersubjetivas.

Ressalta-se que, por meio das tecnologias da informação, as pessoas têm ampliado seu círculo social e cultural, uma vez que as informações circulam em uma velocidade antes impossível e, “em um piscar de olhos”, pessoas em diferentes localizações podem estar interagindo sobre um determinado assunto que está sendo abordado em um dos muitos portais digitais, de modo especial, nas redes sociais, espaço cuja,

[...] principal característica corresponde à interatividade, que possibilita a troca de informações entre os usuários e com isso gerar conteúdos na rede sem recorrer a estudos avançados em tecnologia e grandes custos. As pessoas se tornam simultaneamente consumidoras e produtoras de informações, em um espaço acessível no qual todos oferecem colaboração (Coutinho e Bottentuit Jr, 2007, p.18).

Vale destacar ainda que, nas diferentes comunidades virtuais, encontram-se jovens que exercem o ativismo social de forma significativa, o que se denomina cyberativismo, isto é,

[...] toda estratégia que persegue a mudança da agenda pública, a inclusão de um novo tema na ordem do dia da grande discussão social, mediante a difusão de uma determinada mensagem e sua propagação através do "boca a boca" multiplicado pelos meios de Comunicação e publicação eletrônica pessoal (Ugart, 2008, p. 77).

No caso da juventude brasileira, devemos considerar que os complexos momentos políticos vivenciados no Brasil, nos últimos anos, marcados por escândalos e manifestações que culminaram no impeachment da presidente1 e a ascensão de um presidente “não eleito”, levaram a inúmeras manifestações feitas por cidadãos de todas as faixas etárias, organizadas de modo especial pela juventude, por meio das redes sociais. Uma vez que os participantes eram jovens, alguns pertenciam a grupos organizados, mas a maioria chegou às ruas através das redes sociais, como indivíduos em grupos de amigos e sem militância política anterior em partidos ou movimentos sociais (Pinto, 2017).

Mesmo levando em consideração certo nível de incerteza desse tipo de pesquisa realizada em manifestações, os números são muito indicativos de quem estava nas ruas. Eram, em sua maioria, jovens altamente escolarizados e sem experiência político-partidária ou associativa (Pinto, 2017). Diante disso, temos um novo cenário político/social, em que a internet possibilita uma nova forma de participação e construção de sentidos sobre a questão política/social, pois:

[...] a internet possibilitou o surgimento de novos campos para que qualquer pessoa conectada a grande rede opine, critique, exponha sua visão de mundo, transmita informações, participe do cenário mundial da comunicação, não só como consumidor de notícias, mas agora também como produtor (Almeida; Almeida; Rodrigues, 2014, p. 3).

Desse modo, é bastante relevante investigar ainda mais as questões relacionadas à juventude e suas representações em redes sociais, principalmente no que se refere ao contexto político e social brasileiro. Afinal, o cenário político pós-impeachment é marcado por críticas tanto ao presidente “não eleito” quanto ao Congresso Nacional, em virtudes de reformas que os analistas políticos apontam como perdas dos diretos da classe trabalhadora (Gama, 2016). Além disso, o país encontra-se em ano de eleições presidenciais. Dessa forma, ter a juventude como fonte de representações e significados em relação ao atual momento político é ancorado pelo fato de os jovens estarem sendo a maioria da população mobilizada em mudar a realidade política e social do Brasil, usando as mídias sociais como veículos para a divulgação das suas convicções em relação ao que seja melhor para o País nesse momento.

Nessa perspectiva, traçamos como objetivo analisar as representações sociais de alguns jovens viseuenses, postadas especificamente na rede social Facebook. Para tanto, buscamos identificar os sentidos e significados atribuídos nas postagens desses jovens sobre o contexto político no período das eleições presidências de 2018 e as perspectivas que esses mesmos jovens apontam para o futuro político do Brasil; buscaremos também diagnosticar os elementos constituidores das representações sociais, ou seja, as objetivações e ancoragens; e analisar as repercussões destas representações nas atitudes desses jovens.

 

Juventude, participação política e representações sociais em redes sociais

No decorrer dos anos, especialmente nas duas últimas décadas, a questão da participação juvenil na sociedade vem ocupando um lugar de significativa relevância no contexto das grandes inquietações mundiais, uma vez que,

Os jovens são sujeitos desses processos e interagem com eles algumas vezes como protagonistas e beneficiários das mudanças e por outras vezes sofrem os prejuízos de processos de modernização, produtores de novas contradições e desigualdades sociais (Carrano, 2012, p. 83).

No cenário mais recente, sobre diferentes enfoques de participação e concepções políticas, a juventude brasileira tem se destacado em movimentos decisivos para a sociedade, como: a) Em 1999 – Governo FHC, na luta contra os Pacotes de Privatizações; b) Em 2013, Jornadas de Junho, com o movimento “vem pra rua!” – em que a juventude tornou-se um furacão organizado contra o aumento da tarifa do transporte público brasileiro; c) No ano de 2016, Primavera Secundarista – luta contra o fechamento de escolas estaduais em São Paulo, ganhando posteriormente uma dimensão nacional com pautas de luta contra o sucateamento das escolas públicas2; d) e, ainda no ano de 2016, no golpe contra a Presidente Dilma Rousseff, a juventude sai às ruas em defesa da democracia (Gohn, 2018).

Destaca-se que, a partir de 2013, iniciou-se uma mudança expressiva nas formas de participação da juventude com o uso significativo das redes sociais como forma de mobilização e construção de sentidos sobre o próprio processo. O movimento construído a partir de mobilizações sociais por meio das redes sociais deu início a uma nova formação de ação e participação sócio-política.

O papel das transformações das formas de organização da participação da juventude na política do país por meio das redes ganha uma dimensão significativa na medida em que as mídias sociais podem modificar, de maneira no mínimo considerável, a forma como a sociedade passa a se relacionar com o conhecimento, pois,

Não há nenhuma esfera na sociedade moderna em que os meios de comunicação de massa não tenham algo para dizer. Nada escapa as lentes penetrantes que tange as relações individuais e sociais. As trocas simbólicas praticadas no seio da convergência digital assumem um papel fundamental ancorado no alicerce da informação social. A comunicação torna-se o mecanismo básico para a concretização das trocas simbólicas e o conhecimento das atividades políticas e sociais na esfera pública (Trevisol, 2010, p. 12).

Assim, na medida em que a mídias sociais impulsionam as informações que circulam em nossa sociedade e as transformam em trocas simbólicas, pode-se dizer que as mídias têm uma forte influência na vida e na concepção da opinião de cada pessoa, tanto por seu campo de abrangência quanto pela maneira como as notícias são transmitidas. “A preocupação não é mais com o que é comunicado, mas sim, com a maneira com que se comunica e com o significado que a comunicação tem para o ser humano” (Alexandre, 2001, p.112).

No contexto atual, há um “bombardeamento” diário de informações, e a internet tem participado de forma decisiva na criação, modificação ou estabilização das atitudes e opiniões das pessoas. Trata-se de um canal em que as informações alcançam um grande número de sujeitos,e os sentidos que cada um dá em forma de apoio ou revolta e, até mesmo, reivindicações presentes nos discursos trazem as marcas das representações sociais que segundo Moscovici (1981, p.181) são “um conjunto de conceitos, frases e explicações originadas na vida diária durante o curso das comunicações interpessoais”.

Assim, na medida em que compreendemos o uso das mídias sociais como espaço de comunicações públicas e de trocas simbólicas, o presente artigo parte do princípio de que as redes sociais se constituem na atualidade como uma forma de circulação e produção de representações sociais, uma vez que a ação comunicativa dos sujeitos envolvidos nas mídias sociais expressam seus pensamentos sobre a realidade e suas experiências, construindo significados intersubjetivos que influenciam no processo de desenvolvimento da sociedade atual e consequentemente nos processos psicossociais.

 

Metodologia

Este estudo trata de uma pesquisa com o objetivo de analisar as representações dos jovens pesquisados sobre o contexto político/social e a perspectiva de futuro político do Brasil em ano de eleições presidenciais.

A opção pela representação social se fez pelo fato de que “elas circulam nos discursos, são carregadas pelas palavras, veiculadas nas mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas nas condutas e agenciamentos materiais e espaciais” (Jodelet, 2001, p. 2). Ressalta-se, ainda com relação ao campo das representações, que as coisas ditas e expressas possuem significado além daquilo que é manifestado. Assim, a contribuição da teoria das representações para este artigo ocorre, principalmente, pela possibilidade de discutir a realidade da juventude como grupo concreto, construído historicamente e por ele mesmo, sendo assim, produto e processo das construções sociais que permeiam o universo juvenil como “um lugar social” paradoxalmente associado à apatia, à mudança e à tecnologia. Dessa forma, a pesquisa foi realizada fazendo uso de uma abordagem qualitativa, com enfoque nas representações sociais, a partir da observação dos perfis selecionados.

Os jovens participantes da pesquisa são naturais do município de Viseu, localizado no nordeste do estado do Pará, localizado a 314,5km de distância da capital Belém, às margens do rio Gurupi, fazendo fronteira com o estado do Maranhão. A seleção dos jovens baseou-se nos seguintes critérios: eleitores, nascidos em Viseu; estudantes do ensino médio ou do ensino superior; militantes de movimento social ou de grupos da igreja; todos com conta perfil no Facebook e que fizessem postagens sobre o contexto político/social, bem como sobre a perspectiva futura política do Brasil.

Assim, após prévia observação dos perfis, a fim de confirmar quem se encaixava nos critérios, identificou-se 10 jovens que foram convidados a participar da pesquisa. O convite foi feito aos jovens por meio do aplicativo Messenger e WhatsApp.

Após o convite, 5 jovens com idade entre 21 e 27 anos aceitaram participar da pesquisa, todos sendo naturais do município de Viseu, no entanto, 3 desses fazem graduação fora da cidade. Conforme mostra a tabela abaixo:

 

Tabela 1 - sujeitos da pesquisa

 

 

Fonte: as autoras

 

Após a seleção dos sujeitos, os perfis foram observados sempre uma vez por semana no período entre janeiro e agosto de 2018. O tipo de observação escolhida foi a não participante, onde o pesquisador “presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz o papel de espectador” (Marconi; Lakatos, 2007, p. 90). No caso em questão, não realizamos nenhum tipo de manifestação diante das postagens de nossos entrevistados. Isso, porém, não quer dizer que a observação não ocorreu de forma consciente, dirigida e ordenada.

Em um processo sistemático, os perfis dos jovens foram observados e as postagens que abordam o tema da pesquisa foram destacadas e organizadas a partir dos campos de interesse, que são: o político; a política; o contexto político/social e a perspectiva de futuro político do país, para posteriormente realizarmos a análise e destaque das ideias centrais das postagens.

 

Análise dos resultados

A política é uma ação de governo que busca desenvolver funções nas esferas do executivo, legislativo e judiciário, em conformidade com o que está estabelecido na Constituição Federal brasileira. Nesses espaços, existem conflitos de interesses, ações e discursos que, segundo Camino e Torres (1997), pelo fato de o espaço político ser subjetivo e constituído pela percepção da população em relação à política, se configura por conflitos, principalmente de interesses pelos quais os políticos são apresentados e representados em proximidade das representações sociais dos jovens. Assim, a política é entendida como a forma de governar o País por meio de uma estrutura organizacional baseada em projetos e programas propostos pelo Estado, a fim de garantir os direitos de cada cidadão.

No sentido de compreender o campo representacional, o presente estudo destaca os aspectos a seguir: os políticos; a política; o contexto político/social e as perspectivas sobre o futuro político do país.

 

1. Políticos: incapacitados e que não representam a população

O jovem observado sinaliza por meio de sua postagem uma insatisfação em relação à representatividade política dos legislativos brasileiros e objetiva a imagem do político como incapaz de representá-lo na defesa dos atendimentos dos direitos básicos, como saúde e educação, conforme observa-se na Figura 1:

 

Figura 1

 

 

Fonte: J2

 

Essa imagem do político como incompetente é reforçada pelo discurso presente na postagem, explicando que a incompetência do político é tolerada por conta do medo, da desorientação, da indignação e até mesmo do conservadorismo das pessoas, conforme a postagem da imagem 1, ou no discurso que questiona a ideologia de determinado político de que “bandido bom é bandido morto”, conforme a postagem da

 

Figura 2

 

 

Fonte: J1

 

Nos discursos dos jovens, por meio das postagens, encontramos um alerta sobre a manipulação feita por parte dos políticos para que a população acredite que os nossos direitos são privilégios, num movimento de inversão de papeis, trazendo à tona um político que não representa a população, conforme apresenta-se na postagem da figura 3:

 

Figura 3

 

 

Fonte: J5

 

É preciso considerar que, nas imagens do político como incapaz e do político que não representa, há um posicionamento que sinaliza um sentido de incoerência do sistema representativo, tanto do legislativo quanto do executivo. O discurso do jovem objetiva a imagem de que as ações e ideais desses políticos não correspondem aos seus interesses e compreensões de mundo. Nas marcas da insatisfação, o discurso denuncia um Estado brasileiro que favorece os interesses das classes privilegiadas, o que perpetua a opressão dos grupos historicamente vulneráveis.

 

2. Política: corrupta, injusta e marcada por jogos de privilégios

Nesse cenário, temos jovens que apresentam suas insatisfações diante das posturas tomadas pelos agentes políticos. No campo representacional, tais imagens estão ancoradas em justificativas que denunciam, a partir de discursos indignados, tanto políticos que utilizam de seu cargo para manobrar propinas e licitações públicas quanto a postura do judiciário brasileiro que pune uns políticos e deixa de punir outros, acusados pelos mesmos atos, conforme as Figuras 4 e 5:

 

Figura 4

 

 

Fonte: J2

 

Figura 5

 

 

Fonte: J4

 

Ressalta-se que esse sentimento de indignação revelado nas postagens dos jovens corrobora 78% da população brasileira que considera o poder judiciário nada ou pouco honesto (Fundação Getúlio Vargas, 2017).

As postagens sinalizam uma visão negativa em relação à política, no entanto, os jovens pesquisados aparentemente não mostram uma bandeira partidária; sua negatividade é fruto das incertezas geradas pelo contexto das perdas de direitos sociais conquistados nos últimos anos.

Nessa esfera, os discursos dos políticos legitimam a ideia de que, para acabar com a corrupção, fazem-se necessárias mudanças na estrutura política e econômica do País, num amplo discurso de redução de verbas e anúncios de cortes em diversos setores da sociedade.

[...] são propostos: um novo regime orçamentário, com a desvinculação de todas as receitas - o que seria o fim de todo o modelo de financiamento da educação e da saúde pública brasileira; o fim da política de valorização do salário-mínimo, desvinculando-o da inflação; a eliminação da indexação de qualquer benefício, inclusive aposentadorias, ao valor do salário-mínimo; o ataque aos direitos trabalhistas, encarados como custos empresariais que devem ser reduzidos para que sobrem recursos para serem acumulados; a reforma na Previdência Social, apresentada como uma das fortes responsáveis pela crise fiscal (Mancebo, 2017, p. 880).

Ressalta-se que as postagens dos jovens trazem à tona que os cortes estão associados apenas às camadas mais pobres da população, assim, os discursos assumem um caráter crítico, que transitam em um discurso com estruturas irônicas, denunciando e questionando o uso do dinheiro público no Brasil, como ocorre na seguinte figura:

 

Figura 6

 

 

Fonte: J4

 

3. Contexto político/social: marcado por instabilidades e perdas de direitos

Nesse ponto, as postagens dos jovens são marcadas por denúncias e protestos que revelam um cenário atual de instabilidade e perdas de direitos. Nessa direção, as imagens apresentadas nas postagens são ancoradas em discursos que mostram a desvalorização e/ou precarização de políticas sociais voltadas para a população brasileira. Dentre elas, destacam-se:

 

Figura 7

 

 

Fonte: J3

 

Figura 8

 

 

Fonte: J4

 

As postagens desses jovens trazem o sentido de uma política em que os direitos oferecidos pelo estado, por meio de seus representantes legais, acarretam a ampliação do sentimento de carências e desigualdades sociais na realidade brasileira, caracterizando o que Santos (1979) retrata como cidadania regulada, que ocorre quando a cidadania se dá de forma restrita e sempre sob os moldes do estado. Conforme a Figura 9, sobre o retorno do Brasil ao ranking da fome no mundo:

 

Figura 9

 

 

Fonte: J5

Neste contexto político com cortes de recursos para as políticas sociais, as postagens dos jovens indicam uma consciência de classe, nesse caso, a classe menos favorecida economicamente, pois revelam que a reforma trabalhista proposta abrangerá de forma desastrosa os direito trabalhistas, sobretudo, por se configurar como um desmonte de direitos conquistados pelo movimento social. A figura 10 mostra a crítica do jovem sobre o mapa da fome que voltou a crescer no Brasil:

 

Figura 10

 

 

Fonte: J1

 

Por meio das postagens, observamos que as representações dos jovens sobre o contexto atual brasileiro de instabilidade e perdas de direitos e de uma política que atende aos interesses mercadológicos encontram ressonância nos meios de comunicação de massa. Há, nos sentidos impressos nas postagens desses jovens, uma mídia que oculta responsabilidades e camufla os interesses políticos e econômicos, no sentido de levar a população a não compreender o momento crítico de perda dos direitos humanos e sociais, como vemos na figura 11, a seguir:

 

Figura 11

 

 

Fonte: J5

A postagem revela que esse jovem apresenta uma criticidade política acerca do contexto econômico brasileiro, em que bens de consumo derivados do petróleo têm aumento significativo de preço, fazendo relação com o jornalismo global que ignora tais notícias, preferindo destacar o futebol. Esse jovem mostra que faz distinção entre o que é repassado pela grande mídia e o que realmente acontece na realidade.

 

4. Perspectivas sobre o futuro político do País: marcadas pelo medo

As postagens que constroem a rede de sentidos desses jovens em relação ao cenário político trazem a imagem do político como alguém incapaz de praticar a política e que não representa os seus princípios políticos; quanto à política, esta é retratada como corrupta e marcada por um jogo de privilégios. Este contexto político que indica instabilidades e perdas de direitos dá a esses jovens o sentimento de medo e insegurança em relação ao futuro político do País, conforme anuncia a Figura a seguir:

 

Figura 12

 

 

Fonte: J5

Para o jovem pesquisado, o anúncio do medo marcado “pela estranha sensação do que o pior ainda está por vir” se configura para além da perda dos direitos sociais descritos anteriormente, passando pela possibilidade das perdas dos direitos políticos, do direito de se posicionar, do retorno da ditadura militar e, com isso, até mesmo a perda da vida, por terem um posicionamento de esquerda, conforme a postagem a seguir:

 

Figura 13

 

 

Fonte: J2

As postagens analisadas indicam que os jovens pesquisados têm consciência da instabilidade política vivenciada pelo país.

 

Considerações finais

Diante do cenário político e social em que o País se encontra, buscamos neste trabalho analisar e compreender as representações sociais de jovens nascidos em Viseu-PA em relação a esse cenário, bem como os aspectos presentes por meio de postagens no Facebook. Para isso, observamos as postagens realizadas pelos sujeitos em seus perfis na rede social, em que nos foi possível identificar as seguintes questões:

  1. Sobre os políticos: alguns jovens sinalizaram críticas aos políticos brasileiros, como sendo sem ética, sem compromisso com o bem coletivo da população, e especificamente as figuras 01 e 02 retratam certo despreparo para a administração pública. Além da incapacidade para administração pública, as postagens também mostram que os jovens não têm seus interesses e convicções representados por esses políticos brasileiros.
  2. Sobre a política e o judiciário: as postagens demonstram que os jovens consideram a política brasileira como injusta, corrupta e repleta de jogos de interesses. Vale ressaltar que, quando falamos em política, estamos falando dos seus vários aspectos, incluindo, nesse caso específico, o judiciário brasileiro que demostra, por meio de suas ações e pelas postagens feitas por alguns dos jovens deste estudo, que há parcialidade em suas decisões, uma vez que políticos acusados pelos mesmos motivos são condenados de forma diferente; isso quando são condenados.
  3. Sobre o contexto político/social: as representações que observamos são de instabilidade e inúmeras perdas de direitos conquistados nos últimos anos. Ainda nesse cenário, algumas publicações mostram que os jovens por trás delas sabem filtrar o que é repassado pela grande mídia do País que infelizmente não demonstra imparcialidade, uma vez que manipula as situações, camuflando a realidade política do Brasil, ocultando fatos e distorcendo acontecimentos.
  4. Sobre a perspectiva futura política: as representações encontradas em algumas postagens observadas demonstram um sentimento de medo. Medo que se transmite por meio do receio de perder mais direitos humanos e sociais, principalmente pelo fato de existir uma possibilidade de o Brasil mergulhar novamente na ditadura militar, uma vez que um dos candidatos à presidência, o mais popular, é um grande defensor desse período.

De modo geral, esses aspectos demonstram que esses jovens possuem os mesmos sentimentos que muitos jovens em outras cidades e estados brasileiros, como por exemplo: o descontentamento com a política e com os políticos; revolta com a maneira como o atual governo vem conduzindo o país, principalmente em relação aos cortes de investimentos em educação, que é a base da sociedade, entre outras decisões políticas que só trazem melhorias significativas para a classe empresarial. Além disso, demonstram saber discernir com maturidade o jogo de interesses feito pelos meios de comunicação, bem como pelo legislativo brasileiro.

 

 

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Data de recebimento/Fecha de recepción: 09/11/2018
Data de aprovação/Fecha de aprobación: 21/03/2020

 

 

1 No dia 31/08/2016, o Senado Federal brasileiro, agindo de acordo com sua competência privativa emanada de nossa carta magna, em seu artigo 52, condena Dilma Vana Rousseff, por 61 votos a 20, pela prática de crime de responsabilidade (Nogueira, 2016).

2 A Primavera Secundarista foi um movimento de ocupações de escolas contra o projeto de reorganização do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A medida fecharia centenas de escolas estaduais, deixando salas de aula superlotadas e professores desempregados. A decisão foi revogada e mais de 590 escolas por todo o País foram ocupadas pelos estudantes contra o sucateamento da educação pública.

 

I Elise do Socorro Gomes Barroso: Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará, Brasil. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação de jovens e Adultos e Diversidade Amazônica. E-mail: lisesgbarroso@gmail.com

II Ana Paula Vieira e Souza: Doutora em Educação. Docente na Universidade Federal do Pará, campus de Bragança, Brasil. Estuda as Infâncias da Amazônia paraense nas comunidades costeiras, tradicionais e quilombolas, Educação, Culturas. E-mail: paulladesa@gmail.com

III Joana D’Arc de Vasconcelos Neves: Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia, Universidade Federal do Pará, Brasil. Pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação de Jovens e Adultos e Diversidade Amazônica. E-mail: jdneves@ufpa.br

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