EDITORIAL

“[...] Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais.”

Celebração da voz humana/2, in O Livro dos Abraços
Eduardo Galeano

No exercício da função de analista tentamos criar possibilidades para que a voz humana se apresente, quando a encontramos pela via do sintoma. Uma vez diante das palavras, está posto um convite ao sujeito, convite este que busca a circulação do desejo fazendo com que o analista, sustentado pela ética da psicanálise, se coloque a trabalho. Palavras a serem escutadas, palavras a serem escritas. Assim, nosso compromisso diário nessa função se desenha: tempo de escutar, tempo de construir, tempo de interpretar, tempo de apontar direções, tempo de elaborar, tempo de escrever.

No tempo de escrever, transformamos reflexões, questionamentos, articulações teóricas, vinhetas clínicas e tantas propostas inovadoras em palavras que buscam sustentar nosso lugar de “suposto saber”, nosso ofício clínico, nossa prática em extensão, nosso encontro com colegas e instituições parceiras, importantes em nossa formação diária. Nosso desejo de analista nos faz buscar, sempre, os tempos necessários na sustentação de nosso trabalho.

Nesta edição da Reverso iremos nos deparar com o tempo de escrever dos analistas que nos enviaram excelentes artigos, demonstrando rigor teórico e compromisso com a produção escrita, o que faz com que nossa revista mantenha a qualidade alcançada nos últimos anos.

Editar uma revista é fazer circular palavras, é alcançar olhares que estão à espera delas, é celebrar a voz humana, como belamente escreveu Eduardo Galeano. Não é um ofício fácil – avaliar artigos, propor cortes, aceitá-los ou não, selecioná-los. Trabalho árduo, mas necessário para a publicação. Dando início a esse lugar de editora da Reverso, só posso fazê-lo com a parceria ímpar dos colegas da Comissão – Ana Boczar, Carlos Antônio Andrade Mello, Olímpia Helena Costa Couto e Paulo Roberto Ceccarelli. Gostaria de agradecê-los por nosso trabalho conjunto, e também à Eliana Rodrigues Pereira Mendes, pela importante interlocução neste momento, e pela tradução precisa do artigo de Paola Mieli.

Paola Mieli é psicanalista e preside a Après-Coup Psychoanalytic Association, em Nova Iorque. Poder apresentá-la em nossa revista reflete nosso desejo de oferecer aos leitores contribuições de diversos autores, ampliando nossa interlocução através da Reverso. A publicação de seu artigo tornou-se possível graças à intermediação de Marco Antonio Coutinho Jorge, a quem agradecemos a indicação e a presença constante em nossa instituição, presença esta que nos instiga sempre a buscar novas leituras. Outro intercâmbio importante representado neste número é o artigo de Cristina Lindenmeyer (Paris 7), escrito com nosso colega Paulo Roberto Ceccarelli, resultado do trabalho entre a Universidade Paris 7 e a Universidade Federal do Pará. Agradecemos a oportunidade de tê-los como autores nesta edição.

Nosso muito obrigado aos demais colegas do CPMG que enviaram artigos para este número – Alberto Henrique Soares de Azeredo Coutinho, Flávio Eustáquio Bertelli, Maria Carolina Bellico Fonseca e Messias Eustáquio Chaves – contribuição de suma importância pela representação que fazem de nossa instituição através da escrita.

Temos o prazer de apresentar artigos enviados por colegas de outras instituições – Ednei Soares, da Faculdade Pitágoras de Ipatinga-MG, e Maria Angélica Tomás Serretti, mestranda em Psicanálise Clínica na ‘Universidad de Salamanca’, na Espanha – e artigos de nossas convidadas: Ana Cleide Guedes Moreira, da Universidade Federal do Pará, com artigo originalmente apresentado na Aula Inaugural que abriu os trabalhos de nossa instituição em 2011, e Caterina Koltai, da PUC-São Paulo, com artigo apresentado na Conferência de Abertura da XXIX Jornada do Fórum de Psicanálise do CPMG, em setembro de 2011.

Este número da Reverso traz também, com exclusividade, uma entrevista inédita de Alain Badiou e Elisabeth Roudinesco, publicada recentemente na França, sobre o atual momento da psicanálise. Sua publicação é de grande importância para nós e só se tornou possível através da solicitação do colega Paulo Roberto Ceccarelli e da tradução cuidadosa de Raul Valle, aluno do Fórum do CPMG. Nossos agradecimentos aos dois e, em especial, a Elisabeth Roudinesco, por permitir que suas ideias e reflexões junto a Alain Badiou circulem entre os leitores, através de nossa revista.

Registramos também a mudança da diretoria do CPMG, ocorrida no final de 2011, com os discursos de despedida e chegada das colegas Ana Cristina Teixeira da Costa Salles e Eliana Rodrigues Pereira Mendes que nos apontam os percalços de presidir uma instituição e a busca incessante pela formação permanente de seus membros.

Desejo a todos que as palavras apresentadas nesta edição da Reverso, n.63, os levem a outras, ditas ou escritas, e que mantenham em circulação nossa busca incansável por um saber que não se esgota, o saber inconsciente.

Juliana Marques Caldeira Borges
Editora