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Reverso

versión impresa ISSN 0102-7395

Reverso vol.37 no.69 Belo Horizonte jun. 2015

 

DISCURSO

 

Discurso de posse da gestão triênio 2014/2017

 

Eu estava encostada naquela árvore
muito azul quase
e veio um raiozinho de sombra era
de tarde na minha boca
Ele me segurou entre os dedos.
Fiquei brilhante com meus cabelos
lavados...
Então dei um salto
muito leveza
pro vento
e no bico de uma sabiá eu fiquei
de ouro
a cantar
a cantar...

BARROS, M.
A menina avoada.

Essa é a história de uma menina que queria ser cantora e psicanalista. Como esses dois desejos não lhe davam a possibilidade da escolha, ela tenta, até hoje, fazer as duas coisas. E acabou vindo a ser presidente, enquanto canta e transita feliz entre acordes, pensamentos, músicas, sonhos e as formações do inconsciente.

Boa noite aos colegas do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, aos colegas de outras instituições, aos amigos, aos membros da nova Diretoria, que hoje toma posse, à minha família, a todas as pessoas queridas hoje entre nós. Quero falar para vocês palavras que possam representar minha emoção de estar aqui hoje para assumir a função de presidente de uma instituição tão próxima à mim, que há muito se fez presente em minha vida.

Foi em tempos de minha infância que conheci o Círculo Psicanalítico. O pai, médico até então, entendeu que escutar seus pacientes trazia-lhe outro mundo, um mundo incabível nos muros da medicina. E abriu as janelas para que novos ventos lhe soprassem a alma e lhe dessem coragem para encontrar os livros do Dr. Freud e as pessoas que o conduzissem até a psicanálise. Nunca mais ele voltou de lá. Conseguiu construir um espaço entre a medicina e a psicanálise, onde até hoje pode atender e entender muito das dores das pessoas que o procuram. Essa dor, ele conseguiu perceber, vai de um corpo a outro. E, assim, essas janelas abertas sopraram ventos também em nossa casa.

E esses ventos, entrando em nossa casa, ventaram, de algum modo, em mim. Inicialmente, sem muita compreensão de que mudança era aquela, pude aos poucos perceber que o Círculo Psicanalítico trazia algo muito singular para nossa vida. Palavras de afeto, amigos de meu pai que aos poucos foram se tornando também meus, uma analista de criança com quem pude experimentar um lugar diferente para endereçar as primeiras angústias disfarçadas em brincadeiras e pinturas. Tudo muito novo e interessante que seduziu a menina curiosa em seu caminho à adolescência. De lá ao vestibular, nada mais poderia caber que não fosse uma Faculdade de Psicologia, ainda que o teste vocacional tivesse insistido que ela fizesse Comunicação.

Durante a faculdade, tive o privilégio de participar de um seminário anual para alguns estudantes, no qual a cada semana um sócio do CPMG dava uma aula introdutória de conceitos psicanalíticos. Assim, tive meu primeiro contato com a psicanálise em uma instituição e pude conhecer seus sócios, alguns deles aqui presentes.

Foi por onde entrei, nos anos 1980. Nunca mais saí. Ao contrário, tracei aqui o caminho de minha formação e posteriormente vim a ocupar várias funções, já como membro de nossa sociedade, ao longo desses anos: primeira secretária em mais de uma gestão, membro da Comissão Editorial da revista Reverso e posteriormente sua editora, função que encerro com a Reverso 68, a ser lançada em breve, membro do Conselho Fiscal, Vice-Presidente da instituição acompanhando Maria Mazzarello Cotta Ribeiro e atualmente professora do curso de formação em psicanálise.

Aqui vinha eu, sem maiores planos para o momento, caminhando para o término de meu doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente, em 2014, quando recebi o convite de algumas colegas para compor a Diretoria no cargo de Presidente. Com a alma da jovem que em mim habita e resiste ao passar dos anos, a primeira reação foi me considerar nova demais para tanta responsabilidade, sem saber se teria como levar adiante o que me parecia o aceno de uma função impossível para o momento.

Mas sempre foi de minha natureza abraçar desafios e, depois de muitas conversas com colegas próximos, decidi seguir em frente. Convidei para estar comigo pessoas que me são preciosas, tanto pelo envolvimento com a instituição quanto pelo laço afetivo. E agradeço imensamente pela oportunidade ímpar de trabalho que terei ao lado dos membros da Diretoria que aqui se inicia.

Temos como objetivo continuar o trabalho de formação permanente junto aos alunos e aos sócios do CPMG, numa interlocução incessante com os colegas de nossa casa, com analistas de outras instituições e com profissionais de outras áreas que transitam pela psicanálise, como as artes, entre outras, em suas diversas formas de expressão. Citando Freud, “Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim”.

Muito temos a caminhar nos próximos três anos. Nossa instituição vive hoje um momento singular. Com vários alunos em formação. Com o desejo de fazer circular novos tempos da psicanálise, aprender as palavras cifradas que a juventude de hoje apresenta num diálogo virtual, impensado para Freud e Lacan, que talvez estranhassem muito ao se deparar com o desnudamento do sujeito que a cada dia só se faz aumentar.

Tudo transmitido ao mesmo tempo agora. Tempo rápido demais e tão tecnológico que haja significantes para acompanhá-lo. Precisamos pensar sobre estes novos tempos.

Acreditamos que a psicanálise continua a ter seu lugar na contemporaneidade. Apostamos no desejo do sujeito, sempre, e também na sua capacidade de amar e construir saídas criativas para a angústia e para o sintoma. Saídas que possam simbolizar a falta, e não obturá-la em um mundo virtual paralelo, onde um avatar encubra e apague o sujeito que o criou.

Em nossa jornada de trabalhos anuais, em 2015, estaremos nos debruçando sobre esse tema. Aqui estamos para receber os clientes desse novo tempo. Aqui estamos para com eles traçar passos ao futuro.

Quero agradecer a todos os colegas que nos apoiaram e nos receberam com tanto entusiasmo.

A Eliana Rodrigues Pereira Mendes, pela confiança na gestão, que agora substitui sua excelente Diretoria nos últimos três anos, e pelo grande apoio à minha pessoa.

A Vanessa Santoro, por ter me acompanhado em inúmeros momentos de minha vida com uma presença sempre importante, que me possibilitou reinventar a vida. Gostaria de representar toda a Diretoria no nome de Maria Auxiliadora Toledo Garcia Freire, ao dizer do meu prazer por estar na companhia de todos. Dôra estará ao meu lado como vice-presidente, e nela tenho absoluta confiança para a parceria e a interlocução necessárias no desempenho dessa função. Sua delicadeza e sabedoria conseguem se fazer presentes de maneira singular, e agradeço esse privilégio.

A todos os colegas da Diretoria que aceitaram meu convite, o meu agradecimento de coração.

Ao colega Geraldo Caldeira, meu pai, a imensa satisfação de ter tido uma pessoa tão ética, íntegra e envolvida com o trabalho como um dos grandes responsáveis pelo meu encontro com a psicanálise. Saber que até hoje, com quase oitenta anos, ele continua em plena atividade me traz a certeza de que uma vida compartilhada com o amor ao trabalho nos traz alegria e vitalidade.

Não tenho como citar todos os demais colegas do CPMG, mas vocês sabem da importância em minha vida nesse percurso tão longo, pois já se vão quase 30 anos!

Sintam-se representados nas pessoas de Angela Lucena de Souza Pires, Antônio Franco Ribeiro da Silva (in memorian), Carlos Antônio Andrade Melo, Eliana Monteiro de Moura Vergara, Guiomar Antonieta Lage, Isabela Santoro Campanário, José Sebastião Menezes Fernandes, Maria Auxiliadora Toledo Garcia Freire, Maria Carolina Bellico Fonseca, Maria Mazarello Cotta Ribeiro, Maria Dolores Lustosa Cabral, Maria de Lourdes Melo Baêta, Messias Eustáquio Chaves, Olímpia Helena Costa Couto, Túlcia Vasconcelos Barros Poggiali, pela aproximação que a psicanálise nos trouxe e por ter esta se transformado em uma grata amizade. Agradeço a confiança. Vamos seguir juntos. Sem vocês, não há caminho possível. Agradeço também à Yvonne Coulaud Coelho da Rocha Muzzi pelas inúmeras manifestações de carinho nos últimos anos e em especial no dia de hoje.

Agradeço ainda a Edna Malacco de Resende, pela competência e dedicação em sua função de secretária do CPMG, necessária ao nosso bom funcionamento.

À minha família aqui presente, em especial à minha mãe, agradeço pelo afeto, sempre, e pela presença em minha vida. Sem vocês, nada seria possível. Ao meu marido e ao meu filho, pelo apoio e incentivo recebidos quando com eles compartilhei o convite que me fará, por vezes, um pouco ausente de nosso cotidiano.

A psicanálise nos traz a possibilidade de estar nos lugares mais inimagináveis. Eis-me aqui, então, como presidente, sem nunca antes planejar. Mas pronta para o que me espera. Pronta para me entregar a esse trabalho. E, assim, encerro as minhas palavras de hoje, pois outras virão, com certeza.

Temos muito o que conversar nos próximos três anos!

Juliana Marques Caldeira Borges
Belo Horizonte, 28 de novembro de 2014

 

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