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versión impresa ISSN 0102-7395

Reverso vol.39 no.74 Belo Horizonte dic. 2017

 

Psicanálise e Instituição

 

O Encontro Regional Americano da IFPS em Cuba e as tarefas da Federação

 

The American Regional Meeting of IFPS In Cuba and the tasks of the Federation

 

 

Juan Flores

I Sociedad Chilena de Psicoanálisis
II Universidad Adolfo Ibáñez

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O recente encontro da instância regional da América da IFPS realizado em Havana, Cuba, em fevereiro de 2017, gerou uma reflexão não somente sobre o tema que nos congregava, mas também sobre as complexidades do renascimento da psicanálise em Cuba e os impactos em sua práxis teórica e clínica. O encontro também nos permitiu abordar as problemáticas relacionadas com toda instituição e as formas como esse conflito se desdobra na instituição psicanalítica. Sob essa perspectiva, sugerem-se alguns caminhos em vista dos desafios que a IFPS deve enfrentar nos próximos tempos.

Palavras-chave: Psicanálise, Instituição, Cuba, IFPS, Futuro.


ABSTRACT

The recent meeting of the regional section of IFPS, held in Havana, Cuba, in February of 2017, has generated a reflection not only on the theme that had brought us to the meeting, but also on the complexities of the rebirth of psychoanalysis in Cuba and the impacts upon its theoretical and clinic praxis. The meeting has also allowed us to discuss problems related to every institution and the forms under which this conflict unfolds in the psychoanalytic institution. Under this perspective, some paths are suggested concerning the challenges IFPS is expected to face in the coming times.

Keywords: Psychoanalysis, Institution, Cuba, IFPS, Future.


 

Encontro em Havana

Em fevereiro de 2017, realizou-se em Havana, Cuba, o primeiro encontro regional da seção da América da Federação Internacional de Sociedades Psicanalíticas (IFPS). Os trabalhos da reunião tomaram como referência o tema do XX Fórum da IFPS, a ser realizado em 2018, em Florença, Itália.

Foram cinco os eixos temáticos de discussão, a saber:

• Fronteiras e terror: a emergência das ansiedades básicas;
• O medo e a agressão social e seu impacto na prática clínica;
• Imigração, fronteiras e bordas: cultura e território;
• Prática clínica e impacto da ruptura coletiva;
• O trabalho clínico e a fragilidade do sujeito.

Estiveram presentes colegas do Brasil, do México, do Chile, dos Estados Unidos e de Cuba, que, a partir de sua realidade particular, trouxeram contribuições para as temáticas do encontro e desenvolveram um trabalho riquíssimo.

O encontro se realizou em consonância com o que fora acordado no XIX Fórum, ocorrido em Nova Iorque, no qual se estabeleceu uma política destinada a reforçar os laços internos a cada região (América, Europa do Sul e Europa do Norte), gerando condições para o intercâmbio conceitual, teórico e clínico entre as instituições afiliadas, de modo que nossos contatos fossem além do intercâmbio bianual dos fóruns, e que buscássemos nos nutrir das realidades similares que caracterizam as sociedades membros da IFPS em uma mesma zona geográfica.

Com efeito, consideramos muito importante continuar reforçando os vínculos pessoais e sociais, cientes de que esse é um aspecto relevante para a sustentação libidinal dos nexos institucionais.

Desse modo, o encontro em Havana não somente retoma um acordo do último fórum, mas se inscreve, ademais, como expressão dos esforços da Federação para apoiar a emergência de novos grupos e instituições com interesse em desenvolver a psicanálise e a relação com a IFPS.

Concordou-se, pois, a convite do grupo cubano, em realizar nossa reunião em Havana. Existe na cidade uma associação membro da IFPS que há três anos tem estatuto de grupo de estudo. O encontro tinha, ademais, um atrativo especial devido ao fato de Cuba ser um país do qual a psicanálise esteve ausente por décadas, após o triunfo da revolução. Hoje, a pergunta que os colegas cubanos se fazem é qual o impacto dessa ausência, como ela gerou uma distância com relação ao acontecer psicanalítico e qual é o impacto na práxis teórica e clínica dos interessados na psicanálise.

Tendo em vista, justamente, que a realidade cubana tem suas especificidades, é necessária e inevitável a reflexão sobre como essa realidade social e política afeta (e ao mesmo tempo constitui) a prática da psicanálise em Cuba.

Conforme assinalou a colega Cristina Díaz (2017), presidente da Associação Psicanalítica de Cuba:

Encontramo-nos na interseção de dois cenários que não cessam de se apresentar disjuntos: as condições reais de existência (político-econômicas) e a intenção de uma prática psicanalítica dentro de uma realidade que se desconhece. O que se nos apresenta, portanto, é a necessidade de ensaiar uma ‘psicopatologia da vida cotidiana’ em Cuba, que não seja a transposição de sintomas e casos clínicos ao domínio do campo social, e sim a consideração das angústias e dos desejos em relação com as formas de produção e dominação. Tais formas atravessam também o modo como se organiza a prática da psicanálise, incidem em seus fins e participam em seus efeitos. Necessitamos considerar a forma como as contradições sociais atuais implicam a prática psicanalítica (a relação analítica e os pressupostos epistemológicos nos quais se sustenta).

A reflexão que os colegas cubanos estão fazendo e terão que continuar, e com a qual desejamos colaborar, é um trabalho profundo de elaboração dessa herança constitutiva. Do mesmo modo, todo ato reflexivo deverá tentar identificar a problemática ligada ao impacto de uma ordem de relações sociais que gera subjetividades e sujeitos e como nesse cenário a psicanálise se afeta e se afirma. Essas questões são também pertinentes a toda instituição psicanalítica: o impacto em sua conformação e identidade, em sua práxis teórica e clínica, da ordem social e política de uma sociedade. Na medida em que a psicanálise é um produto histórico e nós, psicanalistas, estamos atravessados pelas mesmas determinações pessoais, sociais, políticas e ideológicas que nossos pacientes, é necessário se aproximar das redes de implicação de nossa atividade, o que nos leva inevitavelmente a entender o papel da instituição em nosso devir.

 

Sobre as tarefas da Federação

Mais uma vez, um novo encontro se aproxima: o XX Fórum da IFPS. Esse evento se acerca em um momento de nosso desenvolvimento no qual converge uma série de coordenadas de alta complexidade para nossa instituição, a IFPS. Uma reflexão prévia e necessária é retornar aos sentidos e às origens do porquê de conformarmos ou gerarmos uma instituição.

A partir de algumas visões psicanalíticas se introduz a ideia de que uma instituição psicanalítica que se preze deveria se sustentar somente sobre o que é próprio da psicanálise, para estar, dessa forma, a salvo de outras influências. Ao se afirmar isso, se nega a presença de outras determinações próprias do âmbito social, supondo erroneamente que na instituição psicanalítica (que afinal é também uma formação social) só existiria aquilo que é vinculado especificamente à psicanálise.

O que observamos é que, assim como em toda formação social (e a instituição é uma delas), existe a tendência a manter certos mitos sagrados que são erigidos ritualmente como elemento definidor da identidade, gerando somente repetição e esquecendo o sentido que a constitui.

A história do movimento psicanalítico, como uma espécie de imago, nos condiciona um discurso, inclusive as condições de sua transformação, especialmente na medida em que a história de toda instituição é também a história dos conflitos, das competências e das desqualificações, marcados pela efígie de seu criador Sigmund Freud. A história dos vencedores institucionais se monta sempre sobre o silêncio falante, sobre a ausência dos excluídos e derrotados ou dos que não conseguiram as hegemonias e os acordos políticos necessários para se impor.

Por isso, nós, como continuadores de uma tarefa, somos o resultado histórico das dialéticas que nos instituem e corremos o risco de repetir os mesmos nós que tantas vezes ataram a relação entre instituição e psicanálise, o que nos obriga a um exercício recorrente de pensar sobre o não pensado tratando de ler o novo naquilo que se nos apresenta como já lido e articulado.

Isso ocorre justamente porque toda instituição enfrenta um problema crucial, que é o dado fatal de que sua estrutura está criada e armada para se reproduzir e se manter no tempo, por isso é que se tende a castigar o dissenso, isto é, tudo aquilo que aparentemente ameaça o constituído e se erige como alternativo. Nas instituições psicanalíticas, isso pode se expressar na dificuldade para desenvolver autênticos questionamentos, inclusive de pressupostos básicos da teoria e da prática psicanalítica, deixando espaço apenas para adequações formais da técnica. Abre-se com isso uma questão: como se deixar nutrir e iluminar por outras disciplinas e, ao mesmo tempo, conservar o selo distintivo e característico do que define a psicanálise?

É claro que enquanto nós, que trabalhamos no interior do marco psicanalítico, não estabelecemos trânsitos com outras disciplinas do mundo da ciência e da cultura, convertemos a psicanálise em uma espécie de superciência que se basta a si mesma e que pretende explicar tudo, inibindo, ademais, a possibilidade de uma leitura psicanalítica que penetre em outros campos para além do trabalho psicanalítico individual.

O imaginário social, com sua necessidade de organização e funções, está não só na fonte da instituição, mas também na base da alienação. Esta ocorreria justamente quando o instituído domina o instituinte. As finalidades da organização podem se vincular, por exemplo, aos perigos da conformação de uma trama burocrática na qual essa organização se autonomiza, descuidando de sua missão institucional e de sua relação de serviço aos propósitos fundantes. Seguindo Castoriadis (1989 apud KAËS et al., 1993, p. 8), “[...] o instituído suplanta e reduz a função instituinte da instituição”.

Sabemos também que toda instituição ou organização, além de ser uma formação social e cultural de alta complexidade, realiza e abriga múltiplas funções psíquicas.

A instituição ou organização

[...] mobiliza cargas e representações que contribuem para a regulação endopsíquica e asseguram as bases da identificação do sujeito com o conjunto social, constituindo o pano de fundo da vida psíquica no qual podem ser depositadas algumas partes da psique [...], cumprindo funções metadefensivas de angústias mais primitivas (KAËS et al., 1993, p. 25).

A capacidade das organizações de conter em seu interior funcionamentos heterogêneos, de aceitar a coexistência de lógicas diferentes, constitui uma de suas funções fundamentais. Isso torna possíveis a existência de “um espaço psíquico diferenciado” (KAËS et al., 1993, p. 31) e a manifestação de expressões diversas, o que permite construir história com atores que a realizam a partir de lugares distintos. Isso é especialmente válido na medida em que a instituição pretende afirmar a ilusão de uma unidade imaginária e fazer desaparecer a possibilidade de conflito inerente que a conforma, muitas vezes negando e cindindo as diferenças, sem se dar conta de que, com essa atitude, o que cresce de maneira sustentada é o surgimento violento do reprimido e, consequentemente, a ruptura dos pactos inconscientes de compromisso. Por isso, de modo inercial, toda instituição enfrenta o perigo de fixar e tornar rígida essa estrutura, naturalizando seus papéis e suas hierarquias, e impedindo toda circulação de desejos que possa provocar modificações, promovendo e desenvolvendo o status quo e os consensos implícitos na repartição do poder.

O problema do poder é também algo que aparece na instituição como um dos elementos mais característicos de sua dinâmica, e nosso ouvido deve estar atento para escutar como nesses jogos de relações de poder se entretece a instauração de certas diretrizes, de modo que isso acarreta o perigo de se constituir como um exercício de controle na produção de um discurso oficial. À medida que a psicanálise se converte em uma doutrina, de modo consubstancial emergem ortodoxias e heterodoxias, expulsões e exclusões, desenvolvendo-se uma série de linhas temáticas e hegemônicas, nas quais os integrantes proferem o discurso tolerado, especialmente quando a última instância do poder na instituição repousa sobre os nós transferenciais que se desenvolvem em seu interior e que, dependendo de sua estruturação interna, serão intensamente controladores e persecutórios ou permitirão seu enfrentamento e descrição.

Como previne Bleger (1997), toda instituição gera um mandato de adaptação e a consequente submissão à estereotipia institucional, já que a funcionalidade institucional promove a retenção dos membros sobre a base de uma exigência de identidade e conduta. Quanto mais passivo e “adequado” for um grupo, mais fácil e menos conflitiva será a tarefa dos dirigentes. O problema que essa espécie de ideal grupal cria, em virtude dos nós transferenciais, das projeções e identificações, é a dificuldade da diferença. A estabilidade institucional tende a se expressar em monotonia e em um empobrecimento dos desenvolvimentos teóricos e técnicos. Para gerar vitalidade é preciso tolerar o discurso discrepante e romper a instauração de verdades oficiais e subversivas. Certamente, essa situação é ameaçadora a um estado de equilíbrio, promovendo em certas ocasiões a angústia e, muitas vezes, resistência à mudança.

Uma vez que entendemos que o pensamento psicanalítico é caracteristicamente refratário a toda verdade institucional definitiva, parece-nos que a instituição deveria passar a exercer uma função de continente, uma função de devaneio daquilo que perturba e ameaça, criando os canais e os processos para esse efeito, de modo a promover a novidade permanente e o desenvolvimento da discrepância no interior dos limites que a instituição outorga. Quando isso não ocorre, a instituição se esclerosa e se transforma em uma instância que, para permanecer, deve fazer uso de mecanismos conservadores e de rigidez, transformando a tarefa analítica em uma atividade burocrática de indivíduos simbióticos com a instituição, outros excomungados, e apagando do “livro da história” aqueles que a abandonam. Nesse marco, perdeu-se toda paixão analítica, e não há tarefas compartilhadas de buscas que outorguem cooperação e laços sociais e vinculações entre aqueles que formam a instituição.

Faço essa reflexão porque me parece que esses são elementos que, de modo implícito ou explícito, consciente ou inconscientemente, estão sempre atuando em toda instituição e, certamente, também na marcha de nossa Federação. Nossa tarefa é tratar de nos aproximar desses nós, identificá-los e ver como se desdobram. É necessário reafirmar que, evidentemente, essas dinâmicas são inerentes a toda instituição. O ponto crucial é perceber como atuam entre nós, identificar nossa própria implicação e como enfrentar esses elementos de um modo produtivo.

 

Os laços sociais hoje

Nossa sociedade, como uma característica da pós-modernidade, põe em dúvida os laços sociais. Ademais, a colocação em cena do objeto de consumo, elevado à categoria de “benfeitor universal”, estimula o gozo individual e põe as coisas na ordem da relação custo-benefício.

Desse modo, grande parte de nossas relações operam na modalidade de transações e se constituem, portanto, como mercadorias disponíveis para seu uso e desuso. Essa desamarração do laço social impacta também nossas instituições. A pergunta recorrente é “para que me serve pertencer?”, “o que ganho sendo membro?”. A categoria de benefício de “pertencer” em si mesmo ou de estabelecer vínculos com outros na perspectiva de uma “paixão” ou da adesão a ideias ou conceitos parece estar em retirada.

A grande falácia do discurso dominante é desenvolver a ideia de que a insatisfação é expressão não de uma falta estrutural, mas da ausência de objetos. Isso também se introduz em nossa dificuldade de gerar adesões ou vínculos, na medida em que não se revele “que objeto” (real ou simbólico) se vai “ganhar” com a associação.

Essa situação nos coloca na obrigação de nos perguntarmos qual é o status da Federação no interior do campo psicanalítico e como podemos fazer frente ao impacto global da cultura dominante e, em termos mais específicos, a nossa capacidade organizativa e a possibilidade de nossa conservação e nosso desenvolvimento.

 

Desafios pendentes e tarefas para o futuro

• Caracterizar conceitualmente a especificidade da IFPS: há elementos que devemos levar em conta no momento de desenvolver mais claramente o lugar que ocupamos no interior do campo psicanalítico: em primeiro lugar, considerar o desafio de atrair em um âmbito no qual o laço social está ameaçado; em segundo lugar, a identidade se constitui na diferença: por isso, um aspecto fundamental a considerar é o que afirmamos e que nos diferencia de outras organizações (por exemplo, a IPA e o campo lacaniano).

Essa é uma discussão que deve transitar entre os delegados e as instituições que eles representam. A adesão à IFPS não só deve estar garantida pela presença física dos delegados, como também precisa dar conta da adesão institucional à Federação. Para tanto, é necessário aprofundar nossa discussão conceitual e nossa clínica, de modo a estabelecer marcos plurais, por onde transitem nossas aproximações e visões acerca de nosso quefazer e de nossa práxis. De todo modo, o espaço onde devemos avançar é estabelecer marcos comuns a respeito de que tipo de instituição queremos construir e qual é a tarefa que nos define e que dá suporte a nossa existência.

• Gerar maior discussão e mais nexo com os delegados: a assembleia de delegados é nosso órgão principal de tomada de decisões e é a instância que fixa as diretrizes de nossas ações. Por isso, essa estrutura é da maior relevância em relação aos tópicos a ser discutidos. Temos que incorporar mais os delegados nas discussões, e não apenas a cada dois a anos. Afinal, são eles nossos porta-vozes em face da instituição e nossos eventuais mensageiros. Esse ponto é muito central e estratégico. Nesse sentido, é preciso criar mecanismos que tornem possível uma relação mais fluida e permanente com o corpo de delegados. Contudo, é vital que os delegados levem essa discussão às instituições, de modo a não gerar uma equipe meramente burocrático-administrativa que vá desenvolver uma inércia de funcionamento meramente fático.

• Sabemos já há algum tempo que as condições materiais definem nossos campos possíveis de desenvolvimento. Por isso mesmo, o que nos impacta em nosso presente econômico e determina nosso futuro é também expressão de como tem sido nosso percurso e das dificuldades que temos tido para nos posicionarmos como uma Federação que expresse uma identidade clara e um campo específico. Sabemos também que, independentemente da adesão ideológica que motiva um pertencimento, todo membro de uma instituição quer encontrar nela resultados objetivos e subjetivos que reforcem sua afiliação. Isso supõe que cada membro deve ter a experiência de encontrar na Federação algo que renda frutos em sua práxis clínica e, para além da adesão teórica, encontrar também um vínculo e um contato afetivo com outros colegas. É crucial enfrentar esse desafio.

• Parte dessa resposta é procurar inscrever a Federação, fazendo um grande esforço de estender seu reconhecimento e aprofundar nossos desenvolvimentos conceituais, para ser uma entidade opinante em relação a temas e políticas da psicanálise, temáticas sociais, temas das novas sexualidades, problemáticas do meio ambiente etc. Tudo isso ajudaria a inscrever simbolicamente a Federação em um imaginário distinto, não somente como uma entidade organizadora de congressos a cada dois anos, mas como uma entidade que tem voz própria.

• É importante poder ter uma ação mais intencionada acerca de poder somar ou criar instituições. Esse trabalho deve ser feito pelas instituições de cada país e ser informado ao EC, para ver como apoiar novos desenvolvimentos.

Hoje podemos perceber um grande interesse no relacionamento com Federações mais amplas e plurais, especialmente na América Latina, no Leste Europeu e no Oriente Médio. Esses serão provavelmente cenários privilegiados para a extensão da psicanálise. No entanto, devemos fazer um grande e criativo esforço de pensar em como apoiar esses desenvolvimentos e contatos, através de palestras, livros e formação aos interessados em cada país.

• É necessário incentivar os membros, facilitando o acesso ao conhecimento e a interação fluida entre eles. Seria o caso de pensar na factibilidade de usar para isso as redes sociais da internet (Facebook, Twitter ou outras).

• Finalmente, o horizonte do desenvolvimento deve se sustentar em nossa decisão de continuidade e reafirmação do espaço que ocupamos. Os fóruns são um lugar privilegiado em termos de poder dialogar, a partir de diferentes óticas psicanalíticas, sobre nossa atividade e sobre os desafios que nossa prática clínica nos impõe. Mas são, além disso, e de modo muito importante, um momento de encontro humano e de circulação de afetos. Esse espaço não deve ser descuidado. O encontro humano e os afetos que circulam em cada reunião são uma base essencial em nossa capacidade de nos sustentarmos em um enodamento que seja permanente. Isso, no entanto, não é tudo. Para que o intercâmbio se torne produtivo e reafirmemos o pertencimento, é necessário sustentar posições. A IFPS deve avançar no sentido de promover e desenvolver suas origens fundantes e os modos pelos quais se justifica hoje sua existência.

Será fruto da pesquisa, também neste caso a posteriori, elucidar o impacto – sobre nosso corpo social e sobre a psique individual – do modo de vida que nos homogeneíza e vai eliminando progressivamente as diferenças culturais e as identidades referenciais.

Tudo isso coloca uma questão ineludível a nossa prática e a nosso instrumento clínico: como analisar, o que analisar, onde analisar? O atual estado de coisas nos exige crucialmente com respeito a como registrar, a partir de nosso lugar, esses novos desafios, de maneira que nossa prática não se transforme em uma prática encobridora e alienante, que sirva como álibi social.

Como Federação, temos que promover ativamente essas discussões que cruzam nossa práxis e colocam em tensão a psicanálise. Uma das tarefas de nosso instrumento teórico-técnico é a possibilidade de desenvolver projetos terapêuticos nos quais o psicanalista tenha um papel muito mais ativo na geração de instrumentos conceituais e operativos que tornem factível o desenvolvimento das pessoas e dos grupos humanos, de modo a tornar possível recordar e não repetir.

 

Referências

BLEGER, J. Simbiosis y ambigüedad. Buenos Aires: Paidós, 1997.         [ Links ]

CASTORIADIS, C. La institución imaginaria de la sociedad: v. II. El imaginario social y la sociedad. Barcelona: Tusquets, 1989.         [ Links ]

DIAZ, C. Texto leído en la inauguración del Encuentro Regional de América en La Habana, Cuba. Febrero de 2017.         [ Links ]

KAËS, R. et al. La institución y las instituciones, estudios psicoanalíticos. Buenos Aires: Paidós, 1993.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
E-mail: juanfloresr@yahoo.com

Recebido em: 28/08/2017
Aprovado em: 01/09/2017

 

Sobre o autor

Juan Flores
Psicólogo. Universidad Católica de Chile.
Psicanalista. Sociedad Chilena de Psicoanálisis - ICHPA.
Doutor em Psicologia. Universidad de Chile.
Diretor do Programa de Mestrado em Psicanálise da Universidad Adolfo Ibáñez, Chile.
Ex-Presidente da Sociedad Chilena de Psicoanálisis - ICHPA (2004-2006) (2008-2010).
Ex-Presidente da Federación Latinoamericana de Asociaciones de Psicoterapia Psicoanalítica y Psicoanálisis (FLAPPSIP) (2003-2005).
Presidente da International Federation of Psychoanalytic Societies - IFPS (2012-2016).
Secretário Geral da International Federation of Psychoanalytic Societies.

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