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versión impresa ISSN 0102-7395

Reverso vol.42 no.80 Belo Horizonte jul./dic. 2020

 

PSICANÁLISE E CULTURA

 

Psicanálise e cultura: umbanda e discurso psicanalítico

 

Psychoanalysis and culture: umbanda and psychoanalytical discourse

 

 

Thiago Silva Martins

Médico pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Administrador de Empresas pela União de Negócios e Administração. Pós-graduado em Finanças e Controladoria pela Fundação Dom Cabral. MBA Executivo em Empreendedorismo pela Fundação Dom Cabral. Candidato em formação no CPMG. E-mail: silvamartinsthiago@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo aborda os escritos de Sigmund Freud relacionados à cultura para, após uma contextualização através de breve histórico da umbanda, realizar uma apreciação psicanalítica de alguns elementos dessa religião afro-brasileira no laço social e, nesse movimento discursivo, situar o discurso psicanalítico.

Palavras-chave: Cultura, Discurso, Tabu, Magia, Religião, Psicanálise, Umbanda, Desejo, Incesto.


ABSTRACT

This article discusses the writings of Sigmund Freud related to culture in order to, after contextualizing through a brief history of Umbanda, carry out a psychoanalytic appreciation of some elements of this Afro-Brazilian religion in the social bond and, in this discursive movement, situate the psychoanalytic discourse.

Keywords: Culture, Discourse, Taboo, Magic, Religion, Psychoanalysis, Umbanda, Desire, Incest.


 

 

Para Juranda

Freud não se ateve apenas à criação da psicanálise e ao seu objeto de estudo - o inconsciente -, mas forneceu também contribuição à antropologia social ao analisar os povos primitivos por meio do estudo de trabalhos realizados por autores como Frazer, Wundt, Westermarck, Tylor, Reinach, McLennan (citados em Totem e tabu), utilizando-se de sua teoria concernente ao aparelho psíquico. Portanto, forneceu à antropologia uma visão psicológica de determinados fenômenos culturais primevos como o totemismo e os tabus, e como os últimos persistem entre nós.

Essa interseção entre a psicanálise e a antropologia social resultou em sua obra intitulada Toteme tabu ([1912-1913] 1974), na qual Freud demonstra os pontos de concordância entre as práticas do tabu e os sintomas obsessivos.

No entanto, Freud nos explica que o tabu não é uma neurose e sim uma instituição social:

A divergência reduz-se, em última análise, ao fato de as neuroses serem estruturas associais; esforçam-se por conseguir, por meios particulares, o que na sociedade efetua através do esforço coletivo (Freud, [1912-1913] 1974, p.85).

O interesse de Freud pela cultura fez com que desenvolvesse, sob uma Weltanschauung científica, teorias que lançaram luz sobre as manifestações do sujeito na sua relação com a cultura. Em seu trabalho iluminista O futuro de uma ilusão Freud ([1927] 1974), distancia os preceitos religiosos da realidade objetiva através das teorias psicanalíticas acerca do funcionamento dos processos mentais. Assim, toma as religiões como ilusões do homem, abastecidas por seus desejos, sobretudo por desconsiderarem o teste de realidade - processo psíquico secundário -em nome da fé religiosa.

No seu ensaio O mal-estar na civilização ([1930] 1974) Freud enuncia as três fontes geradoras do mal-estar humano - o corpo, o mundo externo e as relações humanas -, que promovem desamparo no homem e o impelem a buscar conforto nas religiões como uma solução para sua angústia frente ao real.

Ao falar de psicanálise e cultura escolheu-se uma religião afro-brasileira sincrética por excelência, a umbanda, como tema de abordagem deste trabalho, por ser um sistema que contém elementos do animismo, com técnicas de magia e feitiçaria, além de ser uma religião repleta de tabus, ritos de expiação e cerimônias, e proporcionar aos seus adeptos a "consulta" umbandista.

De acordo com Roger Bastide (1978), no século XX, por volta da década de 1930, surgiu no eixo Rio-São Paulo a umbanda, que sincretizou os seguintes elementos:

• as religiões de origem africana dos povos sudaneses e banto, que vieram para o Brasil como escravos;

• o catolicismo;

• o espiritismo kardecista;

• as religiões indígenas.

A palavra "umbanda", de origem banto, significa grão-sacerdote ou local de culto. A umbanda se situa no plano simbólico com a presença das imagens dos orixás (entidades divinas do candomblé), na parte superior de seu altar sagrado.

Esses orixás possuem atributos e histórias próprias, e como subterfúgio contra a pressão exercida pela Igreja católica no período da escravidão, foram identificados com santos católicos estabelecendo-se o sincretismo. Assim, Oxalá é identificado como Cristo; Ogum, como São Jorge, protetor de Oxalá; Xangô, como São João Batista e São Jerônimo, representantes da lei e da justiça; Oxossi, como São Sebastião, que é o chefe da falange dos caboclos; Oxum, como Nossa Senhora da Conceição; Iansã, como Santa Bárbara; Iemanjá, como Nossa Senhora da Glória; Nanã, como Santana; e Exu, como Diabo, por sua capacidade de fazer malefícios, prestarse a feitiçarias e representar a libertação sexual. Nesse sincretismo, existem ainda outros santos católicos como São Miguel Arcanjo, Anjo Gabriel, Anjo Rafael, Santo Antônio e São Benedito.

Os caboclos e os pretos velhos são entidades hierarquicamente inferiores aos Orixás. Os caboclos são caracterizados por uma representação viril dos índios, que por sua vez possuem um poder espiritual de cura pela combinação de ervas medicinais, e uma enorme força para combater as calamidades da vida. Já os pretos velhos representam um velho escravo humilde, que tem a sabedoria necessária para transitar entre a casa-grande e a senzala, e geralmente consolam ou fazem caridade, sob a orientação dos orixás, para melhorar o sofrimento alheio.

O "pai" ou "mãe de santo" são os chefes do "terreiro" (barracão de aproximadamente 50m2 localizados nas periferias das cidades grandes, onde são realizadas as consultas, as cerimônias e os rituais), responsáveis pelo bom andamento do trabalho e pela moralidade da reunião. O "pai de santo" possui total autoridade sobre seus "filhos espirituais", cuja "iniciação" foi realizada sob sua responsabilidade.

Vale ressaltar que, de acordo com Georges Lapassade (1972) em O segredo da macumba, sob uma perspectiva sociológica, a representação simbólica do culto umbandista procede da formação social escravagista, ou seja, é um retrato da formação social brasileira com sua hierarquia e a obediência à autoridade.

A doutrina umbandista utilizou-se de certas elaborações que permitem uma conciliação das posições contrárias existentes em seu escopo sincretista, como nos explica Cândido Procópio Ferreira de Camargo em Kardecismo e umbanda:

Em primeiro lugar, foi ideado pela umbanda um sistema de organização sacral, que à maneira da angelogia católica, coloca cada orixá, cada deus, no comando de sucessivas hierarquias de espíritos ou falanges. Salva-se, assim, o politeísmo africano, com o prestígio dos seus deuses, a rica tradição de cultos e lendas, a beleza estética da música e da dança, sem falar na eficácia da magia. Por outro lado, praticamente, a comunicação com os espíritos desencarnados é mais fácil e funcional. Estes comunicam-se com os fiéis por intermédio de seus "cavalos",1 dão conselhos, consolam, prometem (Camargo, 1961, p. 36-37).

Para a leitura psicanalítica de alguns elementos que compõem a umbanda, participou-se de rituais em "terreiro" localizado no município de Santa Luzia, Minas Gerais, regido pelo pai de santo Washington, que forneceu informações sobre aspectos e peculiaridades concernentes à umbanda.

De acordo com a mitologia umbandista relatada oralmente por pai Washington,2 os seus deuses, no passado remoto, eram etéreos e viviam na "Terra de Oió", no entanto, após os deuses "Oxossi" e "Oxum" cometerem o pecado da relação sexual e gerarem um filho - "Logum Edé" - foram banidos por "Obatalá" (chefe da "Terra de Oió")."Oxossi" foi enviado às matas, e "Oxum", às águas doces, onde tomaram sua forma física.

Os outros deuses, ao saberem do fato, também desejaram assumir formas físicas e solicitaram a "Obatalá" que o fizesse. Este atendeu ao desejo dos deuses enviando "lemanjá" ao mar, "Ogum" às estradas, "Omolu" às terras, "Xangô" à atmosfera (raios e trovões), "Nanã" às lamas, e Oxalá ao céu, de onde poderia observar todos os outros.

Diante desse mito, verifica-se que a umbanda e seu sistema de crença em deuses se orienta sob uma Weltanschauung religiosa. No entanto, há ainda resquícios do sistema animista, já que identifica elementos inanimados da natureza com as almas de seus deuses.

A magia é uma técnica animista que se encontra presente na umbanda e apenas o pai de santo, detentor do "poder misterioso", tem capacidade de influenciar os deuses a realizá-la. Citar-se-á apenas dois tipos de magia das diversas relatadas pelo pai Washington. A primeira, denominada "amarração",3 é realizada quando a mulher desejante de um homem não quer que este tenha relações sexuais com outras mulheres.

Esse ritual mágico é executado da seguinte maneira: a mulher se apodera de uma peça íntima suada do homem em questão e a entrega ao pai de santo, que por sua vez a colocará juntamente com um galo preto de penas arrepiadas sacrificado, enquanto realiza um cântico em oferenda a Exu, que tornará o homem impotente com todas as mulheres que não seja a feitora.

O segundo tipo de magia é o "Ebó",4 técnica destinada a desfazer trabalhos mágicos. É executada assim: o pai de santo prepara uma comida com grãos, alguns cozidos, outros torrados, e reza sobre ela; posteriormente, enquanto realiza um cântico, passa a comida na pessoa afligida pelo trabalho mágico para que o encanto seja quebrado.

Esses tipos de magia, segundo a visão psicanalítica, são processos de associação de significantes por contiguidade [deslocamentos], que constroem uma narrativa metonímica].

Freud nos ensina que o princípio que dirige a magia é o da "onipotência de pensamentos", que consiste basicamente em "tomar equivocadamente uma conexão ideal por uma real" (Freud, [1912-1913] 1974, p. 90) citando Tylor (1891, p. 116).

Seria a supervalorização dos processos mentais, tomando-os como realidade objetiva. Para essa apreciação psicanalítica da magia umbandista, remeteu-se aos escritos de Freud ([1912-1913] 1974), que descrevem as vicissitudes da "onipotência do pensamento" através da evolução das diferentes Weltanschauung, diz Freud ([1913-1914] 1974, p. 98).

Na fase animista, os homens atribuem a onipotência a si mesmos. Na fase religiosa, os homens transferem-na para os deuses, mas eles próprios não desistem dela totalmente, porque se reservam o poder de influenciar os deuses através de uma variedade de maneiras, de acordo com os seus desejos. A visão científica do universo já não dá lugar à onipotência humana; os homens reconheceram a sua pequenez e submeteram-se resignadamente à morte e às outras necessidades da natureza.

Passando ao tabu do incesto, na doutrina umbandista, o incesto não apenas se restringe às relações entre indivíduos consanguíneos, mas também abrange as relações de "santo". Segundo pai Washington, o pai e a mãe de santo são proibidos de ter relações sexuais com suas filhas e filhos de santo, e essa proibição se estende aos irmãos de santo terem relações sexuais entre si. Se violarem essa proibição, o santo arruinará a vida dos incestuosos. Caso a punição dos transgressores não seja realizada pelo santo, acredita-se que todos os membros do terreiro serão punidos por Ele, daí esses membros se encarregam de punir os violadores.

Portanto, esse tabu umbandista da proibição do incesto preenche alguns pré-requisitos civilizatórios:

• reprimir o impulso sexual do pai de santo, detentor do poder misterioso, de ter relações sexuais com todas as suas subalternas equivaleria ao "pai primevo" da horda postulado por Freud em Totem e tabu (1912-1913);

• reprimir os impulsos sexuais das filhas de santo pelo seu poderoso pai de santo, evitando, assim, disputas e animosidades entre elas;

• proteger o terreiro de possíveis hostilidades entre os seus membros;

• promover a exogamia dos pais e mães de santo, e dos filhos e filhas de santo para outros terreiros, estabelecendo laços afetivos entre os membros de terreiros distintos, e sua união solidária em algumas cerimônias e rituais.

Para exemplificar o último item, verificou-se que, na cerimônia de possessão dos Exus e das pombagiras, as cavalas que recebiam as pombagiras, todas adornadas sensualmente, se exibiam para seduzir os cavalos de outros terreiros.

A psicanálise, com sua teoria do inconsciente, presta sua contribuição para a leitura das proibições relacionadas aos tabus umbandistas, já que a origem deles é desconhecida pelos praticantes da religião.

A tese de Freud é que

[...] a base do tabu é uma ação proibida, para cuja realização existe forte inclinação do inconsciente (Freud, [1912-1913] 1974, p. 49).

A teoria psicanalítica postula que na tenra infância vigoram desejos incestuosos e que em outro momento lógico tais desejos são recalcados, promovendo, assim, a exogamia do sujeito de sua família. Portanto, o incesto é um dos mais antigos e poderosos desejos humanos, e se mantém inconsciente. Já o tabu é consciente e dirigido contra os anseios mais poderosos aos quais estão sujeitos os humanos.

Outro elemento a ser abordado neste artigo é a "consulta" umbandista. Segundo Camargo (1961), existe uma tipologia dos adeptos da umbanda, que se dividem em participantes e eventuais. Os participantes são frequentadores habituais dos "terreiros" com conhecimento precário da doutrina e procuram as entidades para resolver suas doenças e dificuldades. Os eventuais se dirigem às reuniões de umbanda somente nos momentos de dificuldade, interessados nas técnicas de magia da religião umbandista.

De acordo com Lapassade (1972), a consulta umbandista é uma forma popular de consulta psicológica, já que as pessoas que a procuram desejam resolver problemas da vida cotidiana: amor, trabalho e doenças.

O ponto de concordância entre a consulta umbandista e a consulta psicanalítica no laço social, é que ambas são procuradas por pessoas que sofrem de algum mal-estar, no entanto essa concordância termina aqui.

A técnica psicanalítica possui fundamentos teóricos partindo de uma visão cientifica, e o psicanalista se posiciona no tratamento do sofrimento psíquico como "sujeito suposto saber" - pivô sobre o qual giram os distintos aspectos da transferência discriminados por Freud - repetição, resistência e sugestão - conforme Miller (2002, p. 58) em Percurso de Lacan: uma introdução -, embora sem se identificar a essa posição, ou seja, à posição daquele que sabe, como o fazem, dizia Freud, os sacerdotes e os médicos.

A consulta umbandista não tem arcabouço teórico que a fundamente; seu fundamento é religioso, profere a fé; o pai de santo assume a posição discursiva de mestre, identificando-se ao sujeito suposto saber e proferindo, por meio de técnicas mágicas, a solução do mal-estar.

A consulta umbandista promete curar com suas magias e feitiços o problema do sofredor, predominando, assim, o registro imaginário frente ao real; enquanto a psicanálise utiliza-se do sintoma que faz sofrer - formação do inconsciente - na intenção de o sujeito ver, compreender e concluir algo acerca de sua verdade - quem sou? qual é meu desejo? que quero de verdade? -, tratamento em que predomina o registro simbólico frente ao real.

A psicanálise parece se encontrar na intercessão entre os conjuntos mítico, científico e linguístico como esboça a figura a seguir.

 

 

A psicanálise é um elemento do conjunto científico, porque, de certa forma, é empírica, visto que Freud partiu da observação clínica para a construção de suas teorias. Contudo, segundo Lacan, a psicanálise se apresenta no conjunto das ciências como uma disciplina em posição particular, pois não é objetivável, porque, em seu seio, preserva a relação de medida do homem consigo mesmo -

[...] relação interna, fechada sobre si mesma, inesgotável, cíclica, que o uso da fala comporta por excelência (Lacan, [1952] 2008, p. 12).

O conjunto linguístico contém a linguagem, indissociável da psicanálise, pois é através das figuras de linguagem - metáfora, metonímia, sinédoque, oxímoro, entre outras - que o inconsciente simbólico se estrutura, se articula e se manifesta.

Diz Lacan ([1972-1973] 2008, p. 22):

[...] se considerarmos tudo que, pela definição da linguagem, se segue quanto à fundação do sujeito, tão renovada, tão subvertida por Freud... como o inconsciente, então será preciso, para deixar a Jakobson seu domínio reservado, forjar alguma outra palavra [que não a linguística]. Chamarei a isto de linguisteria.

Na linguisteria, a fala, um dos eixos da linguagem (o outro eixo é a língua) é o material analítico que possibilita o contato do analista com o "mito individual do neurótico", e o tratamento do sofrimento do sujeito.

A respeito da relação entre o mito e a fala na experiência analítica, diz Lacan ([1952] 2008, p. 13):

O mito é o que dá uma formulação discursiva a algo que não pode ser transmitido na definição da verdade, porque a definição da verdade só pode se apoiar sobre si mesma, e é na medida em que a fala progride que ela a constitui. A fala não pode apreender a si própria, nem apreender o movimento de acesso à verdade como uma verdade objetiva. Pode apenas exprimi-la - e isso de forma mítica. Nesse sentido é que se pode dizer que aquilo em que a teoria analítica concretiza a relação intersubjetiva, e que é o complexo de Édipo, tem valor de mito.

Vale mencionar o pensamento de um grande estudioso dos mitos coletivos Mircea Eliade (2007) a respeito de Freud, a quem atribui a brilhante descoberta e o estudo do mito individual do sujeito. O mito individual teorizado por Freud diz respeito ao drama singular do sujeito - o complexo de Édipo -, enquanto Eliade se pôs a pesquisar os mitos que formam e organizam as diferentes civilizações formadas por sujeitos singulares. Nesse contexto, a umbanda é interpretada como mito coletivo que organiza um certo modo de laço social por meio de ritos, de "consultas".

A psicanálise se posiciona enquanto discurso na intercessão entre os conjuntos: mítico, no que tange ao complexo de Édipo, mito individual; linguístico, na forma de linguisteria, a fala verdadeira - a mensagem que advém do inconsciente; e científico, sendo uma disciplina não ob-jetivável, e sim subjetivável, ou seja, cada caso é um caso.

A respeito da psicanálise enquanto ciência não objetivável, Jean Clavreul, psicanalista de formação médica e analisando de Lacan, diz em entrevista a Moustapha Safouan e Alain Didier-Weill, publicada no livro Trabalhando com Lacan: na análise, na supervisão, nos seminários:

A prática nos obriga constantemente a um trabalho de teoria, e é bem mais difícil que o contrário, quando a teoria ajuda a entender tudo dos pacientes (Clavreul citado por Weill; Safouan, 2009, p. 24).

A leitura psicanalítica de alguns ele -mentos da umbanda proposta neste artigo torna possível uma outra significação além da religiosa. Baseada numa visão de mundo científica, essa manifestação cultural é pautada nos fenômenos psíquicos inconscientes envolvidos em tal religião, bem como na análise desse discurso que promove laço social.φ

 

Referências

BASTIDE, R. O candomblé da Bahia: rito nagô. Tradução: Maria Isaura Pereira de Queiroz. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Brasília: INL, 1978.         [ Links ]

CAMARGO, C. Kardecismo e umbanda. São Paulo: Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 1961.         [ Links ]

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FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930 [1929]). In: ______. O futuro de uma ilusão, o malestar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Direção geral da tradução: Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974. p. 73-153. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 21).         [ Links ]

FREUD, S. Totem e tabu (1913). In: ______. Totem e tabu e outros trabalhos (1913-1914). Direção geral da tradução: Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974. p. 21-162. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 13).         [ Links ]

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LAPASSADE, G. O segredo da macumba. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.         [ Links ]

MILLER, J.-A. Percurso de Lacan: uma introdução. Rio de janeiro: Zahar, 2002.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 16/08/2020
Aprovado em: 18/09/2020

 

 

1 "Cavalos" são indivíduos mediúnicos que são possuídos por um espírito desencarnado. Cada "cavalo" é portador da sabedoria dos espíritos que recebe.
2 De acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 129), cada terreiro tem sua própria identidade, marcada pela "história de vida" da mãe ou pai de santo que o lidera.
3 É importante informar que, segundo "pai" Washington, existem várias formas de "amarração" variando de acordo com a intenção do solicitante. Cada "amarração" possui elementos e rituais distintos para o seu feitio.
4 O "ebó" tem as mesmas características da "amarração" citadas na nota anterior.

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