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Psicologia Escolar e Educacional

versión impresa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.6 n.1 Campinas jun. 2002

 

RESENHAS

Ilustração e leitura

 

Tiedt, I. C. (2000). Teaching with picture book in Middle school. Newark : IRA, 221 p.

 Íris McClellan Tied é especialista em leitura, publicou vários artigos e livros na área, ocupou vários cargos administrativos e está vinculada à Minnesota State University. No presente livro, enfoca as possibilidades de uso da ilustração quando se trabalha no ensino médio. Como lembra, nas palavras iniciais, dirigidas aos professores, a ilustração é um excelente caminho para docentes e alunos pensarem juntos. Os livros de pinturas oferecem caminhos fascinantes para isto.

A obra é composta por nove capítulos, um pósfácio, dois apêndices, referências, índice, além de várias páginas em branco, no final, para as anotações do leitor. O índice é predominantemente referente a autores e livros, com raras inserções de conteúdo como: ação, meios artísticos, iniciantes, biografias, livros etc. As referências foram organizadas por capítulos no que se refere à literatura infanto-juvenil.

O Apêndice A é composto por vários planos de aula, os quais visam, de um modo geral, trabalhar o pensamento. Todos apresentam as seguintes divisões: título da lição, resultados esperados, estratégias de ensino- aprendizagem (inclui recursos), orientação/direção (organizada em passos), avaliação de desempenho. Ao todo são apresentados 17 planos, mas que podem ser facilmente desdobrados, enriquecidos e diversificados a partir da matriz apresentada.

O Apêndice B é composto por uma lista de sugestões sobre onde buscar informações adicionais sobre os seguintes tópicos: Recursos para professores e Caldecott Award. Os recursos para os docentes foram organizados por tema: websites selecionados (ex.: scholar.lib.vt.edu/ejournals/alan/alan-review.html), periódicos profissionais (ex.: The Reading Teacher), artigos selecionados dos periódicos profissionais (ex.: Towell, J. H. (1999). Motivating students through music and literature. The Reading Teacher, 53,284-286), livros profissionais (ex.: Cooper, C. H. (1996). ABC books and activities: from preschool to high school. Lanham, HD: Scarecrow Press) e fontes adicionais que podem ser usadas como base de informação e úteis ao planejamento educacional.

O Cadeccott Award é um prêmio que leva o nome de Randolph J. Caldecott e que é dado anualmente pela American Library Association. É atribuído a autores que se destacaram como ilustradores (por vezes são também autores do texto). São arrolados autor e obra premiada, de interesse para o tema, de 1938 até 2000. Não há nada similar no meio cultural nacional com a duração, a amplitude e as orientações aqui referidas.

A obra é enriquecida com algumas ilustrações. No primeiro capítulo, a autora enfoca o uso dos livros de pintura e as ilustrações de livros como recurso para estimular o pensamento quando se trabalha com estudantes do ensino médio. Não importa se é em livro de ficção ou não, todos podem contribuir, usando-se ilustrações para estimular a pensar, falar, ouvir, ler, escrever e outras habilidades e competências. Entre as vantagens de recorrer a livros de pinturas e de ilustrações estão: recuperar a herança cultural e literária, o prazer da leitura, o estímulo à escrita e à linguagem oral, o estímulo a pensar, alegria no ensino-aprendizagem, desenvolvimento do senso de comunidade, ensino de gramática e estilo, explicações interessantes sobre diferentes culturas, expor o aluno a vários estilos e gêneros, com atividades criativas, e ampliar os estudos temáticos.

Livros de Ilustração ou Pinturas são definidos como aqueles em que a ilustração é no mínimo tão importante quanto o texto, atendem a clientela da pré-escola à idade adulta, e especialmente na escola secundária e nas fases subsequentes não estão merecendo a devida atenção dos educadores.

O Capítulo 2 enfoca a recuperação da tradição, especialmente a partir da ilustração. Toma como eixo as ilustrações de Mamãe Ganso em várias versões ao longo da história, relaciona com as músicas, com a cultura e com a própria estrutura familiar. Usa coro, dramatização, música para recompor a herança cultural.

A promoção do Desenvolvimento da Leitura (Capítulo 3) trata de estratégias para trabalhar a linguagem oral, de uso de serviços educacionais e sociais, de contar histórias e outras técnicas que podem ser usadas a partir de ilustrações. Merece destaque o uso de ilustrações de humor.

No capítulo seguinte, Tiedt enfoca como estimular o pensar, o falar e o escrever a partir de ilustrações. Destaca também a composição de poemas, escrita de textos narrativos, cartas, histórias, cartas para jornais, entrevistas etc. Apresenta estratégias para conhecer o autor, com projeto fácil de ser realizado. Aliás, este é um cuidado que precisaria ser tratado com maior atenção no meio educacional brasileiro, até nas universidades.

A ampliação do conhecimento da língua e da literatura pelo aluno é tratada no Capítulo 5. Aprender sobre a língua pode ser feito pela ilustração, o contraste com outras línguas nos cartões de aniversário, Natal e outras festas, nos livros ilustrados de poemas bilíngues. As fábulas clássicas e suas ilustrações também são recursos úteis, divertidos e fáceis de trabalhar. Considerando- se que a proposta enfoca jovens adolescentes, o humor não pode ser esquecido; a análise de metáforas contidas nas ilustrações é muito atraente para eles. O leitor é chamado a observar vários aspectos de literatura, tais como características de personagens expressas na ilustração, exploração de pontos de vista. Pode-se rever a história da língua.

A diversidade existente em um país e mesmo entre países precisa ser conhecida, respeitada e aprendida. Cada vez mais vem sendo enfatizado o ensino multicultural. Este é o tema do Capítulo 6, visto a partir da ilustração. Pode viabilizar um envolvimento pessoal, da família e da comunidade. Permite trabalhar o respeito, a empatia, a amizade e a eqüidade. Trabalhar os estímulos no contexto multicultural pode ser útil para mudanças sociais, pode contribuir para redução de problemas sociais.

Esta temática é retomada no Capítulo 7 em que são destacados como os livros ilustrados podem ajudar a desenvolver estudos sociais, matemática e outras disciplinas do currículo. Enfocando os estudos sociais, lembra as possibilidades das ilustrações para se poder aprender sobre as pessoas, os eventos, o mundo, as religiões, os feriados, as ciências e a matemática. Os alunos precisam conhecer os cientistas, como trabalham. As ilustrações e as festas populares também são muito interessantes como meio de Ensino. Diagramas permitem comparar e analisar diferenças e semelhanças culturais de temas clássicos como o de Cinderela.

A ilustração pode ser também um meio para estimular a criatividade (Capítulo 8), começando pela aprendizagem da própria arte de ilustrar, dos vários meios para se expressar artisticamente usados pelos alunos, com a produção de livros de arte, associando-os com a música.

No capítulo seguinte, é tratada a forma de conduzir estudos temáticos, o que é ilustrado com as seguintes proposições: espaço interior ou conhecendo a si mesmo, metáfora para nossa sociedade multicultural; imigrantes e imigração e, finalmente, amor. Muitos outros temas são sugeridos a partir dos tratados em livros ilustrados, de pinturas, de fotos ou de desenhos tais como: morte, velhice, escravidão, liberdade, a conquista da arte, beleza, paixão, bondade, passado presente, deficiências, limitações, festas, estereotipias, mulheres. É um convite à aplicação do apresentado anteriormente. O leitor pode alongar esta lista ao infinito, incluindo a realidade de seus alunos, da cidade, da região, do país, do universo.

No pós–fácio a autora manifesta exatamente a esperança de que o leitor vá além desta jornada feita com ela neste livro. Lembra que cerca de 3000 livros ilustrados são publicados anualmente e manifesta a sua esperança de que sejam melhor usados para a formação de leitores.

Trata-se de obra cuja ênfase é a prática, a melhoria da qualidade do ensino de leitura e de leitores. Não está presa a qualquer enfoque teórico, é um bom exemplo de unificação conceitual ou perspectiva multiteórica. Isto a torna isenta de possíveis distorções e mais útil a quem realmente pretende mudar e melhorar o ensino. É lastimável não haver no contexto nacional obras similares e saber que poucos dos nossos docentes terão acesso a obras como esta, quer pela dificuldade de aquisição.

O texto é bem elaborado, didático, claro e bem sustentado em bibliografia e exemplos adequadamente inseridos e analisados.

 

Geraldina Porto Witter
UMC/PUC - Campinas