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Stylus (Rio de Janeiro)
versión impresa ISSN 1676-157X
Stylus (Rio J.) no.37 Rio de Janeiro jul./dic. 2018
EDITORIAL
Editorial
Joseane Garcia
O tema desta edição, "Adventos do real e o psicanalista", é o mesmo de nosso X Encontro Internacional da IF-EPFCL, que aconteceu em Barcelona em setembro de 2018. Adventos, no plural, para marcar a diversidade dos elementos do real, bem como suas diferentes acepções. À expressão "adventos do real" junta-se o psicanalista para interrogar o que pode ele diante do advento do real e o que se pode esperar como advento do real a partir de uma psicanálise.
Cada analisante vem dizer o que não produziu boa hora/felicidade (bon heur), mas mal-dição (malé-diction), diz Lacan. Aquilo que o analista recebe, em primeiro lugar, é a queixa tumultuosa que responde a esse real advindo. Mas, se o clamor do neurótico respondeu ao primeiro advento traumático do real, é possível esperar que um segundo advento, aquele que re-advém na análise e que ilumina o primeiro, pode dar ao sujeito a oportunidade de renunciar à sua queixa para enfrentar o destino que seu inconsciente lhe produziu. O que quer dizer que todo advento do real implica um efeito, efeito de angústia ou efeito silencioso. Nesta edição, cada texto trata, de algum modo, do advento do real e de seus efeitos tanto na clínica quanto no mundo.
Stylus 37 abre com duas Conferências bilíngues; as duas originalmente em francês, com suas respectivas traduções. Colette Soler investiga se, no final, a análise da não-toda pode destituir o Outro radicalmente barrado por uma identificação com o silêncio do inominável. E David Bernard comenta o uso da expressão "advento do real" no texto "Televisão", demonstrando sua relação com o discurso da ciência, com o gadget e com o que Lacan denominou um saber no real.
Em seguida, temos também a Conferência de Dominique Touchon Fingermann em português, que investiga se um percurso analítico pode permitir, a quem se engajar nele até o fim, renomear sintoma, repetição e angústia como sinthoma, ato e passe.
Fernando Martínez, com um Artigo bilíngue, em espanhol e em português, aponta que o real que advém dos efeitos da ciência em sua articulação com a economia de mercado introduz, por uma via política, suas implicações na subjetividade. Seu texto trata do sintoma diante dos adventos do real de nossa época, em que a precariedade do laço social, a banalização da palavra consumida em "packs" disfarçados de discurso e outra série de manifestações redobram a aposta do psicanalista no inconsciente.
Na seção Trabalho crítico com os conceitos, Ingrid Porto de Figueiredo analisa, em seu artigo, a interpretação poética proposta por Lacan, que situa o real como o fora do sentido com o qual a interpretação opera. A autora demonstra que Lacan recorreu à função poética, tal como formulada por Jakobson, mas introduziu lalíngua, que é o que possibilita que se opere com a suspensão do sentido pela palavra poética.
Na seção Direção do tratamento, Luciana de Freitas Guarreschi interroga o advento do real a partir de um sonho de uma paciente. O advento do real viria com a introdução do discurso analítico, por via da transferência, não sem passar pelo advento primeiro, traumático e maldito. Tomando principalmente o Seminário 18 de Lacan, De um discurso que não fosse semblante, a autora acompanha a mudança de posição do sujeito perante o gozo, mudança essa advinda do encontro com o discurso do analista.
Nessa mesma seção, Glaucia Nagem de Souza aborda a obra criativa do artista brasileiro Arthur Bispo do Rosário. O artigo interroga se a obra do Bispo seria um efeito do advento do real.
Na seção Espaço Escola, teremos pela primeira vez um texto bilíngue. Matías Buttini apresenta, em espanhol e em português, o trabalho de cartéis em dois aspectos: o da abstinência do Mais-Um e o do corpo analisante no campo laico-niano, que é onde o trabalho se desenvolve sem religião nem crença, a não ser aquela que Freud já nomeou como existência do inconsciente.
Na seção Resenha, Glaucia Nagem de Souza e Luciana de Freitas Guarreschi apresentam a tradução para o português de O seminário, livro 13: o objeto da psicanálise, de Jacques Lacan. O livro é uma empreitada independente do Fórum do Campo Lacaniano São Paulo. Uma tradução não comercial de grande importância para o campo lacaniano no Brasil, já que esse seminário era o único que ainda não contava com nenhuma versão em português.
Stylus 37 é a última revista editada por esta gestão. Agradeço nominalmente à minha competente equipe: Ana Paula Lettieri Fulco, Geísa Freitas, Julie Travassos, Rosana Maldonado Torres e Vera Pollo. Sem elas, não teria sido possível cumprir a missão de cuidar desse instrumento tão importante de transmissão de nossa Escola.
Em nome de toda a equipe, desejo uma boa leitura!
Joseane Garcia
Rio de Janeiro, dezembro de 2018.