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Psicologia USP
versión On-line ISSN 1678-5177
Psicol. USP v.16 n.4 São Paulo dic. 2005
EDITORIAL
A dimensão institucional que atravessa as pesquisas e práticas em Psicologia é o eixo comum subjacente aos artigos que compõem este número de Psicologia USP. Um amplo espectro de objetos de investigação é apresentado, no âmbito da saúde e da educação, desenhando-se ângulos de acesso específicos a temáticas relativas à infância, à adolescência e à família.
Inicialmente, o dispositivo do psicodiagnóstico é examinado à luz da fronteira entre os repertórios conceituais da Psicanálise e da Análise do Discurso, de modo que, ao serem apontados os desdobramentos do contexto institucional na constituição dos resultados do estudo de caso, é feita a proposta do enfoque de estudo institucional de caso, instrumental teórico-metodológico que se coloca na contramão da naturalização desse dispositivo. Os CAPS, serviços públicos de saúde mental, são objeto de reflexão do artigo subseqüente, que, a partir da perspectiva psicanalítica, analisa os aspectos éticos, técnicos e políticos implicados na expansão, em nível nacional, desses Centros de Atenção Psicossocial, trazendo para o centro da discussão questões relativas à alta e à alienação na técnica.
Os dois próximos ensaios recortam a escrita de adolescentes como recurso metodológico de investigação e tratamento: o primeiro, amparado no referencial lacaniano, demonstra como o exercício da escrita pode ser uma forma de tratamento da doença mental, por meio da experiência de uma prática clínica em ateliê de escrita com adolescentes psicóticos; o segundo, tendo como foco de interesse os processos psicológicos envolvidos na eventualidade de uma gravidez, analisa versos de rap escritos por adolescentes do sexo feminino, procedentes da periferia de uma metrópole brasileira, e os compara ao discurso oficial presente em um manual sobre saúde sexual e reprodutiva, destacando a inadequação desse último como instrumento de esclarecimento e acompanhamento dessas jovens.
Os três trabalhos seguintes tratam de questões relativas à violência familiar, implicadas na punição doméstica, no abuso sexual de crianças e adolescentes e nos crimes sexuais no âmbito da prática de casamento no Brasil: o primeiro analisa manuais de educação familiar, proeminentes da segunda metade do século XX em diante; o seguinte apresenta uma modalidade de atendimento clínico efetivado a partir de uma intimação judicial, por meio de um modelo de grupo multifamiliar adaptado ao contexto de abuso sexual; o último trabalho examina processos criminais e inquéritos policiais, envolvendo crimes de ordem sexual, entre o final do século XIX e meados do século XX, em uma comarca do estado de São Paulo.
O próximo artigo circunscreve os principais problemas relativos à infancia, emergentes na contemporaneidade, destacando a presença de novas perspectivas institucionais para seu encaminhamento, em especial a constituição de uma rede social articulada à esfera pública, na qual é enfatizado o papel fundamental dos Conselhos Tutelares.
Finalmente, a inauguração da seção Memórias legitima um espaço para o depoimento, cuja vitalidade, ao dissolver os limites da temporalidade cronológica, cultiva as sementes de presenças exemplares na construção de conhecimento na universidade.
Ana Maria Loffredo