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Psicologia para América Latina
versión On-line ISSN 1870-350X
Psicol. Am. Lat. n.7 México ago. 2006
PSICOLOGÍA DEL TRABAJO Y LA EMPRESA
Algumas reflexões sobre a influência de aspectos de organização do trabalho na gênese de um acidente de trabalho
Maria Luiza Gava Schmidt
Universidade Estadual Paulista (Brasil)
RESUMO
No presente artigo apresentamos algumas reflexões sobre a temática do acidente do trabalho. Procuramos por meio da ilustração de uma situação de acidente ocorrida com um trabalhador, discutir acerca da influência dos aspectos da organização do trabalho na gênese deste agravo à saúde que acomete consideravelmente a população trabalhadora. De maneira geral, este estudo vem somar-se àqueles que têm apontado a causalidade dos acidentes de trabalho decorrentes dos aspectos da organização do trabalho.
Palavras-chave: Acidente do trabalho, Organização do trabalho, Saúde do trabalhador.
ABSTRACT
The main of this aricle is present some reflections about the acident work thematic. Through the illustration of a work accident situation happened with a worker, we discuss about the influence of work organization aspects at the genesi of the health worker that attacks these people.This work has an additional propose to those that indicate the cause of the work accidents originated from the work organization aspects.
Keywords: Work accident, Work organization, Worker health.
Acidente de Trabalho: Algumas Concepções
Neste artigo faremos algumas reflexões sobre a temática "acidente de trabalho", um problema de saúde que afeta consideravelmente a população trabalhadora.
O acidente de trabalho é conhecido na literatura pela sigla AT, e definido como "aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho de segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, permanente ou temporária, que causa a morte, a perda ou a redução da capacidade para o trabalho " (Brasil, 2000).
Quanto a causalidade, essas ocorrências possuem "natureza complexa, apresentando-se como resultado indesejado da interação de uma rede de múltiplos fatores causais (Brasil, 2000). Fato esse que tem mobilizado profissionais de diferentes áreas do conhecimento a estudar e analisar o nexo causal dessas ocorrências, no sentido de entendê-las em sua complexidade e, então, possibilitar a apresentação de propostas que visem a redução das mesmas.
A teorização acerca da causalidade do acidente de trabalho é ampla e diversificada.Nas formas de compreensão desses fenômenos encontramos teorias que se complementam e outras que se contrapõem.
Carmo et al., (1997), fazem um resgate histórico desse campo do conhecimento. Apontam as teorias que já foram abandonadas e outras que ainda têm grande influência na análise da causalidade dos acidentes de trabalho.
Lieber (1998), ao descrever sobre a causalidade do AT, enfatiza que novas teorias e respectivos métodos são necessários e possíveis. Na opinião desse autor, a falta de um método decorre basicamente da pobreza teórica em que se encontra a investigação da causalidade do AT e da mesmice de pressupostos sobre o tema.
A falta de um método previamente concebido, a fim de orientar e de certa forma conduzir as investigações e diagnósticos da causalidade dos acidentes do trabalho, acarreta na prática de profissionais que procuram desvendar esse fenômeno, um conjunto de procedimentos tais como: guias, expedientes, mapas, planilhas, entre outros, ditos científicos, por meio dos quais esses profissionais sustentam suas práticas.
Diante disso, nos preocupamos com as idéias apriorísticas que possam surgir dessa metodologia pré-estabelecida, levando profissionais a generalizações e distorções da realidade, dos fatos e da compreensão das ocorrências dos acidentes, correndo, assim, o risco de diagnósticos equivocados e, portanto, ações inadequadas e ineficazes, produzindo como já apontamos em outro estudo falhas na elucidação das causas e a deficiência das técnicas preventivas (Rumin & Schmidt, 1999).
Binder et al., (1986), estudaram cuidadosamente as descrições referentes as investigações de acidentes de trabalho, emitidas por três empresas metalúrgicas de grande porte do Estado de São Paulo, fizeram uma análise crítica das atribuições das causalidades e apontaram que as mesmas encontravam-se prejudicadas por juízos de valor que são descritos em termos do tipo "desatenção ", "descuido" e "negligência".
Resultados semelhantes a esses, encontramos em nossos estudos (Schmidt, 2004); (Schmidt, 2002), ao analisarmos as descrições emitidas nas CATs (Comunicações de Acidentes do Trabalho), registradas no Setor de Benefícios de uma agência da Previdência Social e, também, através das Fichas Técnicas de registros de acidentes feitas por uma empresa de grande porte do ramo industrial.
Nesses estudos, nos deparamos com avaliações de cunho ideológico pautadas na culpabilidade do trabalhador pelas ocorrências. São comuns as tentativas de explicar o fenômeno rotulando os próprios trabalhadores como imprudentes, negligentes e irresponsáveis frente à ocorrência dos acidentes no trabalho, de que são vítimas.
A associação da culpa dos acidentes ao comportamento faltoso e negligente dos trabalhadores está fundamentada na Teoria da Propensão ao Acidente. Essa teoria, teve sua emergência em 1919.
De acordo com Szasz (1984), a sugestão inicial da existência do trabalhador propenso ao acidente surgiu da pesquisa realizada pela British Industrial Fatigue Research Board, desenvolvida por pesquisadores que, por meio de métodos quantitativos, especificamente a comparação por porcentagens, procuravam provar a existência de trabalhadores propensos à acidentes.
A partir daí, na opinião do referido autor, a teoria de Propensão ao Acidente tornou-se uma ferramenta ideológica poderosa para culpar os trabalhadores pelos acidentes que estes sofrem durante o trabalho.
Para Dias (1997), essa atribuição de responsabilidade dada ao trabalhador por sua saúde ou sua doença decorre "da maneira fragmentada de ver o mundo, conivente/conveniente ao desenvolvimento da sociedade capitalista" (Dias, p. 64).
A partir da década de oitenta, a Teoria da Psicodinâmica do Trabalho descrita por Christophe Dejours, psiquiatra e psicanalista francês, trouxe reflexões sobre os impactos do trabalho na saúde dos trabalhadores, lançando dessa forma uma nova metodologia no campo da saúde no trabalho.
A partir de 1987, as concepções dejourianas passaram a exercer grande influência sobre os pesquisadores brasileiros, especialmente, com a primeira edição em português publicação do seu livro "A Loucura do Trabalho".
Por meio do enfoque psicanalista de forma não reducionista, Dejours avalia nocividade à saúde do trabalhador, tanto dos riscos físicos quanto à saúde mental, sob dois aspectos: condições e organização do trabalho.
Segundo o autor, a condição de trabalho refere-se especificamente a três ambientes: físico, químico e o biológico, aos quais os trabalhadores estão expostos no exercício das atividades laborativas e às condições de higiene, segurança e ergonômicas dos postos de trabalho.
Já a organização do trabalho é conceituada pelo autor como "a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa (na medida em que ela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade etc." (Dejours, 1992, p. 25).
Para o autor "a organização do trabalho exerce, sobre o homem, uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico" (Dejours, 1992, p. 133).
Nesse sentido, Dejours destaca que "quanto mais rígida for a organização do trabalho, menos ela facilitará estruturações favoráveis à economia psicossomática individual " (Dejours, 1992, p. 128).
Segundo Selligmann-Silva (2002, p. 1143), "os estudos em Saúde Mental no Trabalho (SMT) têm encontrado na organização do trabalho (OT) a fonte preponderante dos agravos psíquicos relacionados com o trabalho ".
Apenas para exemplificar, podemos citar um excelente trabalho realizado por Lima et al., (2002), no qual através de um estudo de caso intitulado: Aprisionado pelos Ponteiros de um Relógio: O Caso de um Transtorno Mental Desencadeado no Trabalho, os autores após analisarem detalhadamente a história de adoecimento de um trabalhador, oferecem evidências sobre os efeitos nefastos que as formas patogênccas de organização do trabalho podem ter sobre os indivíduos.
De acordo com Paraguay (2002), o estudo da organização do trabalho pode ser feito analisando-se os seguintes aspectos do conteúdo do trabalho: divisão, alocação e distribuição das pessoas em relação as tarefas as normas empresariais (expectativas de produção), os modos operatórios (que incluem as exigências de ritmo), alocação de tempos (pausas, cadências, jornadas, horas extras) e de prazos em geral.
Em nossos estudos relacionados à saúde no trabalho temos realizado pesquisas em diferentes instituições, o que tem nos possibilitado conhecer o funcionamento de diversas formas de organização do trabalho, cada qual, de acordo com sua especificidade, concebe sua noção de trabalho e de trabalhador.
Nessas trajetórias institucionais torna-se possível perceber que os princípios taylorista e/ou fordistas são ainda vigentes e continuam fortemente presentes no cotidiano de muitas empresas. Sendo estes expressos no processo de trabalho, na divisão das tarefas e dos gestos, na distribuição dos postos de trabalho, na submissão dos trabalhadores à velocidade dos ritmos, prazos, volume e qualidade e na ênfase dada ao lucro e produção.
São estas estruturas de organização do trabalho consideradas na literatura como as que apresentam maiores riscos à saúde dos trabalhadores . Portanto, conhecer e considerar a influência da organização do trabalho nas ocorrências de acidentes e/ou doenças ocupacionais tem sido um desafio dos profissionais do campo da saúde ocupacional.
Nesse sentido, duas razões nos levaram a tomar a decisão de elaborar esse texto. A primeira objetiva compartilhar um pouco de nossa experiência encontrada no intramuro das instituições. A segunda, visa ilustrar, por meio do relato de uma uma situação de acidente de trabalho, alguns aspectos da organização do trabalho que possam ter interferido na ocorrência do mesmo.
Com base nesses objetivos pretendemos, no final deste artigo, fornecer informações técnico-científicas que possam subsidiar discussões acerca da gênese dos acidentes de trabalho.
Percurso Metodológico
Nosso contato com trabalhadores acometidos por acidentes do trabalho teve início no ano de 1997, através do Projeto de Pesquisa sobre Acidentes do Trabalho, realizado junto ao Núcleo de Saúde do Departamento de Psicologia do Trabalho da Unesp-Assis/SP, local em que atuamos como professora e supervisora de estágio.
Primeiramente fizemos um estudo quantitativo numa das agências do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), localizada no interior do Estado de São Paulo, a fim de diagnosticar aspectos relacionados aos registros de acidentes emitidos nas CATs (Comunicações de Acidentes do Trabalho), como: tipo de acidentes, natureza da lesão, atividade funcional e tipo de empresa, dados considerados importantes para a obtenção de um panorama das ocorrências de acidentes na região estudada.
Partindo desse estudo quantitativo, iniciamos uma pesquisa de abordagem qualitativa e, por meio de entrevistas semi-estruturadas aplicadas de forma individual e coletiva, tivemos um contato mais efetivo com trabalhadores que procuravam a agência do INSS para emissão das CATs.
Diante dos resultados transformamos o trabalho em atividades de estágio curricular em Psicologia junto ao Departamento de Psicologia Experimental e do Trabalho e, a partir daí, os projetos de estágio passaram a ser planejados com enfoque voltado aos estudos sobre acidentes de trabalho.
Nestes projetos, direcionamos conjuntamente com nossos estagiários a análise de aspectos das condições e organização do trabalho e a interferência dos mesmos na saúde dos trabalhadores, especificamente no que tange às situações relacionadas aos acidentes decorrentes do trabalho.
Assim, além de estabelecermos o INSS como local de contato com os trabalhadores, ampliamos nosso campo de estudos para outras instituições e/ou organizações públicas e privadas, inserção esta que nos permitiu conhecer diferentes contextos de trabalho.
As atividades de supervisão são realizadas na própria faculdade; eventualmente também realizamos a supervisão dos estagiários nos locais onde os estágios ocorrem.
Além disso, mesmo em diferentes situações, sempre vinculamos o conteúdo de nossas atividades profissionais a questões relacionadas à saúde no trabalho. Assim foi com a dissertação de Mestrado (2000), com demais atividades propostas junto ao Departamento e, por fim, com a pesquisa de Doutorado (2003).
Adotamos como metodologia a abordagem qualitativa e como procedimento de coleta de dados temos utilizado a entrevista semi-estruturada. Esse instrumento "parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses de interesse da pesquisa. A partir dessas questões básicas e da resposta do entrevistado vão surgindo novas questões, fruto de novas hipóteses. Combina perguntas fechadas e abertas e permite ao entrevistado discorrer sobre o tema proposto, sem respostas pré estabelecidas pelo entrevistador" (Glina & Rocha, 2000, p. 63).
Essa técnica, embora aparentemente de fácil aplicação, requer do pesquisador a atenção constante para o enriquecimento da coleta de dados sobre o tema a ser investigado. Sendo assim, em algumas situações aplicamos as entrevistas em conjunto com os estagiários para que estes pudessem observar o direcionamento e aprimoramento da aplicação do instrumento.
Nessa trajetória por diferentes instituições, foi possível estabelecer um contato mais efetivo com trabalhadores de diferentes funções.
São muitas as histórias. Cada qual com sua situação específica que retrata a realidade do cotidiano do trabalhador e revela os aspectos da organização do trabalho em diferentes contextos.
Foi um tanto difícil escolher uma história para compartilharmos neste texto. O que justifica nossa opção pela história de João, que descreveremos na seqüência, envolve nossa mobilização subjetiva diante dos fatos repletos de significados subjetivos e sociais. Mas justifica-se também porque nos confrontamos com a extensão de um risco até então desconhecido, que se estrutura numa função cuja atividade aparentemente simples parece não revelar tantos riscos de acidentes graves e, no entanto, nos deparamos com um trabalhador com seqüelas graves. Isso mostra as armadilhas geradas pela organização produtiva onde se inserem os danos à saúde dos trabalhadores.
Antes de entrevistar João, não conhecíamos o processo de trabalho de fabricação de pães e outros confeitos de padaria. Nem sequer imaginávamos que a produção dos pãezinhos de cada dia pudesse trazer tantas conseqüências à quem os produz. Segue nossa experiência colhida, interpretada e carregada de sentimentos de indignação.
O Encontro com Nosso Protagonista
Fevereiro de 2003, iniciávamos o diagnóstico sobre as ocorrências de acidentes de trabalho, numa empresa do ramo de supermercado. Como de costume fomos até a empresa juntamente com duas estagiárias para começarmos a coleta de dados e foi durante a primeira entrevista que tivemos contato com João (nome fictício), padeiro, 28 anos. Ao entrar na sala de atendimento João demonstrou-se tenso, olhar triste, ansioso, dizendo que não sabia porque estava ali. Essas expressões de João nos fizeram perceber que a empresa não havia informado o trabalhador sobre nosso trabalho na forma como orientamos que este deveria ser tratado.
Diante disso, apresentamos os objetivos de nossa presença na empresa e estabelecemos com o entrevistado um contrato ético. Dissemos a ele que precisávamos que respondesse algumas questões sobre o acidente que havia sofrido, que outros trabalhadores, tanto afastados como alguns da ativa seriam entrevistados e que o entendimento deles sobre os acidentes poderia nos auxiliar na compreensão das ocorrências na empresa e, por meio delas, contribuir para evitar outros acidentes. Procuramos tranqüilizar João dizendo também que mesmo sendo necessária a entrega de um relatório a empresa, os dados seriam apresentados de forma a manter o anonimato dos entrevistados.
Diante dessa exposição o mesmo mostrou-se mais tranqüilo e verbalizou que, quando foi informado sobre a entrevista com psicóloga, logo pensou em demissão.
Tendo apresentado os objetivos e estabelecido o contato percebemos que João se apresentava menos temeroso e então iniciamos a entrevista. Relataremos a seguir fragmentos de sua história.
História Pessoal
João nos relatou que é solteiro, mora com os pais e um irmão. A mãe está afastada por licença médica devido à problemas de saúde. O pai e o irmão não têm trabalho fixo, "fazem bico", de modo que o salário de João (aproximadamente R$300,00 mensais) era a principal fonte de renda da família e, segundo ele, 70% do seu salário ficava em casa.
História Funcional e o Acidente de Trabalho
Trabalha na empresa há aproximadamente dez anos. Contou que entrou como repositor, trabalhou um ano e meio nessa função e depois pediu transferência para padaria, onde sabia que iria ganhar mais. Lá iniciou como auxiliar de padeiro e, segundo o mesmo, aprendeu a trabalhar com os padeiros que passaram pela padaria. Depois que o último saiu, ele solicitou a função e então deixou de ser auxiliar de padeiro para ser padeiro, função que exerce há aproximadamente 6 anos.
Relatou que nunca recebeu treinamento para trabalhar, nem como auxiliar nem como padeiro, e tudo que sabe aprendeu trabalhando no dia-a-dia.
Ou seja, aprendeu por meio de macetes, na forma como descreveu Dejours (1992). Para esse autor, "ao longo de sua experiência e tempo de trabalho, o operário associa os comentários dos colegas, sobre a qualidade final do produto, aos barulhos da máquina. Este saber não está escrito, não se formaliza, mas simplesmente circula entre os trabalhadores, quando existe um ambiente de trabalho onde há companheirismo " (Dejours, p. 105).
Quando solicitamos que João descrevesse sobre sua função, ele ao mesmo tempo ia nos relatando acerca das atividades fazia gestos, como se estivesse manuseando os equipamentos dentro da padaria. E assim nos disse que a primeira coisa que fazia quando chegava ao trabalho era pingar os biscoitos. Foi nos relatando sobre essa atividade falando e gesticulando os braços "pega a manga de confeiteiro, enche a manga com a massa, e vai pingando em círculos redondos, tem que separar um longe um do outro pra não grudar, tem que assar em forno baixo pra não queimar". As nove e meia começava a fazer o pão francês, "pego a farinha, o fermento, os ingredientes e faço as massas, bato uns cinco minutos na lenta depois na rápida...". E assim, seguia o relato de João sobre suas atividades diárias, que iam da confeitaria à limpeza dos equipamentos e da padaria em geral.
O discurso de João ia aos poucos revelando os aspectos da organização do trabalho, que ora provinha do trabalho manual padronizado e ora requeria técnicas operatórias mecanizadas ou automatizadas.
Por meio de seus discursos nos revelou que considera sua função de extrema importância para o supermercado pois, segundo ele "A padaria é pra chamar atenção do cliente. A padaria do supermercado fica no fundo pra chamar a atenção do cliente. O cliente passa na loja inteira pra chegar na padaria, e assim, lembra das coisas que falta em casa, e então compra".
Nesse seu jeito simples, João nos revelou uma das estratégias de captura do consumidor para as compras. Mas, revelou também, o "estatuto do lucro ", este, aparece ideologicamente engendrado em seu discurso, fazendo-o relacionar o conteúdo significativo de seu trabalho ao sucesso da empresa, percebendo que um pequeno erro, ou um lapso momentâneo de atenção poderão trazer conseqüências graves, dentre as quais perder clientes e lucratividade.
O conteúdo das atividades exercidas pelo mesmo, requeriam além do volume de trabalho a capacidade técnica para executá-las.
O sentido das atividades, ou seja, o valor significativo atribuído à elas está articulado a ideologia da organização que reforçam a imagem da padaria como um local "supra-sumo". As crenças postulam que esta deve oferecer o melhor serviço e, para tanto, João deveria executar todas as tarefas com cuidado e perfeição para garantir a qualidade dos serviços e produtos ofertados.
Esta adesão ideológica, incitou o entrevistado a se dedicar de "corpo e alma" ao seu trabalho. Segundo Pagès et al., a adesão ideológica "é um elemento fundamental para o poder da empresa e para o sistema de dominação e alienação dos indivíduos" (Pagès, et al., 1993, p. 75).
Em outro momento da entrevista, relatou também que o ritmo de trabalho era intenso, que tinha pouco tempo para sentar, e que o período da manhã era o mais corrido, devido aos diferentes produtos que precisavam ser produzidos. Vemos em seu relato o exemplo do trabalhador "taylorizado", marcado pelo condicionamento e pelo comportamento produtivo, produzido pela aceleração das cadências, pelas exigências temporais e sobretudo, pela rigidez da organização do trabalho.
Quanto as condições do ambiente de trabalho, João queixou-se que este apresentava aspectos desagradáveis. O desconforto na percepção do mesmo, era devido ao ruído produzido pelas máquinas e a temperatura extremamente quente.
João relatou que trabalhava na padaria de uma unidade da empresa e que foi transferido subitamente para outra lunidade sem, portanto, ser informado sobre o motivo de tal procedimento. Pensou que foi por causa de um conflito interpessoal entre outros dois funcionários. Considerou a troca injusta porque estava adaptado naquela unidade. Tinha organizado o horário com o colega para não precisar fazer hora extra e, de repente, vem alguém e o transferiu.
Com a troca, seu saber pragmático foi colocado em cheque, pela troca de posto de trabalho de modo que, os "macetes" que permitiam o funcionamento do posto de trabalho deixaram lacunas.
Sentiu diferença no modo de funcionamento da nova unidade para onde foi transferido, disse que tinha muita pressão da gerência. Contou que ficava "enrolado" com a produção, temia não conseguir dar conta de entregar os pães no horário.
Após quatro meses neste novo local de trabalho, João chegou para trabalhar um dia e seu colega de trabalho estava de folga. Então, a gerência colocou um repositor de mercadorias para ajudá-lo.
A mudança à que nosso entrevistado foi submetido gerou o desencadeamento de situações permeadas por conflitos relacionados aos fatores psicossociais tais como: falta de espaço para dar voz às suas queixas, falta de apoio por parte do superior, falta de clareza em relação aos critérios de mudança, pressões internas e informações conflitantes, que tornaram-se extremamente estressantes. Soma-se, também, o receio de não conseguir completar as tarefas dentro do prazo, volume e qualidade estabelecidos.
Certo dia, às nove horas da manhã, João iniciou a confecção dos pães, e, durante o manuseio da máquina modeladora, prensou a mão direita. Conseguiu alcançar o botão da mesma com a mão esquerda e a desligou, tal impulso não foi suficiente para impedir que sofresse uma lesão grave, pela qual teve que se afastar do trabalho.
Quando perguntamos sobre sua percepção acerca desta ocorrência, João nos disse que no momento estava preocupado com a produção, com a entrega dos pães no horário porque o rapaz que estava de ajudante era repositor e tinha pouca experiência na padaria.
As percepções de João acerca da causalidade do acidente expressaram-se articuladas à estruturação temporal do trabalho, motivo a que o trabalhador deu especial valor na determinação da ocorrência do acidente.
De acordo com Seligmann-Silva (2002, p. 1146), "o entendimento das relações entre as características das atividades, os tempos exigidos para o cumprimento das mesmas e o controle instaurado, permitem compreender uma parte importante do que concerne à gênese das tensões que repercutem na esfera psíquica".
Sendo assim, na opinião da autora, "quanto mais rígido o controle exercido para que os modos e tempos prescritos pela direção sejam cumpridos, maior será a ansiedade gerada" (Seligmann-Silva, 2002, 1146).
Associando essas concepções de Seligmann-Silva às percepções emitidas por nosso entrevistado, no que diz respeito ao nosso tema, alguns pontos podem ser destacados para mostrarmos aspetos da organização do trabalho que podem estar relacionados a ocorrência deste acidente.
O trabalhador executava atividades que envolviam riscos ocupacionais, o conteúdo das mesmas exigia grande atenção e concentração. Existiam metas de produção (prazo, volume e qualidade) que necessitavam ser atingidas. Diante da situação, existiu o temor de incorrer falhas no cumprimento destas metas e consequentemente sofrer sanções. A tarefa era executada sob controle de um supervisor percebido como autoritário, o que dificultava a qualidade do relacionamento entre ambos. A situação do momento aumentava a ansiedade resultante desse conjunto de aspectos da organização do trabalho que pode ser agravada pelas condições do ambiente físico do trabalho, por exemplo: barulho dos equipamentos.
Desse modo, percebemos que somam-se um conjunto de fatores os quais têm relação direta com a gênese do acidente.
Existem ainda alguns aspetos da organização do trabalho que devem ser assinalados, por conter características de exposição do trabalhador ao risco.
João, trabalhava numa loja considerada por ele, tranqüila pois conseguia juntamente com seu colega, dar conta da produção sem precisar fazer horas extras. Tinha criado um local em se sentia protegido, e cujos relacionamentos interpessoais ocorriam de forma harmoniosa.
Conforme foi nos relatando acerca de seu antigo posto de trabalho, percebíamos que este local tinha um valor significativo para ele. Esta significação aparece associada ao tempo de trabalho no local, à formação dos vínculos afetivos, ao reconhecimento e crescimento profissional, além da proximidade física deste ambiente com sua residência.
Para João, este posto tinha, enfim, um valor de lutas e de conquistas. Ocorreu que ele foi transferido de unidade, de forma brusca sem, contudo, receber explicações sobre os motivos dessa ação. Manifestou-se indignado e injustiçado com a falta de informação sobre essa atitude.
Essas circunstâncias interferiram de forma expressiva no conteúdo significativo do trabalho, o que levou o entrevistado a manifestar sentimentos de indignação e baixa auto-estima por não conseguir compreender os motivos da transferência e nem mesmo ter tido a oportunidade de discutir sobre a situação.
Ao ser colocado em um novo posto de trabalho, João precisava construir novos vínculos, já que a transferência ocasionou uma quebra de vínculos psico-afetivos com seus colegas do local de trabalho que deixara.
Nesse novo posto, João percebeu que o "chefe exigia mais". Conhecedor da responsabilidade de sua função, atuou pressionado pois conhecia os riscos decorrentes do não cumprimento das metas, produção dos pães e outros confeitos dentro dos parâmetros de qualidade. Como por exemplo: fornecer os pães quentinhos nos horários de maior procura pelos clientes.
Vale ressaltar que os fatores que compõem o quadro de organização patogênica do trabalho correspondem também aos "conflitos presentes nos relacionamentos interpessoais, especialmente aqueles que ocorrem entre subordinados e chefes, também emergem como fonte de tensão e sofrimento " (Lima et al., 2002, p. 240).
João conseguia cumprir com suas tarefas pois tinha um bom auxiliar. Porém, num dia em que o ajudante estava de folga, o chefe escalou para substituir o empregado, um rapaz que atuava como repositor e sendo este, na opinião do entrevistado, desqualificado para a função.
Eis aqui o mecanismo de tensão decorrente da divisão das atividades que, segundo estudiosos, apresenta um grande número de implicações para a Saúde Mental no Trabalho (SMT).
Diante da falta do auxiliar, tendo que trabalhar com um ajudante sem experiência e capacitação técnica para executar as atividades da padaria, João teve que se desdobrar, tornar-se polivalente, pontos que deixaram em evidência a sobrecarga.
A substituição do auxiliar da padaria visou apenas o preenchimento de uma lacuna no quadro funcional não sendo suficiente para reduzir o ritmo e a sobrecarga imposta no local. Isso contribuiu para o aumento da tensão de João diante do temor de não conseguir superar as exigências da produção.
Às nove horas da manhã, horário considerado pelo entrevistado como de "pico", ele sofreu o acidente de trabalho.
Do ponto de vista da ortodoxia empresarial sobre análise de acidentes, João cometeu um "ato inseguro " ao colocar a mão na máquina com a mesma em movimento.
Entretanto, quando analisamos o acidente de João tomando como base o contexto, devemos considerar que diferentes fatores encontraram-se correlacionados a essa ocorrência. Nosso questionamento é: por quê durante quase dez anos manuseando esse tipo de máquina João nunca sofreu qualquer ferimento e agora vem a sofrer um acidente grave?
No dia do acidente João estava há quatro meses neste posto de trabalho, estava ainda em processo de formação de vínculos, se adaptando e, portanto, se encontrava num estado de ansiedade, que expunha seu equilíbrio metal às ameaças do cotidiano. Ameaças produzidas pela pressão, que surge explícita nas exigências das tarefas. Diante do sofrimento mental, que não passa ignorado nessas situações, o risco físico torna-se despercebido por João, momento em que o acidente ocorre.
O Momento Posterior ao Acidente
No momento da entrevista João estava há dois dias do retorno ao trabalho, do qual ficou afastado aproximadamente sete meses, dentre eles um mês correspondeu ao período de férias, que usufruiu na seqüência da alta médica.
Perguntamos como se sentiu durante o afastamento. Relatou que, durante no período que ficou afastado, no primeiro mês estava ansioso para voltar ao trabalho, depois percebeu que mesmo com as sessões de fisioterapia sentia muita dor na mão. Comentou ainda sobre o sentimento de solidão que enfrentou durante o afastamento, devido ao distanciamento dos amigos.
De acordo com Glina & Rocha (2000, p. 60), "o trabalho representa um papel importante na necessidade de satisfação social ". Desse modo, as queixas de João trazem indicativos da falta de atendimento dessa necessidade básica durante o período em que ficou afastado.
Quanto ao retorno, disse que sentia medo da máquina. Sonhou que a mesma estava triturando duas pessoas. O medo, aqui, pode ser entendido como uma resposta tardia ao evento que o mesmo experimentou, o qual implicou em lesão grave e extrema angústia.
A situação posterior ao acidente incluiu "episódios de repetidas revivescências do trauma sob a forma de memórias que se impõem à consciência clara ou em sonhos (pesadelos)" (Glina & Rocha, 2000, p. 34).
Relatou que sentia dor na mão apesar de ter recebido alta médica. Apontou o desejo de mudar de setor e disse que sua mãe ficava o tempo todo pedindo para ele mudar de função. Está cursando o supletivo, tem interesse na área de eletrônica e sabe que não é possível mudar de função.
Diante desses relatos, percebemos que o entrevistado apresentou atitude de evasão às circunstâncias semelhantes ou associadas ao evento estressor, até então, ausentes antes do acidente.
Começou a desenvolver mecanismos para evitar as atividades laborais, manifestou interesse diminuído em relação a execução das atividades que executava antes de sofrer o acidente, denotou necessidade de distanciamento do local e do equipamento de trabalho e apresentou sintomas de estado de tensão.
Contou também que nunca havia pensado que aquela máquina poderia fazer o estrago que fez, que nunca recebeu treinamento de segurança, nem mesmo orientação para os cuidados necessários para o manuseio do equipamento. Confessou que a partir de então sentia medo de manuseá-la.
O medo se converte em fonte de tensão, incertezas e insegurança que "responde por um aspecto concreto da realidade e exige sistemas defensivos" (Dejours, 1992, p. 64).
Mediante os depoimentos, percebemos que havia uma tomada de consciência exata do risco por João, o que o fez sentir dificuldade de execução das atividades diárias que executava antes.
Notava-se que, mesmo tendo desaparecido as seqüelas físicas resultantes do acidentes, o entrevistado continuava manifestando dores na mão. A persistência da dor poderia estar associado ao que Dejours (1992) denominou de "Síndrome Subjetiva Pós-Traumática", que caracteriza-se por uma variedade de sintomas que surgem como forma de proteger o trabalhador do retorno ao trabalho.
A situação do afastamento aparece como elemento desencadeador desse quadro podendo produzir a emergência de transtornos psíquicos e somáticos, conforme constatamos em estudos anteriores (Schmidt et al., 2002).
No caso de João, retornar ao trabalho implica necessariamente em enfrentar individualmente o risco, o que aumentava a tensão, pois, na padaria, tudo lembrava a possibilidade da ocorrência de um novo acidente.
Além de se defrontar com os riscos reais do local de trabalho, João teria que enfrentar a pressão advinda da organização do trabalho e sabia que teria que sobreviver a isto tudo pois, afinal, existe ainda outra exigência gerada pela "Disciplina da Fome", conforme descreveu Dejours (1992). O emprego é para João a fonte de sua sobrevivência e de sua família, pois, como nos relatou a manutenção dela depende de seu salário.
Construir uma nova trajetória profissional é hoje para João uma necessidade que inquieta seu cotidiano. Há dúvidas sobre seu futuro profissional. Com a necessidade de aprender rápido, não tanto para vencer a concorrência, mas como estratégia individual para conseguir outro emprego e sair desse ambiente de trabalho percebido como penoso, revestido de sofrimento, a busca por novos conhecimentos torna-se uma outra fonte de tensão.
Diante dos fatos, João "passa a ser a prova viva e concreta de que o perigo existe. Portanto, não pode mais fazer parte do coletivo, e pressente o isolamento em que irá se sentir, separado do grupo para o qual será agora um elemento perturbador, já que sua presença desmente o que a ideologia coletiva procura afirmar – a invunerabilidade ante os riscos" (Seligmann-Silva, 2002, p.1165).
Considerações Gerais
Finalizando, assinalamos que as situações vivenciadas por João, mostram o exemplo de um trabalhador vítima do sistema capitalista de produção.
Sua história, embora com suas particularidades, representa o drama vivenciado por outros trabalhadores, sejam padeiros ou executantes de outras funções, alocados em distintos espaços de trabalho, aprisionados pela rigidez da organização do trabalho, onde o sofrimento humano faz morada.
Estar em contato com o coletivo de trabalhadores nesses últimos anos nos possibilitou perceber o quanto vivem sob pressão no ambiente de trabalho, situação que não é específica de uma empresa, mas que se estende pelas várias empresas, organizações e/ou instituições, nos diferentes ramos de atividades.
Em recente pesquisa desenvolvida no âmbito da Saúde Coletiva (Schmidt, 2003) abordamos acerca dos aspectos relacionados à ocorrência dos acidentes do trabalho tomando como referência a organização do trabalho e a relação desta com essas ocorrências. Nos deparamos com a multiplicidade de fatores que põem em risco a saúde física e mental dos trabalhadores e, dentre esses, a pressão mostrou-se um dos mecanismos que se encontra presente quando o assunto é acidente do trabalho.
No contexto do mundo do trabalho, independentemente do local, a pressão está engendrada e se constitui num mecanismo de poder pelo qual a dominação e a sujeição perpassam, e pelo qual, milhares de trabalhadores sofrem.
Sofrer de pressão, mas o que é isso? Do discurso dos trabalhadores podemos extrair vários temas que representam esse sofrimento. A coletividade trabalhadora sabe bem quais são os pontos de pressão no trabalho; e sabem mais, sabem muitas vezes os danos que viver sob pressão podem trazer à saúde. Conseguem, em algumas situações, criar mecanismos coletivos de defesa contra a pressão, mas as limitações para lutar contra ela param por aí.
No mundo do trabalho parece ser quase impossível não existir pressão. Ela existe efetivamente e se engendra por diferentes meios.
Refletindo sobre o conteúdo trazido por diferentes trabalhadores, durante esse nosso contato com o mundo do trabalho, pudemos extrair vários temas que se repetem obstinadamente como um refrão coletivo. Dentre os aspectos da organização do trabalho que mais acometem os trabalhadores, se destaca a pressão proveniente dos mecanismos de poder.
Não há entrevista em que não apareçam focos dela. Em algumas situações, os trabalhadores têm consciência da mesma e apontam suas bases; em outros discursos, esses são tomados pelos mecanismos de pressão e esta passa despercebida pois se instala de forma sutil, mas existe, está lá, atuando fortemente.
Descreveremos aqui algumas formas de funcionamento dos dispositivos de pressão, no entanto não significa que não existam outros meios desses mecanismos s engendrarem no contexto organizacional.
Desse modo temos a pressão decorrente do contato forçado com uma tarefa. Esta surge principalmente em situações em que o trabalhador atua em tarefas que considera desinteressante, as atividades são realizadas meramente por necessidades, em que o mesmo é forçado a atuar obrigatoriamente.
Em algumas situações o trabalhador se vê também obrigado a desenvolver tarefas mesmo não sendo devidamente qualificados à elas. Temos, então, a pressão advinda da falta de qualificação. Nestas situações o trabalhador sente-se pressionado, obrigado a agir por seus próprios meios e adaptar-se obrigatoriamente ao conteúdo da tarefa. Elevam-se as queixas desse tipo de pressão, sobretudo nos casos de desvio de função, situações nas quais o trabalhador sente-se "usado", injustiçado, dividido, tendo que ser flexível e polivalente.
Outra forma de engendramento da pressão advém do trabalho rigidamente organizado. Neste atua a pressão normativa, situações relacionadas ao cumprimento de padrões de qualidade e especificação de produtos e/ou serviços. A necessidade de seguir as normatizações de Programas de Qualidade insere mecanismos de controle e vigilância e, dessa forma, acentuam a pressão.
Existe ainda a pressão hierárquica, proveniente das relações entre chefias e subordinados, situações em que o trabalhador é obrigado a agir sob o mando do chefe. São relações estabelecidas literalmente entre dominantes e dominados, onde se vê ainda os traços culturais de relações similares às de colonizador e colonizado.
Soma-se a estas formas, a pressão da produtividade. Nela o esforço do trabalhador corresponde à necessidade do cumprimento de metas, daí a preocupação constante com o prazo, volume e produção.
A história de João nos dá indicativos de como um acidente de trabalho pode ser decorrente dessa pressão coercitiva e patogênica engendrada nos modos de funcionamento da organização do trabalho.
Não temos a onipotência de explicar a ocorrência dos acidentes de trabalho apenas pelos dispositivos da pressão, mas pensamos que os pesquisadores envolvidos com as investigações dos acidentes de trabalho devem torná-los como fio condutor para a causalidade dessas ocorrências.
Para tanto, é fundamental a atenção à fala dos trabalhadores, já que através dela é possível obter informações sobre os riscos à que estão expostos.
Para finalizar, resta-nos reforçar que cabe aos profissionais envolvidos com a análise dos acidentes de trabalho considerar a relação entre os aspectos da organização do trabalho e a gênese dos acidentes. Somente essa visão sistêmica poderá, ao nosso ver, romper com a relação clássica e vigente de culpabilidade dos trabalhadores pelos acidentes à que são vítimas e, desse modo, poderá contribuir efetivamente para implementação de ações que visem a melhoria das condições laborais e, conseqüentemente, a redução dos riscos à saúde dos trabalhadores.
Por último, caro leitor, que também é um consumidor:
Se o pão não estiver quentinho, não culpe o padeiro, ele pode estar sozinho.
Esfarelado, padeiro sobrecarregado.
Sem aparência, resultado das cadências.
Se estiver fora do padrão, pressão.
Confeitos queimados, com muito ou pouco fermento,
Sofrimento humano e seus efeitos.
Sem sabor, quebra nos macetes do trabalhador.
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