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Psicologia para América Latina

versión On-line ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  no.34 México dic. 2020

 

Estilos de pensar e criar em universitários da área de gestão de pessoas

 

Styles of thinking and creating in undergraduates of the management area

 

Estilos de pensar y crear em universitarios de área de géstion de personas

 

 

Eliana Santos de FariasI; Tatiana de Cássia NakanoII; Bruno Bonfá-AraujoIII; Solange Muglia WechslerII

ICentro Universitário São Camilo, São Paulo-SP, Brasil
IIPontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo-SP, Brasil
IIIUniversidade São Francisco, Campinas, São Paulo-SP, Brasil

Contato com os autores

 

 


RESUMO

Os estilos de pensar e criar são definidos como maneiras preferenciais de expressão criativa e envolvem a intersecção entre as habilidades cognitivas e características de personalidade, dentro de um contexto maior, o ambiente. Objetivou-se investigar tais estilos em uma amostra composta (M = 24,55, DP = 5,73) de estudantes do 2º semestre do curso de tecnólogo em Administração, com ênfase na área de gestão de pessoas, os quais responderam à Escala de Estilos de Pensar e Criar (EEPC). Os resultados foram consonantes com a literatura ao mostrar diferenças somente em relação a variável sexo, em que o estilo Lógico-Objetivo se mostrou influenciado por essa variável, a favor das mulheres. A idade não exerceu influência em nenhum dos estilos.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Criatividade; Universitários.


ABSTRACT

Thinking and creating styles are defined as preferred ways of creative expression and involve the intersection between cognitive skills and personality characteristics, within a larger context, the environment. The objective was to investigate such styles in a composite sample (M = 24.55, SD = 5.73) of students of the 2nd semester of the Administration technologist course, with emphasis on the area of people management, who responded to the Styles of Thinking and Creating (EEPC). The results were consonants with the literature by showing differences only in relation to the gender variable, in which the Logical-Objective style was shown to be influenced by this variable, in favor of women. Age did not influence any of the styles.

Keywords: Psychological assessment; Creativity; College students.


RESUMEN

Los estilos de pensamiento y creación se definen como formas preferidas de expresión creativa e implican la intersección entre las habilidades cognitivas y las características de la personalidad, dentro de un contexto más amplio, el entorno. El objetivo fue investigar dichos estilos en una muestra compuesta (M = 24.55, SD = 5.73) de estudiantes del segundo semestre del curso de tecnólogo de Administración, con énfasis en el área de gestión de personas, que respondieron al Estilos de pensamiento y creación (EEPC). Los resultados fueron consonantes con la literatura, mostrando diferencias solo en relación con la variable de género, en la cual el estilo Lógico-Objetivo fue influenciado por esta variable, a favor de las mujeres. La edad no influyó en ninguno de los estilos.

Palabras clave: Evaluación Psicológica; la creatividad; Universidad.


 

 

Introdução

De modo geral, estilos são formas preferenciais ou certos padrões que a pessoa apresenta na forma como adquire, organizam e usam a informação (Anastasi & Urbina, 2000), refletindo regularidades em relação aos modos de perceber, resolver problemas e tomar decisões (Messick, 1984). Dada sua relevância para a compreensão do indivíduo, uma série de estilos vêm sendo investigados na literatura científica como os estilos de ensinar, os cognitivos, interpessoais, de pensamento, parentais, aprendizagem, de vínculo, entre outros. Aqui interessa aos autores os estilos de pensar e criar.

Definidos como maneiras preferenciais de expressão criativa, os estilos podem trazer importantes informações sobre tendências de comportamento, sentimento pensamento e expressão da criaitivdade (Nakano, 2010; Nakano, Santos, Martins, Zavarize, & Wechsler, 2010; Santos, 2007; Santos & Wechsler, 2008; Wechsler, 2008). Assim, pesquisadores tem focado seu interesse em conhecer e compreender os estilos de pensar e criar que se manifestam de forma particular em cada indivíduo, o que permite atuar em diferentes campos (Garcês, Pocinho, Wechsler, & Jesus, 2014; Wechsler, 2007).

Tais estilos estariam localizados dentro da intersecção de dois grandes conjuntos, quais sejam as habilidades cognitivas e as características de personalidade. Ainda, essas se localizam dentre de um conjunto maior, o ambiente (Wechsler, 1999). Nessa compreensão, a criatividade ocorrerá a partir do entrelaçamento de uma série de aspectos, envolvendo desde as habilidades cognitivas, as vivências e experiências pessoais e o ambiente (Garcês et al., 2014). Os 3 conjuntos, formados por aspectos sociais, afetivos e cognitivos, deveriam estar inter-relacionados de forma harmônica (Wechsler, 2004).

Com o objetivo de se delinear as características que seriam comuns a estes indivíduos, as biografias de pessoas altamente criativas foram durante muito tempo alvo das investigações de pesquisadores, com a finalidade de que, uma vez identificadas, pudessem diferenciar esses indivíduos criativos dos demais (Siqueira, 2001). De acordo com Monreal (2000), a partir da proposição de alguns estilos cognitivos, estudos foram realizados para saber quais destes estilos seriam próprios da pessoa criativa.

Importância deve ser dada à constatação de que, apesar do reconhecimento da existência de vários estilos, não existem estilos "certos" e estilos "errados", e sim estilos individuais que diferem de uma pessoa para outra. Os estilos não predizem o grau de criatividade (nível), mas a natureza (Lubart, 2007), ou seja, a forma como a pessoa utiliza a sua criatividade, permitindo compreender o funcionamento dos indivíduos visto que os estilos não representam um conjunto de capacidades e sim um conjunto de preferências (Sternberg, 1997). Assim, sua importância se ampara na possibilidade de compreensão do indivíduo criativo, uma vez que evidencia a existência de várias formas de expressar a criatividade (Wechsler, 1999).

Foi apenas a partir da década de 2000 que o conceito começou a surgir na literatura (Siqueira & Wechsler, 2004). Consequentemente o interesse dos pesquisadores na temática deu origem a alguns modelos teóricos, tais como o proposto por Kirton (1989). Seu modelo destaca a existência de dois estilos criativos principais: o inovador e o adaptador, os quais se situariam em polos opostos. Enquanto o estilo adaptador prefere trabalhar com situações bem definidas, propondo ideias para mudar paradigmas e estruturas já existentes, os inovadores trabalham melhor quando precisam modificar visões e métodos, oferecendo soluções que provocam uma desestruturação das soluções já conhecidas, sendo, portanto, dificilmente aceitas imediatamente (Kirton, 1989; Tullett, 1997).

Outra proposta para investigação dos estilos criativos, mais direcionada para os aspectos cognitivos, foi realizada por Sternberg e Grigorenko (1997). Essa teoria prevê a existência de 3 tipos de estilos: legislativo, executivo e judicial. Nas pessoas criativas, o legislativo predominaria durante o processo de geração de ideias, descrevendo indivíduos que apreciam criar e formular, elaborando as próprias regras. O judicial se mostraria presente no momento de avaliação e julgamento dessas ideias, caracterizando pessoas que apreciam a análise e a avaliação de regras e procedimentos. Por fim, o executivo atua durante o processo de implementação da ideia, caracterizando pessoas que gostam de seguir regras, sendo que, para resolver ou controlar situações utilizariam formas já existentes de pensar e agir (Sternberg, 1997; Sternberg & Grigorenko, 1997).

Um terceiro modelo, desenvolvido por Kumar e Holman (Kumar, 2007), originou o Creativity Styles Questionnaire (CSQ), instrumento que tem por objetivo medir estilos de crenças e abordagens que as pessoas usam na criatividade do dia a dia, compreendendo sete estilos: crença em processos inconscientes, uso de tecnologias, uso de outras pessoas, orientação final para o produto, superstição, controle e comportamento autorregulativo e uso de cinco sentidos. Por fim, o Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) (Myers-Briggs & Briggs, 1977), baseado na teoria de personalidade de Jung permite a classificação em duas atitudes (extroversão-introversão), duas funções de percepção (sensação-intuição) e quatro funções de julgamento (pensamento-sentimento, julgamento-percepção) (McCaulley, 2000). Devido ao fato de as quatro escalas possuírem duas dimensões cada, o instrumento permite 16 combinações, cada uma representando um único e distinto perfil de personalidade (Pittinger, 2005).

Por fim, Byrd foi outro teórico que estudou os estilos de criar denominado de Creatix (Guastello, Shissler, Drescoll, & Hyde, 1998). Para desenvolver sua teoria, o autor considerou dois eixos principais relacionados ao pensamento e sentimento das pessoas criativas: motivação para a criatividade e comportamento de risco. A partir desses eixos, oito estilos criativos foram arranjados e diferenciados, recebendo o nome de Copiador, Sonhador, Prático, Modificador, Crítico, Planejador, Sintetizador e Inovador. No entanto, no Brasil, poucas referências foram encontradas para tentar explicar melhor este seu modelo teórico.

Dentre os instrumentos resultantes desses modelos teóricos, é importante destacar que nenhum deles foi adaptado e validado para uso na população brasileira (Nakano, 2010). No Brasil, o único instrumento que avalia a interação dos estilos com a criatividade foi desenvolvido por Wechsler (2006), intitulado Escala de Estilos de Pensar e Criar (EEPC), um instrumento de identificação fundamentado nas características da pessoa criativa.

A escala EEPC foi elaborada, a priori, com cinco diferentes estilos: cauteloso-reflexivo (sujeitos que optam por uma maior prudência e reflexão e evitam improviso), inconformista-transformador (indivíduo dinâmico, inquisitivo e idealista), emocional-intuitivo (pessoa que se apoia nas emoções, intuições e na sua subjetividade na tomada de decisões), relacional-divergente (tenta incluir e conciliar as distintas opiniões dos indivíduos) e lógico-objetivo (sujeito racional e pragmático, com preferência por atividades estruturadas). A EPC na sua versão brasileira possui formato tipo Likert de 6 opções de respostas (1 - discordo totalmente, 2 – discordo, 3 – discordo parcialmente, 4 – concordo parcialmente, 5 – concordo, 6 – concordo totalmente). Para ser possível investigar os cinco diferentes tipos de estilos, foram elaborados 20 itens para cada um destes cinco diferentes estilos, totalizando uma escala de 100 itens (Wechsler, 2006a, 2009). Uma série de estudos já foi conduzida com o instrumental em diferentes contextos e relações com outros construtos (clima social na família, excelência criativa, liderança, influência da idade e gênero, motivação, estilos cognitivos, percepção de práticas criativas de professores), bem como em diferentes populações (estudantes de Psicologia e Administração, futuros gestores músicos e arquitetos, universitários das áreas de humanas e sociais aplicadas, população adulta portuguesa, gerentes e subordinados na área organizacional, mulheres brasileiras) (Alencar & Fleith, 2016; Almeida & Nogueira, 2016; Garcês, 2013; Garcês et al., 2014; Garcês et al., 2015; Homsi, 2006; Lobo & Lobo, 2012; Martins, 2009; Mundim, 2004; Mundim & Wechsler, 2007, 2015; Nakano, 2010; Nakano, Santos, Martins, Zavarize & Wechsler, 2010; Peixoto, 2011; Reis, 2001; Siqueira & Wechsler, 2009; Wechsler, 2006a, 2006b, 2009).

Especificamente em relação à população universitária, os resultados demonstraram que não existem diferenças entre gênero e curso (Psicologia ou Administração) em nenhum dos estilos avaliados pelo instrumento (Nakano, Santos, Martins, Zavarize, & Wechsler, 2010). No entanto, em outro estudo, alunos da área biológica apresentaram maiores médias para o estilo de pensar e criar do tipo pensamento-divergente e, ao passo que a área de humanas se destacou no estilo de pensar e criar do tipo cauteloso-reflexivo (Homsi, 2006). O estudo conduzido por Godoy, Ottati e Noronha (2009) demonstrou que estudantes de Psicologia apresentam maiores médias nos estilos do tipo relacional-divergente e inconformista-transformador, tendo sido notada a ausência de diferença significativa nos estilos de acordo com o nível de escolaridade superior quando comparado com o ensino.

Na década de 2010, Wechsler publicou um primeiro estudo de reanálise dos itens da EEPC. Este estudo com uma amostra de 1.749 brasileiros (55% mulheres), com idades entre 14 a 70 anos (M = 24,5; DP = 8,9), todos residentes em quatro estados brasileiros (93% de São Paulo), com ensino médio ou superior em vários cursos, de instituições de ensino superior pública ou privada, decorriam principalmente de classe média. O exposto nesta publicação foi fundamentado por meio de uma progressão de procedimentos estatísticos como análise fatorial exploratória (n = 583) e confirmatória (n = 584), evidências de validade cruzada do modelo final de CFA (n = 582). As autoras afirmaram ser possível reduzir o tamanho da escala de 100 itens, originalmente publicados, para uma versão curta com 60 itens distribuídos pelos cinco fatores originais (fator 1 = 23, fator 2 = 18, fator 3 = 8, fator 4 = 4 e, fator 5 = 7 itens) que atendem aos parâmetros psicométricos internacionais. Esta versão ainda não consta de avaliação pelo Conselho Federal de Psicologia (Wechsler & Byrne, 2016).

Mesmo com todo este exposto, considerando-se que ainda são muito limitados os estudos sobre EEPC na cultura brasileira, quando comparado com outras áreas do estudo da criatividade ou mesmo com os estilos cognitivos (Wechsler, 2004), tal lacuna não nos permite afirmar, seguramente, a prevalência de algum deles nos indivíduos criativos brasileiros, de modo que a necessidade de pesquisas se justifica (Nakano, 2010). Assim, tomando como foco a investigação da relação entre os Estilos de Pensar e Criar e as diversas áreas de formação e atuação profissional, esse estudo objetivou identificar os estilos de pensar e criar de universitários de um curso de tecnologia com foco em gestão de pessoas, categorizado na grande Área das Ciências Sociais Aplicadas do Ministério de Educação brasileiro.

 

Método

Frente aos objetivos lançados anteriormente, o percurso metodológico feito neste estudo temporariamente transversal, de natureza prática, em que se delimitou a uma pesquisa de campo. Também se nomeou por um delineamento de levantamento, do mesmo modo em que optou por abordar o problema estudado quantitativa e descritivamente.

Participantes

A amostra foi constituída por 222 participantes (M = 24,55, DP = 5,73), sendo 179 do sexo feminino (80,6%). Todos os sujeitos de pesquisa eram estudantes do segundo semestre no curso de tecnologia em Administração, com ênfase na área de gestão de pessoas, pertencentes a uma única Instituição de Ensino Superior (IES) localizada na região norte do município de são Paulo (SP, Brasil).

Os participantes de pesquisa por frequentarem uma instituição de ensino superior particular, a maioria cumpria turno invertido, ou seja, os alunos que estudavam no período matutino trabalhavam na iniciativa privada e/ou pública do estado no período vespertino e noturno, ao passo que os estudantes que frequentavam aula no período noturno, geralmente trabalhavam durante o dia. Esses dados sobre serem estudantes e ao mesmo tempo trabalhadores tornaram-se relevante ao participarem da pesquisa e conhecerem mais sobre seus próprios estilos. Essa informação foi oferecida em outro momento a título de retorno de pesquisa.

Instrumento

Escala de Estilos de Pensar e Criar (EEPC - Wechsler, 2006a): tem um cabeçalho que permitiu qualificar a amostra de maneira sociodemográfica. A escala foi baseada nas características de pessoas criativas descritas na literatura científica internacional, investiga cinco diferentes estilos de pensar e criar, sendo, o Cauteloso-Reflexivo (CR, com 32 itens), o Inconformista-Transformador (IT, com 32 itens), o Lógico-Objetivo (LO, com 11 itens), o Emocional-Intuitivo (EI, com 7 itens) e o Relacional-Divergente (RD, com 7 itens). A escala é composta por 100 itens e respondida em um formato tipo Likert de 6 pontos (1= discordo totalmente até 6= concordo totalmente). Os três primeiros estilos são apontados como estilos principais e os outros dois como estilos secundários.

A EEPC tem evidências de validade baseada na estrutura interna do instrumento foram constatadas a partir da análise fatorial exploratória, a qual confirmou a existência de cinco estilos, bem como a precisão desses cinco fatores, a qual oscilou entre um escore de 0,968 e 0,518. Posteriormente, as evidências de validade baseadas em variáveis externas do tipo critério apontaram para a capacidade de o instrumento diferenciar grupo de indivíduos que apresentam produção criativa reconhecida e não reconhecida, daqueles que considerados não criativos (Wechsler, 2006a).

Procedimentos

Após aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa, a instituição de ensino superior paulistana foi contatada e, um horário foi agendado para a coleta de dados. Somente participaram desta pesquisa os sujeitos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o restante foi dispensado nesse momento de atividade. A coleta de dados se deu de modo coletivo e, em sala de aula, foi realizada em uma única sessão (em horário de aula regular do curso/turma) tanto para alunos do período matutino como para os estudantes do período noturno. Cada sessão teve uma duração média estimada de 30 minutos. Assegura-se que todos os procedimentos éticos previstos em documentos brasileiros para pesquisa com seres humanos foram seguidos ao longo da pesquisa.

Análise de dados

As respostas dos sujeitos a cada um dos itens foram digitadas em um banco de dados. Este banco também foi configurado e, posteriormente anotado com a pontuação bruta de cada sujeito em cada um dos cinco estilos de pensar. A partir desses dados foram conduzidas estatísticas descritivas para melhor compreensão da amostra estudada.

Foi utilizada a análise de variância (ANOVA) para verificar a diferenças de média da variável idade nos resultados dos sujeitos. Para a variável sexo dos participantes optou-se por usar o teste t de Student. Por último, foi realizada uma regressão linear para compreensão da variância de resultados dos indivíduos na escala de Estilos de Pensar e Criar (variável dependente) em relação à idade e sexo (variáveis independentes). Para todas as análises aqui realizadas utilizou-se do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

 

Resultados

Inicialmente buscou-se compreender a média da amostra em função da variável sexo. A Tabela 1 apresenta as médias, desvios-padrão e testes t de Student dos resultados obtidos a partir das pontuações do sexo feminino e masculino de acordo com cada um dos cinco estilos de pensar e criar avaliados pela Escala de Estilos de Pensar e Criar, bem como o tamanho do efeito a partir do d de Cohen.

 

 

Os resultados demonstraram que, de maneira geral, os participantes do sexo feminino apresentaram médias mais elevadas que os participantes do sexo masculino em todos os cinco estilos. É possível verificar que os participantes que anotaram o sexo feminino apresentaram médias significativamente mais altas no estilo Lógico-Objetivo (t (1)=47,72; DP=6,40) do que os homens (t (1)=44,72; DP=7,71) com um tamanho de efeito médio (d=0,45).

Em seguida, o mesmo tipo de análise foi conduzido para avaliar a influência da variável idade. Dada à amplitude, três agrupamentos foram gerados, a partir de quartis: menores de 25 anos (percentil 25), entre 25 e 75 anos (percentil 50) e acima de 70 anos (percentil 75). No primeiro quartil (G1) ficaram aqueles sujeitos com até 22 anos de idade, no segundo quartil (G2) foram colocados àqueles com idades entre 23 e 29 anos e, no terceiro quartil (G3), os participantes com idade igual ou acima de 30 anos. Os grupos foram então comparados por meio da Análise de Variância. Os resultados demonstraram que nenhum dos cinco estilos de pensar e criar investigados se mostrou influenciado pela idade atual dos participantes (Tabela 2).

 

 

Na regressão linear, com o objetivo de verificar a existência de uma possível relação funcional entre as variáveis dependentes (os cinco estilos de pensar e criar) com duas variáveis independentes (sexo e idade). Buscou-se, mais especificamente, compreender em que proporção à idade e o sexo assinalados pelos sujeitos de pesquisa seriam capazes de explicar os estilos de pensar e criar investigados.

É possível afirmar que os resultados demonstraram, como pode ser visto na Tabela 3, que nenhuma das relações encontradas, no que diz respeito à idade dos sujeitos de pesquisa, apresentou resultado significativo. Em relação à análise da variável sexo dos participantes, os resultados demonstraram um efeito isolado dessa variável sobre o estilo Lógico-Objetivo (B=-3,00; SE=1,13; β=-0,17; t=-2,65; p=0,01), indicando que somente 0,02% deste estilo é explicado pelo sexo. Assim, ainda que o resultado tenha se mostrado significativo, a explicação dessa variável se mostra bastante diminuta.

 

 

Discussão

Esse estudo teve como objetivo investigar os estilos de pensar e criar de um grupo específico de universitários. Nesse sentido a possibilidade de conhecer os estilos que cada indivíduo utiliza para se expressar criativamente assume um papel importante quando tal conhecimento é analisado sob a ótica da orientação vocacional e seleção profissional, visto que permite conhecer as áreas preferenciais, de modo a guiar sua escolha e área em que provavelmente conseguirá se expressar de forma mais livre, desvendando suas potencialidades criativas (Wechsler, 2006a).

Os resultados demonstraram que a maior parte dos estilos de pensar e criar não se mostram explicáveis pela variável sexo, com exceção do estilo Lógico-Objetivo, o qual apresentou média mais alta no sexo feminino tanto nos resultados apresentados após a utilização do teste t quanto na análise de regressão. Pessoas que apresentam esse estilo predominante podem ser descritas como aquelas em que se destacam com o pensamento lógico, racional e pragmático, que preferem trabalhar com tarefas já estruturadas nas quais existam soluções conhecidas, gostam de seguir regras, são persistentes, refletem bastante antes de agir, controlam emoções e sentimentos, gostam de situações práticas e evitam improvisação e apresentam dificuldades de trabalhar em grupo (Wechsler, 2006a).

De acordo com os resultados obtidos, a variável sexo não exerceu explicação na maior parte dos estilos, concordando com os resultados obtidos previamente. Nakano et al. (2010) e Siqueira e Wechsler (2004) relataram que não foram encontradas diferenças em nenhum dos estilos. Considerando-se que os dados relativos à explicação do sexo na criatividade são divergentes e inconclusivos (Baer, 1999; Fleith & Alencar, 2008), não se pode afirmar que haja diferenças, nas medidas de criatividade a favor de um grupo ou outro. Nesse sentido, uma das possíveis hipóteses explicativas ampara-se no conceito de androgenia psicológica, segundo a qual, os indivíduos criativos apresentariam uma série de características favorecedoras da criatividade, assemelhando-se mais entre si, independente de qual sexo pertencem (Candeias, 2008; De la Torre, 2008; Montuori & Purser, 1995; Runco, 2007). A ausência de diferenças em outros tipos de estilos também é relatada na literatura científica, tais como nos estilos cognitivos (Santos, Sisto & Martins, 2003) e estilos de personalidade (Nasetta, Garelli, & Masramon, 2009).

Por outro lado, se analisarmos o fato de que diferenças significativas foram encontradas somente em relação ao estilo Lógico-Objetivo, poderemos verificar que tal achado, em parte, se assemelha aos relatados por Garcês et al. (2014), os quais relataram diferenças significativas somente para o estilo de pensar e criar Lógico-Objetivo. No entanto no estudo português encontraram valores superiores para o sexo masculino e, neste estudo o sexo feminino teve médias maiores. Observa-se que nos dois estudos foi usado o mesmo instrumento brasileiro de 100 itens (Wechsler, 2006) sendo importante destacar que, naquele país, uma série de estudos ainda vem sendo conduzidos com a finalidade de investigar as qualidades psicométricas da escala (Garcês, 2013; Garcês et al., 2015).

Em relação à explicação da idade, somente o estudo de Wechsler (2009) foi encontrado investigando essa variável. Enquanto no estudo aqui relatado não foram encontradas diferenças devido à idade dos participantes, a autora encontrou explicação da idade nos estilos cauteloso-reflexivo, lógico-objetivo e relacional-divergente, relacionadas ao sexo do participante. Assim, no estilo CR os homens apresentaram médias mais altas que as mulheres na faixa etária entre 17 e 24 anos, no LO resultados opostos foram encontrados, com as mulheres apresentando médias mais altas que os homens na mesma faixa etária (17-24 anos) e no RD as mulheres tiveram médias mais altas na idade entre 17 a 24 anos, enquanto os homens na faixa acima de 25 anos. Segundo a autora, mudanças nos estilos de criar de acordo com a idade acabam exercendo impacto nos meios preferenciais de expressar a criatividade. Também Garcês et al. (2014) encontraram diferenças em todos os estilos, sendo que as médias mais altas recaíram sobre os sujeitos com idade igual ou superior a 25 anos. Os autores interpretam tal resultado a partir da hipótese de que as experiências e vivências prévias poderem estar influenciando a expressão dos estilos de pensar e criar dos indivíduos.

Uma análise qualitativa mostra que, na idade adulta, a criatividade sofre algumas mudanças, relacionadas, principalmente, à quantidade de produções, a qual aumenta rapidamente até atingir o auge, situado, em média, ao redor dos 40 anos (Lubart, 2007). Depois, lentamente a produtividade vai caindo, aproximando-se, ao final da vida, em média, à metade do ponto de atividade máxima, sendo importante destacar que esse declínio depende, em grande parte, da área. Tal situação vem sendo apontada por diferentes autores devido a fatores como experiência, domínio em determinada área de conhecimento, sensação de maior liberdade atingida com a idade (Csikzentmihaly, 1996; Levy & Langer, 1999), tendência a produções mais reflexivas, baseadas na experiência subjetiva e de um ponto de vista introspectivo nos indivíduos mais velhos (Lubart, 2007). Supõe-se que tais mudanças também ocorram não só em relação a criatividade enquanto potencial, mas, também em relação aos estilos de pensar e criar.

 

Considerações Finais

Diante dos motivos apontados neste texto e, da relevância dos estilos de pensar e criar para a expressão criativa, um maior investimento em pesquisas que focalizem variáveis psicológicas que podem interferir na aprendizagem, tais como os estilos criativos, deve ser incentivado. Muito se discute no mercado de trabalho, formal e informal, sobre a necessidade de produtos e serviços criativos e inovadores. No entanto, de modo muito precário se discute que esses produtos e serviços partem de criações humanas.

Há um hiato entre o que é exigido na atuação profissional das pessoas e o que lhe é ofertado durante toda sua formação acadêmica, nos três níveis escolares (fundamental, médio e superior). Pouco se tem debatido ao menos sobre estes conceitos, para que, de posse de alguma opinião científica de valia poder pensar na identificação e desenvolvimento dessas habilidades, nos três níveis de formação escolar. Sobre este enfoque, o sistema de ensino brasileiro entregaria ao mercado de trabalho pessoas com essas habilidades identificadas e treinadas, agora de fato competentes para gerar as ideias, serviços e produtos esperados, que melhor servissem a população, de modo acessível.

Ainda sobre concepções teóricas e científicas, depara-se na diversidade de modelos que buscam explicar os estilos de pensar e criar e "demonstra a importância desse tema como forma de melhor compreender a pessoa criativa, seu processo, sua produção e relações interpessoais" (Wechsler, 2007, p.216). Por vezes, esbarra-se em modelos teóricos e científicos que tentam explicar outros construtos como pensamento divergente e convergente, habilidades intelectuais, processos e estratégias de soluções de problemas, bem como características de personalidade.

Reitera-se que esse pequeno número de estudos encontrados no Brasil aponta para um construto que vem sendo ainda pouco investigado no país, indiferente às contribuições que esse conhecimento pode trazer para o indivíduo. Ao passo que o construto continua a ser investigado na literatura internacional, como já foi visto.

De tal modo, entende-se que tanto o processo de identificação como estratégias de desenvolvimento dos estilos de pensar e criar devem ser pensadas e, entendidas como um desafio vigilante e definitivamente constante. Devido à distribuição desigual entre os sexos na amostra, predominantemente composta por mulheres neste caso, recomenda-se cautela na interpretação e generalização dos dados. Salienta-se que este fato se deu por uma quantidade maior de pessoas do sexo feminino nesses cursos.

Especialmente a investigação desses estilos no contexto educacional aponta para uma série de vantagens. Dentre elas, Martins, Santos e Bariani (2005) apontam o fato de que, em função de seus estilos predominantes, os alunos podem revelar melhor desempenho em diferentes situações. Conhecendo o próprio estilo, o aluno pode perceber em que situação aprende melhor e o professor pode identificar em que situação consegue ensinar, de forma a atingir um número maior de alunos. Assim, um maior conhecimento sobre os estilos cognitivos poderia favorecer processos de ensino e aprendizagem mais adequados, respeitando as características individuais dos alunos visto que, se um indivíduo encontra possibilidades ou estímulos para expressar seu potencial criativo, por meio do respeito ao seu estilo preferencial, ele provavelmente terá maior chance de encontrar sua autorrealização pessoal e/ou profissional (Wechsler, 2007).

A relevância desse estudo se justifica perante a constatação apontada por Lubart (2007), de que os quadros profissionais têm impacto sobre a expressão criativa, pois podem tanto oferecer um ambiente favorável às condutas criativas como representar um freio considerável à criatividade, de modo que, ainda de acordo com o autor, no adulto, o tipo de atividade profissional determina, em parte, as possibilidades de exercer a criatividade. Nesse sentido, trabalhar a temática dos estilos pode ser uma ferramenta útil, visto que o conhecimento destes pode favorecer os estudantes no sentido de que possam extrair maior proveito da vida acadêmica e, a posteriori, profissional (Nakano et al., 2010), na medida em que permite uma melhor orientação dos indivíduos segundo seus modos preferenciais de pensar e criar.

 

Referências

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Contato com os autores:
Eliana Santos de Farias
Rua Raul Pompéia, 144, Pompéia
São Paulo-SP, Brasil
CEP: 05025-010

Recebido em: 01/12/2019
Revisado em: 23/04/2020
Aprovado em: 28/07/2020

 

 

Nota dos autores:
Agradecimentos a Elidia e Tatiane Santos de Farias, pela ajuda na tabulação dos dados e, ao CNPq pelo financiamento das pesquisas da segunda e quarta autora
Sobre os autores:
Eliana Santos de Farias
Doutora em Psicologia, Pós-Doutoranda em Psicologia, Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo–SP, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7715-7012
E-mail:elianass@gmail.com
Tatiana de Cássia Nakano
Doutora em Psicologia, Pós-doutorado em Psicologia. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo–SP, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5720-8940
E-mail:tatiananakano@hotmail.com;
Bruno Bonfá-Araujo
Especialista em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo. Doutorando em Psicologia pela Universidade São Francisco, Campinas, São Paulo–SP, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0702-9992
E-mail:brunobonffa@outlook.com
Solange Muglia Wechsler
Doutora em Psicologia, Pós-doutorado em Psicologia. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo–SP, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9757-9113
E-mail:wechsler@lexxa.com.br

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