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Trivium - Estudos Interdisciplinares

versión On-line ISSN 2176-4891

Trivium vol.9 no.2 Rio de Janeiro jul./dic. 2017

https://doi.org/10.18379/2176-4891.2017v2p.257 

ARTIGOS LIVRES

 

Objeto a e outro: cede-se uma libra de carne

 

Object and the other: gives up a pound of meat

 

 

Nilda Martins Sirelli

Psicanalista, doutora em Memória Social pela UNIRIO, Professora dos cursos de Psicologia da Faculdade Salesiana e Estácio de Sá. Endereço: Av. Santos Moreira, 459-611 - Miramar, Macaé - RJ, 27943-200. Telefone: (21)98219-5690. E-mail: nildasirelli@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

O sujeito, tal como é abordado pela psicanálise, não é da ordem do natural; ele é efeito de linguagem, marcado pelo significante e, ao mesmo tempo, causado pela ausência de objeto, o que o caracteriza como desejante e pulsional. Nessa constituição o Outro investe algo de seu desejo no sujeito, remetimento que necessariamente passa pelo corpo, por locais de privilegiado investimento, que vão se configurar como locais de troca com Outro, designados zonas erógenas. Para advir como desejante, o sujeito tem que ceder, tem que consentir em perder uma libra de carne, pedaço de si, que funciona como moeda de troca com o Outro, e por meio do qual pode se posicionar diante dele, advindo como faltoso. O objeto a advém como dejeto, resto irredutível dessa operação, e se configura tanto como causa de desejo, quanto como operador do gozo.

Palavras-chaves: SIGNIFICANTE; SUJEITO; DESEJO; GOZO; OBJETO A


ABSTRACT

The subject, as discussed by psychoanalysis, is not of the natural order ; effect of language he is marked by significant and, at the same time, caused by the absence of the object , which is characterized as desirous and instinctive. In this constitution the Other invests something of his desire in the subject, referral which necessarily passes through the body, for privileged investment sites, which will be configured as exchange places with another, called erogenous zones. To come as desiring, the subject has to give, have to consent to lose a pound of meat, piece of itself, which works as a bargaining chip with the Other, and through which can be positioned in front of him, arising as wrongful. The object comes as manure, irreducible rest of this operation, and is configured both as a cause of desire, enjoyment and as the operator.

Keywords: SIGNIFICANT; SUBJECT; DESIRE; JOY; OBJECT.


 

 

É de uma relação permanente com um objeto perdido como tal que se trata. Esse objeto a, como cortado, presentifica uma relação essencial com a separação como tal (Lacan, 1962-1963/2005, p. 235).

Freud, no "Projeto para uma psicologia científica" (1950[1895]/1989), ao falar da primeira experiência de satisfação, salienta que há aí uma perda irrecuperável, que se dá pela inscrição da experiência no aparelho psíquico, uma vez que permanece um resto sem representação, que se constitui como um ponto de vazio que põe em movimento o psiquismo, em uma tentativa de resgatar o objeto perdido e restituir a suposta satisfação. Resto designado das Ding, ou a Coisa freudiana. A Coisa se define a partir de um primeiro parceiro do sujeito, "o próximo", a "primeira potência" que possibilita ao sujeito essa primeira experiência de satisfação, assim como seu primeiro desprazer. Parte dessa experiência se inscreve como traço de memória, compreendendo aquilo a que o sujeito pode se identificar, se reconhecer. Outra parte permanece não-identificável, mas se impõe e causa efeitos ao sujeito.

Freud ressalta que essa perda pode ter como apoio um objeto, o seio materno, como esse que, miticamente, é tirado da criança após uma primeira experiência de satisfação. Uma vez ausente, o seio é representado no aparelho mnêmico por um traço, de modo que a criança tentará resgatar a satisfação proporcionada nessa experiência por uma via alucinatória, atualizando a presença do objeto. Mas, pela impossibilidade de obter tal satisfação, ela se volta para o mundo externo. Não há uma equivalência entre a próxima mamada e a satisfação suposta, já que algo se perde na própria inscrição dessa experiência no aparelho psíquico. Nesse contexto, Freud afere que há uma busca pelo reencontro com o objeto; porém, o primeiro encontro é formulado como mítico, e o suposto objeto de satisfação nunca foi de fato possuído pelo sujeito. Trata-se de um objeto nada objetivável.

Não interessa tanto se essa primeira experiência é de satisfação ou não. Diante do desamparo, qualquer coisa que venha em socorro da criança se configura como uma positividade. Essa "coisa" perdida pode vir a ser encarnada pelos mais diversos objetos ao longo da vida, sendo relançada enquanto causa do desejo. A "coisa" é, portanto, perdida para sempre e reencontrada a cada investida do desejo, porém cada encontro com o objeto desvela o desencontro entre este e a saturação da pulsão.

Freud (1915/1989), ao abordar a temática da pulsão, esclarece que esta é força constante e, como tal, deixa sempre um resto por se satisfazer, não sendo aplacada. Além disso, destaca que o objeto da pulsão é "indiferente", ou seja, é o mais variado possível, podendo ser qualquer objeto, desde que investido por determinado sujeito. Desse modo, no cerne da sexualidade humana figura uma ausência de objeto. Não há objeto que garanta a completude. Há aí um vazio, pivô de toda dialética subjetiva, que coloca em movimento o desejo, sempre em busca de algo que está alhures, em outro lugar, já que todo encontro com o objeto é faltoso.

Dada a importância dessa premissa para a teoria e a clínica psicanalítica, Lacan ressalva a radicalidade dessa ausência de objeto, conferindo um status e um lugar especial à sua teorização, e designando-o objeto a. Para nomeá-lo, ele prefere usar uma letra a uma palavra, já que essa última é sempre passível de metaforização, e tal objeto foge a toda objetivação, a toda significantização, não se inscrevendo nesses domínios. Para falar do objeto a, deteremo-nos especialmente no seminário sobre A angústia (1962-1963/2005).

O objeto a, inicialmente, aparece como objeto imaginário do desejo, na rivalidade com o pequeno outro, o parceiro do eu no estágio do espelho. Posteriormente, ele ganha suas coordenadas simbólicas na relação com o grande Outro, encarnado por um semelhante. A partir do seminário A ética da psicanálise (1959-1960/1998), o objeto a encontra seu substrato real no conceito freudiano de das Ding, "a Coisa", definindo-se, como já destacado, pelo que não se inscreve como traço, mas impõe seus efeitos.

Jorge (2005) ressalva que o a, como participante dos três registros - real, simbólico e imaginário -, pode adquirir diferentes dimensões:

O objeto a tem várias aparências imaginárias - grafadas por Lacan como i(a), ou seja, imagens de a -, que podem ser construídas para cada sujeito por intermédio do simbólico, dos significantes do Outro referentes às inserções históricas singulares de cada um. Mas a dimensão que mais importa e que o configura propriamente enquanto objeto a é o seu estatuto real, que lhe confere sua ex-sistência - ex-sistência que designa o que está fora do registro do simbólico. E o nome dessa dimensão real do objeto a, Lacan empenhou-se em mostrar que foi chamada por Freud de das Ding, a Coisa (p. 140: grifos do autor).

Assim, o objeto a tem diferentes faces. Numa vertente imaginária, far-se-ia representar por aquilo que, por uma fascinação com a imagem, captura o sujeito, como uma bolsa, uma pessoa, um outdoor, em uma série que, embora particular, pode ser infinita. No registro simbólico, o objeto a se representa encarnado pelos mais diversos significantes, estes fálicos e, como tais, significantes da falta. Em sua vertente real, designa das Ding, resto, resíduo produzido a partir da relação do ser vivente com o Outro, rebotalho que não é representado no aparelho psíquico, configurando um furo, um vazio contornado por representações, em torno do qual o inconsciente, estruturado como linguagem, se funda. Lacan confere um novo estatuto a esse objeto ao defini-lo como causa do desejo, salientando que, se há um sujeito desejante, é porque figura no cerne de sua subjetividade um cavo, oco fundamental, que move, sustenta e relança o desejo. Nas palavras do autor, "o objeto a não é a finalidade, a meta do desejo, mas, sim, sua causa. Ele é a causa do desejo na medida em que o próprio desejo é algo não efetivo, uma espécie de efeito baseado e constituído na função da falta" (1962-1963/2005, p. 343).

Lacan (1957-1958/1999) ensina que o objeto se constitui como objeto metonímico, circulando na cadeia significante. Pela impossibilidade de o significante recobrir o objeto, advém o desejo, que instaura o deslocamento, de modo que o desejo se relaciona necessariamente com a falta. Por que algo falta - e sempre falta - é que se pode desejar o que não se tem, e eleger os mais diversos objetos de satisfação como tentativa de suprir essa ausência. Porém, como não há tal objeto - não sendo possível a recuperação de um estado anterior, já que não houve um encontro com o suposto objeto da completude -, o movimento desejante não se estanca, de forma que todo encontro com o objeto guarda essa dimensão de encontro com a falta, atualizando a certeza de que "ainda não era bem isso", promovendo um deslocamento metonímico do desejo e dos objetos que a ele se atrelam.

O objeto a pode ser, então, "reencontrado" nos sucessivos substitutos que o sujeito organiza para si em seus deslocamentos simbólicos e investimentos libidinais imaginários. Porém, nos objetos privilegiados de seu desejo, o que se repete é um encontro faltoso com o real, "com um real que escapole" (Lacan, 1964/1998, pp. 55-56). Desse (des)encontro, o sujeito também extrai satisfação, ainda que parcial, não toda.

Não havendo o objeto, cabe ao sujeito eleger vários, porém, para cada sujeito, não se trata de quaisquer objetos, mas daqueles que se enquadram em sua fantasia, conferindo a alguns objetos um brilho a mais, que funciona como agalma, tesouro enigmático que fisga o sujeito.

Não se trata, portanto, de tentar reencontrar e nomear esse objeto, como algumas correntes psicológicas - como os adeptos da psicologia do eu - fizeram e ainda fazem. Lacan (1959-1960/1998) indica que um grande impasse da psicanálise pós-freudiana foi confundir das Ding com o objeto materno, o que se justifica, uma vez que é no apoio materno que se presentifica essa perda. Mas Jorge (2005) destaca que isso seria substituir o âmbito do impossível pelo do proibido. E das Ding, enquanto impossível, designa que, mesmo suspensas as proibições, a satisfação será sempre parcial, já que o objeto não está interditado, mas não há. Assim, essa falta "pode ser preenchida de várias maneiras, embora saibamos muito bem, por sermos analistas, que não a preenchemos de mil maneiras" (Lacan, 1962-1963/2005, p. 35). A falta é, portanto, estrutural, e não situacional ou contingente.

No seminário 10, A angústia (1962-1963/2005), Lacan, ao salientar que o a surge como um resto na relação entre o ser vivente e o Outro, esclarece que ele resulta de um corte promovido pela entrada do significante no real do corpo. Segundo ele, "o S, sujeito ainda desconhecido, tem que se constituir no Outro" e "o a aparece como resto dessa operação" (p. 296). O a vem como resto da operação de divisão que torna o sujeito e o Outro barrados e que se dá com a inoculação do significante no organismo vivo, produzindo um corte, corte de uma libra de carne. O sujeito não perde o corpo materno no ato do nascimento, ou o seio materno no desmame, mas perde uma parte de si mesmo. É uma parte do próprio corpo, por isso uma libra de carne, que está em jogo, e é com ela que o sujeito tem que pagar para ingressar no campo do Outro, para se constituir enquanto desejante.

A separação que se tem inicialmente não é a separação da mãe. O corte de que se trata não é o que se dá entre a criança e mãe, já que, com relação ao corpo da mãe, a criança é um corpo estranho, parasita, que mantém certo entrelaçamento com os envoltórios uterinos, ao que Lacan utiliza a figuração da placenta para se referir, miticamente, ao objeto a.

No nascimento, "o corte se dá entre aquilo em que se transformará o indivíduo lançado no mundo exterior e seus envoltórios, que são parte dele mesmo, uma vez que são elementos do óvulo [...] A separação se dá no interior da unidade que é a do ovo" (Lacan, 1962-1963/2005, p. 255). No desmame, o bebê sofre um corte, uma separação de uma parte dele mesmo, ocorrendo, aí, uma primeira fragmentação. Lacan destaca o seio, um dos primeiros objetos ao qual se atrela a criança, como objeto pertencente ao corpo da mesma e cedível por excelência:

Do mesmo modo que a placenta forma uma unidade com a criança, há, juntos, a criança e a mama. A mama é como que aplicada, implantada na mãe. É isso que lhe permite funcionar estruturalmente no nível do a, que se define como algo de que a criança é separada de maneira interna à esfera de sua própria existência (p. 256).

Evidencia-se que os objetos que mantêm certa relação com a são objetos destacáveis do corpo, separáveis dele, que estão entre o sujeito e o Outro, e trazem uma dimensão de perda. Assim, sempre há no corpo "algo de separado, algo de sacrificado, algo de inerte, que é a libra de carne" (p. 242), de modo que algumas partes do corpo se destacam como cedíveis na constituição do sujeito.

Nesse contexto é crucial pensarmos no termo utilizado por Lacan para falar da perda de que se trata nessa relação. Ele nos fala de uma "libra de carne". Aqui, ele indica a radicalidade dessa perda, não se perde um objeto externo que se pode recuperar, o que o sujeito perde é uma parte de si, ele se divide, se reparte, se recorta. E mais do que perder, ele cede ao Outro, por isso libra, moeda de troca. É por essa parte perdida que ele pode comparecer diante do Outro, não como subjugado, assujeitado, mas como quem tem algo a dar, algo por meio do qual ele pode se representar e se posicionar diante do Outro. É como dejeto, como o que restou desse corte que o sujeito pode se colocar. E como veremos, aqui se trata tanto de resto de carne como de satisfação.

Ao falar de partes que se destacam na relação do ser vivente com o Outro, Lacan (1962-1963/2005) sobressai algumas partes do corpo do sujeito que funcionam como zonas de investimento libidinal do Outro, zonas de troca, de demanda, de toque, nas quais o Outro imprime algo de seu desejo: "o todo corresponde às cinco formas de perda, de Verlust" (p. 104: grifos do autor), ao que Lacan aponta, além do seio, mais quatro objetos privilegiados nessa função: as fezes, o falo, o olhar e a voz.

Nesses objetos privilegiados em diferentes estágios, trata-se sempre da mesma função, ou seja, de saber como eles se ligam à constituição do sujeito no lugar do Outro e o representam. Abordamos essas cinco etapas na constituição do a na relação do $ com o , a partir do esquema apresentado no seminário sobre A angústia (Lacan, 1962-1963/2005, p. 320):

 

 

Enfatizamos as formas do objeto nos diferentes estágios, para esclarecer como o objeto se torna cedível na relação com o Outro, via significante. Porém, não se trata aqui de um desenvolvimentismo, uma vez que não se passa de um tempo ao outro pela aquisição de dons, mas por perdas, e nenhum desses lugares privilegiados de investimento é abandonado.

No seminário A angústia (1962-1963/2005), Lacan fala de cinco estágios todavia; no Seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964/1998), ele situa a terceira etapa, a fálica, como correlata da angústia de castração, como "fio que perfura todas as etapas" (p. 65), evidenciando o encontro faltoso com o Outro, que produz um corte no corpo:

A descrição dos estágios, formadores da libido, não deve ser referida a uma pseudo-maturação natural, que permanece sempre opaca. Os estágios se organizam em torno da angústia de castração. [...] A angustia de castração é como um fio que perfura todas as etapas do desenvolvimento. Ela orienta as relações que são anteriores à sua aparição propriamente dita - desmame, disciplina anal, etc. Ela cristaliza cada um desses momentos numa dialética que tem por centro um mau encontro. Se os estágios são consistentes, é em função de seu registro possível em termos de mau encontro (p. 65: grifos do autor).

Não acorre, portanto, um desenvolvimento, tão pouco a passagem de um estágio a outro. Estes se sobrepõem, não havendo uma cronologia, de forma que cada um dos orifícios corporais (zonas erógenas) e cada um desses objetos, como pássiveis de investimento não são abandonados pelo sujeito. Além disso, ao destacar que não se trata de uma pseudo maturação natural, Lacan ressalva que não estamos abordando algo da ordem do orgânico ou do biológico, mas algo que se articula ao significante, às marcas que o Outro imprime na carne. O "momento" de primazia de uma zona erógena, e de um objeto a ela relacionado, diz de um lugar de privilegiado investimento do Outro, diante do qual o sujeito terá que se posicionar, cedendo ou não parte de si, a demanda do Outro. Parece-nos relevante um comentário realizado por Tenório (citando Costa-Moura, 2007) sobre a fala de uma de suas pacientes. Ela lhe diz: "todo mundo foi estuprado" (Tyszler, 2007, p. 111), ao que ele destaca que havia alguma verdade no que lhe foi dito, já que, de certo modo, todos tivemos nossa carne marcada, violada por um Outro, ainda que essa erotização do corpo pelos significantes que vêm do Outro seja necessária para aceder ao desejo.

Ainda vale lembrar que, embora algumas partes do corpo possam parecer ligadas ao Outro pela necessidade, o que nos interessa na constituição das zonas erógenas são os cuidados maternos como erotizantes, o excedente que advém com a possível satisfação das necessidades, o que fica de satisfação, de não-representável nessa relação que se estabelece com Outro. Logo, não basta que a mãe, ou outrem, ocupe-se dos cuidados com o bebê - o alimente e limpe -, só podemos falar de uma erogenização do corpo se este é tomado como objeto de investimento libidinal, sendo, então, incluído no desejo do Outro. Por exemplo, no ato de sugar o seio, visando a nutrição, surgem sensações que vão além da necessidade biológica: "de toda forma, e qualquer que seja a sensação, é de um a-mais de prazer acrescido à satisfação da necessidade biológica, mas vivido originalmente em conexão com ela, que constitui a origem da pulsão sexual" (Fernandes, 2000, pp. 69-70). Feitas essas ressalvas, deter-nos-emos no esquema apresentado anteriormente.

Em um primeiro tempo lógico, há a primazia da oralidade. Aqui, destaca-se o seio como objeto que se perde, por uma cisão no próprio organismo vivo. Como salienta Lacan (1962-1963/2005), o mamilo, como parte do mundo interno da criança, e não como parte do corpo da mãe, evidencia essa "separtição [sépartition] fundamental" (p. 259: grifo do autor), uma divisão por dentro inscrita desde a origem e desde o nível da pulsão oral, que possibilitará a estruturação do desejo.

O lábio, órgão que funciona na sucção, desempenha um papel fundamental na estrutura da erogenidade. Ele funciona como uma borda, que se constitui por um corte, que serve de lugar de troca com o Outro. Assim, a criança não é desmamada, ela se desmama, ela se desliga do seio, brinca de se soltar e tornar a pegá-lo. A possibilidade de agarrar ou soltar o seio produz no recém-nascido o momento mais primitivo de surpresa e ele, pela primeira vez, experimenta um reflexo que lhe serve de suporte diante do desamparo, ou seja, nessa experiência, a criança tem alguma autonomia diante do Outro. O seio funciona, assim, como primeiro objeto de transição entre o sujeito e o Outro.

Em um segundo tempo, na 'fase' anal, há a prevalência da demanda do Outro de que a criança lhe dê as suas fezes, objeto que, como parte dela, precisa ser cedido. Aqui, entra em jogo a demanda da mãe, educativa por excelência - de controle esfincteriano e de rejeição das fezes. Exige-se da criança que ela retenha as fezes, posteriormente, pede-se a ela que as solte, sempre mediante a demanda do Outro. De acordo com Lacan, ainda no Seminário 10 (1962-1963/2005):

Aquele pedaço que o sujeito tem certo receio de perder, afinal, vê-se reconhecido, por um instante a partir de então. É elevado a um valor muito especial, é pelo menos valorizado por satisfazer a demanda do Outro, além de ser acompanhado por todos os cuidados de que temos conhecimento. Não só o Outro o aprova e lhe dá atenção, como também lhe acrescenta todas as dimensões suplementares que não preciso evocar [...]: a cheirada, a limpeza do bumbum, cujos efeitos erógenos todos sabem ser incontestáveis (pp. 327-328).

No nível anal, ocorre, portanto, uma erogenização do corpo da criança e, pela primeira vez, ela tem a possibilidade de se reconhecer em um objeto, em torno do qual gira a demanda da mãe. É interessante notar que, mesmo que o cocô seja recebido com júbilo, em um segundo tempo, ele é renegado, e é ensinado à criança que ela não deve ter muitas relações com ele. Nessa relação com a demanda do Outro, há um reconhecimento ambíguo, pois, "ao mesmo tempo, o que está ali é a criança e não deve ser ela, e mais até, não é dela" (p. 329). Evidenciam-se, assim, a opacidade do desejo do Outro, sua duplicidade e o ponto cego de toda demanda.

As fezes têm uma função determinante na economia do desejo. O excremento é causa do desejo, isso porque ele é demandado pelo Outro, encarnado pela mãe. Assim, o objeto anal "se revela o primeiro suporte da subjetivação na relação com o Outro, ou seja, aquilo em que ou através de que o sujeito é inicialmente solicitado pelo Outro a se manifestar como sujeito, sujeito de pleno direito" (p. 356).

O excremento, como parte do sujeito cedida ao Outro, é vivido como dom do amor. Conforme Lacan, "nesse nível, o que o sujeito já tem para dar é o que ele é - uma vez que o que ele é só pode entrar no mundo como resto, como irredutível, em relação ao que lhe é imposto pela marca simbólica" (p. 356). O sujeito se oferece como resto frente à demanda do Outro. Freud (1905/1989) já ressaltava que, para o bebê, "o conteúdo intestinal [...] é obviamente tratado como parte de seu próprio corpo, representando o primeiro 'presente'" (p. 174), uma dádiva cedida ao Outro.

Por intermédio do objeto anal, em sua articulação com a demanda, podemos pensar a constituição do a com relação à função do Outro. O a, como objeto cedível, investido pelo Outro, implica sempre uma separação do sujeito de uma libra de sua carne, uma perda irremediável de parte de si, que precisa ser abdicada ao Outro, para que o sujeito possa se apropriar dos significantes que vêm dele. Isso porque:

Desde o começo, inicialmente, trata-se de um objeto escolhido por sua qualidade de ser especialmente cedível, por ser originalmente um objeto solto, e se trata de um sujeito a ser constituído em sua função de ser representado por a, função esta que continuará essencial até o fim (Lacan, 1962-1963/2005, p. 357).

Nesse sentido, situamos a afirmação de Lacan de que o a é o resto da relação do sujeito com o Outro. Dessa interseção, fica um resíduo, uma perda incontornável de uma parte de si, uma partição fundamental, que permite que o sujeito se coloque e que retenha ou dê suas fezes, que decida o que fazer com essa parte de si, ainda que marcado e assujeitado à demanda do Outro. É, portanto, por esse resto, separado do sujeito, que ele comparece frente a essa demanda.

Em um terceiro momento, evidencia-se a primazia do falo, entrando em cena a diferença sexual. Freud (1905/1989) afirma que, ao se deparar com a diferença sexual, a menina sente-se privada do pênis e o menino passa a ter medo de perdê-lo, de modo que a presença ou ausência desse órgão torna-se referência para uma distinção entre os sexos. Desde a Antiguidade, o pênis ereto, denominado falo, era visto como símbolo de potência e virilidade. Freud adota essa nomenclatura para se referir não só ao pênis, mas aos demais objetos que viriam a ocupar esse lugar, ingressando na série de objetos privilegiados por determinado sujeito.

Porém, o falo, ao mesmo tempo em que é símbolo de potência, servindo de referência ao sujeito, indica um a menos, funcionando como significante da falta e, logo, do desejo, uma vez que, diante dele, o que se evidencia é um aquém da plena potência. Além disso, ele demarca a diferença sexual, a incompletude, a castração, de modo que todo objeto que assume esse lugar atualiza uma ausência, uma impossibilidade de complementaridade.

Nesse momento de primazia do falo, destaca-se o complexo de Édipo, e, é na medida em que a mãe está voltada para um terceiro, além da criança, que esta pode se dar conta de que algo falta à mãe, da castração no Outro, o que lhe possibilita supor que isso que falta, o falo, é possuído por esse terceiro a quem a mãe se dirige. Temos, assim, o pivô da dialética edipiana e da entrada no campo do gozo sexual como gozo fálico por excelência. Além disso, destaca-se, aqui, a dimensão de um sujeito desejante propriamente dito, uma vez que o desejo do sujeito se volta para além da mãe, situando-o na dialética do ter ou não ter o falo, o que instaura a via da busca.

O falo é, então, aquilo que os dois sexos desejam, mas ele só está ali como um a menos, que é indicado pela letra grega φ, acrescentando a ela um sinal menos (φ) para indicar sua condição de faltante. Aqui, o falo adquire a dimensão de significante da falta, que vem questionar seu estatuto de objeto. É pela ausência de um significante que assegure a plena potência que ele pode funcionar como causa do desejo, situando-se sempre em um outro lugar. Dessa forma, o a, objeto cedível, assume sua radicalidade, de tal modo que não se trata mais de ser ou não ser o falo, mas de tê-lo ou não tê-lo, o que implica a possibilidade de buscá-lo no campo do Outro, e nos mais diversos objetos, assim como de cedê-lo ao Outro.

Posteriormente, na fase escópica (a partir do esquema exposto em nosso artigo), o olhar adquire prevalência. A função do olhar tem um componente de fascínio. O olhar do Outro é aquele que marca o sujeito, conferindo-lhe um lugar, uma unidade, mas à custa de perder o que não é apreensível na imagem. Essa dimensão de fascinação é presentificada no estádio do espelho, mas este revela para o sujeito uma miragem de si, na qual sua imagem, sua presença no Outro, não tem resto, uma vez que o objeto a é não-especularizável. Logo, o sujeito não consegue ver o que perde, permanecendo um enigma, um ponto de desconhecimento na ilusão de totalidade.

O resto a, aquele angustiante, do não sei qual objeto eu sou para o Outro, é essencialmente desconhecido. Isso porque a imagem que fascina o sujeito, por sua ilusão de unidade, tampona a dimensão de desejante: é como se o brilho fosse inerente à imagem, e não fruto de um investimento daquele sujeito. Nessa situação, há um desconhecimento radical do que é o a na economia do desejo, e é por isso que, no nível escópico, a estrutura do desejo está mais plenamente desenvolvida em sua alienação fundamental, estando o objeto a mais mascarado e, em vista disso, o sujeito está mais "garantido" quanto à angústia. Nas palavras de Lacan (1962-1963/2005), "o olho institui a relação fundamental desejável porque sempre tende a fazer desconhecer, na relação com o Outro, que por trás do desejável há um desejante" (p. 296). Assim, a função da miragem, incluída desde o funcionamento inicial do olho, suspende o encontro com a castração, havendo uma suspensão da falta ligada ao desejo, "uma suspensão frágil, por certo, tão frágil quanto uma cortina sempre pronta a se reabrir para desmascarar o mistério que oculta" (p. 264).

Há na dimensão do olhar um ponto cego, ponto de enigma em que o sujeito desconhece o objeto que o fisga, e o objeto que ele é ao olhar do Outro. Assim, o olhar não se situa, do lado do sujeito, mas do lado do objeto. Ao que Lacan indica que o ponto da imagem a partir do qual o sujeito que vê já é olhado, sendo o objeto que olha o sujeito, como pontua Zizek (1992):

O olhar, longe de assegurar a presença-em-si do sujeito e de sua visão, funciona, pois, como uma mancha, um ponto na imagem que perturba sua visibilidade transparente e introduz uma distância irredutível em minha relação com a imagem: nunca posso ver a imagem no ponto de onde ela me olha, isto é, a visão e o olhar são essencialmente dissimétricos. O olhar enquanto objeto, é uma mancha que me impede de olhar a imagem a partir de uma distância objetiva e segura, enquadrando-a como uma coisa à disposição do domínio de minha visão (p. 151: grifo do autor).

Em um último tempo ainda em referência ao esquema proposto por Lacan no seminário A angústia, o objeto que está em destaque é a voz. O que sustenta o a no nível do ouvido deve ser desvinculado da fonetização, destacando-se o momento em que algo do sistema linguístico passa ao nível da emissão, evidenciando a dimensão vocal. A voz funciona como mediadora entre o sujeito e o Outro, mas, para que a voz possa se fazer ouvir, ela precisa ser incorporada como alteridade. Falar implica uma dimensão de perda, já que nem tudo entra no domínio simbólico, estando o próprio a fora do registro significante. Há um ponto de falha em que o dito está sempre aquém do que se tenciona dizer. Aquele que diz nunca sabe o que diz, e nem o que o Outro escutou do que foi emitido. A voz é incorporada pelo sujeito ao mesmo tempo em que se destaca e se separa dele na medida em que fala. Uma vez emitida, a voz não é mais parte do sujeito, é para o Outro, é estranha ao próprio sujeito e implica uma perda de gozo, uma repartição do corpo pelo significante.

A voz, como aquela que dita o dito do Outro, possibilita o aparecimento do supereu, pela internalização da lei e do imperativo de gozo, de modo que essa fase põe em evidência o desejo, que se desvela no discurso do Outro, na ambiguidade inerente a todo significante. Porém, essa voz é estranha ao sujeito, situando-se, assim como o olhar, no nível do objeto, ao que Zizek (1992) exemplifica com a voz do supereu, que "se dirige a mim sem estar ligada a nenhum esteio particular, que flutua livremente em algum intervalo aterrorizante, funciona também como uma mancha cuja presença inerte incomoda como um corpo estranho e me impede de realizar minha própria identidade" (p. 152). Há, desse modo, uma voz que fala no sujeito, para além dele, e que, ao mesmo tempo em que faz parte dele, dele se separa, é-lhe estranha.

Como foi destacado, não se trata aqui de um desenvolvimento. Não se passa de uma fase à outra pela aquisição de dons, mas se passa de um objeto ao outro pela perda do objeto anterior, porque o sujeito é separado de partes de si, que caem e se descolam dele como restos, que não são abandonados, mas vêm constituir o corpo do sujeito como um corpo repartido, dividido em zonas erógenas, que lhe possibilitam um a mais de gozo, gerando um excedente. Nesse sentido, é importante demarcar que Lacan aborda o objeto a não só em sua relação com o desejo, mas também em sua articulação com o gozo. Se este é causa de desejo, é também tomado como "mais-de-gozar".

Lacan situa o objeto a como objeto da pulsão, força constante que exige satisfação. De modo que, como objeto da pulsão, o objeto a participa dessa vertente de satisfação - lembrando que satisfação não é equivalente a prazer; portando o paradoxo prazer-desprazer. Aqui, já se evidencia que o a não funciona apenas como causa do desejo, mas também como objeto do gozo.

Rabinovich (2000) destaca que o objeto causa do desejo exige o estabelecimento do circuito inconsciente em torno da Coisa. Conforme Lacan (1964[1960]/1998), "é em revolver esses objetos para neles resgatar, para restaurar em si sua perda original, que se empenha a atividade que nele denominamos pulsão" (p. 863). Porém, a causa não está no Isso, mas no inconsciente, de modo que não há objeto causa da pulsão, mas objeto da pulsão. Assim, a aparição do conceito de mais-de-gozar implica a recuperação do objeto do lado do Isso, pertinente à pulsão. Portanto, pela vertente do desejo e do inconsciente, o objeto se apresenta como causa; do lado do Isso e da pulsão, como mais ou ganho de gozo.

Assim, o gozo faz-se presente não só via significante, como Lacan aponta no seminário As formações do inconsciente (1957-1958/1999), ao destacar a vertente de satisfação do chiste, mas também para além do significante, ganhando corpo nas diversas formas de a, na libra de carne perdida, separada e adjunta ao corpo. Isso porque o significante desmembra o corpo e evacua o gozo para fora dele, mas essa evacuação nunca é totalmente consumada: subsistem resíduos ou "oásis" de gozo, chamados zonas erógenas, pontos em torno dos quais a pulsão circula. Como afere Zizek (1992), essas zonas erógenas não têm nada de "natural", de "biológico": "a parte do corpo que resta depois da evacuação do gozo não é determinada pela fisiologia, mas pela maneira como o corpo foi dissecado através do significante" (p. 120: grifos do autor). Desse modo, o corpo é submetido à castração e o gozo é retirado dele, subsistindo um corpo desmembrado, marcado por um gozo que vem em suplência ao gozo absoluto que falta. O objeto a é, então, oferecido como mais-de-gozar e, na medida em que o gozo é faltante, é causa de desejo. O gozo do objeto a é residual, é compensatório, é indicador de um gozo que falta devido à entrada no campo do Outro.

Braunstein (1990) salienta que a "mais valia", teorizada por Marx, visa o valor a mais que o trabalhador produz. Esse valor, no ato mesmo da produção, é-lhe arrebatado pelo Outro (assim estipula o contrato de trabalho), que lhe deixa um remanescente de prazer sobre a forma de salário, que relança o processo e o obriga a regressar no dia seguinte. No campo libidinal, o mais-de-gozar é concebido como correlato da mais valia. Embora o sujeito só tenha acesso a um "a menos" de gozo, que o relança ao movimento pulsional e lhe causa desejo, há, aí, um excedente, uma sobra, um excesso, um resto inapreensível ao significante, resíduo que permanece como irrepresentável.

Esse gozo é a razão de ser do movimento pulsional. A cada vez que o sujeito perde sua libra de carne, esse é o valor entregue ao Outro. É ao gozo absoluto que o sujeito precisa renunciar para se inscrever no campo do significante. No entanto, o gozo renunciado volta por seus furos, insiste. Assim, na relação do sujeito com o Outro, há a exigência de uma renúncia de gozo; porém, aí, também se abre uma possibilidade para um gozo excedente. Na medida em que o sujeito se representa no campo do Outro, resta a, que escapa a toda representação, resto possibilitador de gozo, um gozo que vem em suplência ao impossível da relação sexual.

Destacamos ainda que no sintoma, assim como na fantasia, se articulam desejo e gozo, de modo que o sujeito dali obtenha alguma satisfação, mesmo que esta se dê em pontos de fixação que causam sofrimento, dos quais ele se queixa.

A fantasia, ao articular sujeito e objeto a - incluindo o objeto que falta em uma trama simbólica -, mascara a inconsistência do Outro. Ela fornece as coordenadas do desejo, assim como estrutura o modo de gozo de cada sujeito. Nessa tentativa de ordenamento, visa encobrir esse ponto de vazio, essa impossibilidade sobre a qual desejo e gozo se articulam.

Em suma, a função do a é uma função de resto - que presentifica a falta e o gozo. Lacan (1962-1963/2005) assegura que "é a partir do Outro que o a assume seu isolamento, e é na relação do sujeito com o Outro que ele se constitui como resto" (p. 128).

 

Referências

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Zizek, S. (1992). Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro: J. Zahar.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 06/05/2016
Aprovado em: 01/11/2016

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