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Trivium - Estudos Interdisciplinares
versión On-line ISSN 2176-4891
Trivium vol.10 no.1 Rio de Janeiro enero/jun. 2018
https://doi.org/10.18379/2176-4891.2018v1p.Edit
EDITORIAL
Questões contemporâneas
Betty Bernardo Fuks
As transformações socioculturais de nossa época demandam que todas as áreas de conhecimento aprofundem reflexões sobre as questões que dizem respeito à sexualidade, ao gênero, ao racismo, à segregação de populações das margens sociais e ao terrorismo. Partimos desses fenômenos para oferecer ao leitor uma série de textos marcados pela tradição de estudos interdisciplinares entre o discurso psicanalítico e outros discursos. É nossa intenção fazer valer um dos importantes legados de Freud aos analistas, a saber, o de exercerem estes a crítica da cultura de que são testemunhas.
A conferência do psicanalista Carlos Augusto Nicéas -"Uma conversa sobre o traumatismo" -reflete um itinerário de exploração do conceito de trauma bastante preciso; em Freud, dos seus primeiros passos na psicanálise aos derradeiros, e, em Lacan, em seus últimos seminários, na direção de um "troumatisme", a mordida da linguagem.
Abrindo a seção temática, Rosana de Souza Coelho e Marco Antonio Coutinho Jorge, em "O fundamentalismo religioso e suas vicissitudes éticas e políticas" problematizam, pela via do diálogo profícuo entre a psicanálise e outras áreas do conhecimento, o discurso do fundamentalismo e o traumatismo de massas que a política da aniquilação da diferença provoca. "Leitura de um mal-estar na contemporaneidade: sexo, gênero e sexuação" surpreende pelo modo como as autoras, Claudia M. Rego e Carolina C. Marcondes, a partir do diálogo com o texto de Foucault, propõem uma leitura psicanalítica das memórias de Herculine Barbin, um sujeito intersexo. "Os gêneros tradicionais e a sexuação: os impasses do sujeito entre o sentido e o furo", de Vinícius Moreira Lima e Ângela Maria R. Vorcaro, chama a atenção para o avanço da teoria lacaniana em relação à lógica do gozo no ser falante e o interesse político dessa noção no diálogo com a filosofia contemporânea no que diz respeito às questões de gênero. Tatiana F. Audino, Fernando Pacheco-Pereira e Regina Herzog, a partir da conexão entre a teoria freudiana e a antropologia, a sociologia e a antropologia, interrogam, em "O imperativo da felicidade nos dias atuais", as exigências mortíferas de se buscar a ventura.
As questões clínicas de nosso tempo, que exigem do analista revisar permanentemente a teoria freudiana, encontram-se expostas numa série de artigos. Ana Lucía Agüelles Gutiérrez e Víctor Javier Novoa Cota, em "Vigencia de las aportaciones de Freud sobre los fenómenos delirantes y alucinatorios en las neurosis", interrogam a vigência do tema freudiano sobre a loucura histérica na clínica do século XXI. "Inovações freudianas no campo de estudos sobre a sexualidade perversa," de Natássia Matias de Medeiros e Daniel Franco de Carvalho, dá destaque à forma pela qual Freud, transitando pelos tratados médicos-psiquiátrico, do final do século XIX, cria o conceito de pulsão e inviabiliza a identificação da perversão apenas no nível do fenômeno. O artigo "Seria a comida um objeto tóxico? Aproximações entre a compulsão alimentar e a toxicomania", de Natália S, Nespoli, Joana de Vilhena Novaes e Bruna Madureira, traz uma série de vinhetas clínicas que problematizam a exclusão social dos obesos na sociedade contemporânea.
Na seção Artigos, "The political and religious setting of Olympic contests in Antiquity", de Angélik Christaqui, discute-se a hipótese de que a instituição dos agons, através de práticas imemoriais, comemore de forma implícita o assassinato de um filho sagrado. João Milton Tavares e Paulo José da Costa, em "Tragédia e Psicanálise: um ensaio sobre o herói grego", buscam mostrar a acuidade dos estudos da mitologia para os psicanalistas. Por fim, Ana Lúcia M. Guaragna e Amadeu de Oliveira Weinmann, em "A provocação da câmera e o impacto no espectador", interrogam, a partir da análise de uma sequência fílmica, as repercussões de determinados aspectos técnicos no espectador.
A resenha de Benyounès Bellagnech - "Histórias da Mangueira" - traduz a importância do livro La favela de Mangueira et ses histoires de vies en commun. Travailler avec les périphéries, de Lucia Osório, uma psicanalista brasileira. O comentário de Juan Ledezma, "A Constructivist Diagram: Elizabeth Jobim's Archaeology of Abstract Forms", encerra esse número chamando atenção para o peso da experiência imediata ou de medições bruscas da história no trabalho dessa artista brasileira, exposto recentemente em Nova York.