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Trivium - Estudos Interdisciplinares
versión On-line ISSN 2176-4891
Trivium vol.12 no.2 Rio de Janeiro jul./dic. 2020
https://doi.org/10.18379/2176-4891.2020v2p.114
ARTIGOS LIVRES
A Morte Encena a Vida? Os desatinos da constituição do sujeito e da civilização
Death staging life? The fooliness of the constitution of the subjects and of civilization
Vida etapas de la muerte? Los tortuosos caminos de la constitución del sujeto y de la civilización
Luciana Mara FingerI; Paulo José da CostaII
IDoutoranda no Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: lufinger82@gmail.com
IIProfessor adjunto da Universidade Estadual de Maringá no curso de Psicologia e na Pós-Graduação em Psicologia. E-mail: pjcosta@uem.br
RESUMO
No presente ensaio apresentamos considerações sobre a dialética entre a finitude da vida, o nascimento da civilização e do sujeito. Destacam-se nuances em que a morte aparece no discurso freudiano, em tonalidades nem sempre evidentes, relacionando-se com o totemismo, o abandono do narcisismo e o complexo de castração. Esse caleidoscópio que se apresenta, possibilita pensar a morte no mais além de um fato biológico, desvelando as tensões entre as pulsões de vida e de morte, cujas marcas das mortes simbólicas inauguram o vazio constitucional, posicionam o sujeito na ordem do desejo e, portanto, o fundam.
Palavras-chave: Morte; Psicanálise; Civilização; Sujeito.
ABSTRACT
In this essay we present the dialectic between considerations the finitude of life, the emergence of civilization and of the subjects. Stand out nuances in which death appears in the Freudian discourse, in shades not always evident, relating to the totemism, abandonment of narcissism and the castration complex. This kaleidoscope that presents itself, it enables thinking to death on more than a biological fact, unveiling tensions between the impulses of life and of death, whose brands of symbolic death are the constitutional emptiness, the individuals position in the order of desire and, consequently, their foundation.
Keywords: Death; Psychoanalisis, Civilization, Subjects.
RESUMEN
En este ensayo se presenta la dialéctica entre consideraciones la finitud de la vida, el nacimiento de la civilización y de lo sujeto. Se destacan matices en que la muerte aparece en el discurso freudiano, en tonos no siempre evidentes, relacionadas con el totemismo, el abandono del narcisismo y el complejo de castración. Este caleidoscopio que se presenta, permite pensar a la muerte en más de un hecho biológico, desvelando las tensiones entre los impulsos de vida y de muerte, cuyas marcas de las muertes simbólica introducen el vacío constitucional, coloque el sujeto en la orden de deseo y por lo tanto funda él.
Palavras claves: Muerte; Psicoanálisis; Civilización; Sujeto.
Introdução
A morte foi e ainda é objeto de estudo em diversas disciplinas do conhecimento, sendo representada nos meios artísticos, reverenciada por algumas religiões e ocupa o imaginário popular, seja nos relatos cotidianos, nas anedotas, seja nos ritos de luto.
No campo das pesquisas historiográficas destaca-se a obra de Ariès (1977/2017) que versa sobre as atitudes do homem frente à morte nos diversos contextos históricos. Também podemos pensar nos estudos centralizados nos povos primitivos e seus costumes, entre os quais, a título de exemplificação, destacamos o trabalho de Frazer sobre a exogamia e o totemismo, tratando sobre uma série de proibições relacionadas aos mortos e aos assassinatos, onde, nas tribos estudadas, a morte era temida e contagiosa. Tais estudos, principalmente o de Frazer, formaram a base para a concepção freudiana em "Totem e tabu" (1913/2016). Na filosofia, Schopenhauer provavelmente foi aquele que mais se dedicou às reflexões quanto à finitude da vida, sendo que o seu aforismo "A morte é propriamente o gênio inspirador, ou a musa da filosofia (...)" (Schopenhauer, 1844/2000, p. 59) indica a centralidade dessa temática em sua obra. Em suas reflexões, a morte, tal como a vida, é a ordem natural dos viventes e não ceifa a essência das coisas, pois a imortalidade permanece na vontade de vida, objetificada pelas espécies que permanecem.
Nas religiões observam-se as diversas formas de ritos funerários (enterro, cremação, mumificação, máscara mortuária e maquiagens). Essas maneiras de lidar com a morte e o defunto indicam como cada crença compreende a transcendência da vida e, ao mesmo tempo, atesta a finitude biológica, além de revelar a organização de uma cultura e de suas tradições. Há também os ritos iniciáticos que se apropriam do simbolismo da morte para denotar o renascimento, ou ainda os sacrifícios, seja de humanos, seja de animais que já existiram em algumas práticas nórdicas, africanas e semitas, demonstrando a função da morte como entrega aos deuses para obtenção de vitórias em guerras, farturas em colheitas ou para simbolizar uma data importante da crença. (Cardita, 2011)
A morte também não passou despercebida pela arte, que é um dos meios comunicativos da espécie humana. Na literatura, Augusto dos Anjos é conhecido como o poeta da morte por se dedicar ao tema, trazendo uma estética nua e paradoxalmente bela para a morte, uma vez que o enlace de suas palavras tem o poder de fascinar. Já nas artes visuais, a título de exemplificação, o quadro de Pieter Bruegel, considerado um dos 50 mais famosos do mundo, pintado em 1562 e intitulado "O triunfo da morte", retrata as mazelas da sociedade da época, que estava permeada por guerras, pestes e todos os gêneros de doenças fatais. Além disso, na pintura é retratada a morte de todos, não faz distinção de classe, de idade e de afeto entre as pessoas. Na música não é diferente, sendo que várias delas foram dedicadas à morte e ao morrer. Para citar algumas, "Tears in Heaverí" de Eric Clapton e de Will Jennings, dedicada ao filho do primeiro músico, que morreu acidentalmente; "Funeral de um Lavrador", composta por Chico Buarque para a peça "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto; e o belo tango cantado por Raul Seixas, trazendo a morte em sua face mais bela, como aquela que virá vestida de cetim e que esperará somente por ele com um beijo. Passagem essa que remete aos escritos de Schopenhauer (1844/2000), quando este observa que a finitude biológica pode ser um alívio para as dores e amarguras de ser no mundo.
Com essa digressão introdutória, pretendemos situar o percurso que a que nos propomos. Nas bordas tecidas pelos entendimentos sobre a morte como fatalidade biológica, marcador cultural, dispositivo de comunicação, fascínio para alguns, inspiração para outros, nosso intuito é discorrer sobre os aspectos simbólicos da morte circunscritos pelo pensamento psicanalítico e de que forma pode-se pensar o nascimento do sujeito por intermédio deles. Trata-se, portanto, de abordar as mortes simbólicas que acompanham as pessoas no decorrer de suas vidas. A este elemento simbólico se entrelaça o conceito de inconsciente, como aquilo que sai do controle, encoberto à consciência, represado e que deixa marcas indizíveis no psiquismo. Assim, o sujeito psicanalítico também não é aquele demarcado apenas pelo fator biológico, ou pela consciência de si, mas aquele que escapa da certeza cartesiana, tropeça na falha de um ato, no riso de um chiste, na confusão de um sonho, no luto pela infância perdida, e que "não é senhor em sua própria casa" (Freud, 1917/2017, p. 251).
O trabalho da análise reside justamente nesse algo que foge ao eu e que ao mesmo tempo o inaugura enquanto sujeito. Este é um dos contrassensos que leva Rezende (2000) a denominar a psicanálise de ciência pós-paradigmática, pois ela subverte os modelos estanques das ciências naturais em termos epistemológicos e de métodos, sem deixar de ser ciência, ao manter os requisitos da técnica (transferência, interpretação e outros) aliados aos seus pressupostos teóricos. Assim, o sujeito do inconsciente e as particularidades da díade analista e analisando fazem emergir uma abundância de efeitos para a ciência da psicanálise. Dito em outras palavras, a paleta de cores pode ser a mesma (teoria e prática), mas as pinturas dela resultantes são dos mais diversos coloridos (verdades da experiência analítica).
Nesse ínterim, Rezende (2000) pondera sobre os questionamentos acerca da crise da psicanálise como ciência, pois Freud (1917/2017) já havia salientado que o material clínico, ao demonstrar a existência do inconsciente e ferir narcisicamente o homem, gerava críticas e resistências tanto no público em geral quanto na comunidade científica. Ao demonstrar o paradoxo da psicanálise, Rezende (2000) argumenta que "Hoje, (...) já se começa a reconhecer que, se não é científica como as outras ciências, a psicanálise pode, no entanto, sê-lo ao seu modo, como ciência pós-paradigmática, indo além dos paradigmas que usa e transforma" (p. 20).
Deste modo, se pensarmos de forma a análoga à temática deste estudo, de certa maneira, a morte simbólica da psicanálise como ciência natural, sua exclusão dos ditames padronizados, viabilizou o seu reconhecimento enquanto uma ciência peculiar.
Nos rumos dos debates sobre fazer ciência em psicanálise, neste estudo realizamos um percurso teórico, cujo formato textual é o de um ensaio. Ao conceber tal categoria literária como uma espécie de exposição teórico-reflexiva, sem a necessidade de esgotamento conceitual e com algumas incursões subjetivas (Severino, 2000), tal proposição foi oportuna por condensar tanto as maneiras de se fazer ciência em psicanálise quanto pela presente temática, a morte, a qual inevitavelmente incorre em transitar por questões existenciais, opinativas que atravessam os textos lidos, bem como a autoria desse texto.
Os escritos freudianos foram privilegiados, mas também recorremos a outros autores psicanalíticos para subsidiar a discussão, principalmente para entrelaçar com ideias e conceitos nem sempre tão evidentes à primeira vista. Importante sinalizar ao leitor que as diferenças epistemológicas entre eles não foi o enfoque desse estudo. E aproveitando esse momento de esclarecimentos, também julgamos útil considerar que em algumas traduções das obras de Freud, tais como a da Editora Autêntica, utiliza-se pulsão para representar o termo trieb em alemão; em outras, como a da Companhia das Letras, usa-se instinto e impulso para o mesmo termo. Quanto aos formatos de tradução, os autores psicanalíticos não são unânimes. Por exemplo, Laplanche (1985) e Lacan (1964/1996) posicionam-se pelo entendimento de que os termos instinto e pulsão não são sinônimos e possuem significados divergentes devido ao uso discriminado de cada termo por Freud. Neste trabalho, os termos pulsão, impulso e instinto serão considerados como sinônimos, por compreender que tais separações necessitariam de uma abordagem aprofundada do tema, que não é o intuito neste espaço.
Assim, na primeira parte dessa trajetória será abordada a morte perpassando pelas pulsões para vias de compreensão do sujeito psicanalítico, aquele que extrapola os limites da consciência e que possui a marca das profundezas do inconsciente. Na sequência, será discutida a dialética presente entre a morte e o nascimento da cultura em Freud, passando pela temática do totemismo e das interdições a ele relacionadas. A partir do debate instituído por Freud (1919/2017) sobre o ensino da psicanálise nas universidades, mais especificamente quanto à abertura para novos campos do saber, optou-se também por dialogar com sumárias expressões literárias como forma de ilustrar os raciocínios.
Com o presente trabalho não pretendemos esgotar a análise sobre o assunto, mas apresentar as facetas da morte sob o olhar psicanalítico que se delineiam pelos aspectos simbólicos e como estes podem ser um elemento para pensar a constituição do sujeito quando este se depara diante de sua finitude. Trata-se, portanto, de tecer considerações a partir de conceitos e temáticas já delineados, tanto por Freud e outros pensadores, na busca por um novo, por uma construção que possa incitar espaços para reflexão sobre a morte para além do seu aspecto terrificante, destruidor, paralisante ou de ausência.
A morte e seus (des)caminhos na formação do sujeito
A pretensão neste tópico não é de realizar um apanhado histórico e linear da morte no pensamento freudiano, mas pensá-la pelas vias da formação do sujeito. Quais caminhos em que a finitude da vida baliza os limites das pulsões e inaugura a entrada no mundo adulto e social, ao mesmo tempo em que traz as experiências de insatisfação, ou como diria Freud, de mal-estar, até uma gama de sintomas e angústias, os seus (des)caminhos.
A lógica do interjogo presente no termo (des)caminhos, utilizado no subtítulo, enuncia a ideia de duas forças diferenciadas e opostas, mas complementares. Nesse sentido, uma das poesias de Mário Quintana, parece ilustrar com precisão a dualidade do assunto que aqui nos propusemos:
Inscrição para um portão de cemitério
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!
(Quintana, 1989/2006, p. 864)
O poeta refere-se à morte como finitude biológica e com o simbolismo da cruz traz a ideia da vida como sofrimento, um calvário a se percorrer. Já o fim, é a possibilidade de atingir uma transcendência. Essa reviravolta na concepção da morte é o que pretendemos traçar, em um resgate de alguns escritos de Freud e de outros pensadores psicanalíticos.
Para iniciar, se a pergunta que impele essa proposta circunscreve-se na morte como aspecto constituinte do sujeito, é preciso antes situar de que sujeito se fala. Apesar do termo não ter sido abordado por Freud explicitamente, é possível afirmar que a abordagem psicanalítica foi atravessada por essa temática. Como descrito anteriormente, a noção de sujeito extrapola as balizas do corpo orgânico e da fisiologia da consciência; para isso entendemos que a definição do inconsciente sustenta tal discussão. Se, nas palavras de Freud (1914/2016), "A teoria da repressão é o pilar que repousa o edifício da psicanálise" (p. 257) é porque ele já havia identificado que a repressão separava o afeto da representação, o qual formava o sintoma conversivo da histérica e mantinha a representação longe da consciência. Portanto, se a "repressão é o pilar" (p. 257), o inconsciente é o edifício. Embora haja referências ao inconsciente em obra anterior (Freud, 1895/1996), este adquiriu forma quando, por intermédio da análise dos sonhos e de sua diferenciação dos estados de vigília (Freud, 1900/1996), ele enuncia os sistemas pré-consciente/consciência e o inconsciente.
O que age nas diferenças entre o estado de sono e o desperto, segundo Freud (1900/1996), é a operação das excitações psíquicas que, durante o sono encontram menos barreiras, ficando mais ou menos livres para acessar outros níveis psíquicos. De modo contrário, quando desperto observou que o aparelho psíquico, na tentativa de evitar estímulos desprazerosos, represa tais conteúdos que ainda permanecem em funcionamento no sistema inconsciente. Dessa forma, a memorização de estímulos está associada com o prazer e desprazer que geram; como uma redução e como um aumento da tensão, respectivamente. Estes estímulos internos buscam uma via de descarga, seja ela no sonho, no sintoma, ou mesmo, nos atos falhos e chistes, como aponta Freud (1901/1996), sendo estes dois últimos também formas de manifestações do inconsciente. O que não equivale a dizer que são o próprio inconsciente, haja vista que para atingir o nível da superfície (consciência) passam pela barreira da repressão e, portanto, já não equivalem à matéria bruta, sofrem alterações no conteúdo, podem se ligar a outros afetos e condensar aspectos que originalmente não possuem relações. Esse desenho do aparelho psíquico constituído pela memorização de representações reprimidas em camadas mais profundas, pela censura de certos conteúdos e afetos, culminando inclusive no distanciamento entre uma ideia e seu afeto correspondente, ficou conhecido como a primeira tópica freudiana, a qual possui uma característica mais descritiva do que é o inconsciente, o que também levou Freud a configurar os níveis da realidade psíquica em sistemas (consciente, pré-consciente e inconsciente).
De acordo com David-Ménard (2015), a fluidez dos estímulos interno e externo quanto à redução e ao aumento da tensão (prazer e desprazer) e os aspectos do reprimido, levaram o fundador da psicanálise a ampliar esse desenho psíquico para metapsicologicamente explicar o dinamismo dessas forças, considerando a ambiguidade do princípio do prazer para a manutenção da atividade psíquica, além da verificação de que nem todo estímulo reconhecido como prazeroso estava relacionado à diminuição de tensão. Conforme Honda (2013), essa elaboração conceitual como também aquelas concernentes à primeira tópica, estavam relacionadas ao modo de fazer a ciência moderna, a qual avançou sobre os modelos vigentes de explicação dos fenômenos unicamente pelo empirismo. Inspirados na tradição da física e da matemática passaram a ater-se também a conceitos abstratos para análise dos objetos de estudo, ou seja, acrescentando as vias indutivas de elucidação. Importante destacar, como pondera o supracitado autor, que as considerações metapsicológicas de Freud tiveram implicações nos aspectos técnicos da clínica, ao mesmo tempo em que a clínica com os neuróticos direcionou a elaboração teórica. Se antes o trabalho do psicanalista direcionava-se ao que era manifesto pelo analisando, atuando por entre o véu da censura com as associações livres para o entendimento dos conteúdos inconscientes, com a concepção econômica do inconsciente e sua ampliação para além do reprimido, a introdução do conceito de pulsão de morte e a compulsão à repetição por Freud (1920/2017; 1923/1996), incluiu outras categorias conceituais, bem como conduziu à reconsideração sobre os conteúdos de análise, os quais deixam de ser compreendidos como o inconsciente bruto, mas como manifestações deformadas pela censura, podendo inclusive serem produtos da fantasia sem correspondência com o factual. Para Honda (2013), essas construções em análise significaram uma retomada à teoria da sedução, no sentido de atribuir status de realidade psíquica para a fantasia que não obrigatoriamente ocorreu enquanto um episódio da realidade objetiva, mas que possui enlaces com o aparelho psíquico e, portanto, devem ser consideradas como integrantes da história do sujeito.
E é sob a égide da segunda tópica freudiana, conforme Freud (1920/2017), que a discussão sobre o sujeito psicanalítico parece se entrelaçar com os versos de Quintana sobre a morte. A partir das neuroses de guerra, dos jogos infantis e da análise de seus pacientes, Freud (1920/2017) retoma as proposições referentes ao princípio do prazer e ao de realidade no funcionamento da vida psíquica. O autor discorre sobre a tendência do princípio do prazer em manter a estabilidade da psique diante dos estímulos internos e externos e que essa propensão por vezes leva a uma hipervalorização do princípio da realidade em relação aos instintos do eu, gerando assim sensações desprazerosas. Há também outras fontes de desprazer, que podem estar relacionadas a instintos discordantes entre si que se tornam reprimidos pela censura como forma de manter a integridade do psiquismo. Esses instintos represados geralmente encontram vias substitutivas de satisfação, circunstancialmente prazerosas, mas mantém a percepção de desprazer justamente pela força da repressão. Ou seja, a força libidinal não encontrou satisfação pela via direta. O que se observa aqui são duas fontes de percepção desprazerosa: uma pela substituição do prazer pela realidade, e outra pela mudança de satisfação de um instinto por outro possível para integridade do eu. A ambiguidade supostamente presente nestas considerações metapsicológicas da economia psíquica - o prazer entendido como fonte de desprazer - pode ser metaforicamente comparado com a sentença "(...) Ponham me a cruz no princípio... E a luz da estrela no fim" (Quintana, 1989/2006, p. 864), pois denota o quanto a vida e seus estímulos podem se configurar em veredas do desprazer; e a morte, a cessão de todo estímulo, conduz à constância nula e, sendo assim, um caminho para o princípio do prazer enquanto possibilidade de estabilidade psíquica. E é aí que se encontra o "para além" que Freud (1920/2017) sinaliza nas suas reflexões e que culminam na controversa presença da pulsão de morte e da compulsão à repetição, principalmente nos sonhos traumáticos, no fascínio pelas tragédias no teatro e na transferência.
E é pelas vias da repetição que Freud (1920/2017) identifica em seus pacientes o retorno de conteúdos reprimidos que estão desligados de sua fonte original, ou mesmo do afeto anteriormente vivenciado. Embora o retorno desses conteúdos esteja relacionado com o princípio do prazer, por significar uma descarga da libido, a busca pela completa satisfação, na sua característica traumática, de repetição e de resistência à análise denunciam o descolamento deste princípio. E mais ainda, demonstram a constância da morte nos organismos e não apenas a perpetuação da espécie como rapidamente se pensa. Ou seja, a morte como o destino daquele que vive, pela qual se busca a estrela que versa Quintana, ou o nirvana, simbolizado pelo estímulo nulo e permanente. Ocorre que esta busca pelo nulo é incompatível (ao mesmo tempo que aparece amalgamada) com a força de vida, pois esta impele o ser à preservação da espécie e à imortalidade. Nos paradoxos das duas forças internas (vida e morte) que Freud sinaliza, há o não reconhecimento pleno da finitude da vida como natural, mas como algo que assujeita o indivíduo e é compreendido como força advinda de fora.
Assim sendo, agora enfocaremos em Freud (1920/2017) as intersecções que direcionam para a concepção referente à morte e como esta conduz para o entendimento de uma pulsão de morte. Nesse texto indicado acima, há significativas mudanças e ampliações sobre o entendimento dos instintos que resultou na delimitação de duas categorias, as de vida e as de morte, substituindo a divisão entre pulsões do eu, dotada de componentes mortíferos, e as pulsões sexuais, de conservação de vida, apresentadas anteriormente por Freud (1905/1996). Pela noção de narcisismo, Freud (1914/2017) concebeu o aspecto da sexualidade, inclusive nas pulsões do eu, e discorreu que no estágio do narcisismo primário, elas se encontravam ligadas. Esta elucubração levou a impossibilidade de manter a antiga diferenciação entre as pulsões do eu e as pulsões sexuais.
Vale lembrar o destaque de Laplanche (1985) sobre a polêmica pulsão de morte na obra freudiana, apropriando-se do conceito de Zwang (p. 120) para explorar seus entendimentos sobre a condução teórica da psicanálise. A terminologia remete aos atos repetitivos, próprios da pulsão que são responsáveis pelos conflitos pulsionais por precederem da dúvida e, nesta via, fazem parte da formação psíquica. Para o autor, o conceito de pulsão de morte, tal como o zwang do neurótico, irrompe no discurso de Freud (1920/2017) com status de uma hipótese, embora com sustentações dos campos mitológicos, biológicos e da filosofia, e desencadeia modificações conceituais em toda a teoria. Tal como o jogo fort da do menino observado por Freud (1920/2017), a pulsão de morte ora desaparece, embora isso não signifique sua inexistência de maneira implícita, ora reaparece no discurso freudiano, sendo ele mesmo quem alerta o leitor para suas explorações teóricas: "O que se segue é especulação (...), que cada um pode apreciar ou dispensar conforme a atitude que lhe for própria. E, além do mais, uma tentativa de explorar consequentemente uma ideia, por curiosidade de ver onde ela levará." (Freud, 1920/2017, p. 184)
Há ainda neste texto outras sinalizações de Freud (1920/2017) quanto ao caráter preliminar dos estudos acerca do instinto de morte, atribuindo a ele uma natureza "quase mítica" (p. 226), embora destaque que ele nasceu da observação clínica da repetição, além de enfatizar as possíveis reformulações e ampliações teóricas que possam ocorrer. O conceito adentra os caminhos do sadomasoquismo, quando este encontra-se deslocado e se volta ao próprio eu; perpassa por definições biológicas dos seres unicelulares para analisar se o impulso de morte se presentifica ou não nos primórdios da vida, tal como a tendência à reprodução. Para Laplanche (1985), a expressão literária e teórica mais livre de Freud (1920/2017) demarca a densidade do estudo implicado no presente ensaio por estabelecer diferentes conexões, tais como as expostas acima, mas conduziu a diferentes posicionamentos frente ao conceito de pulsão de morte dos autores psicanalíticos, desde a forclusão desta tópica até a utilização de parte da teoria, distante de suas bases filosóficas e biológicas.
Segundo Laplanche (1985), destas interligações apontadas que possui o conceito de pulsão de morte, a relação com o sadismo/masoquismo merece destaque por retroalimentar a noção de sexualidade e reformular a própria teoria das pulsões. A princípio, a teoria freudiana apontava para o sadismo primário que, voltado ao exterior, não possuía caráter sexual. Após a introdução do narcisismo e a compreensão de que a sexualidade estava na gênese de todas as pulsões, Freud (1920/2017) sinalizou a possibilidade do masoquismo primário e verificou que a violência empreendida contra si mesmo possui status de uma regressão a uma fase inicial do desenvolvimento, elucubrações que levou ao entendimento de um impulso inicial para a morte, dotado de características sexuais, muito aproximado de conceitos biológicos sobre a finitude da vida estar presente em todo ser, até mesmo naqueles unicelulares. Para Gutiérrez-Terrazas (2002), explicar as pulsões pelos pressupostos biológicos era uma tentativa de explorar as origens dessas forças, também estava relacionada à formação acadêmica de Freud e ao seu esforço em validar a psicanálise como ciência.
Fato é que a concepção biologicista da pulsão não encerrou em si mesma, pois, a fim de explicá-la, Freud também enveredou pelos caminhos da filosofia. Baseou-se em Platão, em suas considerações acerca do desejo humano em retornar a um estado de vida anterior pautado em Eros (uma vez que o mito de Aristófanes relata a busca pela alma gêmea com o fim de se tornar um único ser, tal como o era antes da divisão dos sexos). E ainda incursionou em Schopenhauer, cujo conceito de Vontade como algo inerente a todo ser, conhecida apenas em parte por intermédio das percepções corporais e sendo regido por ela, aproxima-se em alguns aspectos da pulsão de morte cunhada por Freud (1920/2017), pois esta última também é compreendida como intrínseca, como determinante psíquico, sendo desconhecida pelo sujeito; em outras palavras, inconsciente. Ambos os conceitos foram compreendidos como uma força que direciona ao inanimado, ao fim absoluto, ao mesmo tempo que mantém a imortalidade da coisa em si.
Por esses caminhos explicativos, aparentemente paradoxais, é que a reelaboração da teoria das pulsões culminou para o jogo de forças entre Eros, que simboliza a manutenção da vida, e Tânatos, que tende para o desligamento e o fim das tensões internas, o que não significa o desejo de morrer em si, mas sim o estado de inanição (Campos, 2013; Rey-Flaud, 2002). A fusão destas forças, por vezes conflituosas, garante a vida psíquica e a integridade do sujeito, enquanto que o deslocamento da pulsão de morte pode gerar os impulsos agressivos contra o eu, na forma de masoquismo, ou contra o objeto, nas vias do sadismo ou da violência. Essa gerência solitária e sorrateira de Tânatos também foi descrita em outros textos freudianos (Freud, 1919/2017; 1924/2016). Todavia,
Freud (1930/1996) trabalhará sem reservas a função disruptiva da pulsão de morte, principalmente nas manifestações do campo social, como um avanço do meticuloso observador da cultura, pois diferentemente de sua argumentação anterior (Freud, 1920/2016), o trabalho do instinto de morte deixa de se apresentar de forma discreta e especulativa.
Sob esses aspectos é que a teoria dos instintos traz subsídios para pensar o sujeito psicanalítico. Se de um lado, a disposição para o inanimado, caracterizado pela pulsão de morte, conduz o sujeito ao fim psíquico, é na intersecção deste com a pulsão de vida que, de acordo com Gutiérrez-Terrazas (2002), há um nivelamento entre as forças de tendências desprazerosas e àquelas que conduziriam ao estado nulo. O que se vislumbra entre as tendências de vida e de morte é uma relação de duelo e de apaziguamento. Nesses entremeios, Lacan (1964/1996) conduz ao enigma das pulsões, seus objetos inatingíveis, o vazio da falta, o nada passível de introduzir a linguagem e, assim, a noção de sujeito é nomeada em sua obra.
Diferentemente de Lacan (1964/1996), o fundador da psicanálise não empregou a terminologia "sujeito", do ponto de vista conceitual. Contudo, as definições para Das Ich (Freud, 1923/1996) são emblemáticas para a formação subjetiva. Desde logo um importante adendo a se realizar refere-se à tradução consultada, a qual recorre à palavra ego para denotar o Das Ich do texto original. Como em Finger e Cremasco (2012), a escolha será por empregar a terminologia 'eu' no lugar de 'ego', por julgarmos que o primeiro termo exemplifica melhor tanto a concepção centrada em experiências sensoriais quanto as explicações metapsicológicas, contidas no ensaio freudiano, portando o simbolismo dessa dinâmica.
A explicação do aparelho psíquico por instâncias chamadas de eu, id e supereu implicaram em mudanças no entendimento do inconsciente e, por consequência, da formação do sujeito. Embora se identifique essa obra (Freud, 1923/1996) como um marco da reviravolta teórica, é importante destacar suas relações com textos anteriores. Como dito antes, Freud (1914/2017) posiciona o investimento libidinal voltado ao eu e, com isso, o aspecto sexual numa ampla gama de pulsões, inclusive naquelas que outrora pensara não existir, produzindo uma transformação nesta teoria que mais tarde culminará na distinção entre as de vida e morte. Além disso, nesse texto introduz a definição de ideal de ego como um agente de identificação, o qual conduziu para a posterior divisão metapsicológica das instâncias.
Freud (1915/2017) também reavalia as noções descritas em obras anteriores (1900/1996; 1901/1996). Nesses dois últimos textos, a definição para o inconsciente centralizava-se nas configurações tópicas, ao localizar os conteúdos e afetos em sistemas (consciente, pré-consciente e inconsciente) a depender da ação da censura; e os aspectos descritivo-funcionais, por se referir às formações do inconsciente, tais como os lapsos, as ações ou as imagens inusitadas que, ao serem analisadas, possuíam simbolismo para além do manifesto. O que os diferencia das acepções em 1915 é a ênfase no registro econômico da realidade psíquica, ao relacionar as representações do reprimido por intermédio de cadeias associativas de palavras. A repressão desliga o afeto da representação, mas não exclui o representante pulsional, que fica livre no inconsciente e realiza novas ligações, responsáveis pelas formações sintomáticas, por exemplo. Dessa forma, os conflitos pulsionais e suas tensões internas passam a ser elementos fundamentais para a análise da psique.
Essa compreensão tem a sua continuidade em texto freudiano posterior (Freud, 1923/1996). A instância denominada por "eu" configura-se pela afluência de diversas representações das pulsões, principalmente dos seus objetos. É concebido como o polo pulsional organizado do psiquismo por mediar o jogo de forças do id e do supereu. Essa mediação é possível pela percepção das variações provenientes do interior e do exterior e é realizada pela censura advinda do eu, que nem sempre é consciente (Freud, 1923/1996). É por esses aspectos que o eu é considerado como instância multiforme, com facetas conscientes e inconscientes. Nas trilhas dessas elucubrações teóricas, o inconsciente torna-se uma caraterística das instâncias psíquicas e deixa de ser considerado como um sistema fechado em si mesmo.
Já o id, um termo em latim traduzido por "isso", denota a ideia de estranheza, é o elemento da psique que mais se aproxima do inconsciente, do ponto de vista qualitativo e das pulsões. Assim sendo, impõe o sujeito às ações, muitas vezes, inomináveis, por carecerem de representação simbólica. Nesse ínterim, a condução teórica remete ao determinismo psíquico advindo das forças pulsionais e do reprimido, bem como traduz o descentramento do eu consciente na realidade psíquica, pois há conteúdos formativos do sujeito alheios a ele (Birman, 2007; Rey-Flaud, 2002). Mais ainda, Rey-Flaud (2002), pautado nos textos freudianos, afirma que esse estrangeiro no psiquismo é produzido pelo recalque originário, o qual conduz à impossibilidade de nomeação desses conteúdos e uma primeira desintegração do narcisismo. O peso da impossibilidade de autossuficiência, pela coisa sem nome que pressiona o homem, seria a cruz a ser carregada durante a vida, da qual fala Quintana (1989/2006)?
Pode-se asseverar, ainda que haja cruz, há vida. Até mesmo parece ser essa a via da promessa cristã para a eternidade: "Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me" (Lucas, trad. 2002, p. 1359). Nas áleas da rejeição de Narciso, Green (1988) argumenta que a incumbência da pulsão de morte é instaurar a negatividade, estabelecer os limites entre a libido e os objetos (já que estes são sempre incapazes de satisfazer plenamente o id); ou seja, instaurar a falta que, embora possa ser angustiante, é promotora de estabilidade psíquica. Quando essa pulsão falha, anula-se os investimentos nas relações objetais, uma sombra do eu se interpõe, como forma de satisfação pulsional e o polo pulsional mortífero deixa de estar a serviço de Eros, instalando o que ele denomina de narcisismo negativo ou de morte. Pelas sendas desse conceito, Monteiro (2012) analisa a ações dos ditos homens-bomba como uma plena rejeição da libido narcísica devido a influência de um ideal de eu absolutista que requer a purificação de toda e qualquer satisfação. Para a autora, trata-se de uma resposta ao narcisismo negativo, tida como a real proximidade entre o extermínio biológico e psíquico. O triunfo da morte!
Se, por um lado, esse percurso conduziu à compreensão de que a morte inaugura o sujeito descentrado de si, movido por forças que desconhece, há também que se considerar os descaminhos da pulsão de morte quando esta interrompe as barreiras de censura e no desligamento da pulsão de vida direciona-se para um "estado de indiferenciação" (Rey-Flaud, 2002, p. 41), o lugar do inanimado. Tenório (2016) destaca que se após o recalque originário a recomposição do eu não ocorre, ela leva à mortificação do sujeito, as vias do delírio sobrepõem-se e os quadros psicóticos podem tomar forma, ou mesmo o que nos expõe Rey-Flaud (2002), referindo-se à agressividade ao outro manifestada pelas guerras, racismo e a violência. Aqui se desvela os sentidos dos (des)caminhos propostos neste tópico: a mesma morte simbólica que pode ascender o sujeito pelas vias da representação da palavra, é ela quem o mata quando excluída de significação.
A civilização nasceu de um homicídio
No percurso das forças pulsionais presentes no autoerotismo e, posteriormente, nos estados narcísicos, e embora considerasse a divisão dos instintos em sexuais e do eu (categorias posteriormente revisitadas pelo autor), Freud (1913/2016) traça um paralelismo entre o desenvolvimento psicossexual humano e a história da civilização. Essa relação proposta pela obra freudiana remete, inevitavelmente, no esbarro da morte. Lacan (1994/1995) recupera o trajeto mítico enunciado por Freud (1913/2016) para assinalar a ideia do resgate do lugar do pai, aquele primeiro que forja a possibilidade da vida em civilização. Este genitor primitivo está morto, sua tirania causou revolta e ele foi assassinado pelos próprios filhos, ao mesmo tempo em que continua vivo simbolicamente, preservado nas normas, de forma a sustentar o laço social entre os irmãos. Segundo o autor, o parricídio tem justamente a função de preservar esse pai, ao presentificá-lo nos interditos. Segundo Lacan (1994/1995):
A essência do principal drama introduzido por Freud repousa sob uma noção estritamente mítica, na medida em que ela é a própria categorização de uma forma do impossível, até mesmo do impensável, a saber a eternização de um só pai na origem, cujas características consistem em ter sido morto. E por que, senão para conservá-lo? Chamo a atenção de vocês, de passagem, para o fato de que em francês, e em algumas outras línguas, entre as quais o alemão, tuer, matar, vem do latim, tutare, que quer dizer conservar" (p. 215).
Contudo, o assassinato por si só não garante a manutenção do pai mítico. Por ser a imortalidade da ordem do impossível, é necessário que ele seja elevado ao nível do sagrado e se atualize por meio das proibições impostas no e pelo coletivo. Essas imposições não surgiram do acaso, o vislumbre da tirania do pai em si mesmos fez com que os filhos optassem por negá-la, para construir um mundo pautado na vida fraternal. França Neto (2012) argumenta que a eternidade paterna se dá por ela ser objetificada, pois toma forma nas leis, e nesta operação algo de fundamental se perde, causa a falta que garante a força motriz das ações civilizatórias. Esse pacto primordial é reeditado na história de cada um; remete aos caminhos edipianos, nos quais a dupla de sentimentos amor e ódio para com a figura paterna é, de certo modo, suplantada pela culpa, tanto por haver desejado a figura materna que origina o horror ao incesto quanto pelo ódio dirigido ao pai que levou ao seu assassinato. Os dois tabus são considerados por Freud (1913/2016) como fundamentais para a sociedade e se revelam intimamente relacionados à figura paterna mortificada para assim ascender como intocável, o totem.
Se na complexidade desse mito freudiano encontra-se os enlaces entre os vestígios da psicologia infantil e da origem da sociedade, em uma pretensão metapsicológica de Freud (1913/2016) de contribuir com os estudos do campo social e da psicanálise buscando ampliar a investigação da psique humana, é certo também que a profundidade dessa obra está na análise de estudos etnográficos sobre a gênese das interdições presentes em algumas tribos que ainda mantém os costumes de épocas longínquas e a sua continuidade na sociedade. O autor interroga-se sobre as interligações desses interditos e o totemismo, bem como nas repercussões destes para a vida coletiva, a origem das religiões e da moral civilizatória.
Por totem denomina-se o animal ou a planta que representa uma determinada tribo, e se constitui como uma proteção ao coletivo. É hereditário, sagrado e, por isso, não pode ser consumido pelos indivíduos, ressalvando-se ocasiões especiais. Freud (1913/2016) sinaliza ser o totem o substituto protetivo do pai tirano e, pelos banquetes, há a rememoração do seu assassinato como uma forma de lidar com o arrependimento pelo ato homicida, ao mesmo tempo em que se celebra a sua sacralização. Na perspectiva de França Neto (2012), isto propicia a sua eternização por se tornar objeto, ainda que mortificado, mas que atribui vida ao coletivo e ao sujeito.
Pela investigação de monumentos, ritos e lendas tribais, Freud (1913/2016) inferiu que o totemismo foi uma etapa originária das instituições religiosas. Fuks, Basualdo e Braunstein (2013) argumentam que o parricídio no mito freudiano representa o recalque primário condizente à saída simbólica da tríade familiar, do conflito edipiano. O abandono do amor infantil pelas figuras paternas não se dá por acaso, relaciona-se à angústia de castração diante da descoberta da ausência do pênis nas meninas. Embora a dissolução do complexo de Édipo incida em caminhos diversos, o que há de comum é que ela envolve uma série de lutos, tais como a perda do corpo infantil e a renúncia aos pais heróis. Essa operação institui o sujeito faltante, aquele que declina dos primeiros objetos de amor, para se constituir na linguagem e no social, na eterna busca desses objetos perdidos. Ancorado nas concepções schopenhauerianas e freudianas, Mohr (2018) sustenta que a morte é a fonte para a existência da religião, da filosofia e da ciência. Sem ela o engenho da vida sequer funcionaria, visto que traz em si o limite capaz de operar tanto a vida psíquica, por retirar o indivíduo da tríade familiar, quanto as elucubrações para estar no mundo, que muitas vezes parece hostil. Com a ausência da morte, a condenação seria a inércia da eternidade, resgatando o sentido da primeira lei de Newton, uma vida constante, retilínea e, quem sabe, sem as produções que a humanidade foi instigada a criar. Mais uma vez a morte aparece nas elucubrações sobre o nascimento do totem, constituindo-se como um dos alicerces da civilização, da filosofia, das crenças religiosas e do sujeito.
O aparente paradoxo entre a extinção biológica e a emergência do ser e de suas instituições sociais, torna-se desanuviado ao pensar a morte como marca da ceifa pela qual todo vivente está fadado a experienciar, aquela que diz respeito à abnegação do amor primevo direcionado às figuras parentais, ao mesmo tempo em que o lança ao campo obscuro dos desejos pelos objetos secundários, sendo assim capaz de perpetuar a espécie e de se instaurar como sujeito na cultura.
Seguindo nossas reflexões, nos vem à mente uma poesia de Cruz e Souza (1882/n.d.), que parecem exemplificar essa trajetória de ruptura. O que nos chama a atenção nos versos abaixo, é a destinatária desse poema, uma garota na entrada da adolescência, assim como a biografia do autor que se revela repleta de episódios de perdas (morte de seus pais, esposa e filhos), e de racismo, que o impediu de assumir o cargo de promotoria em seu estado e de ter espaço no mundo literário da época, a despeito de sua genialidade. Enfim, os seus versos:
(...) Quais precursoras
do mais ingente e mago dos assombros,
do orbe imenso nos calcáreos ombros,
rola um dilúvio, um grande mar de estrelas
que lançam chispas cambiantes, belas!...
Há um estranho amalgamar de cousas
como os segredos funerais das lousas
ou o rebentar de artérias
-Ou o esgarçar de brumas,
negras, cinéreas
-Ou o referver de espumas,
nas longas praias
alvinitentes, mádidas, sem raias.
Do brônzeo espaço,
das fibras d'aço
como que desloca-se um pedaço
que vai ruir com trépido sarcasmo nas obumbradas regiões do pasmo...
-O Invisível
geme uma música, lânguida, saudosa,
que vai sumir-se na entranha silenciosa do impassível!
-O Imutável
-O Insondável
Lá vão cair no seio do incriado. (...)
(Cruz e Souza, 1882/n.d., p. 1-2)
Na perspectiva freudiana de que a arte e sua inclinação de extrapolar os limites da intelectualidade, possibilitando o resgate de afetos, a emergência de fantasias e de pulsões (Freud, 1914/2015), é que propomos algumas analogias com o enredo psicanalítico. Consideremos que Cruz e Souza foi o precursor do simbolismo no Brasil e nomeado de Dante Negro, em referência a Dante Alighieri. Em sua poesia, opta pelo uso não convencional da linguagem, como forma de impugnar a realidade imposta. Na citação acima é possível identificar o uso da metáfora para capturar em palavra o peso do sofrimento da vida, "do orbe imenso nos calcáreos dos ombros" (p. 1), na qual o eu lírico realiza uma busca dilacerante ("ou o rebentar das artérias, ou o esgarçar de brumas"; p. 1), que culmina com a ironia do encontro com algo incapturável, imutável e eterno. Esse trecho de sua poesia evoca o conceito freudiano para "Das Ding" - A Coisa - o inominável que estranhamente resta dos primeiros objetos de satisfação perdidos na infância, cujo traço de memória compele à busca por novas possibilidades de satisfação e, portanto, conduz o ser humano ao mundo social, posicionando-o em relação ao outro.
Do paralelismo entre a psicologia individual e a dos povos, os últimos versos desse trecho da poesia parecem se aproximar com o pai sacralizado do mito freudiano da horda primeva. Nele, a figura paterna tirana é substituída pelo sagrado e intocável totem como uma forma de reconciliação, diga-se de passagem ambivalente, pelo ato homicida dos filhos. Na poesia, embora não haja menção a um objeto que pudesse simbolizar o totem, vislumbra-se o encontro assombroso com o inabalável, aquele da ordem do um, da lei, santificado e, por essa razão, o protótipo abstrato que remete à consagração do pai primordial. E é nos braços do sagrado que Cruz e Souza (1882/n.d.) conduzirá o leitor para o âmago do inanimado, pois "Lá vão cair no seio do incriado" (p. 2), parecendo indicar uma das veredas percorridas pelas forças pulsionais, a tendência nula. Birman (2007) fundamenta ser essa uma das caraterísticas da pulsão de morte, por ser irrepresentável em termos objetais, posiciona o sujeito no desemparo, o qual sem possibilidade de tamponamento, instaura a marca da falta na experiência psíquica e a constitui.
Há que se considerar o outro lado dessa mesma moeda, pois se a morte é o motor da vida, ela também impõe seu gosto amargo por barrar a imaginária onipotência do eu. Ao analisar a interdição do assassinato nos povos adeptos do totemismo, Freud (1913/2016) apresenta uma série de rituais e preceitos relacionados a este tabu. A restrição quanto a matar o animal totêmico fora de épocas festivas, era considerado um crime contra a ancestralidade do clã. Quando um inimigo era morto, guardava-se luto por ele, além de serem iniciados os ritos de purificação após o cometimento de um homicídio. Os combatentes deveriam guardar distâncias para não trazer doenças, impurezas, ou mesmo a morte para os membros do clã. É de conhecimento também que algumas tribos se alimentavam de partes dos corpos de seus oponentes, como forma de tragar as suas forças. Os ritos se estendiam aos mortos do grupo, havendo a limitação quanto ao toque em seus corpos, as restrições alimentares e de afazeres aos parentes de pessoas mortas, bem como as esposas deveriam permanecer isoladas da tribo quando seu companheiro falecia. Diante dessas advertências referentes ao assassinato e aos mortos, Freud discorre sobre o temor da própria morte, relacionada à culpa pelo assassinato primordial e que essa se estende ao animal totêmico; e para a compreensão inconsciente de que não há morte natural, todas proveriam de um homicídio, mesmo que advindos das fantasias e dos desejos. (Freud, 1913/2016)
Esse enunciado acerca do desejo encoberto de morte direcionado ao outro como imbricado à culpa, aparece reiteradas vezes no discurso freudiano. Todos os sujeitos lutam diariamente contra os anseios de morte endereçados àqueles que impedem à satisfação narcísica, podendo-se identificar isso em algumas expressões jocosas do cotidiano, tais como o "Vá pro inferno" e "Que a morte o leve" (Freud 1915/2017, p. 213). O neurótico carrega a culpa de um homicídio que apenas desejou em sua imago (Freud, 1906/1996). Tanto que há os criminosos que, atravessados pelo fulminante sentimento de culpa, perseguem o castigo nos atos pelo viés das violações (Freud, 1916/2017). Na análise de Dostoiévski - mais especificamente de seus ataques epilépticos, de sua controversa submissão à moral cristã, do parricídio em um de seus romances, que muito se assemelha à morte factual do pai do escritor - há a compreensão de Freud (1928/2015) sobre as tentativas do escritor em aplacar a culpa pela ânsia de morte dirigida ao pai.
Para Freud (1928/2015), Dostoiévski, além de ser avassalado pela terrível culpa decorrente do desejo mortífero, tinha um potencial psíquico para o crime que foi sublimado pelas vias da produção artística e em sua capacidade de amar. Nesse ínterim, a compreensão freudiana é de que as artes são capazes de promover uma reconciliação simbólica com a finitude da vida, mesmo que parcialmente, como uma forma de refúgio de sobrevivência na figura dos heróis e de assegurar a própria imortalidade (Freud, 1915/2017).
Outra maneira de garantir a eternidade diz respeito às concepções religiosas. De acordo com Freud (1927/2010), a fatalidade do destino é tão cruel para o eu que as criações do divino foram inventadas. Elas possuem aspectos infantis e geralmente estão relacionadas à substituição das figuras parentais protetivas. Basta uma rápida leitura nos mitos gregos, nórdicos, egípcios e das religiões em geral, para perceber a recorrência da morte relacionada com a culpa originária da civilização e do sujeito. No hinduísmo, o deus Shiva possibilita a vida, pois carrega em si a dualidade do nascimento e da morte; Kali sua companheira é a deusa da morte e considerada a mãe do universo. Em um mito chinês denominado Pan Ku, a criação emergiu do vazio primordial, a partir de um grande ovo que lá passou a se desenvolver e, ao acordar e se partir em dois, instaurou a dualidade; de sua morte nasceram o Sol e a Lua. Na mitologia grega hesiódica, Caos, a divindade inicial, simboliza o vazio primordial, a separação, e dá início à vida por intermédio das diversas cisões. Seu filho Eros possui caraterísticas opostas: a da união, capaz de organizar o universo e as unidades.
No diálogo com a mitologia retorna-se ao jogo das forças pulsionais da morte e da vida. Parece lícito sustentar que a emergência da civilização e do sujeito não é possível quando essas forças encontram-se isoladas. Nesse sentido, Raulet (2002) reforça a ideia da necessidade do serviço de Tânatos a Eros e sustenta que sucumbir a todas as renúncias impostas pela cultura conduziria para a vitória da morte. Para ele, as normas civilizatórias não somente forjam os laços sociais, mas também são dotadas de aspectos destrutivos das pulsões mortíferas. Esse último tipo de normas pode direcionar os sujeitos à uma alienação funesta. Partindo de uma temática diferenciada, Didier-Weill (1998) aborda sobre as vicissitudes soturnas da presença singular da força pulsional da morte no que diz respeito à nomeação simbólica. De acordo com o autor, desligada da pulsão de vida sequer restaria a possibilidade de nomeação do vazio constitucional, apenas a presença cruel da finitude, a morte psíquica. É dessa forma que o "estranho amalgamar das cousas" (Cruz e Souza, 1882/n.d., p. 2) - morte e vida; separação e unificação - parece ofertar condições para situar o sujeito em relação ao outro. Ao mesmo tempo em que dispõe sobre o motor da sociedade para a manutenção de laços entre os iguais e menos déspotas. A civilização nasceu de um homicídio, a ele deve o surgimento de suas instituições. Em contrapartida, sem a dualidade das forças e a ação unificadora de Eros sucumbiria para as vias do incriado.
As cortinas se fecham e as luzes se apagam: para finalizar
No mais além de um fato biológico, na vida psíquica a morte entra em cena com a sinalização sobre a necessidade de renúncia aos primeiros objetos de amor. Trata-se de uma perda irreconciliável, uma vez que essas figuras possibilitaram a sobrevivência mediante a prematuridade do bebê. As primeiras sensações prazerosas, de simbiose oceânica com o mundo devem ser abdicadas sob a ameaça de perda de parte essencial ao narcisismo: o falo. Os caminhos mortíferos na vida do psiquismo parecem estrear um sujeito movido por forças que desconhece e quando, mesmo diante da falta constitucional, consegue simbolizar com recursos diversos, seja por intermédio das artes, de um ato de rebeldia contra a cultura hegemônica alienante, das ciências ou da reconciliação com o sofrimento, compreende-se que a morte está a serviço de Eros. É nesse aspecto que se compreende a morte encenando a vida.
Se, por outro lado, a morte cede a si mesma, desligando-se de recursos unificadores, a agressividade emerge das mais diversas maneiras, seja contra o próprio eu, seja contra o outro, na forma das guerras, da violência e do horror ao diferente. Com a carência de representação do vazio constitucional, o outro torna-se apenas um objeto e não se instala a alteridade. Esses são os (des)caminhos apontados da morte para o psiquismo. O apagar das luzes, sem o fechar das cortinas advindas dos lados opostos do palco.
A civilização e suas instituições não possuem caraterísticas antagônicas à constituição do sujeito como se supõe à primeira vista. Para se estabelecer o projeto de uma coletividade também foi preciso renunciar ao monopólio do desejo. No mito freudiano, esse poder centraliza-se no pai primordial que detinha a posse sobre todas as fêmeas do clã. Por meio do parricídio e da sacralização do pai com o totem, os filhos garantiram o estabelecimento de uma comunidade fraternal, dotada de regras que impediam a emergência de um novo déspota. Ocorre que com o sangue derramado, não há remédio passível de pleno apaziguamento. Pelas veredas da concepção freudiana sobre as religiões serem formas expressivas do imaginário das culturas, buscamos elencar algumas em que os mitos se relacionavam ao assassinato primordial, pelas vias do rechaço da morte, sendo esta capaz de causar temor e abrir a ferida narcísica de um ser faltante e impotente diante do seu destino.
Na metáfora do encerramento de uma peça teatral procuramos resgatar o título deste ensaio ("a morte encena a vida") para destacar que a conotação utilizada para "encena" foi a da ordem de uma representação, de tradução. Assim, compreende-se que a morte encena a vida, na medida em que simbolicamente representa a ceifa promotora do vazio constitucional, capaz de atribuir vida psíquica e da coletividade calcada nos laços fraternais. Além disso, o "fechar das cortinas" usado nesta conclusão, teve o anseio de simbolizar o argumento de que o par de opostos, pulsões de vida e de morte, quando unidos constroem os caminhos de nomeação e de constituição do sujeito na alteridade. Para finalizar, a analogia com o teatro significa um modo de concluir que admite ser possível novos trajetos teóricos e outros discursos para a temática abordada. Mas se há que ter um fim, que seja vislumbrando a abertura de outras cortinas nesse teatro da vida. Ou seria morte?
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Recebido em: 03/09/2018
Aprovado em: 10/02/2020