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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versión On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.14 no.2 São João del-Rei abr./jun. 2019

 

Editorial 14(2)

 

 

Larissa Medeiros Marinho dos SantosI; Isabela Saraiva de QueirozII; José Rodrigues de Alvarenga FilhoIII; Maria de Fatima Aranha de Queiroz e MeloIV

Ilarissa@ufsj.edu.br
IIisabelasq@ufsj.edu.br
IIIjoserodrigues@ufsj.edu.br
IVfatimaqueiroz.ufsj@gmail.com

 

 

O segundo número multitemático de Pesquisas e Práticas Psicossociais do ano de 2019 chega para publicação com 16 artigos, tendo como protagonistas temas caros ao escopo das questões psicossociais, tanto no que se refere à pesquisa como aos relatos de experiências. Na contramão do que temos visto nesses últimos seis meses, nossos autores continuam preocupados com as políticas públicas relacionadas aos usuários de drogas, aos direitos da infância e juventude, aos cuidados com a saúde mental, às questões de gênero, à situação da mulher, à precarização do trabalho - especialmente na Educação -, à qualidade de vida dos variados grupos. Mais do que identificar as questões que envolvem situações problemáticas, percebemos, nos artigos que aqui apresentamos, o caráter propositivo na busca de alternativas. Continuamos entendendo o trabalho da Psicologia como pautado pelo compromisso de construir conhecimento eticamente válido, pela defesa de direitos e pelo respeito à pluralidade de existências, pelo cuidado com aqueles que sofrem sem submetê-los ou discriminá-los, pela possibilidade de expressão de nossas histórias, pela prática saudável do jogo democrático. Diante da tentativa de silenciamento de fatos e grupos, como nos mostra a resenha ao final do número, sabemos que é possível ignorá-los por algum tempo, ainda que longo, mas em algum momento eles surgem com toda a sua potência, lançando luz ao que estava oculto para redimir os que arcaram com o ônus da exclusão e da arbitrariedade. O papel dos periódicos, científicos ou não, precisa estar inspirado pelo compromisso da transparência e da divulgação do que é do interesse público, permitindo ao máximo de pessoas o acesso à informação e ao cuidado. Da mesma forma, deveriam ser formuladas as políticas públicas que, por serem públicas, deveriam estar dirigidas às necessidades daqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade e não atreladas aos interesses de mercados.

No artigo "Resistências à precarização no trabalho docente: posicionamentos teóricos e metodológicos", Maria Elizabeth Barros de Barros, Fabio Hebert da Silva, Jésio Zamboni, Líbia Monteiro Martins, Jaddh Yasmin Malta Cardoso, da Universidade Federal do Espírito Santo, colocam em análise a situação de professores com contratos temporários. Para tanto, são utilizadas, como ferramentas teóricas, contribuições da Ergologia e da Clínica da Atividade. "O que temos feito de nós mesmos, para onde desejamos ir, quais são nossas apostas ético-políticas?", questionam os autores.

Em "Fronteiras permeáveis e suas implicações no cuidado em Saúde Mental: a experiência de um serviço aberto e territorial", Daniela Tonizza de Almeida e Amanda Elias Arruda, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, utilizam cenas cotidianas e fragmentos de casos clínicos para interrogarem as implicações entre um Centro de Atenção Psicossocial III (Caps III) e o território para a estruturação do cuidado.

Paola de Oliveira Camargo, Michele Mandagará de Oliveira, Lieni Fredo Herreira, Andreza Erdmann Furtado, Suélen Cardoso Leite Bica, da Universidade Federal de Pelotas, no artigo "Acompanhamento de crianças filhas de mulheres usuárias de drogas: um relato de experiência", trazem um relato do projeto de extensão: "Promoção da saúde no território - acompanhamento de crianças filhas de mulheres usuárias de crack, álcool e outras drogas". Para as autoras, não apenas a utilização de substâncias deve ser considerada no exercício do cuidado, mas o indivíduo em todos os seus aspectos biopsicossociais.

No artigo "Adoecimento psicossomático em mães que estão expostas à vulnerabilidade dos filhos adictos", Gilmar Antoniassi Junior, Vânia Cristine de Oliveira, Luciana de Araujo Mendes Silva, Glória Lúcia Alves Figueiredo, da Universidade de Franca, almejaram verificar, em mães de filhos adictos, a possibilidade do adoecimento psicossomático quando expostas à vulnerabilidade do envolvimento das drogas. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e exploratório em que os autores fizeram uso de entrevista semiestruturada, a escala de Hamilton, Escala de Alexitimia de Toronto, e o Inventário de Estratégias de Coping, de Folkman e Lazarus.

No artigo "Grupos psicoeducativos com familiares dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial", Débora Jerônima Arantes, Raíssa Picasso e Elisa Alves da Silva, vinculadas, respectivamente, à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, à Universidade Federal de Goiás e à Faculdade Estácio de Sá de Goiás, descrevem as intervenções com grupos de familiares de usuários do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Goiânia. A partir do método de observação participante, fazem o relato de experiência das atividades desenvolvidas em um estágio supervisionado que são descritas e discutidas teoricamente no artigo, numa contribuição ao debate que se desenvolve no campo da saúde mental.

As autoras Aline Juliana Nunes da Silva, Arles Monaliza Rodrigues Nascimento, da Unifavip/DeVry, da Universidade Federal da Paraíba, e Rafaela Rocha da Costa, da Unifavip/DeVry, apresentam os resultados de uma pesquisa qualitativa desenvolvida a partir do método de história oral, no município de Caruaru/PE, sobre "As implicações dos contextos de vulnerabilidade social no desenvolvimento infantojuvenil: da família à assistência social". O trabalho foi desenvolvido com jovens entre 18 e 29 anos e permite uma reflexão sobre os contextos de vulnerabilidade e sobre as estratégias de enfrentamento identificadas pelos participantes.

O artigo "Entre a cruz e a espada: tensões entre a Igreja Católica e o Estado na emergência da proteção social à infância e juventude no Brasil", de Rodrigo Kreher e Neuza Maria de Fátima Guareschi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é um ensaio teórico sobre a relação entre a Igreja e o Estado no que se refere às políticas de atenção à infância e à juventude brasileira desde o séc. XIX. A discussão parte de Foucaut e traz um debate histórico e político que nos leva a refletir sobre as políticas atuais e suas interseções com o discurso religioso.

Gislaine Cristina Pereira, Sílvia Zuffo e Eliana Gonçalves Moura, da Universidade Feevale, no artigo "Juventudes e qualidade de vida", investigam, tendo como referência o Projeto Pescar - desenvolvido na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul -, as percepções cotidianas de jovens sobre qualidade de vida. No texto, fazem uma breve discussão sobre o conceito de juventudes e sobre o de qualidade de vida. A pesquisa foi realizada por meio de observação participante em rodas de conversa sobre o tema e as categorias foram organizadas com base nos aspectos citados pelos jovens como relacionados à qualidade de vida. Observa-se que o trabalho pode contribuir sobre a temática da juventude em projetos sociais voltados para o trabalho.

No artigo "Gênero, intersubjetividade e saúde", Karina Rodrigues Matavelli Rosa, Carlos Roberto Castro e Silva, Rosilda Mendes e Danilo de Miranda Anhas, da Universidade Federal de São Paulo, apresentam pesquisa participante realizada com Agentes Comunitárias de Saúde, à luz da dialética exclusão/inclusão e do resgate da afetividade na reflexão sobre os processos psicossociais, dando visibilidade à questão de gênero que transversaliza a constituição dessa categoria profissional.

Ana Karina Silva Azevedo e Elza Maria do Socorro Dutra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no artigo "Era uma vez uma história sem história: pensando o ser mulher no Nordeste", utilizam trechos de depoimentos de três mulheres sobreviventes de tentativa de homicídio por parte de seus parceiros, coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, para construir uma reflexão sobre a marca da historicidade na construção do ser mulher em nossa sociedade.

O artigo "Violência entre parceiros íntimos e uso de álcool: estudo qualitativo com mulheres da cidade de Juiz de Fora-MG", de Thársia Girardi Carpanez, Lélio Moura Lourenço e Fernanda Monteiro de Castro Bhona, da Universidade Federal de Juiz de Fora, discute a relação entre o consumo de álcool e a ocorrência de violência entre parceiros íntimos a partir dos relatos de mulheres vítimas de violência, colhidos por meio de entrevistas semiestruturadas.

Ivan Fortunato e Gisele Maria Schwartz, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, no artigo "Psicologia positiva, cinema e a resiliência de si: libertar-se do próprio eu", realizam uma análise fílmica dos personagens Chris Gardner, do filme À procura da felicidade, e Charlie Saint Could, de A morte e vida de Charlie, ambos qualificados como filmes de Psicologia Positiva, para discutir o conceito de "resiliência de si".

Laís Vargas Ramm, Édio Raniere, Cleci Maraschin, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, são autores do artigo "Feira Virtual Bem da Terra: fragmentos de uma utopia menor", que discute uma experiência de feira virtual, considerada embrião de uma utopia concreta de consumo responsável, envolvendo produtores, consumidores e incubadoras tecnológicas de empreendimentos de economia solidária, apontando-a como uma alternativa coletiva relacionada ao desejo dos seus participantes quanto às transformações que ela permite no mundo contemporâneo.

"O mal-estar do coletivo: uma análise sobre as liberdades individuais dentro de uma ecovila", de autoria de Andrea Douat Loyola Cavalcanti, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é fruto de uma pesquisa de campo em uma ecovila que teve como propósito analisar como as liberdades individuais são expressas em uma proposta de convivência voltada para o coletivo. A relação entre indivíduo, comunidade e ambiente levanta a discussão sobre as estratégias para a resolução de conflitos como parte do cotidiano local da ecovila pesquisada, apontando para a elaboração de desafios presentes na sociedade atual.

Em "Petismo e antipetismo em relatos de simpatizantes da direita na internet", Pedro de Oliveira Filho (Universidade de Campina Grande), Giulliany Gonçalves Feitosa (Universidade Federal da Paraíba), Caio Cesar Winker e Silva (Universidade de Campina Grande), usando o método de análise de discurso desenvolvido pelos teóricos da Psicologia Social Discursiva, buscaram compreender, nas respostas às postagens do jornalista conservador Reinaldo Azevedo, no ano de 2015, como se constrói a identidade dos petistas e dos antipetistas em relatos de simpatizantes da direita na internet, identificando a maneira como definiam a si mesmos e aos outros.

Fechando este número, Marília Novais da Mata Machado (Universidade Federal de Minas Gerais) nos brinda com a resenha à qual deu o título de "O silenciamento e a busca da verdade", derivada do livro de Michel Marie Le Ven e Rosely Carlos Augusto, publicado pela Editora PUC Minas. A autora nos mostra que Memórias vivas de 1968: a prisão dos padres franceses e do diácono brasileiro em Belo Horizonte é uma obra que assume particular importância nos dias de hoje, uma vez que traz à tona verdades silenciadas sobre como os abusos, assassinatos, terror, perseguição política, dor e sofrimento perpetrados pelo Estado durante ditadura militar puderam ocorrer e durar por quase cinco décadas, numa história ainda não contada da ditadura que perdurou, no Brasil entre os anos 1964 e 1985.

Agradecimentos não podem faltar para encerrar o Editorial deste número: aos autores que se mobilizaram a publicizar seus trabalhos, aos pareceristas que se dedicaram a emitir avaliações para enriquecer o material aqui publicado, aos editores e à nossa secretária que acompanharam todo o fluxo editorial, aos parceiros do Sedit, que, competentemente, revisaram, diagramaram e postaram os artigos, aos parceiros da Caboverde Design, que fazem a marcação para habilitar o conteúdo do número para indexação no Pepsic. Nunca é demais dizer que, sem todas essas colaborações, não seria possível a existência da revista. Obrigada a todos e todas!

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