SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número51Uma perspectiva psicanalítica sobre a transitoriedade: análise da personagem Vivian do filme “Uma lição de vida” índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Compartir


Estudos de Psicanálise

versión impresa ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.51 Belo Horizonte jan./jun. 2019

 

EDITORIAL

 

O Círculo Brasileiro de Psicanálise, que no ano passado comemorou o número 50 da Estudos de Psicanálise, revista semestral desde 2010, este ano comemora o cinquentenário da publicação do primeiro número. Federação composta por sociedades filiadas de quatro das cinco grandes áreas geográficas do Brasil, o CBP também possui a diversidade de leitura dos grandes autores que surgiram após Freud. Nos artigos deste número 51 podem ser encontradas referências a Balint, Bion, Klein, Lacan, Laplanche e Winnicott, bem como menções a pensadores de diversas origens, como Aristóteles, Kant e Gilberto Freyre, além dos autores ainda vivos, nacionais e estrangeiros, continuadores da diversidade de leituras psicanalíticas que foram contemplados com citações e referências ao longo das dezenas de páginas seguintes. O conteúdo dos artigos recebidos abrangeu uma diversidade tão ampla que, para facilitar ao leitor, achamos melhor agrupá-los em quatro grandes áreas: Arte e Psicanálise; Gênero, Sexualidade e Psicanálise; Psicanálise e Contemporaneidade e, por fim, Teoria e Clínica Psicanalítica.

O Círculo Brasileiro de Psicanálise incompletamente reflete a diversidade geográfica, étnica e cultural brasileira, influenciada por psicanalistas e pensadores de países de diversos continentes e religiões (neste número há referências a ingleses, austríaco, turco, franceses, americanos, húngaro, italianos; católicos, anglicanos, protestantes, mulçumano, judeus e vários ateus, sendo o mais famoso um de origem judaica – Freud). Sem deixar de lado o uso mais recente da palavra “diversidade”, que teve seu início há mais de cem anos com Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade de Freud, que é o da diversidade sexual, que implicitamente participa das várias linhas teóricas, dos múltiplos temas de psicanálise aplicada à arte ou a eventos sociais e políticos contemporâneos, diferentes opiniões dos inúmeros autores e é indispensável na escuta da clínica psicanalítica.

Tema do livro que Freud afirmava ser sua obra mais bem escrita – Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci – a seção Arte e Psicanálise traz dois artigos de colegas do Pará e de Minas Gerais, que compõem uma ponte com o cinema, a partir dos fimes Uma lição de vida e A nossa espera. Também pertence a essa seção um texto enviado por colegas do Ceará sobre livros de Orhan Pamuk, autor turco e Prêmio Nobel de Literatura. Um estudo nosso, participante da filiada do Rio de Janeiro, trabalha sobre a pintura a partir da Cabeça de Medusa, obra de Caravaggio. Por último, um artigo de colega mineira, que, ao dissertar sobre o objeto a, aborda tanto uma peça de teatro – Master Class – quanto a música, ao tornar a famosa cantora lírica Maria Callas personagem do texto.

A seção Gênero, Sexualidade e Psicanálise é composta de três artigos que, por acidente da ordem alfabética dos nomes dos autores, seguem a trajetória da teoria e da clínica psicanalíticas. O primeiro, vindo de colega do Rio Grande do Sul, discorre sobre conceitos centrais da sexualidade segundo Freud, entre os quais, complexo edípico, bissexualidade e relações objetais. O segundo artigo, originado por colegas de Minas e do Pará, aborda a histeria, não aquela dos textos clássicos de Freud ao início da descoberta da psicanálise, sempre relatos sobre mulheres, mas sobre a histeria masculina e sua relação com a impotência. Por último uma colega do Rio de Janeiro traz uma discussão muito atual, de um problema clínico e teórico que, mais de um século depois, surge como consequência direta da descoberta freudiana: as transexualidades.

O primeiro artigo da seção Psicanálise e Contemporaneidade, escrito por colega da Bahia, aborda pelo viés psicanalítico a relação entre verdade e mentira nas narrativas de uma época em que os meios digitais ampliaram a divulgação de informações falsas, mesmo no Brasil, popularmente conhecidas como fake news. O segundo artigo da seção, vindo de colega mineiro, discorre sobre o medo e o desamparo em tragédias com até centenas de vítimas e gigantescos danos ao meio ambiente, ocorridas em Minas Gerais, mas de impacto e responsabilidade de toda a Nação. Tragédias para as quais não houve fake news que as contivessem: o rompimento de barragens de acúmulo dos detritos de mineração. O terceiro artigo da seção apresenta a experiência pessoal do autor, colega gaúcho, em uma viagem à África do Sul. Os conceitos de pulsão, narcisismo e sadismo, para discorrer como um regime fruto de ideias nazistas e fascistas, embora oficialmente extinto há vinte e cinco anos, ainda produz efeitos nefastos. Regime que é produzido pelos fantasmas de todos nós do que apenas por mentes paranoicas. Por último, um artigo também de colega do Rio Grande do Sul, menciona várias vezes o pensador brasileiro Gilberto Freyre para traçar por uma leitura psicanalítica a relação entre a retórica de ódio, o sadismo e as relações sociais no Brasil.

Por fim, a quarta e última seção agrupa trabalhos sobre Teoria e Clínica Psicanalítica, sem as quais e seu início por Freud há mais de cento e vinte anos, nenhuma das outras três seções existiria. O primeiro trabalho, de um grupo composto por colegas de Minas e do Pará, discorre sobre o uso de esquemas ópticos por Lacan e sua relação com o objeto a. O texto seguinte, também de Minas, refere-se ao Seminário VII, de Lacan, e à questão da transmissibilidade da psicanálise. A colega da Bahia, autora do terceiro artigo, entre vários autores, também utiliza o referencial lacaniano, ao abordar aspectos que aparecem na clínica contemporânea da adolescência, entre eles, isolamento excessivo, bullying, cortes no corpo, desejo de matar e de morrer, o uso de drogas, experiências sexuais com pares do mesmo sexo. Seguindo a diversidade dos autores e das correntes psicanalíticas que surgiram a partir do legado freudiano, o autor do quarto texto, vindo do Rio Grande do Sul, apresenta uma reflexão fundamentada em um autor relativamente pouco estudado nas filiadas ao CBP: Wilfred Ruprecht Bion. Por fim, o texto do colega de Sergipe menciona várias vezes o psicanalista de origem húngara Michael Balint como referência teórica e clínica ao discorrer sobre a necessidade de formar bons profissionais na área de saúde.

Boa leitura.

Anchyses Jobim Lopes

Creative Commons License Todo el contenido de esta revista, excepto dónde está identificado, está bajo una Licencia Creative Commons