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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.54 no.100 São Paulo ene./jun. 2021

 

TEMA LIVRE

 

A conquista da formação integrada na SBPSP

 

The achievement of integrated training in SBPSP

 

La consecución de una formación integrada en SBPSP

 

La réalisation de la formation intégrée au SBPSP

 

 

Alessandra Ricciardi GordonI; Regina Elisabeth Lordello CoimbraII

IMembro efetivo, docente e secretária da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Psicanalista de crianças e adolescentes pela IPA. São Paulo / argordon@uol.com.br
IIMembro efetivo, docente e coordenadora da Comissão de Formação Integrada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Psicanalista de crianças e adolescentes pela IPA. São Paulo / bethcoimbra07@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo tem por objetivo descrever o processo que levou à implantação da formação integrada na SBPSP. Para tanto, relata brevemente a história da formação em psicanálise de crianças e adolescentes na instituição, bem como o processo que levou à concepção do modelo aprovado a ser implantado. Um breve relato dos fatores que nortearam a formação integrada no Cocap também está incluído, assim como algumas concepções acerca da integração e o programa de formação. Esperamos que sua leitura esclareça e motive o membro filiado a incluir em suas escolhas seminários concernentes à psicanálise de crianças e adolescentes, uma vez que o estudo da infância e da adolescência faz parte da formação psicanalítica, ampliando a escuta do infantil no adulto, ainda que não se trabalhe diretamente com essa faixa etária.

Palavras-chave: formação integrada, psicanálise de crianças e adolescentes, história da psicanálise


ABSTRACT

This article aims to describe the process that led to the implementation of integrated training in SBPSP. To this end, it briefly reports the history of the training in psychoanalysis of children and adolescents in the institution, as well as the process that led to the conception of the approved model. A brief report of the factors that guided integrated training in Cocap is also included, as well as some conceptions about integration and the training program. We hope that this reading will clarify and motivate one to include in one's choices the seminars that concern the psychoanalysis of children and adolescents, since the study of childhood and adolescence is part of the analytical training - and amplifies the psychoanalytical listening to the infantile - even if one does not work directly with this age group.

Keywords: integrated training, child and adolescent psychoanalysis, history of psychoanalysis


RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo describir el proceso que condujo a la implementación de la capacitación integrada en SBPSP. Para ello, se informa brevemente la trayectoria de la formación en psicoanálisis de la niñez y la adolescencia en la institución, así como el proceso que condujo a la concepción del modelo aprobado a implementar. También se incluye un breve informe de los factores que orientaron la formación integrada en Cocap, así como algunas concepciones sobre la integración y el programa formativo. Esperamos que su lectura aclare y motive al candidato a incluir seminarios sobre el psicoanálisis de niños y adolescentes en sus elecciones, ya que el estudio de la niñez y adolescencia es parte de la formación psicoanalítica, aunque no trabajemos directamente con este grupo, ampliando la escucha del infantil en el adulto.

Palabras-clave: formación integrada, psicoanálisis de niños y adolescentes, historia del psicoanálisis


RÉSUMÉ

Cet article vise à décrire le processus qui a conduit à la mise en œuvre de la formation intégrée au SBPSP. A cet effet, il rend brièvement compte de l'histoire de la formation en psychanalyse des enfants et adolescents en institution, ainsi que du processus qui a conduit à la conception du modèle approuvé à mettre en œuvre. Un bref compte rendu des facteurs qui ont guidé la formation intégrée au Cocap est également inclus, ainsi que quelques conceptions sur l'intégration et le programme de formation. Nous espérons que votre lecture clarifiera et motivera les candidats à inclure dans ses choix des séminaires concernant la psychanalyse des enfants et des adolescents, puisque l'étude de l'enfance et de l'adolescence fait partie de l'éducation psychanalytique, même si nous ne travaillons pas directement avec ce groupe, élargissant l'écoute de l'infans chez le adulte.

Mots-clés : formation intégrée, psychanalyse des enfants et des adolescents, histoire de la psychanalyse


 

 

A história da formação em psicanálise com crianças e adolescentes na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) nasceu da participação ativa de colegas em diferentes momentos de nossa instituição.

Inicialmente, Lygia Alcântara do Amaral e Virgínia Leoni Bicudo (Bicudo, 1994), que tinham trabalhado no Serviço de Higiene Mental do Governo do Estado de São Paulo e viveram a experiência de observar crianças necessitadas de atendimento psicanalítico, pensaram na necessidade de capacitar analistas para trabalhar com crianças (Abrão, 1999). Convidaram os analistas Luis Prego e Silva e Vida Prego e Silva, da Associação Psicanalítica do Uruguai (APU), recém-vindos de sua formação em Londres, para trabalhar com um grupo interessado, com visitas mensais de dez horas cada uma. Assim se iniciaram os estudos teórico-clínicos. Durante muitos anos essa "formação" patrocinada pelo instituto, embora não oficial, funcionou em caráter experimental (França, 2012). Nesse período não foram solicitadas supervisões clínicas individuais. Esse grupo de estudos teve dois anos de duração (1975 e 1976).

Em dezembro de 1977, ainda em caráter experimental, o curso foi oficializado pelo instituto, com a duração de três anos. Lygia Amaral, Virgínia Bicudo, Frank Philips e Thelma Bertussi da Silva, diretora do instituto, integraram uma comissão constituída com a finalidade de cuidar da formação de analistas de crianças e adolescentes, a ser referendada pela comissão de ensino. O curso de Observação da relação mãe-bebê teve início nessa ocasião e as supervisões clínicas individuais passaram a ser exigidas.

A partir de 1981, sem a participação do casal Prego e Silva, mas seguindo o modelo dos anos anteriores, teve início uma nova turma cujo curso passou a ter a duração de quatro anos.

Em 1984, Lygia Amaral, Deocleciano Bendocchi Alves, Myrna Pia Favilli, Izelinda Garcia de Barros, Marisa Mélega, Frank Philips e Virgínia Bicudo, já qualificados como analistas de crianças e adolescentes, elaboraram uma nova regulamentação para o curso. Novas ideias foram apresentadas com cursos de teoria e técnica; os módulos do curso passaram a ser pontuados como créditos.

Vale lembrar que a análise de crianças por psicanalistas ou psicoterapeutas foi subestimada desde que Freud se pronunciara, no caso do pequeno Hans, afirmando que somente o pai poderia conduzir a análise de Hans, pois reunia a autoridade paterna e a autoridade médica. Essa ideia teve grandes repercussões e prevaleceu por muito tempo. A esse respeito, Jocken Stork (1996), psicanalista alemão, escreveu um artigo intitulado "Psychanalyse de l'enfant: pionnier et parent pauvre de la psychanalyse"3. Aqui na SBPSP, eram poucos os analistas que trabalhavam com crianças e adolescentes, e eles ocupavam um reduzido espaço institucional, portanto foi arrojada a iniciativa de criar e aprimorar um curso específico de formação em psicanálise de crianças e adolescentes.

Na gestão de Leopold Nosek (1992-1996), foi criada a Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes como parte do instituto de formação, e Lygia e Virgínia "passaram o bastão" para Izelinda Garcia de Barros e Marisa Mélega, que coordenaram o curso naqueles anos.

Na gestão seguinte, de Luiz Carlos Junqueira Filho (1996-2000), Nilde Parada Franch assumiu a Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes com a incumbência de elaborar e levar à comissão de ensino um regulamento oficial para esse setor. Junto com uma equipe de colegas muito comprometida com a tarefa, realizou uma pesquisa sobre os programas de outros institutos de sociedades componentes da International Psychoanalytical Association (IPA), com os meios disponíveis na época: fax e correio. A partir das pesquisas realizadas e da experiência pessoal dos participantes do setor, foi elaborado um projeto para ser apresentado à comissão de ensino. Esse projeto tinha como característica um caráter inovador e de vanguarda, e assim a SBPSP dava seus primeiros passos em direção à formação integrada, oferecendo também aos analistas de adultos um tipo de conhecimento que poderia contribuir para a observação e a escuta do infantil no adulto.

Em 1977, na gestão de Otto Kernberg na IPA , foi criado o Comitê de Psicanálise de Crianças e Adolescentes (Cocap). Anne-Marie Sandler, primeira chair do Cocap, convidou Nilde Parada Franch para participar do comitê, e desde então ela tem participado desse comitê em diferentes posições: membro, co-chair para América Latina, e hoje, chair.

O conselho executivo da IPA , em suas reuniões de dezembro de 1999 e julho de 2000, aceitou as recomendações do Cocap, presidido pelo dr. Johan Norman, para que programas de formação em psicanálise de crianças e adolescentes que cumprissem os padrões mínimos estabelecidos pela IPA fossem aprovados pelo Cocap. Desse modo, qualquer membro de sociedade componente que no futuro fizesse sua formação dentro do programa de seu instituto já aprovado pelo Cocap seria reconhecido pela IPA como psicanalista de crianças e adolescentes. A SBPSP enviou ao Cocap o novo programa, recém-aprovado pela comissão de ensino, e, além de aprovado, ele passou a servir de modelo para outros institutos. A partir de então, nossos psicanalistas passaram a ter "carteira de identidade nacional e internacional" como analista de crianças e adolescentes, pela SBPSP e pelo Cocap da IPA. Importante salientar que nunca foi obrigatório o reconhecimento pela IPA de seus cursos de formação como analistas de crianças - sempre foi uma opção de cada instituto.

Os padrões mínimos exigidos pela IPA incluíam o acompanhamento psicanalítico de dois pacientes de diferentes idades: pré-escolar, latente ou adolescente até 18 anos, de preferência de sexos diferentes. A frequência dos atendimentos deveria ser de quatro ou cinco sessões semanais (hoje são três sessões) ou a mesma estabelecida para formação em psicanálise de adultos de cada instituto. A análise deveria ter a duração mínima de doze meses consecutivos, e a supervisão e avaliação deveriam ser realizadas por analistas designados para essas funções por seus respectivos institutos. Os seminários teóricos e clínicos sobre psicanálise de crianças e adolescentes deveriam incluir temas como desenvolvimento, psicopatologia e técnica.

O projeto aprovado pela comissão de ensino em 1999 era constituído por um curso básico, que poderia ser de interesse dos analistas de modo geral e oferecia três módulos: 1) Observação de bebês; 2) A criança e o adolescente no adulto (depois modificado e ampliado para "Estudo dos estados mentais primitivos"); 3) O processo de simbolização. Tais cursos seriam pré-requisitos para a formação específica como analistas de crianças e adolescentes, e eletivos para aqueles que não pretendessem fazer a formação específica. Estava assim constituída, já em 1999, a integração parcial entre as formações.

Em 2015, com participação ativa de Florence Guignard e Virginia Ungar, foi aprovada pelo board da IPA a criação de um comitê para o estudo de um programa de formação integrada, que trabalhou junto com o comitê de educação, tanto para estabelecer os requisitos mínimos como para estimular as organizações componentes da IPA a incluir nos programas de formação de seus institutos a trajetória opcional e integrada para formação de analistas de crianças, adolescentes e adultos. A proposta foi muito bem recebida devido a sua natureza inovadora e seus padrões de liberdade para que cada instituto/sociedade pudesse organizar o programa de acordo com seu momento histórico e suas possibilidades, mantendo a base dos padrões mínimos estabelecidos pelo comitê e aprovados pelo board da IPA.

Na SBPSP, Teresa Rocha Leite Haudenschild, Neyla Regina de Ávila Ferreira França, Maria Helena de Souza Fontes, Suzana Grüspun e Regina Elisabeth Lordello Coimbra, analistas de crianças e adolescentes formadas pelo curso da casa, coordenaram sucessivamente a Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes. Em novembro de 2020, Alessandra Ricciardi Gordon assumiu essa função.

Os anos passados até os tempos atuais trouxeram muitos avanços em termos da teoria e da técnica psicanalítica, do mesmo modo os novos meios de comunicação permitiram intercâmbios frutíferos entre os praticantes da psicanálise em todas as regiões do mundo. Todos esses fatores levaram à necessidade de mudanças - mudanças estas com forte impacto na técnica psicanalítica do atendimento de bebês, crianças e adolescentes.

Em 2017, sob a presidência de Bernardo Tanis (2017-2020), a Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes, coordenada por Regina Elisabeth Lordello Coimbra, entendeu que a formação oferecida há quase 20 anos precisaria ser reformulada. Essa possibilidade foi acolhida e discutida pelos integrantes da secretaria, bem como por outras instâncias da SBPSP: diretoria do instituto e comissão de ensino (coordenada por Vera Regina R. J. Marcondes Fonseca, então diretora do instituto). Criou-se uma comissão denominada Comissão de Formação Integrada, para aprofundar essa discussão. Essa comissão era composta por: Regina Elisabeth Lordello Coimbra, Izelinda Garcia de Barros, Luiz Tenório Oliveira Lima, Ligia Todescan Lessa Mattos, Neyla Regina de Ávila Ferreira França, Jassanan Dias Pastore, Iara Spada Bondioli de Souza Noto, Gizela Turkiewicz, Stephania Geraldini e Cibele Amaro Pires Rays (as três últimas representantes da Associação de Membros Filiados [AMF]).

A participação da AMF foi significativa para fornecer dados para o projeto de formação integrada, pois comprovaram a importância institucional da formação em psicanálise com crianças e adolescentes em nossa sociedade. Em 2018, a AMF realizou importante pesquisa junto a todos os membros do instituto e da SBPSP, e em junho de 2019 organizou a I Jornada Interna da AMF. O tema escolhido foi "formação integrada". Vieram à tona interessantes reivindicações: maior acessibilidade, mais informações, maior integração entre as duas formações, e ainda um pedido específico para otimizar os custos e o tempo necessário para completar as duas formações (AMF, 2019).

Durante três anos de trabalho (2017-2020) a tessitura da estrutura da formação integrada foi se constituindo nas várias instâncias institucionais. Não haveria mais a divisão em curso básico e curso específico, nem a divisão por ano, semestre ou bimestre. O caminho do membro interessado (da sociedade ou do instituto) seguiria seu tempo interno, passaria a ser de livre escolha tanto na sequência de seminários como nas supervisões, de modo a melhor se adaptar ao momento pessoal, aos interesses, às afinidades teóricas e principalmente às características da clínica.

As palavras da colega Aline Pinto da Silva, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (sbppa) seguem essa direção:

O projeto de Formação Integrada diz de uma instituição que integra seus membros, que entende a psicanálise de forma articulada, dinâmica, em que o estudo da infância e da adolescência faz parte da formação analítica, independentemente de se trabalhar ou não na clínica com essas faixas etárias, pois o infantil está sempre presente em todos nós. (Silva, 2020, p. 4)

A proposta de formação integrada então constituída foi votada em assembleia geral extraordinária de 30 novembro de 2020 na gestão da presidente Carmen Mion, ficando para Alessandra Ricciardi Gordon, nova secretária do setor, a tarefa de acompanhar e instalar esse processo.

A natural instalação do novo currículo ampliará as experiências de integração para outros setores da formação: os seminários sobre conceitos psicanalíticos de desenvolvimento estarão à disposição e farão parte integrante da teoria geral da psicanálise; os seminários relativos à técnica também estarão acessíveis àqueles que se interessem, ainda que não desejem dar segmento à formação específica. A decorrência natural da maior abertura de ofertas às várias famílias psicanalíticas será um dos benefícios que poderão enriquecer todos aqueles que estiverem em formação. Supomos ainda que acarretará mudanças na configuração institucional com maior presença de jovens membros, que justamente congregam a grande maioria dos analistas que trabalham com crianças e adolescentes. Isso nos leva diretamente ao encontro de considerações e preocupações, tanto em nosso meio como nas outras instituições componentes da IPA , sobre o envelhecimento do psicanalista de criança e adolescente, que com frequência termina sua formação tardiamente.

Na SBPSP, a formação geral é constituída por seminários obrigatórios, privilegiando autores clássicos. Para a leitura de Freud, M. Klein e Bion, são destinados 256 seminários; 16 seminários são dedicados à teoria da técnica; e 100 seminários serão eletivos. São 80 os seminários clínicos e 160 as horas de supervisão de dois casos de pacientes adultos.

A área de seminários eletivos constitui a porta de entrada para o membro filiado poder transitar pelos espaços institucionais de acesso à integração das formações. A partir do segundo semestre do início da formação, após seminários do módulo 1, parte 1 de Freud - Descoberta, natureza e método de investigação dos processos inconscientes e Seminários de teoria da técnica, ficarão à disposição do membro filiado os seguintes seminários eletivos:

1. Seminário teórico-clínico - Observação de bebês, segundo o modelo de Esther Bick; esse modulo terá no mínimo 32 seminários ou será estendido a 36, a depender do critério do coordenador.

2. Seminários teóricos - 6 módulos: Constituição do psiquismo (estados mentais arcaicos e constituição das primeiras identificações) - 16 seminários; Simbolização - 16 seminários; Avaliação para análise - 8 seminários; Processo de construção da análise: setting, transferência, contratransferência, técnica e intervenções no campo analítico -16 seminários; Situação edípica e seu papel na constituição psíquica - 16 seminários; Psicopatologia psicanalítica - 16 seminários.

3. Seminários clínicos - 48 seminários.

4. Seminários eletivos específicos - 24 seminários.

5. Supervisões - 120 horas no total - integradas às supervisões da formação geral em ordem aleatória - dois pacientes diferentes, uma criança ou latente e um adolescente.

Esses cinco grupos de atividades deverão constar da grade de ofertas de seminários do instituto. Os seminários sobre psicanálise de crianças e adolescentes poderão ser escolhidos livremente pelo membro filiado e/ou membro da SBPSP, e poderão fazer parte do programa de formação integrada, se essa for a opção. Serão seminários eletivos obrigatórios para quem se interessar pela titulação de analista de criança e adolescente pela SBPSP/IPA e seminários eletivos para quem tiver interesse nos temas oferecidos. Esse novo currículo contempla o requisito básico para filiação à IPA (s.d.) como analista de crianças e adolescentes, mas será necessário que a qualificação do membro em formação se dê primeiro como psicanalista de adultos.

Os vários módulos dos seminários sugeridos pretendem abrir espaço ao estudo e reflexão sobre os muitos momentos de construção do funcionamento psíquico a partir das relações pais-bebê, da criança, do latente, do adolescente e sua proximidade com o universo adulto, bem como ampliar o contato de todos os analistas em formação com a escuta do infantil no adulto por meio dos novos conhecimentos sobre desenvolvimento e psicopatologia. Portanto, mais do que uma formação integrada, é principalmente uma formação integradora.

O seminário de Observação de bebês estará à disposição de todos os membros filiados e membros da SBPSP como seminário eletivo desde a entrada na formação. Esse seminário permite o aprendizado do método de observação do encontro mãe/pai-bebê como momento de trânsito de experiências não verbais e constituintes da vida mental primordial (Mélega, 2012). Proporciona também o desenvolvimento da mente analítica, estimulando a contenção de estados emocionais presentes no entorno do bebê e da capacidade negativa, importantes fatores para a construção do setting interno do analista.

Os módulos dos seminários teóricos dedicam atenção especial: aos estados mentais arcaicos e sua relação com as primitivas experiências sensório-motoras; à construção dos processos pré-simbólicos no trajeto para a simbolização; à organização do psiquismo desde as primeiras relações objetais, a constituição das primeiras identificações e a participação da constituição edípica com seus diferentes níveis de complexidade; ao espectro da construção da intersubjetividade e vivência analítica dos fenômenos transferenciais e contratransferenciais em pleno campo analítico.

O trabalho analítico que acompanha as relações pais-bebê, criança, latente e adolescente diferencia-se tecnicamente da análise de adultos. A reciprocidade e sincronia do desenvolvimento corporal e do psiquismo é observada na zona compartilhada da clínica e inexoravelmente envolve a presença dos pais, da família e de seu entorno: escola, outros familiares e profissionais afins (área do trabalho transdisciplinar). Trata-se de uma experiência viva, como deve ser a formação em psicanálise. O conhecimento da técnica para o trabalho analítico com criança e adolescente requer que o analista esteja em contato com seus próprios estados primitivos de mente: com o infantil, a criança, o latente e o adolescente e, principalmente, que essas instâncias estejam presentes no trabalho com os pais.

Os módulos de Seminários clínicos e Supervisão são experiências que se propõem a integrar teoria e clínica, seguindo um dos polos formadores do tripé da formação. Nos Seminários clínicos a discussão do material clínico em grupo favorece a possibilidade de as transferências e contratransferências serem identificadas no movimento grupal, com a participação de todos e dentro da troca de experiências entre pares. A Supervisão, como experiência de intimidade entre supervisor e supervisionando, envolverá a discussão do material clínico em vários níveis, privilegiando o campo analítico vivido pela dupla paciente/analista, ou observando o movimento do paciente, ou do analista.

No programa de formação integrada, a sequência das supervisões de pacientes adultos, crianças e adolescentes é de livre escolha do membro filiado. As supervisões de pacientes crianças e adolescentes só poderão ter início após o término do seminário Teoria da técnica e do seminário teórico Processo de construção da análise, no qual são abordadas as questões do setting, transferência, contratransferência, técnica e intervenções no campo analítico.

Os módulos de Seminários eletivos, dentre eles os específicos de psicanálise de crianças e adolescentes, podem ampliar o acesso a temas ainda não abordados ou a qualquer outra área da interdisciplinaridade.

A presença dos seminários de Psicopatologia psicanalítica na formação em psicanálise de criança e adolescente tem sua importância devido à multiplicidade de fatores específicos no atendimento dessa faixa etária. Favorece a identificação dos níveis diferentes de patologia e do desenvolvimento da capacidade simbólica, para que se possa alcançar o paciente no nível em que ele está. Trata-se de desenvolver os instrumentos internos para discriminar a natureza e a gravidade da patologia, bem como os diferentes níveis de desenvolvimento que predominam no funcionamento mental da criança. Além disso, temos as peculiaridades inerentes ao campo analítico estendido. Distintamente do adulto que busca análise, na maioria das vezes a criança e o adolescente são apresentados pelos pais. O analista estará diante de múltiplas variáveis para identificar o paciente emergente; a resposta não é imediata e dificilmente haverá apenas uma possibilidade, expressão do paradoxo próprio do trabalho analítico.

Seguem algumas linhas de estudo dos seminários de Psicopatologia psicanalítica da formação integrada: indicadores de risco de patologias precoces em crianças de 0 a 3 anos; estados autísticos, depressivos, psicóticos e fronteiriços; vínculos aditivos; manifestações de angústia centradas no corpo: descargas motoras, enurese, encoprese, distúrbios alimentares e psicossomáticos; contexto da família e áreas afins: escola e outros profissionais (fonoaudiólogo, neurologista, pediatra, genética etc.).

Docentes com formação em análise de crianças e adolescentes serão responsáveis especificamente pelos seminários: teórico-clínicos de Observação de bebês; seminários teóricos sobre Processo de construção da análise: setting, transferência, contratransferência, técnica e intervenções no campo analítico; técnica; Seminários clínicos; e Supervisões. Os demais seminários da formação integrada estarão sob a responsabilidade de docentes em geral do instituto de formação da SBPSP.

A equipe da Secretaria de Psicanálise de Crianças e Adolescentes da diretoria do instituto da SBPSP agradece aos muitos colegas que participaram, com interesse e empenho, dessa trajetória de construção da formação de analistas de crianças e adolescentes integrada à formação geral, durante os anos de 2017 a 2020.

Reconhecemos a participação de Nilde Parada Franch na história de várias instituições psicanalíticas e nas várias instâncias que permitiram que o projeto da formação integrada fosse divulgado pelo Cocap, e em extensão, às instituições pertencentes à IPA (Franch, 2020). Na história da SBPSP tivemos o prazer em aprender com sua sabedoria e generosidade, sempre à frente de seu tempo como psicanalista que acompanha os movimentos da contemporaneidade. Há 20 anos trazia as primeiras propostas de integração na formação para a SBPSP. Sua presença acolhedora teve papel importante na atual reformulação do projeto da formação integrada.

Com o reconhecimento pelo Cocap-IPA esperamos obter crédito internacional para a formação integrada da SBPSP.

 

Referências

Abrão, J. L. F. (1999). Um percurso pela história da psicanálise de criança no Brasil [Dissertação de mestrado]. Universidade Estadual Paulista.         [ Links ]

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Bicudo, V. (1994). História do desenvolvimento da psicanálise de criança em São Paulo [Apresentação de trabalho]. Reunião Científica da SBPSP, São Paulo.         [ Links ]

França, N. R. A. (2012). O início da psicanálise de crianças e adolescentes em São Paulo. Dimensões, 289-292.         [ Links ]

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Silva, A. P. (2020). Formação integrada: uma psicanálise em movimento. Jornal da Brasileira, 4. https://bit.ly/3mE1lMN        [ Links ]

Stork, J. (1996). Psychanalyse de l'enfant: pionnier et parente pauvre de la psychanalyse. Journal de la psychanalyse de l'enfant, 19.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 1/3/2021
Aceito em: 04/3/2021

 

 

1 Psicanálise de crianças: pioneira e parente pobre da psicanálise.

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