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Revista Brasileira de Psicodrama

versión On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.19 no.1 São Paulo  2011

 

MEMÓRIA

Remembrance

 

 

Um encontro inusitado

 

An unusual encounter

 

 

José FonsecaI,*; Marco MaidaII, **

I Sociedade de Psicodrama de São Paulo
II Federação Brasileira de Psicodrama

Endereço para correspondência

 

 

Aconteceu durante o 55º Congresso da Sociedade Americana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama, em Nova Iorque, no Crowne Plaza Hotel, em 1997. Lá estavam três psicodramatistas brasileiros: Marco Maida, José Fonseca e Paula Hermann. A jovem Paula vivia em Boston tendo participado das entrevistas relatadas abaixo. Anos depois, já de volta ao Brasil, faleceu precocemente deixando muita saudade em nossa comunidade.

Um de nós, Marco Maida, agendara entrevistas por carta1 e por telefone com psicodramatistas históricos, especialmente os que conviveram diretamente com Moreno. As entrevistas visavam realizar um texto e um documentário que, mais tarde, se concretizou como sendo "Jacob Levy Moreno: sua vida e suas musas".

Zerka Toeman Moreno, terceira e última esposa de J. L. Moreno, participava alegremente do Congresso. Comemorou seus 80 anos em um almoço tipicamente norte-americano, com balões coloridos, apresentações de playback theatre e cantorias amorosas em sua homenagem.

Na manhã clara do dia 23 de fevereiro de 1997, Zerka concedeu a Paula e Marco duas horas de entrevista, no apartamento em que estava hospedada, no hotel onde se realizava o encontro. Marco comentou depois: "Puxa, não fosse pela hora de abrir a porta do quarto, jamais perceberia a falta de um dos braços da Zerka". Terminada a tarefa, os dois entrevistadores saíram eufóricos, pulando de alegria, literalmente.

Na tarde do mesmo dia, foi realizada a entrevista com Florence Guncher (antes Florence Bridge Moreno), segunda esposa de J. L. Moreno, uma senhora simpática, de bochechas rosadas e grandes óculos de armação vermelha. Chegou de táxi ao hotel e dirigiu-se ao apartamento de Regina, sua filha com J. L. Moreno, onde já se encontravam os três entrevistadores: Fonseca, Paula e Marco.

Fonseca estava particularmente interessado em conversar com Florence sobre o texto2 sobre a matriz de identidade, escrito em coautoria com Moreno. O roteiro da entrevista foi basicamente o mesmo aplicado à Zerka, acrescido das questões sobre a matriz de identidade. Ela respondeu de forma animada, assinalando que desejava ser positiva naquele depoimento. Durante a entrevista foi assistida atenciosamente pela filha que, em seguida, também foi entrevistada.

Enquanto recolhíamos o material da gravação realizada, Florence expressou o desejo de ir ao local do congresso para cumprimentar um velho amigo. Regina comentou conosco que se preocupava que um eventual encontro da mãe com Zerka pudesse ser embaraçoso – Moreno separouse de Florence para casar-se com Zerka. Ponderou, no entanto, que, àquela hora, dificilmente Zerka estaria no congresso.

Descemos, então, pelo elevador em direção ao andar do congresso, por um lado com a sensação de missão cumprida e, por outro, com a expectativa ansiosa do temido encontro. Florence continuava falando sobre sua participação musical – tocava piano – em sua comunidade religiosa.

O elevador, finalmente, chegou ao andar do congresso. A porta abriuse e, como se fosse um jogo psicodramático, lá estava Zerka Moreno. As duas olharam-se, houve um breve silêncio, e, em seguida, a tensão se quebrou com um abraço e algumas palavras amáveis. "Quanto tempo?!"

Duas mulheres que, no entrecruzamento de suas vidas afetivas, foram cocriadoras de seu genial marido. Ambas deram-lhe filhos, Regina e Jonathan, e deixaram suas marcas no contexto da obra moreniana.

Que outros encontros surpreendentes habitem nossas memórias psicodramáticas!

 

 

Endereço para correspondência
José Fonseca
e-mail: jsfonseca@terra.com.br

Marco Maida
e-mail: marco_maida@yahoo.com.br

 

 

Notas

1 - Lembrando que, em 1997, computadores e e-mails eram ainda muito pouco utilizados.
2 - "Princípios da espontaneidade", publicado, respectivamente, em 1944 e 1946 na revista Sociometry, vol. VII e no livro Psychodrama – First volume, Beacon House, NY
* Doutor pela FMUSP, professor-supervisor (SOPSP), coordenador do Daimon
**Psicólogo, psicodramista, professor-supervisor (FEBRAP)