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Revista Brasileira de Psicodrama

versión On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.19 no.2 São Paulo  2011

 

Memória

Remembrance

 

"Pierre" significa "Pedra"

 

"Pierre" means "Stone"

 

 

M. Ester R. Esteves*

Instituto de Psicodrama e Pscioterapia de Grupo de Campinas - IPPGC

Endereço para Correspondência

 

 

Memória... Ah, essa traideira contumaz, o que irá me aprontar? Numa arqueologia difusa, fragmentos visuais, vozes, sensações, sentimentos... 1980. II Congresso Brasileiro de Psicodrama.

O Hotel Laje de Pedra, encarapitado na serra gaúcha. O frio lá fora, aconchego cá dentro, para este grupo de pessoas - seriam umas trezentas -, engajadas na descoberta e criação de uma coisa nova chamada psicodrama. 'Engajadas' ainda é a palavra, nos 80.

Tempo de Vacas Sagradas, nome com que se designavam, meio respeitosamente, meio jocosamente, aqueles psicodramatistas dos grupos iniciais de Bermúdez. Amores e invejas. Disputa e cooperação.

O momento que focalizo é uma sessão plenária. Num grande auditório, enfumaçado de cigarro em níveis insuportáveis, Pierre Weil, no palco, coordena as discussões. São questões políticas, ideológicas, institucionais, disputas de poder: homem/mulher, médicos/psicólogos, psicoterapeutas versus educadores.

As grandes questões misturam-se às comezinhas.

Pedidos para se diminuir a fumaça são totalmente ignorados pelos fumantes. O aconchego vira caldeirão.

E eis que alguém na plateia - Victor Dias, se não me falha a traideira - pede a palavra e faz um assinalamento. Não lembro o que disse Victor, nem o que havia dito ou feito Pierre Weil. Pierre retruca: "Você quer dizer que eu estava tentando manipular a assembleia?!" E, ante a confirmação do outro, sacode lentamente a cabeça, como que perplexo com o que acabava de ouvir.

Segue-se uma cena no palco, um confronto envolvendo Antônio Carlos Eva, Laís Machado, Pedro Paulo Uzeda. Pierre fica encostado na parede, ao fundo. Terminada a cena, ele volta à boca do palco e diz: "Senhores, penso que estava, sim, tentando manipular a assembleia".

Foi intensamente aplaudido.

Para mim, jovem psicodramatista iniciante, esta bela cena do contexto grupal, mais do que a do contexto dramático, ficou gravada como uma das pedras fundamentais daquilo que eu estava tentando entender como 'PSICODRAMA'.

De algum modo - não me perguntem como - o grupo caminhou para uma melhor coesão. Um fragmento de um comentário de Aníbal Mezher permaneceu na minha memória: "... tanto que agora estamos nos respeitando mais, sendo mais cuidadosos com os cigarros..."

Depois da assembleia, banho, jantar e boate do hotel. Ou uma rodinha de violão, ao pé da lareira. Those were the days, my friends, lá nos idos de 1980.

 

 

Endereço para Correspondência
Rua Anhandeara, 275
Campinas - SP
e-mail: ester.esteves@ibest.com.br

 

 

*Psicóloga especialista em Psicologia Clínica (PUCC); psicodramatista didata supervisora (IPPGC)