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Revista Brasileira de Psicanálise
versión impresa ISSN 0486-641Xversión On-line ISSN 2175-3601
Rev. bras. psicanál v.42 n.4 São Paulo dic. 2008
INTERCÂMBIO
Reações contratransferenciais e gênero do analista e analisando/a1
Reacciones contratransferenciales y género del analista y analizando/a
Counter-transference reactions and the analysts and analysands gender
Teresa Lartigue de Vives2; Juan Vives Rocabert3
Associação Psicanalítica Mexicana
RESUMO
A partir de uma concepção holística ou totalística da contratransferência, se aborda o problema de gênero do psicanalista, que faz alusão à figura real, a seu ser como pessoa, o qual se opõe a um dos objetivos centrais da psicanálise, que é o escrutínio da subjetividade do paciente, de sua realidade psíquica. Se distinguem dois tipos de compreensão da situação transferencial, como mecanismo de defesa (não importa o gênero) e como repetição ou depósito de objetos internos (o gênero tanto do paciente, como do analista são particularmente relevantes, principalmente a revivência da problemática edípica). Se faz uma breve revisão das diferêncas de gênero no que é relativo às transferências eróticas e erotizadas, o tratamento de pacientes homossexuais, as interpretações transferenciais, da mesma forma que nos sonhos contratransferenciais, e nos aspectos ideológicos, preconceitos e/ou estereótipos que podem funcionar como áreas cegas que interferem no tratamento psicanalítico; daí a importância da autoanálise e a formação de grupos de reflexão dos(as) psicanalistas sobre esta problemática.
Palavras-chave: Transferência e contratransferência; Diferenças de gênero.
RESUMEN
A partir de una concepción holística o totalística de la contratransferencia, se aborda el problema del género del psicoanalista, que hace alusión a la figura real, a su ser como persona, lo cual se opone a uno de los objetivos centrales del psicoanálisis, que es el escrutinio de la subjetividad del paciente, de su realidad psíquica. Se distinguen dos tipos de comprensión de la situación transferencial, como mecanismo de defensa (no importa el género) y como repetición o depositación de objetos internos (el género tanto del paciente como del analista son particularmente relevantes, principalmente la revivencia de la problemática edípica). Se hace una breve revisión de las diferencias de género en lo relativo a la transferencias eróticas y erotizadas, el tratamiento de pacientes homosexuales, las interpretaciones transferenciales, al igual que en los sueños contratransferenciales, y en los aspectos ideológicos, prejuicios y/o estereotipos que pueden funcionar como áreas ciegas que interfieren con el tratamiento psicoanalítico; de ahí la importancia del autoanálisis y la formación de grupos de reflexión de las y los psicoanalistas sobre esta problemática.
Palabras clave: Transferencia y contratransferencia; Diferencias de género.
ABSTRACT
Having as a reference point an holistic or global conception of counter-transference, the paper brings up the issue regarding the analyst’s gender, in what it refers to his/her real person dimension and discusses the opposition contained in this real dimension as compared to what is held as one of the central objectives of psychoanalysis: the scrutiny of the patient’s subjectivity, of his/her psychic reality. The author distinguishes two types of transferential comprehensions, one as a defense mechanism (regardless of the gender) and the other in its repetitive aspect or yet, as depository of internal objects (where the patient’s as well as the analyst’s gender are particularly relevant, especially in the re-living of Oedipal issues). The author makes a brief review of gender differences in respect to its effects in dealing with erotic and eroticized transference, to the treatment of homosexual patients, the transferential interpretations, in the same way as counter-transferential dreams, ideological aspects, prejudices and/or stereotypes which may function as blind spots which interfere in the psychoanalytic treatment. Hence the importance of self-analysis and the maintenance of discussion groups for psychoanalysts dealing with these issues.
Keywords: Transference; Counter-transference; Gender differences.
O descobrimento da transferência, por Freud, em 1895,4 foi definitivo para o êxito ou fracasso do tratamento psicanalítico. Dedicou a ela vários trabalhos, entre eles o de 1912, em que assinala que as particularidades da transferência sobre o analista tornam-se inteligíveis quando se reflete que “não apenas as representações-expectativa conscientes, mas também as reprimidas, inconscientes, produziram essa transferência” (p. 98). Três anos mais tarde, fez alusão ao fato de como as diferenças sexuais afetam o tratamento, o que, atualmente, chamamos de diferenças de gênero,5 principalmente na combinação pacientemulher/ analista-homem, no que se refere à transferência erótica. Posteriormente, Freud sugeriu, em “Psicogênese de um caso de homossexualidade feminina” (1920), que seria mais recomendável que uma mulher-analista é que tomasse, em tratamento, uma paciente homossexual; e, em 1931, colocou que as mulheres-analistas tinham maior acesso às transferências pré-edípicas. Já seu binômio indissociável, a contratransferência, foi introduzido por ele em 1910: conceito que evoluiu de uma concepção de obstáculo e resistência ao processo analítico, a uma concepção de instrumento privilegiado de registro e observação dos fenômenos transferenciais dos pacientes.
Cabe mencionar que a obra de Freud, além de destacar que o inconsciente é uma característica constitutiva e criadora da experiência humana, interessa-se, explicitamente, pela formação de uma subjetividade de gênero: os caminhos pelos quais a personalidade se constrói e se organiza no mundo sexual contemporâneo. Igualmente importante é sua concepção a respeito de que a ordem social tem raízes profundas no desejo inconsciente, e que este desejo guarda uma conexão interna com a manutenção e a reprodução do poder social (Elliot, 1992).
Devido à multiplicidade de posturas a respeito da contratransferência, queremos deixar estabelecido que partimos de uma definição total ou holística da mesma, isto é, como a reação global do analista ao analisando(a) no tratamento psicanalítico. Esta aproximação considera, também, que as reações ou sentimentos contratransferenciais constituem uma ferramenta terapêutica sumamente valiosa, para uma melhor compreensão do mundo interno do analisando, assim como um método de diagnóstico diferencial para pacientes com transtornos severos de caráter e com uma organização borderline ou psicótica da personalidade (ver revisão de Vives e Lartigue, 1996).
Nesta concepção de contratransferência, inclui-se a maneira que os analistas têm de construir suas intervenções e que provêm do registro de seus afetos, de suas teorias explicativas, da maneira de escolher o momento e a forma de intervenção (interpretação, confrontação, esclarecimento etc.) e os ingredientes da mesma (Moro, 1995). Do mesmo modo, compreende ainda a dimensão topográfica da contratransferência, elucidada por Kolteniuk (1997), que nos mostra que a dimensão inconsciente será sempre um obstáculo ao processo analítico, que a pré-consciente é a única susceptível de deixar de ser um obstáculo para converter-se em um instrumento útil, e que a consciente participa na rêverie, na empatia e na atenção flutuante, assim como na totalidade das respostas emocionais conscientes, parciais e totais que o analisando desperta no psicanalista.
Cabe destacar que ao nos referirmos ao problema do gênero do psicanalista, estamos fazendo alusão, de imediato, ao terapeuta como figura real, como persona.6 Ou seja, defrontamo- nos com uma noção que se opõe a um dos objetivos centrais da psicanálise: o escrutínio da subjetividade do paciente. N este tipo de indagação, o território que se explora é a realidade psíquica do analisando(a), a subjetividade de seu mundo interno, em que coexistem os fantasmas da sexualidade e do gênero (Alkolombre, 2004). Perguntamo-nos: existe, então, algo que marque diferenças neste processo, derivadas do gênero do analista? Como são percebidas e significadas essas diferenças, no vínculo terapêutico? Quando se escolhe um analista, homem ou mulher, quais são as fantasias despertadas no/na analisanda?
Antes de entrarmos nesse material, teremos que distinguir, já de cara, as notáveis diferenças existentes entre aqueles pacientes que são capazes de perceber e reconhecer o gênero do analista como parte da realidade, daqueles que não o conseguem fazer. Somente estes últimos entre os quais podemos incluir os casos de uma muito grave desorganização psicótica da personalidade, algumas psicoses tóxicas, os processos demenciais e outros transtornos orgânicos acompanhados de deterioração séria podem fazer caso omisso deste dado factual do mundo externo. É dentro do primeiro grupo, suscetível de uma abordagem psicanalítica, que nos questionamos sobre a importância ou a falta de relevância que tais considerações de gênero têm para o processo psicanalítico em geral, e para o fenômeno transferencial/contratransferencial em particular. Dentro destas considerações, devemos incluir tanto o gênero do paciente, como o do analista.
Buscando algumas possíveis respostas...
A propósito da situação transferencial
É importante distinguir, também, entre dois tipos de compreensão da situação transferencial: isto é, como mecanismo de defesa ou como repetição ou projeção de objetos internos. O primeiro caso é o que acontece, clinicamente, quando a transferência aparece primariamente como uma resistência ao processo; aqui, podemos constatar uma e várias vezes, que o gênero do analista não importa em nada, já que a única coisa dinamicamente relevante para este tipo de interferência é que alguém esteja ali para tornar possível o desvio do foco de interesse para essa pessoa e, desta maneira, evitar que a cadeia associativa continue em uma direção que o paciente sente como potencialmente perigosa. O segundo caso é quando a transferência aparece como repetição de eventos ou como projeção, no/na analista, de objetos internos ou partes do aparato psíquico do sujeito;7 tudo acontece, também independentemente do gênero do analista. Todavia, este último estará matizado por certas características da transferência; se é do tipo pré-edípico, a evidência do gênero não a afeta, enquanto que, se é revivida, na transferência, a problemática edípica, esta repetição transferencial dependerá, em sua manifestação clínica, tanto do gênero do paciente como do gênero do analista, assim como do percurso particular do analisando(a) dentro do complexo de Édipo positivo, complementado com a dinâmica do Édipo negativo e com outros caminhos da libido, dentro desta encruzilhada nuclear para a constituição do sujeito.
Apenas com pacientes com regressões muito graves e/ou com fixações muito primitivas no desenvolvimento, ou seja, com sujeitos com uma patologia psicótica e com um grave comprometimento de seu contato com a realidade, é que se pode ver o surgimento de transferências maternas e paternas, com independência total do gênero do analista.8 Nesses pacientes, pelo juízo de realidade estar quase totalmente perdido, seu contato com o mundo de fora costuma ser muito precário, além de, com frequência, estar distorcido pelo delírio que tenta construir um mundo que não frustre seus desejos. N este ponto, é importante destacar o papel desempenhado pela contratransferência já que, como acontece com a criança e seus pais o processo de projeção e introjeção constante, que se dá durante o tratamento psicanalítico, tem a ver tanto com o sujeito que projeta, como com o objeto que devolve as projeções, em forma de interpretações, confrontações, assinalamentos ou construções, conforme suas capacidades e experiência.9
Transferências eróticas e erotizadas
Das quatro díades analista-paciente (analista-homem e paciente-mulher ou homem e analista-mulher e paciente-mulher ou homem), existe maior informação sobre o desdobramento das transferências eróticas e erotizadas na díade analista-homem e pacientemulher, 10 tendo-se relatado casos de analisandas que foram vítimas de abuso sexual por parte de seu analista. Gabbard e Lester (1995) distinguem, nos analistas ou terapeutas que mantiveram relações sexuais com pacientes, quatro categorias diagnósticas: transtornos psicóticos, psicopatia (transtorno antissocial da personalidade ou transtorno narcisista severo) e parafilias: enfermidade do amor e submissão masoquista.
De sua parte, ainda que mais tardiamente, as analistas-mulheres11 têm mostrado que os pacientes-homens manifestam também uma ampla categoria de transferências eróticas e erotizadas, principalmente nas primeiras fases do tratamento, enquanto as transferências paternas aparecem mais tarde. De qualquer modo, é importante analisar as defesas contra a agressão, com o objetivo de que possam emergir e manifestar-se as transferências eróticas.
Welles e Wyre (1991) têm sublinhado que é a dificuldade contratransferencial do analista homem ou mulher para manejar os sentimentos eróticos, particularmente aqueles fusionados com a agressão (ou seja, a conduta sádica), que provoca a escassez de referências publicadas sobre o tema. Estas dificuldades, provavelmente, derivam também de seu vínculo próximo com as perversões. Os autores acima, mencionam que a transferência erótica materna gera desejos e fantasias, no(a) analista, tanto quanto mecanismos de defesa intensos e primitivos que incluem elementos maníacos, depressivos, obsessivos, esquizóides e paranóides. Estes aspectos defensivos, associados à contratransferência erótica materna, estão relacionados com resistências contra desejos arcaicos, perversos e mágicos centrados ao redor do corpo, tanto do analista como do paciente. Distinguem três constelações contratransferenciais, as quais se agrupam em torno dos aspectos de fusão e separação, de grandiosidade e reparação maníaca e de horror erótico e distanciamento esquizóide.
O tratamento de pacientes homossexuais
Existe um acordo de que o gênero do analista influi na expressão dos elementos sexuais nas transferências homossexuais, tanto de pacientes homens como de mulheres, e que estas poderiam ser um derivado da sexualização da transferência materna, a nível pré-edípico.,12 Observou-se, também, que as pacientes homossexuais e bissexuais buscam, no geral, tratamento com analistas-mulheres. O tema do analista-gay motivou debates importantes dentro da comunidade psicanalítica (ver Vives,...).
As interpretações transferenciais
Toda interpretação analítica da transferência implica, quase obrigatoriamente, um desvelamento do objeto real do analista. Partimos da experiência clínica que nos comprova que todo tipo de apontamento que tende a mostrar as figuras, os objetos internos ou partes da estrutura psíquica do paciente, que estão sendo depositadas no(a) psicanalista, é uma intervenção que, por contraste, está mostrando de maneira implícita que esse analista que lhe está falando é uma pessoa diferente da que foi transferida nele. A interpretação põe à mostra o caráter “como se” do que foi transferido, e mostra o deslocamento feito sobre a figura do analista, o qual não é o que se acreditava e que esse analista não corresponde e nem se comporta como se havia imaginado. É um fato que esse processo de mudança pode ser formulado desde essa dinâmica da interpretação. Além disso, isto é importante porque este tipo de retificação ocorre, quer explicitado quer não incluído, na interpretação, este último aspecto de confrontação entre o transferido e o analista.
Quando o paciente recebe uma interpretação transferencial mutativa (Strachey, 1934), seu efeito dinâmico pode ser entendido como operando em dois tempos. Num primeiro momento, é mostrado ao paciente que ele está vendo, sentindo ou relacionando-se com o analista, como possuidor de características que, na verdade, correspondem a seus próprios objetos internos ou a partes de seu próprio psiquismo e que, portanto, não correspondem ao analista por direito próprio (se acontecer de o analista ter a tal característica que foi projetada nele, este é um fato contingente que facilita, mas não determina o que foi transferido). Num segundo momento, o paciente dá-se conta da distinção existente entre o transferido sobre seu analista e a figura real dele, uma pessoa diferente do que nele foi depositado. Não se trata de que o analisando(a) conheça a figura real de seu terapeuta, mas de que tome consciência de que este não corresponde ao que ele/ela estava sentindo ou imaginando nessa relação.
Sonhos contratransferenciais
Ocorrem, geralmente, durante as etapas problemáticas e conflitivas do tratamento analítico, e o(a) paciente aparece, no sonho, de uma forma não disfarçada e isso pode ser produto de transferências erotizadas ou hostis. O conteúdo manifesto dos sonhos varia conforme o gênero do analista: os homens comunicaram uma parte maior de sonhos eróticos e de tipo competitivo ou sádico e, as mulheres, de invasão do seu espaço privado (Lester, Jodoin e Robertson, 1989). McDougall (1986) descreve como a análise de um sonho contratransferencial de conteúdo homossexual permitiu-lhe descobrir o conluio com a analisanda; e o sonho era uma defesa contra os conteúdos homossexuais das fantasias da paciente. González Enloe (1991) analisa um sonho que a ajudou a superar as resistências de trabalhar com o paciente que a fazia sentir-se prisioneira, invadida e paralisada no trabalho analítico.
Questões ideológicas, estereótipos
Para além de interpretar o transferido, pondo em evidência as roupagens com as quais o paciente veste o analista real, este também interpreta, sempre, a partir de sua ideologia e não poderia ser de outra maneira. Por isso, é importante relembrar, aqui, que os aspectos ideológicos formados, segundo López Austin (1986), por um conjunto de representações, ideias e crenças podem ser conscientes, pré-conscientes ou inconscientes; são egosintônicos, em cada um de nós, e agem de maneira sub-reptícia e inadvertidamente (também conhecidos como preconceitos ou estereótipos). Daí a importância de seu estudo, no que diz respeito às relações de gênero, dado que fazem parte de aspectos incorporados na parte inconsciente do ego, no superego e no ideal-do-ego, tanto do paciente como do analista e podem converter-se em pontos cegos dentro do jogo transferencial/contratransferencial, o que favorece certo tipo de escotoma13 dentro das relações do vínculo terapêutico.
Todos nós conhecemos as polêmicas que, dentro da psicanálise, têm causado a visão falocêntrica de Freud e sua ideologia em torno da supremacia genital masculina e a pretensa inferioridade constitucional da mulher destituída de um pênis. Todavia, para além das diferenças no desenvolvimento epigenético dos homens e das mulheres e das desigualdades sociais mantidas por elas mesmas,14 há um aspecto relativamente menos estudado e que tem a ver com as relações e com a dinâmica vincular entre homens e mulheres, assim como com as características que permeiam os vínculos, tanto dos homens como das mulheres entre si.
Para nós, fica muito claro que todas as questões ideológicas passam pelas relações de gênero: a política, a religião, a economia, os valores morais (ou a dupla moral social), os critérios estéticos, os usos e costumes, as formas de pensamento e o tipo específico de sensibilidade frente à realidade externa; tudo isso terá resultado diferente, conforme a pessoa tenha sido criada como uma entidade masculina ou feminina inclui-se, aqui, o fato de que as mulheres-analistas costumam ter honorários mais baixos que os dos analistashomens. Os diferentes papéis de gênero encontram-se firmemente incorporados no ego, no superego e no ideal-de-ego, através da transmissão geracional dos esquemas parentais e dos processos identificatórios.
O gênero do analista não é exceção nos fatores descritos anteriormente, essencialmente porque os aspectos ideológicos incorporados, ao estarem sintonizados com o ego, com frequência não estão sujeitos à análise,15 exceto quando os valores do analisando chocam ou diferem, substancialmente, dos valores que imperam na sociedade em que está inserido, o que provoca frequentes rusgas nas relações interpessoais e atritos no desencontro quanto aos códigos culturais.
Por isso, queremos propor o estudo sistemático e a autoanálise de nossas representações de gênero, dentro do tratamento psicanalítico; e também a reflexão grupal dentro de nossos institutos de formação. Entendemos por representações de gênero “a expressão das pulsões sexual e tanática (dos desejos, fantasias inconscientes e afetos reprimidos) dirigida à mulher e ao homem, as inumeráveis imagens de si na relação com ambos os gêneros e dos gêneros entre si, e que têm sido desfiguradas (as representações) pelo trabalho do inconsciente através dos mecanismos de condensação, deslocamento, figuração e elaboração secundária, os quais impelem o indivíduo a atuar de uma ou de outra maneira” (Lartigue, 1998). Somente através do fazer consciente o inconsciente, de integrar os aspectos cindidos de figura transferencial e figura real, é que poderemos superar as questões ideológicas, os preconceitos e estereótipos de gênero nos vínculos terapêuticos que construímos com nossos analisandos(as).
À guisa de conclusão, desejamos enfatizar que nós, analistas, devemos estar conscientes de que temos pautas de conduta já incorporadas e que têm a ver com a ideologia e o gênero, e que, ao serem egosintônicas e, muito frequentemente, compartilhadas pelos pacientes, permanecem como pontos cegos. Assim, perpetuam-se visões decantadas dos dois padrões diferenciais que se dão entre os gêneros. Ocorre-nos pensar que, quando a IPA criou COWAP, estava pensando na necessidade de criar uma consciência crescente sobre este tipo de problemática, diretamente vinculada ao tratamento psicanalítico e à pessoa do analista.
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Endereço para correspondência
Teresa Lartigue de Vives
Associação Psicanalítica Mexicana
Lord Byron 36, Colonia Bosques de Chapultepec
Delegación Miguel Hidalgo
México, DF 11580
E-mail: lartiguet@prodigy.net.mx
Juan Vives Rocabert
Associação Psicanalítica Mexicana
Prado Norte 655-602, Colonia Lomas de Chapultepec
Delegación Miguel Hidalgo
México DF 11500
E-mail: juanvives@prodigy.net.mx
Recebido em: 27.10.2008
Aceito em: 3.11.2008
1 Tradução de Maria Teresa Moreira Rodrigues, membro associado Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP. Trabalho lido no Painel da COWAP, “Gênero e contratransferência”, em 26 de setembro de 2008, durante o XXVII Congresso Latino-Americano de Psicanálise, FEPAL, Santiago do Chile.
2 Doutora em Psicologia, psicanalista de adultos, crianças e adolescentes. Membro titular e didático da Associação Psicanalítica Mexicana e Associação Psicanalítica Internacional IPA. Ex Presidente da Associação Psicanalítica Mexicana e Ex Diretora do Instituto de Psicanálise. Co-chair para Latinoamérica do Comitê de Mulheres e Psicanálise (COWAP) da IPA e membro do Comitê de Investigação. Editora permanente de Cuadernos de Psicoanálisis e membro do Sistema N acional de Investigadores (nivel I), Secretaria de Educação Pública.
3 Psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta de grupo. Membro titular e didático da Associação Psicanalítica Mexicana e Associação Psicanalítica Internacional IPA, e da Associação Mexicana de Psicoterapia Psicanalítica de Grupo. Ex Presidente da Associação Psicanalítica Mexicana e Ex Diretor do Instituto de Psicanálise. Diretor Associado do Instituto Latinoamericano de Psicanálise e Diretor da Comissão Editorial da Associação Psicanalítica Mexicana.
4 Desde 1882, já lhe havia chamado a atenção o fato de que a paciente de Breuer tivesse se apaixonado por este; o desenvolvimento histórico da transferência pode ser consultado em Villarreal (1997).
5 Em sua dimensão individual, conforme classificação de Teresita de Barbieri (1996).
6 Com um temperamento e caráter, numa determinada etapa do ciclo vital, com uma forma de falar, vestir e mobiliar seu consultório; não apenas como espelho em que se refletem as projeções e deposições do paciente, via projeção, identificação projetiva ou identificação introjetiva.
7 Por exemplo: o superego, o ideal do ego, o ego ideal, partes ou funções do próprio ego, a imagem corporal, a autoestima etc.
8 Talvez fosse este o sentido da afirmação de Fenichel (1945).
9 Ver, a respeito, a única investigação (24 psicoterapeutas e 47 pacientes) sobre os efeitos do gênero na transferência e contratransferência, realizada por Kulosh e Mayman (1993).
10 Entre eles, Rappaport (1956), Leon (1962), Swartz (1969), Blum (1973), Smith (1984), Kumin (1985) e Ebber (1990).
11 Principalmente Lester (1985, 1985-1986), Person (1985), Goldberger e Evans (1985) e Torres de Bea (1987).
12 Kirkpatrick e Morgan (1980), Sheldon (1988), Kulish (1985), McWilliams (1996), Renik (1990) firmam pé na hipótese de que uma paciente-mulher pode experimentar seu analista-homem como uma mãe, com desejos de ser penetrado, e as dificuldades que esse tipo de transferência traz consigo.
13 N.do T.: lacuna dentro do campo visual.
14 Por exemplo, a relação de dominação masculina e de subordinação feminina.
15 Esta é a tese de Gimenez (...), a respeito de Freud nunca ter analisado sua condição de judeu.