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Revista Brasileira de Psicanálise
versión impresa ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.49 no.1 São Paulo ene./mar. 2015
KEYPAPERS 49º CONGRESSO DA IPA
Para introduzir o trabalho sobre a simbolização primária1
Introducing the work of primary symbolization
Para introducir el trabajo sobre la simbolización primaria
Tradução Claudia Berliner; René RoussillonI
IProfessor de psicologia clínica e psicopatologia, psicanalista membro e didata da Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP) e do Groupe Lyonnais de Psychanalyse Rhône-Alpes (GLPRA)
RESUMO
No século XXI, o problema da psicanálise é a extensão do nível de competência clínica da escuta psicanalítica e suas implicações na complexidade de nossos modelos. Para avançar nessa questão, apoiar-me-ei na análise de um paciente que já passara por muitas análises. Embora a psicanálise tenha sempre os mesmos fundamentos, baseados na transferência e na escuta das associações, os modelos desses processos têm de se tornar mais complexos e extensos. A ampliação da competência da escuta psicanalítica para os sofrimentos narcísicos, que têm um forte impacto sobre a identidade, exige o refinamento de novas ferramentas, que passam por uma compreensão mais profunda da primeiríssima infância, em particular das formas primárias de simbolização, e pela dilatação do contexto de referência da escuta, baseado não só na vida pulsional, mas também nas respostas de objetos significativos a movimentos pulsionais. Por fim, essas questões conduzem a uma possível ampliação do enquadre analítico vinculada ao tipo específico de associatividade dos analisandos.
Palavras-chave: simbolização primária; simbolização secundária; significantes formais; roteirização; função simbolizante do objeto primário.
ABSTRACT
The problem of psychoanalysis in the twentyfirst century lies in its level of clinical skills in psychoanalytic listening, and how this affects the complexity of our models. In order to move forward with this issue, my ideas will be supported by the analysis of a patient who has already been analyzed several times. Although psychoanalysis fundamentals are always the same (based on transference and listening of associations), the models of these processes must become more complex and extensive. Extending psychoanalytic listening skills for narcissistic suffering, which severely affects identity, requires the refinement of new tools that provide a deeper understanding of the very first childhood, particularly of the primary forms of symbolization, and an expanded context of listening reference that is based not only in pulsional life, but also in the significant objects' response to pulsional movements. Lastly, these issues lead to a possible analytic frame expansion which is bound to a specific form of analysands' associative process.
Keywords: primary symbolization; secondary symbolization; formal significants; scripting; symbolizing function of primary object.
RESUMEN
En el siglo 21, el problema del psicoanálisis es la extensión del nivel de competencia clínica de la escucha psicoanalítica y sus implicaciones en la complejidad de nuestros modelos. Para avanzar en este punto, me apoyaré en el análisis de un paciente que ya pasó por muchos análisis. Aunque el psicoanálisis tenga siempre los mismos fundamentos, basados en la transferencia y en la escucha de las asociaciones, los modelos de esos procesos tienen que tornarse más complejos y extensos. La ampliación de la competencia de la escucha psicoanalítica para los sufrimientos narcisísticos, que tienen un fuerte impacto sobre la identidad, exige refinar nuevas herramientas, que pasan por una comprensión más profunda de la primerísima infancia, en particular de las formas primarias de simbolización, y por la dilatación del contexto de referencia de la escucha, basado no solo en la vida pulsional, sino también en las respuestas de objetos significativos para movimientos pulsionales. Finalmente, esos temas conducen a una posible ampliación del encuadre analítico vinculado al tipo específico de asociación de los analizados.
Palabras clave: simbolización primaria; simbolización secundaria; significantes formales; direccionamiento; función de simbolismo del objeto primario.
Uma das mudanças que afeta a psicanálise e que é, a meu ver, uma das mais fecundas concerne à evolução da concepção e do modelo da atividade de simbolização, que, em grande medida, comanda o trabalho de subjetivação e está no cerne da prática psicanalítica.
Em termos clássicos, a simbolização e, em termos gerais, a atividade representativa estão referidas à questão do objeto ausente. W. R. Bion, por exemplo, faz da ausência do seio o ponto de partida da atividade de pensamento, mas toda a psicanálise francesa também baseia o trabalho de representação no encontro com o objeto ausente ou separado. Essa concepção produziu alguns dos mais belos florões do pensamento psicanalítico e não tenho a intenção de colocá-la em questão - sua pertinência é indubitável. A ausência do objeto, sua ausência “perceptiva”, obriga o sujeito a examinar mais profundamente a diferença entre o objeto percebido no presente e a marca interna das percepções anteriores do objeto, a partir das quais a representação interna do objeto poderá se construir. Quando o objeto está presente, a representação interna do objeto se superpõe à percepção do objeto e, portanto, ela não se dá como uma representação, ela não se “reflete” como uma representação, salvo, claro, se o sujeito perceber uma distância entre sua representação do objeto e o que percebe deste.
Nessa concepção, a presença do objeto e o vínculo com o objeto em presença não são um problema, são supostamente dados pela percepção e por seu investimento; somente a ausência, a separação, a diferenciação e a perda aparecem como potencialmente problemáticas.
Uma vez mais, essa concepção é muito pertinente e continua sendo muito útil para compreender amplas facetas do funcionamento psíquico.
A dificuldade surge do fato de que a clínica, e em particular a clínica das patologias do narcisismo, confronta-se com modos de funcionamento psíquico que suscitam questões tratadas por esse modelo apenas de maneira muito incompleta. A extensão da competência da metapsicologia psicanalítica a quadros e problemáticas clínicas nos quais a construção dos vínculos e o investimento dos vínculos estão no centro do sofrimento e das dificuldades do sujeito impõe que a concepção clássica seja completada por uma reflexão sobre outros aspectos, mais precoces ou mais arcaicos, do processo de simbolização. Essas problemáticas clínicas mostram, com efeito, que o vínculo e a construção do vínculo primário em particular não são algo “dado”, que sempre comparece aos encontros humanos, que eles podem apresentar falhas ou particularidades tais em sua construção que o conjunto da vida psíquica pode ficar duradouramente afetado.
Esses quadros clínicos mostram que a construção do vínculo primário não é automática nem necessariamente óbvia, que ela resulta de um processo que, se encontra dificuldades demais, pode penar para se organizar ou apresentar fragilidades que o tornam muito vulnerável aos imponderáveis dos encontros sociais. Observam-se, então, nessas problemáticas, traços “autísticos”, “melancólicos” ou “antissociais” quando elas se chocam com certas dificuldades e o sujeito recorre a formas de retraimento, ou até de dessubjetivação, que se parecem mais com a clivagem da subjetividade do que com o recalcamento de uma parte da vida psíquica. É quando parece necessário fazer referência à ação de formas em geral mudas, mas às vezes mais violentas, de destrutividade, que obrigam a retomar o problema da representação e da teoria que temos da construção dos primeiros vínculos e do fundamento do vínculo de maneira mais geral.
Mas quando, então, nos debruçamos sobre a construção do vínculo primário, com a ajuda dos trabalhos dos especialistas na primeiríssima infância, somos levados a examinar mais profundamente a questão da emergência das primeiras formas de representação simbólica e a considerar que estas se produzem dentro e a partir do modo de encontro com o objeto e de sua presença. O homem nasce com um conjunto de pré-concepções (Bion) sobre o tipo de ambiente humano que vai (deve) encontrar, mas essas pré-concepções são apenas “potenciais” (Winnicott), apenas “virtuais” - sua verdadeira apropriação pressupõe que o sujeito humano encontre certo número de respostas do ambiente primeiro e que certas respostas estejam presentes nos primeiros encontros da vida relacional, sem o que permanecem “letra morta”, perdem seu potencial gerativo ou adotam formas “degeneradas” que entravam sua integração psíquica. Os fracassos desses primeiros encontros produzem um afeto de “decepção narcísica primária” e mobilizam um cortejo de mecanismos de defesa primitivos (Fraiberg, 1993) nos quais se reconhecem, numa ponta, as primeiras formas de retração da subjetividade numa linhagem autística e, na outra, as tentativas de cicatrização por meio de um masoquismo primário exacerbado. Entre as duas, situam-se as formas de processos psicóticos, borderline, perversos ou antissociais.
Não posso, nos limites desta exposição, entrar nos detalhes dos fatores que intervêm na determinação da “escolha” dessas diferentes “saídas” psicopatológicas, que misturam fatores biológicos pessoais e características do ambiente primeiro, e prefiro tentar explicitar algumas formas do trabalho psicanalítico a que a prática psicanalítica nos convida nesses casos.
A questão da simbolização primária
Nos anos 70, uma série de autores, principalmente na França, confrontados ora com a questão da psicose ou com a dos chamados funcionamentos-limite, ora com a clínica dos bebês, vai propor conceitos que, sem necessariamente se articularem diretamente e de forma deliberada com as questões que acabo de levantar, permitirão estender a exploração das formas primárias da simbolização. Citemos os mais conhecidos: P. Aulagnier e o conceito de “pictograma”; D. Anzieu e o de “significantes formais”.
Dentro dos limites de minha apresentação, não posso retomar em detalhes as respectivas proposições desses dois autores e vou me ater a extrair, primeiramente, algumas características que me parecem comuns aos dois.
Minha primeira observação apontará para o fato de que, sob denominações diversas, e que são aquelas em voga na época da formulação deles, ambos autores descrevem processos de transformação, o que inscreve as proposições deles numa metapsicologia dos processos psíquicos. Parece-me importante destacar que se trata de processos de transformação, pois os processos descritos - isso é muito claro em P. Aulagnier, mas também está presente em D. Anzieu - são processos que colocam a questão das primeiras formas de apropriação subjetiva: os processos descritos representam formas da transformação necessária para tornar possível a apropriação subjetiva, mas sem que esta - pelo menos em Anzieu, que será, aqui, meu principal apoio - esteja claramente explicitada.
Além disso, parece-me que todos os processos descritos também têm uma ancoragem importante na sensório-motricidade, apoiam-se no corpo da sensorialidade e põem em cena um movimento, que é o que lhes confere o valor de processo.
Por fim, os diversos autores descrevem processos intrapsíquicos ou intrassubjetivos, sem deixar de sublinhar o quanto estes dependem de condições ambientais. Mas, também aqui, a época de sua elaboração não adere à abordagem intersubjetiva (ou interpsíquica, para os que assim preferirem), e o lugar das respostas dos objetos outros-sujeitos, ainda que notado, não está fundamentalmente integrado na descrição metapsicológica.
Uma situação clínica a título de exemplo
Para mostrar a pertinência psicanalítica desses trabalhos, vou partir de fragmentos do tratamento de um paciente.
O Sr. M me procura depois da decepção de constatar que o sintoma que o levara para a análise, já fazia agora quase 50 anos, continuava presente e não tinha evoluído, apesar de muitos tratamentos de psicoterapia e psicanálise. Fora atendido inicialmente devido a dificuldades escolares de inibição e bloqueio em qualquer situação de tipo “exame”. Seu pensamento fica bloqueado e, então, deixa de ser capaz de se concentrar ou de fazer valer tudo o que sabe. Na sua vida profissional “contornou” o obstáculo dos estudos tornando-se “inventor” e montando sua própria empresa, especializada em todos os sistemas de conexão e de junção. Vendeu a empresa e, no momento de se aposentar, com a fortuna feita, decidiu viajar, aprender italiano - e foi aí, durante as aulas, que “descobriu” que o sintoma inicial continuava presente.
Procura-me “como derradeiro recurso” e depois de ter lido meus livros (lê muita psicanálise). Durante as primeiras entrevistas, aparece um estar “saindo do tema” [hors-sujet], fórmula que ele usa para falar de seu medo de não me dizer o que tem de dizer e que eu escutei, no sentido forte* de uma dificuldade importante para ser sujeito, o “tornar-se sujeito” surgindo, então, como a questão central da análise.
Como os tratamentos psicanalíticos foram muitos e pouco frutíferos, segundo ele me disse, propus-lhe primeiro “um tratamento de experiência” de alguns meses cara a cara, para explorar minha possibilidade de lhe oferecer alguma coisa. Em seguida, dois meses depois de ter feito esse acordo com ele e diante da constatação de que, diferentemente dos tratamentos anteriores, “aqui funciona”, inicia-se uma evidente transferência dele e começamos uma análise de uma, depois duas, depois três e quatro sessões por semana, à medida que vou tendo horários disponíveis.
Muito rapidamente, ele aparece como alguém de grande inteligência, muito inventivo; as sessões e sua associatividade vêm acompanhadas de certa hipomania: ele fala muito rápido, muda de assunto sem avisar, desanda muitas vezes (e me “afoga”) em minuciosas e intermináveis descrições dos problemas de “junção” em que se especializou, das máquinas necessárias para fazer essas juntas, de sua estratégia de reciclagem para não pagar caro nem o material necessário nem as máquinas-ferramentas de que precisa. Mas, ao mesmo tempo, quando ele fala e me explica tudo isso, parece cortado do contato comigo; ele fala, mas, pelo menos nos começos da análise, não parece esperar “resposta”, eco ou reação da minha parte, o que me evoca uma forma de processo “cortado” do outro e de tipo autístico. Aliás, muito rapidamente ele dirá que se sente só e como se estivesse numa espécie de bunker, protegido do contato, mas radicalmente só, sem vínculos com os outros.
Dedicou a vida a inventar meios de “fazer ficarem juntos” objetos, objetos de todo tipo e ao menor custo. (Levarei tempo para entender que essas evocações representam “sua solução” para o caráter rígido de seu ambiente primeiro e para as rupturas de vínculo que desagregaram sua história precoce.)
Portanto, durante um bom tempo da análise, ele falou “no vazio”, convencido de que eu não entendia nada, ou até que não escutava, em congruência com a corrente de sua experiência relacional histórica marcada por um sentimento de fracasso do encontro com o outro. Tem a impressão de me “perder” no seio de seu fluxo associativo, de estar “fora do tema” [hors-sujet], o que pode então ser escutado em relação com certo modo de funcionamento “em falso self' de aspecto sobretudo defensivo.
Mas não deixo isso acontecer e intervenho com frequência para lhe pedir explicações sobre este ou aquele mecanismo das máquinas que menciona, este ou aquele ponto técnico que aborda e me é estranho. E, durante meses, ele experimenta repetidamente meu esforço para ajustar minha escuta à sua busca associativa e, pouco a pouco, essa impressão se modifica, ele começa a ter a sensação de minha presença e de um encontro comigo durante as sessões. Sensação, na verdade, um pouco assustadora para ele, mas que, ao mesmo tempo, provoca certa curiosidade: comigo as coisas não acontecem como com os outros psicanalistas que conheceu - eles costumavam ficar silenciosos, ou ele até os adormecia ou tinha a impressão de adormecê-los. O quadro clínico muda, então, aos poucos e podemos inclusive começar a estabelecer relações entre seu retraimento no bunker e perdas de contato precoces com uma mãe asmática, que passava muito tempo voltada para si própria. Ele começa a se sentir mais vinculado comigo e passa até a fazer relações entre uma sessão e outra.
Eis aqui a sequência sobre a qual eu gostaria de me debruçar especialmente. Ela se situa na volta de férias e, a meu ver, coloca toda a questão das primeiras formas de simbolização mencionada antes.
Ele começa a sessão evocando a representação de um bebê que está no berço e escuta a mãe que vem ver se ele está dormindo sem se deixar ver, ficando atrás do berço. O bebê não está dormindo e escuta o barulho de uma presença, torce-se em todas as direções para tentar ver quem está ali (ele imita a cena).
Depois, passado um tempo: teve uns sonhos que mostram que ele está melhor.
Sonho 1 - Há duas metades que se juntam (primeiro significante formal). Ele comenta que geralmente as coisas não se juntam nele. Isso é bom, mostra que está melhor, aliás, está se sentindo bem e é por isso que quer continuar. As coisas estão ficando mais claras nele. No fundo dele, há como um pântano de águas estagnadas com bolhas de metano presas no fundo. Agora, as bolhas se desprendem e estouram na superfície, e isso alivia (outro significante formal: uma bolha sobe à superfície e estoura); não é agradável, mas alivia, é agradável que alivie. Seu intestino também está melhor, também aí os gases (ri um riso grosseiro), os gases pfff... (imita tocando a barriga, apertando a barriga com as duas mãos). Não, está melhor, os gases saem, dói menos, alivia.
Teve outro sonho.
Sonho 2 - Duas tábuas se encaixam (outro significante formal) e formam como um trenó; ele sobe no trenó e desliza. Mas, depois de certo tempo, ele para o trenó e pode subir de novo, voltar para trás. Também isso mostra que ele está melhor, senão, antes, o bebê desliza (ele mostra com os braços que desliza) e não para, nunca; agora ele pode subir de novo, voltar para trás, isso é um sinal.
Diversos significantes formais estão presentes nessa sequência.
Duas partes se juntam, do primeiro sonho, é um significante formal, ainda que seja um significante formal “positivo” e que Anzieu tenha descrito sobretudo significantes formais que acompanham os movimentos patológicos. É um significante formal de “simbolização primária”, uma forma sonhada do encontro, do “juntar”, do symbolon dos gregos. Os processos da simbolização, como mencionamos acima, também podem ser representados sob forma de significantes formais. Note-se aqui, porém, que a roteirização no sonho é mínima, não há sujeito nem objeto, apenas um movimento, uma ação. Durante essa sessão, eu tinha em mente que se tratava certamente de uma sessão de volta de férias, e que, de certo modo, o sonho também punha em cena “nosso reencontro”: duas metades se juntam.
Em seguida, uma impressão corporal é evocada em associação e traduzida num outro significante formal: uma bolha sobe à superfície e estoura. Ele é retomado na ono-matopeia pfff, que põe em cena, na prosódia verbal, o movimento da impressão corporal. É um significante formal de ab-reação, de descarga, ligado à experiência de satisfação, mas também forma dada a um retorno de experiências subjetivas “presas” nos fundos da psique e que sobem à superfície psíquica num processo autorrepresentativo dos processos psíquicos de “retorno do clivado” e que vêm “se meter na conversa” (Freud, 1895/1971) e complexificar progressivamente o trabalho de construção psíquica em curso. Isso vai ficar mais manifesto no segundo sonho.
No segundo sonho, dois significantes formais estão presentes: há duas tábuas que se juntam, que têm a mesma forma que o do primeiro sonho, e isso desliza. Mas o sonho combina os dois significantes formais, acrescenta um sujeito, e a presença de um sujeito torna possível um controle da “deslizada” do significante formal e do processo a que ele dá forma; a construção e a complexificação psíquica prosseguem.
O primeiro sonho e o primeiro significante formal, o primeiro processo formal, convocam um trabalho de roteirização para fazer aparecer que ele “conta” que um encontro, fruto do trabalho realizado comigo durante os meses que antecederam o sonho, é possível agora. Ao introduzir, segundo o método de construção proposto acima, sujeito e objeto, eu teria podido dizer, se tivesse sentido a necessidade: “Agora você pode me encontrar e podemos nos juntar e nos reencontrar na volta das férias”. Eu poderia ter “roteirizado” o significante formal, tê-lo contextualizado e, assim, inscrevê-lo numa representação, num roteiro, de “reencontros possíveis depois de uma ausência”. Mas não senti a necessidade de uma intervenção como essa e, aliás, eu não teria tido tempo se tivesse sentido a necessidade, pois logo vem o segundo sonho que complexifica a cena.
O segundo sonho retoma a reunião das duas partes, mas constrói, com a ajuda de um outro significante formal, uma cena mais complexa em que o sujeito aparece. “Isso desliza” põe em cena uma ameaça de queda interminável (“antes não parava”), queda ligada à separação, à vivência de abandono, de deixar cair ou, mais precisamente, de deixar deslizar, segundo um esquema frequente nele, mas que para no meio do caminho pelo fato de que um sujeito “toma o comando”, se agarra e para de “deixar deslizar”, ao contrário do que ocorria habitualmente. Um processo reflexivo emerge então e forma um arco de retorno, de retomada.
Retomemos a continuação da sessão. Ele prossegue:
“Há também um outro sonho”, mas aí ele não sabe como interpretá-lo.
Sonho - É preciso conseguir juntar fios torcidos, mas cortados (imita a torção do fio e mostra que as espirais do primeiro estão desencontradas em relação às da outra metade do fio, desencontradas em um quarto); ele aceita tentar fazê-lo. (Desconfio da presença de um outro significante formal, mas não entendo qual, embora note que, agora, o encontro já não é possível.)
Ele faz, então, os seguintes comentários: “Não dá para juntar fios assim (ele mostra o desencontro de um quarto com as palmas das mãos) por causa da torção (ele mostra a torção com um gesto das mãos), é preciso juntar filamento por filamento. É preciso tirar a torção, achatar (mostra tudo isso com gestos, ele “tira” a torção, “achata” o fio e imita a superposição dos dois fios achatados que ele justapõe). Em todo caso, não dá para juntá-los de maneira rentável, custa caro demais, para meu ateliê pardieiro da época” (e desanda a dar explicações técnicas complexas sobre as ferramentas, as máquinas necessárias; isso dura um bom tempo e fico um pouco perdido).
Fico pensando na torção que ele me mostra e faço a relação com o que ele me mostrou do bebê no começo da sessão, quando tinha imitado um bebê no berço que se torce para tentar perceber a mãe que entrou sub-repticiamente no quarto por trás. Digo-lhe, então (também com alguma mímica), que os bebês se voltam para a fonte de investimento. Como os girassóis que seguem o sol. Eles conseguem se torcer para ficar em contato com a mãe, fazer uma torção. Mas o vínculo fica difícil quando a torção é grande demais e pode haver ruptura. (Tento, portanto, desdobrar o significante formal fazendo aparecer um sujeito e a resposta do objeto e seu efeito.) Aqui, o significante formal implicado seria, portanto, menos o do encontro que o da ruptura, da “quebra” (a coisa se torce e se quebra), está implícito na sua descrição, e sou eu que o introduzo como experiência histórica, contextualizando-o e roteirizando-o.
Também podemos sublinhar que o processo de revinculação - que é o desafio do sonho - só pode se realizar “filamento por filamento”, parte por parte. O que também anuncia o que ele está pondo “no programa” das próximas sessões depois da volta das férias. Embora “isso tenha se juntado”, só se juntou parcialmente e o trabalho não terminou.
O interesse que essa sequência tem é permitir que articulemos os significantes formais com o trabalho do sonho, permitir inscrever a exploração clínica dos significantes formais num trabalho psicanalítico mais tradicional e já bem balizado.
No exemplo que acabei de dar, o ponto de partida é a emergência de um significante formal, e o trabalho do sonho - ou, na sua falta, o trabalho do analista - será o de construir uma cena em torno do significante formal, que coloque em relação um sujeito e um objeto dentro de um contexto e que seja capaz de se inscrever numa forma narrativa endereçada e significante.
Por vezes, é necessário fazer o trabalho inverso e extrair de dentro de uma cadeia associativa o significante formal que a organiza às escondidas. Lembro-me de um texto no qual S. Leclaire põe em evidência, no seu paciente, a presença do que ele chama de “letra”, sob a forma do significante verbal “pordjelli”, que ele encontra em várias cadeias associativas de seu paciente. Outro exemplo, extraído da análise de uma jovem, e no interior de uma conjuntura transferencial marcada por uma vivência de decepção, repetida em diversas situações de “mão estendida” ao outro, sem resposta satisfatória, foi a emergência do processo formal uma mão é estendida a um objeto que se retira, que apareceu como a melhor forma dada à sequência clínica em questão.
Retomo o fio condutor da análise do Sr. M para explorar outro aspecto da simbolização primária. A apresentação das sessões do começo do ano tratou da escuta da simbolização primária em ação, em particular a partir dos significantes formais que apareciam em sonhos e associações do paciente.
Vou apresentar agora outro material clínico, centrado, desta vez, em outro aspecto da simbolização primária: uma forma singular do meio maleável, considerado como a representação-coisa (portanto, uma forma de simbolização primária) do processo de simbolização. Para que seja possível compreender bem o tipo de trabalho realizado e a articulação do fato de levar em conta a simbolização primária e sua articulação com o trabalho psicanalítico mais clássico, serei obrigado a contextualizar a sequência clínica que gostaria de evocar.
As últimas sessões antes daquelas que vou evocar foram marcadas por muitas associações do paciente sobre seu modo de se alimentar e, em especial, o fato de que ele come muito e que se sente sempre obrigado a comer tudo, mesmo que por isso se sinta mal e leve muito tempo para digerir: em particular, ele come saladas inteiras de uma espécie de “chicória-amarga” muito forte e que ele encontra num agricultor que as “reserva” para ele. Mas ele digere muito mal essa chicória-amarga.
Esses hábitos alimentares foram sendo progressivamente relacionados com as refeições “amargas” de sua infância e a atitude de seu pai. Este ficava muito frequentemente um tanto bêbado e tinha grandes ataques de fúria à mesa, ora contra a comida (escassa demais, pois a mãe tentava fazer economia, já que uma boa parte do salário do pai - engenheiro - ia para a compra de material privado para seu ateliê de inventor), mas também contra os alemães (contexto infantil da última guerra mundial), ou até contra mais ou menos todo o mundo, inclusive as crianças que estão na mesa. Críticas aos filhos sem conteúdo preciso (pois, de todo modo, eles estão aterrorizados pelo pai, ou pela mãe, e não estão autorizados a falar na mesa), “no ar”, críticas “pairando” por sobre suas cabeças, sem um “culpado” em particular.
Nesse contexto, a atitude do paciente era, em termos globais, uma forma de evitação, ele se concentrava na comida e comia, comia muito, raspava os pratos tentando, assim, desviar-se da cena das violências verbais paternas que se desenrolavam à mesa. Forma de tentativa desesperada de meta-bolizar “o amargo” da situação, de tentar digeri-lo ainda que em detrimento de seu aparelho digestivo.
A questão dos ataques de fúria do pai e de sua atitude em reação a isso esteve, portanto, no centro das últimas sessões. Eis a transcrição de uma sessão:
Ele ficou pensando no que foi dito em sessão em relação aos ataques de fúria do pai, ele concorda, está cheio de lembranças de ataques de fúria do pai que lhe voltaram, sempre na mesa...
Pensou também em muitas relações entre o que ele faz ou fez e o que seu pai fazia, nas atividades profissionais; ele ia ao ateliê dele, não tinha autorização para isso, mas olhava o pai fazendo suas experiências (também o pai tentava inventar sistemas técnicos).
Progressivamente, ao longo da sessão, fica furioso consigo mesmo pelas diversas invenções que deixou que lhe roubassem: evoca em detalhes uma invenção de um sistema de bloqueio para tubulações de gás (cf. os problemas digestivos evocados anteriormente!). Bastava uma torção da tubulação para que ela ficasse bloqueada, mas também para desbloqueá-la (explica tudo isso em detalhes e, em particular, que não pensou em sublinhar na patente depositada que não podia haver torção em vários metros [não entendo tudo, pois ele mistura às suas explicações invectivas contra si mesmo, gestos, passa muito rápido de uma ideia a outra, fico tomado por associações sobre a torção e a tubulação-tripa em relação a seus problemas de digestão]).
Mas está furioso consigo mesmo, sobretudo por causa de uma notícia que acabou de receber sobre uma patente que ele depositou há uns dezoito meses (portanto, antes do começo da retomada de análise comigo). Também nesse caso entra em explicações complicadas nas quais acabo entendendo que ele entregou um pedido de patente incompleto; em particular, ele não destacou que o sistema que inventou possui a propriedade de se dobrar (duplo sistema de trefila-ção e de trançamento, pelo que entendi), o que permite utilizá-lo para aros de barril.
Ele destacou o pouco peso do produto que inventou (mais de cinco vezes menos pesado que os sistemas habituais, mas com as mesmas qualidades de resistência etc.). Mas todas essas qualidades só têm sentido porque podem ser dobradas e usadas para cingir tubulações e fixar peças entre si. Tinha escrito isso a lápis, mas esqueceu de anotá-lo na forma definitiva. (Estou dando esses detalhes de propósito para que sintam o clima singular das sessões e como o material “primário” aparece no contexto, sempre misturado com um material mais comum - aqui, por exemplo, a relação com a proibição paterna de ir ao ateliê.)
Os agentes suíços do serviço de patentes chamaram a atenção dele para esse esquecimento e lhe fizeram muitas perguntas. Seu advogado lhe disse que era preciso refazer a patente (explica-me o porquê da necessidade de um advogado para esse tipo de assunto), mas isso custava 2.700 euros e ele pensou consigo mesmo que as respostas às perguntas seriam suficientes, para economizar; o advogado bem que lhe dissera, mas ele não escutou. O que conta é o que está na redação da patente, e a sua, sem essas precisões, é declarada “não pertinente” e, portanto, foi publicada e todo o mundo pode aproveitá-la, e basta alguém pensar em dobrá-la para que sua invenção lhe seja roubada. Portanto, a questão da sua criatividade está no centro da sessão e, cómela, como o “achado” expropria o criado.
Está violentamente furioso consigo mesmo, pergunta-se por que insiste tanto nessa invenção que já fez há pelo menos 20 anos. Sinto necessidade, sem saber muito bem por que, de “salvar” sua invenção. Exploro de que maneira pode salvar as coisas: como a patente só foi publicada faz três semanas e ele pode depositar uma nova patente a partir de amanhã (o que vale é a data de depósito), basta ele enviar a versão corrigida de sua patente para recuperar o prejuízo. Ele fica furioso comigo: “Para alguém como você isso é possível, mas eu, o babaca...”, e a fúria se volta de novo contra ele.
RR: Você está furioso consigo mesmo como seu pai ficava.
Minha intervenção o acalma um pouco. Ele retoma o fato de que tinha escrito a lápis a parte que dizia respeito ao fato de que se podia dobrar o tipo de produto metálico (aço inox trefilado e trançado) que ele tinha concebido. Por que ele esqueceu isso?
RR: Você falou dos ataques de fúria do seu pai no começo da sessão, você parece estar furioso consigo mesmo como ele ficava furioso com você, talvez porque essa questão de se dobrar era difícil para você, diante dos ataques do seu pai você também tinha de se dobrar, mas, ao mesmo tempo, devia haver uma vontade de revolta dentro de você.
“Nossa, isso é genial... sim, deve ser isso, é isso... ele sempre se dobrou, se dobrou a tudo, sim, a revolta, deve ser isso.”
A sessão termina e, ao sair, ele me diz na soleira da porta: “Lacan teria dito: são mil euros” (alusão ao fato de que, segundo ele, Lacan cobrava um preço diferente conforme a qualidade da sessão).
Finalizada a sessão, eu me pergunto por que queria tanto proteger a invenção dele. Volta-me ao pensamento que, enquanto ele explicava sua invenção, eu fiquei olhando as suas mãos e pensei que estava brincando, que suas invenções e as modificações a que submetia o metal para torná-lo dobrável eram a brincadeira dele.
E entendi, então - portanto, depois da sessão -, o que eu ainda não tinha podido dizer para mim mesmo, mas estava subjacente ao meu desejo de salvar sua invenção, não simplesmente seu jogo, mas a capacidade que ele tivera de transformar um ambiente rígido em ambiente “dobrá-vel”, ou seja, “maleável”. Fazer um objeto sofrer as dobras que ele mesmo tivera de sofrer e, assim, vencê-lo, transformar um ambiente primeiro rígido e não utilizável num ambiente maleável e utilizável para construir vínculo.
Esclarece-se, concomitantemente, a função “esquecida” dessa invenção: manter o vínculo, e o vínculo com seu pai “rígido” (educação a golpes de “tem que”, “não pode” etc.), ou seja, também com um aspecto da função simbolizante (cf. o começo de sessão e seus comentários sobre as várias relações que fez entre suas atividades e as do pai).
Por fim, tive a ideia de que as evocações repetidas e numerosas de suas invenções representavam “sua solução” histórica e que, portanto, ele a transferia para as sessões de análise para que sua “solução” fosse reconhecida, mas também superada por outra “solução”, o que a continuação das sessões confirmou amplamente.
Retomei um tanto detalhadamente essa sequência para que percebam qual o interesse de escutar um material clínico, de outra forma quase inaudível de um ponto de vista psicanalítico, a partir da questão da simbolização primária em jogo ao longo da sessão. As primeiras sequências clínicas que comecei evocando tratavam da emergência dos significantes formais nas sessões e nos sonhos, do progressivo trabalho de construção dos roteiros representativos a partir de uma representação de ação ou de movimento “sem sujeito nem objeto”, progressivamente escutada como uma forma narrativa de “esquemas de estar com” (Stern, 1985/1989), como a maneira como o sujeito conta sua experiência de encontro primário com o objeto.
A segunda sequência está mais centrada num aspecto das formas primárias de simbolização, o da transformação, da transformação pelo jogo sensório-motor. Esta é uma outra face do processo de simbolização primária, que já não está centrado apenas numa forma protonarrativa da história ocorrida, mas na transformação do que é dado historicamente numa forma utilizável pelo sujeito para “se tornar sujeito” e se apropriar de sua história própria. Entre as duas, sublinhamos também a importância nas formas primárias de simbolização de uma autorre-presentação dos processos psíquicos e, em particular, dos processos psíquicos de transformação, o que confere seu caráter essencial à hipótese de Freud sobre o sentido do animismo primeiro. Nesse nível, é provável que simbolização primária e processos de subjetivação aconteçam simultaneamente e sejam essenciais para o processo de “tornar-se sujeito” da criancinha e, depois, de qualquer sujeito por conseguinte.
Afirmo desde 1983 (retomado em 1991) que a simbolização e os processos de transformações psíquicas que ela pressupõe repousam sobre a representação-coisa de um objeto meio maleável, derivado do encontro com um ambiente materno suficientemente adaptável e transformável para se ajustar às necessidades psíquicas do recém-nascido. Quando o ambiente primeiro se mostra rígido, pouco adaptável, tendendo a submeter o bebê a seus imperativos próprios em vez de se adaptar a suas necessidades, portanto, quando a relação primeira tende a inverter os dados necessários, a simbolização primária fica dificultada. O esforço que o sujeito faz para “se tornar sujeito” será, portanto, o de tentar “a qualquer preço” tornar “maleável” esse ambiente rígido. É o que, por exemplo, o trabalho de escultura torna manifesto: partir de uma matéria dura e transformá-la até que ela possa acolher uma representação. Mas é certamente algo que pode ser notado em diversas formas de trabalhos manuais que utilizam materiais sólidos e rígidos para sua realização. Mas, quando esse trabalho “para tornar maleável” um ambiente rígido fracassa, o sujeito se retira de si mesmo, retira-se para um bunker interno, procura se proteger do encontro com um objeto sobre o qual nenhuma ação lhe parece possível.
Em todo trabalho de criação deve-se poder notar esse processo em ação, e, talvez, ele até indique o que caracteriza o trabalho de criação, que sempre se choca, quando é consistente, com uma forma de resistência da matéria a transformar. Portanto, também deve ser possível estender uma ponte entre o trabalho de simbolização primária e a questão da criatividade e da criação.
Para concluir, sublinho que a simboli-zação primária é o processo que faz passar da “matéria-prima” da experiência - o traço mnêmico perceptivo (a moção pulsional ou, então, o representante psíquico da pulsão, segundo Freud) que carrega o traço sensó-rio-motor do impacto do encontro do sujeito com um objeto ainda mal diferenciado, mal identificado, que mistura parte do sujeito com parte do objeto - para uma possibilidade de roteirização capaz de “se tornar linguagem”, capaz de ser narrada a outro sujeito, de ser, assim, compartilhada e reconhecida por outro sujeito e poder, então, ser integrada à subjetividade. Mas esse processo, embora possa depois de certo tempo se tornar autônomo, só pode se dar nos primeiros tempos se houver ali um “já-sujeito” para compartilhar e reconhecer o processo em curso. O Sr. M teve de tentar compulsivamente modificar o ambiente rígido de seus primórdios, ignorando o que estava em jogo nessa “paixão” de sua vida, até que a análise lhe desse condições de poder se apropriar mais plenamente do sentido daquilo que foi a grande aventura de sua vida.
NOTAS
1 O autor detém os direitos autorais deste artigo, que é de sua responsabilidade como palestrante do Congresso Boston ipa, sob o título Mundo em mudança: a forma e o uso de ferramentas psicanalíticas hoje, que ocorrerá de 22 a 25 de julho de 2015. Inscrições disponíveis em: www.ipa.org.uk/congress.
* N.T.: em francês, sujet é “tema”, “assunto”, mas também “sujeito”, daí a escuta de R.R.
Referências
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Aulagnier, P. (1975). La violence de l'interprétation. Paris: PUF. [ Links ]
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Roussillon, R. (1988). Le médium malléable, la représentation et l'emprise. Revue Belge de Psychanalyse, 13,71-87. (Trabalho original publicado em 1983) [ Links ]
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Stern, D. N. (1989). Le monde interpersonnel du nourrisson (A. Lazartigues & D. Pérard, Trads.). Paris: PUF. (Trabalho original publicado em 1985) [ Links ]
Correspondência:
René Roussillon
4 Rue Barrème (4° étage)
69006 Lyon
06 09 54 26 54
rroussillon7@gmail.com
Recebido em 12.11.2014
Aceito em 26.11.2014