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Revista Brasileira de Psicanálise
versión impresa ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.51 no.4 São Paulo oct./dic. 2017
RESENHAS
Los pioneros del psicoanálisis de niños: teorías y técnicas que influyen el desarrollo normal del niño
Suzana Grunspun
Médica, psiquiatra, psicanalista, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Analista de crianças e adolescentes (Associação Psicanalítica Internacional - IPA)
Autora: Beatriz Markman Reubins
Editor: Marc Stephan Reubins
Editora: Karnac, Londres, 2014, 252 p.
Resenhado por: Suzana Grunspun
Beatriz Markman Reubins, autora do livro Los pioneros del psicoanálisis de niños, é médica, psiquiatra e psicanalista. De origem argentina, mas radicada em Nova York, nos Estados Unidos, especializou-se no atendimento de crianças e adolescentes. É filiada à Associação Psicanalítica Argentina (APA) e ex-presidente da Sociedade Psicanalítica de Long Island, pertencente à Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Esta obra, tão bem elaborada e cuidadosamente escrita, foi editada em inglês e espanhol em 2014. O tema é ao mesmo tempo tradicional e original. Por meio de biografias dos autores pioneiros que construíram a psicanálise de crianças, coloca-nos diante de fatos históricos que delineiam em nossa mente a corrente do movimento psicanalítico, desde os primórdios até a atualidade. A originalidade deste minucioso trabalho está na proposta de ampliar a informação do leitor, contribuindo para este ter uma noção clara das teorias que constituem o corpo teórico abrangente dessa disciplina. O livro Los pioneros del psicoanálisis de niños é uma importante publicação, que colabora com a transmissão do conhecimento da psicanálise de crianças.
A história da evolução de determinado conhecimento científico tem um percurso complexo, e muitas vezes lidamos com resistências diante dos progressos alcançados. A psicanálise de crianças e adolescentes tem sua história fortemente ligada a essas questões, e as novas teorias se viram confrontadas com tabus e preconceitos. Oliver Sacks, neurologista inglês recentemente falecido, num capítulo da obra Histórias esquecidas da ciência (1997), organizada por R. B. Silvers, alerta-nos para a necessidade de conhecer a história de determinada descoberta científica. Salienta a importância dos efeitos e influências do pensamento de cientistas que nos antecederam para compreender as teorias e mostra como esses elementos estão diretamente relacionados ao fundamental progresso da ciência. Sacks conjetura a respeito da ideia de que as descobertas científicas não caminham por uma linha contínua, abrindo-se numa árvore majestosa; ele afirma que, em muitas ocasiões, há caminhos sinuosos e complexos, de esquecimentos e escotomas, para alcançar determinado saber, e enfatiza a necessidade de conhecer a história dos conceitos.
Beatriz Reubins aproxima-se do pensamento de Sacks ao lidar com os autores e seus conceitos. A narrativa de seu texto nos transporta ao longo da linha do tempo, e assim acompanhamos, com certa facilidade, o importante processo histórico da psicanálise de crianças e como se deu o conhecimento inicial da mente infantil, marcado por fortes resistências. O começo do atendimento de crianças mobilizou uma nova geração de analistas, que não só colaborou com teorias originais como transformou de maneira revolucionária a psicanálise. Os analistas de crianças ajudaram na descoberta de novos caminhos, assimilados pela psicanálise em geral, e tiveram uma influência significativa no progresso dessa área - apesar das intensas discussões e grandes divergências teóricas.
Analistas contemporâneos perceberam a importância do projeto de Beatriz Reubins e a apoiaram. Entre eles, está Harold Blum (ex-editor do Journal of the American Psychoanalytic Association e ex-vice-presidente da ipa), que nas palavras preliminares à obra escreve:
Beatriz Markman Reubins consegue uma integração que ao mesmo tempo estimula a investigação e perguntas. O livro abre novos caminhos, que inspiram o leitor a estudar mais profundamente a história do movimento psicanalítico. É especialmente recomendado para aqueles que desejam ampliar seu conhecimento sobre Freud, seus seguidores e os pioneiros que enriqueceram a psicanálise na prática e no pensamento. (p. XV)
No prefácio, a autora salienta a motivação para escrever o livro, relatando que o seu interesse no tema nasceu quando frequentava a Clínica Hampstead, de Anna Freud, em Londres, no ano de 1974. Ela afirma:
Cheguei à Inglaterra com uma formação na APA, somente com a teoria kleiniana, que era aplicada às crianças. Naquele momento, eu me perguntei qual era a verdade, quem teria razão. Ambos, kleinianos e freudianos, trabalhavam com crianças, embora com diferentes enquadres na teoria e na prática. Com o tempo, com estudo e experiência, interessei-me por diferentes teorias e concluí que todas têm contribuições para o campo da psicanálise infantil. Descobri com fascinação outros psicanalistas que investigaram, observaram e chegaram a importantes conclusões. (pp. XXI-XXII)
O livro é composto de 252 páginas, contendo introdução, nove capítulos e conclusão. Cada capítulo é dedicado a um pensador e sua obra - existe o cuidado de especificar a biografia e a teoria de cada autor, com suas características próprias, e o contexto teórico em que surgiu cada teoria. Na contracapa, encontramos uma importante citação de Daniel Cohen, do Departamento de Psiquiatria do Saint Luke's - Roosevelt Hospital, de Nova York:
O uso de uma linguagem sensível ajuda a condensar ideias muito complicadas, mostra um impressionante conhecimento e familiaridade com os diferentes conceitos e teorias e com a forma como se relacionam entre si, através de um material organizado de maneira sistemática lógica e útil.
Beatriz Reubins tem o mérito de nos proporcionar uma interessante e frutífera viagem. Os capítulos 1 e 2 a autora dedica a Freud. No primeiro, apresenta uma breve biografia, a história do início da psicanálise, os primeiros colaboradores e os dissidentes, faz um apanhado esclarecedor do começo das descobertas de Freud, introduz importantes conceitos psicanalíticos e estabelece uma base para prosseguir, no capítulo 2, com os trabalhos de Freud relacionados à análise de crianças.
Nos capítulos 3, 4 e 5, aborda Anna Freud, Klein e Winnicott, considera o tema da infância e introduz as inovadoras teorias desses autores. Nós nos sentimos acolhidos durante a leitura, depois de ter refrescado a mente com Freud. Em relação ao capítulo 3, dedicado à obra de Anna Freud, percebemos a clareza da escrita, a precisão ao transmitir os conceitos. A autora salienta a influência das teorias dessa analista na psicologia do desenvolvimento, bem como de suas formulações sobre os mecanismos de defesa.
Melanie Klein é visitada com maestria no capítulo 4, que abarca, além de sua vida, toda a evolução de seus conceitos e a fundamentação do desenvolvimento da técnica da psicanálise de crianças através do brincar. Relata as controvérsias entre Anna Freud e Klein e descreve o profundo impacto que a teoria desta teve na psicanálise de adultos e crianças, formando alicerces para futuras investigações de analistas pós-kleinianos - refere-se à evolução de conceitos formulada por eles.
A contribuição de Winnicott para a psicanálise é bem descrita no capítulo 5: sua teoria é amplamente discutida, com a explicação de seus principais conceitos. Reubins faz um panorama geral sobre o desenvolvimento da criança e a teoria de Winnicott sobre o brincar. Descreve a psicopatologia de acordo com o vértice teórico do analista inglês e como ele propõe o processo terapêutico dentro de sua perspectiva criativa. Reflete acerca das relevantes diferenças teóricas entre Winnicott e Klein - quanto à natureza psicológica do desenvolvimento da criança, às ideias do instinto de morte e da agressão, ao conceito de inveja e ao papel do meio ambiente, especialmente da mãe, na vida do bebê.
No capítulo 6, o leitor enriquece seu repertório psicanalítico com a apresentação de um caso clínico, discutido com base nas teorias dos três últimos autores. O capítulo 7, dedicado a Margareth Mahler, descreve seus principais conceitos, como os precursores do processo de separação e individuação e as fases desse processo. No capítulo 8, aborda-se a inovadora teoria do apego de John Bowlby, considerando-se a ideia de que a conduta do apego é uma estratégia evolutiva de sobrevivência do bebê. Discutem-se as ideias de Bowlby provenientes de seus estudos em etologia e sua influência na psicanálise contemporânea. O psicanalista Peter Fonagy é citado como um pensador que integra a teoria psicanalítica contemporânea do apego.
O capítulo 9, sobre os pioneiros ao redor do mundo, considera suas biografias e inclui os períodos vividos em guerras e entreguerras. Tem início com Hermine Hug-Hellmuth, recordando que foi a primeira analista a escrever sobre o desenvolvimento emocional do bebê, bem como a desenvolver a técnica do brincar na análise de crianças, priorizando as primeiras sessões como fundamentais para o entendimento desses pacientes. Entre muitos outros autores, podemos citar: Sabina Spielrein e a influência de Carl Jung; René Spitz e a investigação sobre o hospitalismo; Erik Erikson e as etapas do desenvolvimento psicossocial; Françoise Dolto e suas interessantes concepções influenciadas por Lacan; Arminda Aberastury e seus métodos diagnósticos; Serge Lebovici e o procedimento de atendimento conjunto com os pais e a criança pequena, caracterizando a intervenção precoce; e René Diatkine, que se dedicou ao tema saúde mental e infância.
O último capítulo é reservado para as conclusões. Beatriz Reubins tece considerações e reflexões sobre esse vasto e importante livro de histórias, biografias e evolução dos conceitos de diversas escolas e pensamentos. A autora escreve:
Nosso entendimento da dinâmica mental dos pacientes, crianças e adultos, amplia-se através da revisão de diversas teorias. Temos assim mais ferramentas para organizar nossas ideias, para as interpretações e para entender melhor o processo de desenvolvimento da terapia que nos permite ajudar nossos pacientes com seus conflitos e ansiedades ... Os famosos pensadores que incluímos neste livro, junto com muitos investigadores e mentes criativas, têm diferentes ideias e conceitos, utilizando diferentes terminologias. Alguns enfatizam os aspectos biológicos, outros o meio ambiente, outros as relações de objeto. No entanto, todos têm um denominador comum, que são as experiências precoces da criança, seus primeiros anos de vida e suas necessidades físicas e emocionais, como da qualidade da díade mãe-bebê, que permite à criança desenvolver uma vida saudável. (pp. 239-240)
Referências
Sacks, O. (1997). Escotomas e negligência em ciências. In R. B. Silvers (Org.), Histórias esquecidas da ciência (G. C. C. de Souza, Trad., pp. 111-146). São Paulo: Paz e Terra. [ Links ]
Correspondência:
Suzana Grunspun
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