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Revista Brasileira de Psicanálise
versión impresa ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.52 no.1 São Paulo ene./mar. 2018
EDITORIAL
Marina Massi
Editora
A revista começa o ano de 2018 com a já tradicional publicação dos trabalhos premiados no mais recente Congresso Brasileiro de Psicanálise.
A 26.ª edição do evento, realizada no ano passado no Ceará, versou sobre o tema Vida e morte: novas configurações e abriu espaço para a reflexão sobre inclusão, preconceito, migração, racismo, escravidão, violência, tortura, entre outros importantes assuntos que muitas vezes são deixados de fora do circuito psicanalítico. Além dos cinco artigos premiados, este número traz ainda o artigo "O jaguar como signo de vida e morte", do antropólogo Felipe Süssekind, apresentado no Rio de Janeiro durante uma atividade preparatória para o congresso em Fortaleza.
Em nosso entendimento, uma das funções da revista é dar visibilidade ao trabalho desenvolvido pela Diretoria da Febrapsi e das Sociedades locais, reportando aos leitores as atividades de preparação, as quais criam um corpo de pensamento e produção que irá constituir o formato final do congresso.
Aproveitamos a ocasião para divulgar a carta-convite que anuncia o próximo Congresso Brasileiro de Psicanálise, que acontecerá em Minas Gerais, de 19 a 22 de junho de 2019, sob o tema O estranho - Inconfidências.
A RBP, como revista oficial da Febrapsi, tem como objetivo publicar trabalhos de nossos membros de todas as regiões do país. Esta tem sido nossa preocupação: publicar o melhor da produção local e trazer notícias do contexto internacional, sempre respeitando a ideia de que somos uma revista brasileira.
Temos recebido muitos trabalhos de dentro e de fora da Febrapsi, o que mostra a abrangência da revista no campo psicanalítico. Ao mesmo tempo que é um motivo de orgulho, isso exige da equipe editorial um enorme esforço, a fim de dar conta da demanda e lidar com a responsabilidade (assim como com a angústia) de que muitos trabalhos, mesmo que bons, não poderão aparecer nas páginas da revista e terão que buscar outras publicações - constatação que corrobora o lugar de excelência que a RBP ocupa na esfera editorial.
Gostaríamos de chamar a atenção para um assunto que tem adquirido relevância no âmbito da IPA. O direito à privacidade dos pacientes é inerente ao nosso trabalho, seja em apresentações de ordem científica, seja em publicações científicas. Em sua versão impressa, a RBP conta com cerca de 2 mil exemplares por número. Com tantas cópias físicas circulando entre nós e em bibliotecas universitárias, é bastante difícil acreditar que podemos garantir a confidencialidade, e o fato de a revista ser indexada altera consideravelmente a escala do problema. Cabe lembrar, porém, que a questão ética não é dada por números, e sim pelo cuidado com o outro em nosso ofício. Esse outro é o paciente.
Para finalizar este editorial, não poderíamos deixar de registrar que este número da RBP vem a lume num período de grande inquietação política no país. São muitos os pontos a serem pensados na esfera da política e da ética. Uma parte que nos cabe merece ao menos ser assinalada: uma polarização arredia a quaisquer nuances, um não ao diálogo, uma preocupante intolerância, enfim, questões que nos intimam à reflexão sobre nós mesmos enquanto sociedade e cultura. Os estudos psicanalíticos sobre o mal-estar na cultura, como os concernentes à dinâmica das relações afetivas, grupais e institucionais, à formação das ideologias, ao narcisismo, à alteridade, às identidades, ao impacto das redes sociais sobre a linguagem e as formas de se relacionar com o mundo, podem ser vigorosas ferramentas na construção de pensamentos capazes de compreender a intolerância e o ódio a que assistimos no cotidiano global, veiculados pela imprensa, dos quais a polarização política em nosso país é um exemplo. Como diz R. Kaës sobre a ideologização, "uma vez constituída em posição, ela não é mais um processo, mas um antiprocesso" (2016, p. 208).
Não cabe aqui aprofundar os importantes acontecimentos do cenário sociopolítico brasileiro, suas consequências na vida psíquica de pacientes e analistas, mas, por sermos uma revista científica, não podemos deixar passar fatos tão relevantes para nós e para o nosso país.
Boa leitura (e boa reflexão) a todos!
Referências
Kaës, R. (2016). A ideologia é uma posição mental específica: ela nunca morre (mas ela se transforma) (M. Jorge, Trad.). Jornal de Psicanálise, 49(91),207-224. [ Links ]
Correspondência:
Marina Massi
marinamassieditora@rbp.org.br