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Aletheia
versión impresa ISSN 1413-0394
Aletheia vol.52 no.1 Canoas ene./jun. 2019
ARTIGO INTERNACIONAL - PROMOÇÃO DA SAÚDE
Prevalência do bullying entre alunos do ensino fundamental
Prevalence of bullying among adolescents and implications for health promotion at school
Samara Pereira Oliboni1; Valéria Lerch Lunardi2, I; Guilherme Lerch Lunardi3, I; Beatriz Oliveira Pereira4, II; Wanderlei Abadio de Oliveira5, III
IUniversidade Federal do Rio Grande (UFRG)
IIUniversidade do Minho (UM)
IIIFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP)
RESUMO
Esse estudo objetivou conhecer a prevalência e os tipos de bullying entre estudantes do Ensino Fundamental. Participaram da investigação 406 alunos regularmente matriculados entre o 5º e o 9º ano de sete escolas públicas da região sul do Brasil. A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação de um questionário autoaplicável cujos dados foram analisados no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS). Os resultados revelaram que 268 (66%) dos alunos estavam envolvidos com o bullying, sendo 195 (48%) vítimas e 73 (18%) agressores. Os locais de maior ocorrência foram as salas de aula (57,9%) e os recreios (39,4%). Os tipos mais praticados foram apelidar e xingar (58,9%) e incomodar (39,7%), sendo que as meninas estiveram mais envolvidas com o bullying. Os resultados indicam propagação da violência escolar e a necessidade de intervenções intersetoriais direcionadas para o empoderamento das vítimas de bullying, segundo os pressupostos da promoção da saúde.
Palavras-chave: bullying; violência escolar; educação.
ABSTRACT
This study's objective was to identify the prevalence and types of bullying experienced by elementary students. A total of 406 students from the 5th to 9th years from seven public schools located in the South of Brazil participated. Data were collected using a self-report questionnaire and analyzed using the Statistical Package for Social Sciences (SPSS). The results revealed that 268 (66%) of the students were involved with bullying, 195 (48%) as victims and 73 (18%) as bullies. Bullying more frequently occurred in classrooms (57.9%) and during recess (39.4%) and the most common types were calling names and cursing (58.9%) and teasing (39.7%); girls were those most frequently involved. The results indicate that violence is disseminated in the school routine and intersectoral interventions are needed to empower the victims based on the assumptions of health promotion.
Keywords: bullying; school violence; education.
Introdução
A violência escolar tem se configurado em uma realidade para muitas crianças e adolescentes, particularmente, quando se analisa os comportamentos agressivos entre os alunos. Entre os tipos de violência escolar, o bullying tem se destacado como prática cruel e devastadora das relações interacionais, principalmente por sua ação, muitas vezes, velada. Com a adoção de comportamentos intencionalmente hostis, dissimulados e repetitivos, o bullying envolve atitudes de intimidação, perseguição, exclusão e humilhação que partem de um ou mais estudantes contra outros, sem que exista um motivo aparentemente justificável (Olweus, 2013). As agressões são constantes e podem durar anos, trazendo consequências deletérias para os envolvidos a curto e longo prazo (Zequinão et al., 2017).
Entre as características do bullying, é possível dizer que ele assume duas variantes: direto e indireto. No bullying direto, o agressor dirige diretamente suas agressões para as vítimas, com uso de apelidos impróprios, ofensas, humilhações, xingamentos, ameaças, podendo agredir física e até mesmo sexualmente. A vítima pode ter seus pertences danificados, roubados ou, ainda, ser obrigada a pagar despesas dos agressores ou fazer suas atividades escolares. O bullying indireto, por sua vez, compreende ações que visam excluir e ignorar a vítima, espalhar rumores, mentiras, boatos difamatórios e humilhantes na tentativa de denegrir socialmente a imagem da vítima (Aguiar & Barrera, 2017).
As características que o fenômeno assume no cotidiano, num primeiro momento, fazem o bullying parecer de pouca importância ou ser confundido como uma brincadeira natural da idade. Entretanto, Zequinão et al. (2017) referem que as consequências do bullying envolvem três esferas: saúde, processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento psicossocial. Assim, são identificadas nas vítimas uma tendência para o baixo rendimento escolar, fracasso ou evasão escolar, além do desenvolvimento de quadros/sintomas depressivos, fobia social, medo, ansiedade generalizada, autoflagelação, pensamentos negativistas, baixa autoestima, transtornos alimentares e ideação suicida (Sampaio et al., 2015).
No que refere aos agressores, estes possuem maior tendência a desenvolver comportamentos de risco para sua saúde, problemas de saúde mental e comprometimento no processo ensino aprendizagem (Mello et al., 2017). Esse cenário transforma o bullying em um tema urgente para investigações no campo da saúde.
Nota-se que as pesquisas sobre essa temática são recentes em todo o mundo, tendo como pioneiro o investigador norueguês Dan Olweus. Um dos marcos para o avanço de pesquisas sobre o bullying foi o seu estudo que apresentou que a morte por suicídio de três alunos estava associada aos anos de extremo sofrimento com o bullying escolar (Olweus, 1978). Posteriormente, investigações em diferentes países começaram a reafirmar a gravidade desse problema nas escolas. Uma pesquisa realizada na Austrália relevou que um em cada dez alunos estavam envolvidos com o bullying (Rigby & Slee, 1991). Dois anos depois, na Noruega, Olweus (1993) apontava o envolvimento com o bullying de um para cada sete alunos. Em Portugal os achados de Lourenço, Pereira, Paiva e Gebara (2009) demonstram elevada prevalência de bullying, sendo identificado, respectivamente 36,4% de alunos vítimas.
No Brasil, os primeiros estudos sobre essa temática surgiram há pouco mais de uma década. Com resultados que apontavam 40,5% (Lopes, 2005), 41% (Fante, 2005) de alunos envolvidos em situações de bullying, emitiam o alerta para a gravidade do problema nas escolas do país. Entretanto, somente em 2015 foi instituída uma legislação para enfrentar especificamente esse tipo de violência, a qual é denominada como Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), pela Lei nº 13.185 (Brasil, 2015).
Apesar de a lei brasileira possuir na sua denominação a palavra "programa", o que pode levar o entendimento de ser um projeto de intervenção nacional, o fato é que as responsabilidades relacionadas a elaboração e ao desenvolvimento das ações de combate ao bullying são atribuídas às escolas e instituições de ensino. Ou seja, até o presente momento não há no Brasil um projeto que envolva todo o território nacional e que seja específico para o diagnóstico, prevenção e intervenção do bullying escolar como existe em outros países (Olweus, 2013; Salmivalli, Poskiparta, Ahtola, & Haataja, 2013).
O que temos, em sua maioria, são resultados de pesquisas de mestrado e doutorado que visam investigar a problemática do bullying e propor programas de prevenção e intervenção. Apesar da qualidade dos trabalhos desenvolvidos dentro dos cursos de pósgraduação, sem maior apoio do Governo Federal torna-se difícil ou até mesmo impossível a sua expansão a todo território nacional. A terceira edição da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, por exemplo, revelou que 88,9% das escolas investigadas no país possuem uma política que proíbe a prática de bullying, entretanto, mesmo assim, 20,1% dos seus alunos admitem praticarem esse tipo de violência. Isso reafirma o posicionamento que dispõe o Relatório Mundial Sobre a Prevenção da Violência 2014 (Organização Mundial da Saúde, 2015), que apesar de os países estarem investindo em leis de prevenção da violência, sua aplicação é frequentemente inadequada e incompatível com a dimensão e gravidade do problema.
Enquanto isso, existe um constante alerta emitido por diferentes pesquisadores sobre a gravidade do bullying nas escolas brasileiras, o qual é considerado um problema sério de saúde pública (Marcolino, Cavalcanti, Padilha, Miranda & Clementino, 2018; (Silva et al., 2017; Silva et al., 2018) pela elevada prevalência de alunos envolvidos com esse tipo de violência e pela gravidade dos prejuízos que pode trazer para suas vidas (Santos, Cabral-Xavier, Paiva & Leite-Cavalcanti, 2014). Em estudos mais recentes no país é possível constatar que a prevalência continua elevada, com achados que demonstram 24% (Aguiar & Barrera, 2017) e 63% (Nova, Sena & Oliveira, 2015) de alunos envolvidos com o bullying.
Os resultados dessas pesquisas demonstram reafirmar o posicionamento de alguns autores, que consideram que nos países de média e baixa renda a prática de bullying pode variar entre 10% e 60% (Fleming & Jacobsen, 2010). Nesse sentido, o Brasil demonstra a necessidade de haver maior investimento em estratégias intersetoriais capazes de transformar culturas escolares e contribuírem com enfrentamento da violência escolar. É nessa direção que as perspectivas da promoção da saúde são válidas.
A promoção da saúde nas escolas tem sido considerada uma estratégia relevante para que sejam abordadas temáticas transversais que afetam o desenvolvimento e a qualidade de vida dos estudantes (O'Reilly, Svirydzenka, Adams & Dogra, 2018). As ações dessa natureza são desenvolvidas pelas equipes de saúde na atenção primária, em parceria com os profissionais da educação e a comunidade, para fortalecer vínculos, empoderar pessoas e grupos e contribuir com a mudança de hábitos que comprometem a saúde das populações infantil e juvenil (O'Reilly et al., 2018). Para tanto é essencial que profissionais e estudantes da área se apropriem das características do fenômeno e esse estudo pode contribuir para lançar luzes sobre sua ocorrência.
Assim, a fim de subsidiar estratégias de prevenção e enfrentamento do bullying escolar, esse estudo objetivou conhecer a prevalência e os tipos de bullying entre estudantes do Ensino Fundamental.
Método
Foi desenvolvida uma pesquisa exploratória em sete escolas públicas municipais, situadas na periferia da cidade de Lages/SC. Participaram da investigação 406 estudantes matriculados entre o 5º e o 9º ano do Ensino Fundamental, os quais assinaram termos de assentimento e seus responsáveis termos de consentimento para adesão dos adolescentes na pesquisa.
Uma característica comum entre as escolas que participaram deste estudo, foi o predomínio de alunos proveniente de famílias que necessitam do auxílio do Governo Federal através do Programa Bolsa Família para complementar a renda familiar. Como na cidade em que ocorreu a pesquisa existem escolas públicas municipais, estaduais e federais, escolas particulares e escolas de ensino técnico, a população investigada nessa pesquisa não representa a totalidade das instituições de educação do município e nem do Brasil.
A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação de um instrumento anônimo construído e validado pelos três primeiros autores desta pesquisa com o auxílio de evidências científicas e de outros questionários construídos para a investigação do bullying escolar (Solberg & Olweus, 2003, Stelko-Pereira, 2012). O instrumento construído contém setenta e duas questões fechadas, divididas em oito blocos, sendo a maioria respondida por meio de uma escala do tipo Likert de cinco pontos. No final, há um espaço em branco para o caso de o respondente desejar escrever algo não suficientemente contemplado no questionário. Além de identificar os casos de bullying, o instrumento verifica a sua associação com os seguintes elementos: autoestima, satisfação com a escola, percepção sobre o desempenho escolar, atuação da escola, relacionamento familiar entre pais e filhos. O processo de validação do questionário compreendeu a validade de face, na qual se costuma consultar uma pequena amostra de respondentes a fim de serem analisadas as questões do instrumento de pesquisa. De acordo com Hair, Anderson, Tathan e Black (2005), a validade de face é uma avaliação sistemática, mas subjetiva, que avalia se o instrumento possui o desempenho esperado, ou seja, se mede o que deve ser medido. Assim, dez alunos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental, sendo dois de cada turma, foram reunidos em uma sala de aula e solicitado que respondessem as questões analisando e verificando se elas se mostravam adequadas para a sua compreensão na maneira como foram formuladas. O instrumento foi respondido entre quinze e trinta e cinco minutos e, após o término, foi realizada uma discussão com os alunos para que pudessem apontar possíveis dificuldades. Entretanto, todos declararam obter clareza no entendimento das questões, facilidade em responder e afirmaram que possivelmente os colegas não apresentariam dificuldades.
A partir da validade de face, foi desenvolvido um estudo piloto tendo a participação de 80 alunos do 5º ao 9º ano. Após essa etapa, o instrumento e os resultados foram avaliados e analisados por dois especialistas com título de doutor que apresentam afinidade com a temática investigada, os quais sugeriram poucas modificações. A principal sugestão indicada pelos especialistas foi incluir no instrumento a questão "07 – Nos últimos 3 meses, quantas vezes algum aluno ou alguma aluna da escola incomodou ou fez mal a você?" no bloco que identifica os estudantes vítimas de bullying, e a questão "22 – quantas vezes você incomodou ou fez mal a algum aluno ou aluna da escola? no bloco que identifica os estudantes agressores. O acréscimo dessas questões ocorreu por verificar que 58% dos alunos demonstraram não se identificar com as situações de bullying apresentadas no questionário, porém indicaram os locais em que sofreram ou praticaram o bullying, o sexo do agressor e da vítima e, quantos alunos são vitimados e por quantos alunos é agredido. Por fim, das setenta e duas questões do questionário, cinquenta e sete que registram o nível de concordância ou discordância do participante da pesquisa através da escala likert, foram submetidas à análise fatorial e ao cálculo do alfa de Cronbach.
Entretanto, para este artigo foram avaliados os três primeiros blocos do instrumento, num total de trinta e seis questões. O primeiro bloco contém seis questões, e identifica os participantes quanto a idade, sexo, ano escolar, pessoas com quem mora e quantidade de melhores amigos na escola. O segundo bloco possui quinze questões que buscam identificar os alunos vítimas, tipos de bullying sofrido, quantas pessoas agridem a vítima, sexo dos agressores, local que ocorrem as agressões, e onde estudam os agressores. O terceiro bloco possui quinze questões que tratam de identificar os alunos que são agressores, tipos de bullying praticados, quantas pessoas são vítimas dos agressores, sexo das vítimas, local em que ocorrem as agressões, e onde estudam as vítimas. A identificação dos alunos envolvidos com o bullying ocorreu pelo referimento de praticar ou sofrer algum dos tipos de violência indicados no instrumento, por três ou mais vezes em um período mínimo de três meses, conforme sugerido por Solberg e Olweus (2003).
Os dados foram coletados por um dos autores da pesquisa com o auxílio de quatro educadores sem vínculo profissional com as escolas selecionadas, que acompanharam os alunos e esclareciam suas dúvidas. Cada escola disponibilizou uma sala para que os estudantes respondessem ao questionário. A aplicação dos questionários era coletiva e o tempo médio utilizado para responder foi de 20 minutos. Após a coleta, os dados foram submetidos a análises no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 22.0. A análise ocorreu através da distribuição de frequência pelo Teste Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fischer, sendo considerado o nível de significância p<0,05, com intervalo de confiança de 95%.
A pesquisa foi previamente aprovada por um Comitê de Ética em Pesquisa na área da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (Parecer nº 162/2014) e seguiu todas as recomendações da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados
A investigação revelou que a média de idade da amostra foi de 12,63 anos, com desvio padrão de 1,42 anos. Dos 406 participantes 268 (66%) alunos estavam envolvidos com o bullying, sendo que 107 (39,9%) pertenciam a famílias nucleares. Foram identificadas 195 (48%) vítimas, destas 108 (55,4%) eram do sexo feminino e 87 (44,6) do masculino. Os estudantes agressores totalizaram 73 (18%) alunos, 50 (68,5%) do sexo feminino e 23 (31,5%) do masculino, apresentando diferença estatisticamente significava no variável sexo (p<0,035*) sendo as meninas as mais agressoras em relação aos meninos. Não foi constatada diferença significativa na associação entre o ano escolar e o envolvimento com o bullying e nem na associação com a variável que avaliava a quantidade de melhores amigos que os envolvidos possuíam (Tabela 1).
Sobre os locais de manifestação do bullying, as vítimas informaram que a maioria dos agressores são colegas de sala de aula (64,1%) e que costumam praticar o bullying, principalmente, neste ambiente (57,9%) e no recreio (39,4%). Os alunos agressores confirmaram o posicionamento das vítimas ao apresentarem dados semelhantes conforme a tabela 2.
Quanto aos tipos de bullying, os resultados da tabela 3 demonstram que os apelidos e xingamentos é o padrão de comportamento mais comum vivenciado pelas vítimas (53,8%) e praticado pelos agressores (58,9%). Incomodar surge como o segundo mais frequente. Posteriormente, os demais tipos de bullying seguem em alternância na frequência entre os envolvidos.
Discussão
A elevada prevalência de alunos envolvidos com o bullying (66%) identificados nesta pesquisa, assemelha-se aos resultados obtidos nas investigações de Bandeira e Hutz (2012) e de Nova et al., (2015) que encontraram, respectivamente, 67,21% e 63%. O número de casos de bullying encontrado nessas pesquisas, parece reafirmar o posicionamento de Marcolino (2013), que ao analisarem a ocorrência de bullying em diferentes países constataram que o Brasil lidera com valores acima de 54% de alunos vítimas e 18% de agressores, sendo que a média de outros países segue entre 10% e 30% seja para vítima ou agressor.
Entretanto, é possível que isso se justifique pelo fato de o bullying ser um tema novo de investigação no Brasil e, consequentemente, ainda, não haver uma política pública nacional que direcione ações para a prevenção e intervenção (Santos et al., 2014). Outros países, principalmente os do continente europeu, somam mais de vinte anos em investigações e alguns possuem políticas públicas de intervenção (Olweus, 2013). Porém, essa reflexão serve para compreender como o Brasil se situa diante da problemática do bullying em relação a outros países, visto que a dimensão desse tipo de violência só é percebida quando pesquisas de diagnóstico apresentam a tônica do problema, devido ao seu caráter, muitas vezes, velado e de difícil identificação.
Pesquisas internacionais apontam que as consequências desse tipo de violência podem repercutir ao longo da vida, tornando vulnerável a saúde e qualidade de vida do envolvidos (António & Moleiro, 2015; Lereya, Copeland, Costello & Wolke, 2015), que ficam mais propensas a desenvolverem sintomas psicossomáticos (Perron, 2013), apresentarem dificuldades de concentração, baixa autoestima, ansiedade, depressão, autoagressão (António & Moleiro, 2015; Lereya et al., 2015), e ideação suicida (Stanley et al., 2016).
Em termos de Brasil, investigações aprofundadas a partir das diferentes edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), revelam que sentir-se sozinho, não ter amigos, ter insônia, faltar as aulas sem avisar aos pais, sofrer ou testemunhar violência física família, apresentar baixo desempenho escolar, ter sintomas depressivos, e apresentar ideação suicida são fatores associados ao bullying e que afetam e colocam em risco a saúde (Mello et al., 2017; Silva et al., 2018). Resultados semelhantes também são encontrados em Zequinão et al. (2017) e em Sampaio et al. (2015). Nesse sentido, é possível reafirmar que o bullying é um sério problema de violência escolar, podendo repercutir negativamente ao longo da vida dos envolvidos (Marcolino et al., 2018; Silva et al., 2018).
No que tange às diferenças de sexo, os resultados demonstram que ambos estão implicados na vivência do comportamento agressivo, havendo predomínio de envolvimento para alunas do sexo feminino, seja na condição de vítima ou agressor. Apesar de ser comum encontrar na literatura investigações que trazem o sexo masculino como de maior prevalência na prática de bullying, seja como vítima ou agressor (Mattos & Jaeger, 2015, Mello et al., 2017), há autores que referem ser crescente a identificação de meninas agressoras no contexto escolar (Teixeira, Coladith, Jacomeli, Ulbricht, & Neves, 2013). Entretanto, vale destacar que essa é uma questão complexa e outras investigações devem se concentrar, especificamente, na identificação de diferenças entre meninas e meninos no que se refere à prática do bullying.
Quanto aos dados sobre a composição familiar, verifica-se que a maioria dos envolvidos com o bullying pertence a famílias nucleares. Esse resultado chama a atenção para a forma de relação que estes alunos possuem com seus familiares e assim, algumas hipóteses podem ser levantadas, como: ausência dos pais na vida escolar dos filhos, violência doméstica, baixa qualidade do convívio afetivo e emocional entre os membros da família, falta de habilidade e assertividade para lidar com a repreensão dos filhos (Mendes, 2011). Pesquisadores são comuns em apontar que as características da família, também, estão associadas com a vivência do bullying (Borsa, Petrucci & Koller, 2015). Alunos vítimas, por exemplo, costumam vir de famílias super protetoras, enquanto que os agressores costumam apresentar carência afetiva no lar (Smith, 2013).
Os achados dessa pesquisa sobre os tipos de bullying, confirmam dados de outras investigações que apontam serem os apelidos e os xingamentos a agressão mais comum entre os envolvidos (Bandeira & Hutz, 2012; Santos et al., 2014). Para as vítimas, o bullying indireto praticado por meio da mentira, fofoca e rumores e, de atitudes que envolvem ignorar e excluir também surge com maior frequência entre as investigações (Bandeira & Hutz, 2012; Santos et al., 2014). Quanto a prática do agressor de "destruir", "roubar material" ou "forçar pegar coisas", confirmou os achados de Santos et al. (2014) como sendo a forma menos frequente de agressão.
A agressão física demonstrou ser outra ação recorrente entre os envolvidos, corroborando com os dados da investigação de Santos et al. (2014). As agressões de cunho sexual, racista ou religioso surgiram com menor frequência entre os alunos participantes dessa pesquisa, confirmando os achados de Minghelli, Nunes e Abílio (2014) e diferenciando-se dos resultados da pesquisa de Souza, Silva e Faro (2015), os quais identificaram a agressão verbal de conteúdo homofóbico como o segundo tipo de bullying mais praticado entre meninos (20%). Entretanto, poucas são as investigações que tratam de investigar, especificamente, o bullying incitado por questões sexuais, racistas ou religiosas. A necessidade de mais pesquisas sobre essas questões pode contribuir sensivelmente para o melhor entendimento desses tipos de agressão.
Apesar de a sociedade estar vivendo a era da comunicação virtual, o cyberbullying apareceu entre os tipos de menor ocorrência entre os resultados desta investigação. Como o instrumento foi aplicado em escolas que possuem uma população de alunos que vivem em condições sociais e econômicas mais vulneráveis, é possível que os alunos participantes da pesquisa não utilizem com frequência o telefone celular ou o computador. Entretanto, este resultado abre precedente para que outros estudos aprofundem essa questão e investiguem a variável socioeconômica dos estudantes e a ocorrência de bullying.
Quanto aos locais de manifestação do bullying, a pesquisa demonstrou que a sala de aula e o recreio foram os ambientes de maior ocorrência, confirmando os achados de outras investigações (Teixeira et al., 2013). A constatação que a prática do bullying prevalece na sala de aula, chama a atenção para a figura do professor e da sua relação com os alunos. Uma investigação que buscou conhecer como os professores percebem e intervêm sobre o bullying que acontece em sala de aula, constatou que os professores possuem conhecimento fragmentado sobre o que define a prática de bullying e suas características, sendo comum confundir com atos de indisciplina, brincadeira típicas de idade, agressões esporádicas e bullying (Silva, Oliveira, Bazon & Cecílio, 2013).
Em se tratando do bullying que ocorre no recreio, observa-se que esse é um momento em que, geralmente, os alunos estão em maior número de circulação e gozam de maior liberdade interacional e menor supervisão de adultos, o que oferece melhores condições para a prática de bullying. Deste modo, é fundamental a capacitação profissional dos educadores para que possam desenvolver habilidades para reconhecer as diferentes situações de violência escolar, a fim de que estas não corram risco de serem negligenciadas ou, até mesmo, naturalizadas (Teixeira et al., 2013).
Diante dos resultados apresentados três perspectivas de atuação a partir das prerrogativas da promoção da saúde podem ser exploradas. Primeiramente, nota-se que as taxas de ocorrência do fenômeno nas escolas são altas e exigem maior sensibilização das famílias para a identificação de comportamentos agressivos ou indicativos de vitimização. As equipes de saúde na atenção primária podem auxiliar a disseminar os conhecimentos difundidos por esse estudo junto às famílias atendidas nas áreas descritas às equipes. Em segundo lugar, de forma intersetorial, as equipes de saúde podem contribuir com ações de promoção da cultura de não violência e voltadas para a adoção de comportamentos de tolerância e respeito às diferenças, além de poderem contribuir com o empoderamento das vítimas de bullying que devem ser instrumentalizadas para darem respostas adequadas às agressões sofridas ou mesmo pedirem ajuda de outros colegas/adultos. Por fim, as equipes de saúde podem somar forças, enquanto mão de obra, aos professores e profissionais da educação para identificar a ocorrência de bullying e como diminuir a prevalência no contexto escolar.
Conclusão
A elevada prevalência de alunos envolvidos com o bullying, identificada nesta pesquisa, comprova que este tipo de violência escolar possui proporções alarmantes, principalmente, quando os dados confirmam os resultados de outras investigações que reforçam a posição do Brasil entre os países com maior manifestação de bullying nas escolas. As consequências advindas desse tipo de violência fazem do bullying um sério problema de saúde pública, pelas consequências que pode trazer para os envolvidos ao longo da vida.
Diferentemente de outras pesquisas, a dimensão do bullying encontrada nessa investigação envolve em sua maioria alunos do sexo feminino. De modo geral, os apelidos e xingamentos foram as formas de agressão mais frequentemente vivenciado entre os alunos, sendo o ambiente da sala de aula e os locais de recreio foram apontados como os ambientes de maior manifestação de bullying. Esse resultado chama a atenção para o compromisso que as instituições educacionais devem assumir quando se trata de prevenção e intervenção sobre os casos de violência escolar. Em se tratando da ocorrência em sala de aula, é possível concluir que os professores não estão conseguindo identificar e reconhecer esse tipo de violência, o que pode demonstrar seu despreparo para intervir diante de situações de bullying. De modo semelhante, é o bullying que ocorre nos momentos de recreio, demonstra a necessidade de maior supervisão de adultos.
O estudo demonstrou, ainda, que a maioria dos alunos envolvidos com o bullying pertence a famílias nucleares. Este resultado vem questionar o relacionamento familiar, visto que pesquisas apontam que crianças que convivem com violência familiar têm aumentada as possibilidades de se envolverem com o bullying na escola. Além do mais, este resultado possibilita, também, refletir sobre o comprometimento dos pais no processo educacional dos filhos, que a princípio deveriam buscar maior participação da vida escolar.
As sérias consequências que o bullying pode trazer para a saúde dos envolvidos demonstra a necessidade de avançar nas estratégias de prevenção e enfrentamento desse tipo de violência escolar. Uma rede de apoio que congregue equipes de saúde de atenção primária pode contribuir com as escolas na construção de meios para intervir nos casos de bullying.
Destaca-se, como limitação da pesquisa, que os participantes do estudo representam uma parcela de alunos de sete escolas públicas municipais de um município. Apesar da participação ser representativa, os resultados não podem ser generalizados, pois em termos de Brasil, podem ser encontrados múltiplos contextos. Mesmo assim, é inegável a urgente necessidade de se desenvolver programas de prevenção e intervenção para atuar frente ao bullying. A elevada prevalência encontrada nas escolas dessa pesquisa não demonstra ser um caso pontual, mas reafirma a constatação do problema que atinge as escolas do país.
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Endereço para correspondência
E-mail: samaraoliboni@gmail.com
Recebido em: agosto de 2018
Aceito em: fevereiro de 2019
1 Samara Pereira Oliboni: Psicóloga, Doutora em Educação Ambiental. Desenvolve estudos e pesquisas na área da psicologia da educação, violência escolar e bullying.
2 Valéria Lerch Lunardi: Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente aposentada da Universidade Federal do Rio Grande (UFRG).
3 Guilherme Lerch Lunardi: Administrador. Doutor em Administração. Docente da Universidade Federal do Rio Grande (UFRG).
4 Beatriz Oliveira Pereira: Doutora em Estudos da Criança. Professora Catedrática da Universidade do Minho (UM).
5 Wanderlei Abadio de Oliveira: Psicólogo. Doutor em Ciências, Pós-doutorando do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).