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Natureza humana
versión impresa ISSN 1517-2430
Nat. hum. vol.21 no.2 São Paulo jul./dic. 2019
ARTIGOS
Falso e verdadeiro self: pensar para além dos avós. Ou: espírito livre e autoconsciência: si-próprio como devir
False and true self: thinking beyond grandparents - or free spirit and self-awereness: self as becoming
Oswaldo Giacoia Junior1
Professor do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp / E-mail: ogiacoia@hotmail.com
Nota Prévia:
É sabido que o tema do verdadeiro e falso Self é relevante em Winnicott, mas que também não deixa de sê-lo na filosofia de Friedrich Nietzsche. Desse modo, na ocasião em que me foi outorgado o privilégio de participar de uma coletânea em homenagem aos 80 anos de Zeljko Loparic, pensei que minha contribuição poderia dar-se sob uma forma que sei ser da preferência do homenageado, e que tem marcado nosso relacionamento, desde nosso primeiro encontro: a intensa discussão filosófica a respeito de temas de interesse comum.
Por isso, retomo neste texto com grande prazer - e gratidão - pontos sobre os quais tem girado, ao longo de décadas, meu diálogo com Zeliko Loparic; e neles a crítica da metafísica ocupou sempre um lugar especial. É com este propósito que abordo a questão do verdadeiro Selbst em Friedrich Nietzsche, que está no âmago da reflexão deste filósofo sobre o dualismo substancial, bem como da relação entre razão e afetos. Para tanto, um texto incontornável é o aforismo 35 de Autora: "Os sentimentos e sua derivação dos preconceitos. - 'Confie no seu sentimento!'- Mas sentimentos não são nada de último, nada de original; por trás deles estão juízos e valorações, que nos são legados na forma de sentimentos (inclinações, aversões). A inspiração nascida do sentimento é neta de um juízo - frequentemente errado! - e, de todo modo, não do seu próprio juízo! Confiar no sentimento - isto significa obedecer mais ao avô e à avó e aos avós deles do que aos deuses que se acham em nós: nossa razão e nossa experiência"2.
O caminho para um verdadeiro Si-Próprio (Selbst), que pode-se considerar também como a travessia de um falso para um verdadeiro Self passa pela superação da obediência (atávica) aos nossos avós, e é um 'topos' sempre retomado ao longo da obra de Nietzsche; ele constitui, em certo sentido, o ponto de cruzamento, no pensamento deste autor, entre filosofia e vida. É nesse campo, pois, que pretendo situar minha homenagem a Zeliko Loparic.
1. Devir Si-Próprio
No aforismo 231 de Para Além de Bem e Mal - um texto bem posterior, portanto, àquele acima citado -, Nietzsche faz menção a um fatum espiritual, no qual percebemos uma curiosa dialética de imagens antagônicas, cuja dinâmica convém acompanhar de perto: "O aprendizado nos transforma, faz o que faz a nutrição, que não apenas 'conserva'-: como sabe o fisiólogo. Porém, no fundo de nós, totalmente 'lá embaixo', há, em verdade, algo que não se deixa instruir, um granito de fatum espiritual, de decisão e resposta predeterminadas para questões predeterminadas e seletas. Em todo problema cardinal, fala um imutável 'isso sou eu': sobre homem e mulher, por exemplo, nenhum pensador pode mudar seu aprendizado, mas somente aprender até o fim - descobrir até o fim, sobre o assunto, aquilo que, para ele, 'está estabelecido'3."
Em seguida à referência à ineficácia do aprendizado sobre o Grundstoff que pré-determina respostas para problemas cardinais, Nietzsche acrescenta: "De tempos em tempos, encontramos certas soluções de problemas que justamente nos produzem uma crença forte; talvez as denominemos daí para diante 'convicções'4." Temos então, de início, a impressão de que nossas crenças mais firmes e bem estabelecidas, nossas 'autênticas' convicções seriam algo mais do que uma 'aparência' e opinião; como se fossem a direta e inequívoca exteriorização daquele granítico 'isso sou eu', o rosto definitivo por detrás de nossas máscaras.
Todavia, descobrimos, com o tempo, que mesmo nossas certezas aparentemente definitivas são apenas outros tantos disfarces, signos que remetem ainda a outra instância. "Mais tarde - vemos nelas tão-somente pistas para o autoconhecimento, indicadores de caminho para o problema que somos -, mais concretamente, para a grande estupidez que nós somos, para nosso fatum espiritual, nosso resistente ao aprendizado, totalmente 'lá embaixo'.5"
Desse modo, aquilo que resiste a todo aprendizado - a rocha de certeza a remover enfim toda dúvida - revela-se para nós como processo, como (auto)criação no decurso do tempo e das experiências, como tomada de consciência do 'o problema que somos', da 'estupidez que somos', cujo remoto paradeiro nos é indicado pelas pegadas que deixamos com nossos pensamentos e gestos, palavras e obras. Paradoxalmente, o fatum é o que não se deixa agarrar no ponto de partida, como um dado; ele porta uma inexorável contingência, como expressão volátil de um si-próprio que se furta a toda grosseira e impertinente tentativa apreensão direta ou introspectiva. Somente nos aproximamos dele a partir da distância e da reflexão.
Nos últimos anos de sua vida lúcida, tendo atingido uma maturidade que lhe permitia debruçar-se meditativamente sobre sua própria obra e biografia, para, a partir dessa superfície de reflexão,, retornar a si, Nietzsche não tinha ilusões a respeito da processualidade necessária do verdadeiro Selbst (Self): "Neste ponto já não há como eludir a resposta à questão de como alguém se torna o que é. E com isso toco na obra máxima da arte da preservação de si mesmo - do amor de si ... Pois admitindo que a tarefa, a destinação, o destino da tarefa ultrapasse em muito a medida ordinária, nenhum perigo haveria maior do que perceber-se com essa tarefa. Que alguém se torne o que é pressupõe que não suspeito sequer remotamente o que é. Desse ponto de vista possuem sentido e valor próprios até os desacertos da vida, os momentâneos desvios e vias secundárias, os adiamentos, as 'modéstias', a seriedade desperdiçada em tarefas que ficam além da tarefa."6
Trata-se de um lavor obstinado para resgatar as próprias marcas de percurso, juntar os cacos e reunir os fragmentos de si mesmo deixados ao longo do caminho da vida, que passo a passo vai se desenhando fora de si e sem prévio controle e disposição por parte daquele que vive. A obra de uma vida não é da mesma natureza do produto de fabricação, do tipo do artefato, que subsiste por si, depois de cumprido o ciclo operativo da produção.
No período em que se situa a concepção de Zur Genealogie der Moral e as Vorrede de 1886, Nietzsche reformula o problema do si-próprio e do sujeito, a partir de uma concepção bastante original da linguagem, que subverte inteiramente o estatuto da subjetividade e da liberdade na filosofia moderna, modificando concomitantemente, de modo irreversível, o sentido de conceitos como vontade, lei e autonomia, e, com isso, re-significa também o próprio conceito de Freigeisterei. Podemos acompanhar esse processo por meio de uma interpretação de passagens de Zur Genealogie der Moral contrastadas com outras, extraídas dos prefácios escritos em 1886 para uma segunda edição de Menschliches, Allzu Menschliches I e II.
Inicio por uma passagem decisiva da primeira dissertação de Zur Genealogie der Moral, na qual, aliás, o tema da libertação e da formação não figuram nominalmente, mas na qual estão essencialmente implicados: "Um quantum de força equivale a um mesmo quantum de impulso, vontade, atividade - melhor, nada mais é senão este mesmo impulso, este mesmo querer e atuar, e apenas sob a sedução da linguagem (e dos erros fundamentais da razão que nela se petrificaram), a qual entende ou mal-entende que todo atuar é determinado por um atuante, um 'sujeito', é que pode parecer diferente. Pois assim como o povo distingue o corisco do clarão, tomando este como ação, operação de um sujeito de nome corisco, do mesmo modo a moral do povo discrimina entre a força e as expressões da força, como se por trás do forte houvesse um substrato indiferente que fosse livre para expressar ou não a força. Mas não existe um tal substrato; não existe 'ser' por trás do fazer, do atuar, do devir; 'o agente' é uma ficção acrescentada à ação - a ação é tudo".7
O elemento estratégico na passagem citada consiste na identificação de uma instância ou substrato neutro interposto entre a força, por um lado, e seu exercício ou descarga, por outro lado; instância que, graças a um sortilégio gramatical enredado na lógica da linguagem, hipostasia-se na refração produzida pela categoria de subjectum, substância, da qual derivam as noções correlatas de identidade pessoal, alma, espírito, intelecto e razão. Desde então, a filosofia incorporou a interpretação dos atos de volição, e das ações humanas deles decorrentes como referidas a um 'sujeito', que não é senão um derivado, um sub-rogado metafísico do ὑποκείµενον, da οὐσία, da ὑπόστᾰσις - hypostasis, da substância entendida como suporte de predicação. E com isso insinua-se e consolida-se uma interpretação essencialmente moral da força e de seu exercício (do 'sujeito' e sua ação), a interpretação causal, que, com auxílio do conceito de livre arbítrio, funciona como suporte de toda imputação de responsabilidade.
Pois é em virtude da ligação ente as categorias relacionais de subsistência e inerência (substância e atributos) e de causa e efeito, aquele substrato (subjectum) pôde ser pensado como uma livre instância, ou seja, como sede, centro, núcleo e agente ou causa eficiente da potência de agir, que, em razão disso, poderia ou não exercer-se e exteriorizar-se em seus efeitos. Para Nietzsche, é em virtude e pela força de indução inconsciente desta associação e transição mental, tornada hábito inveterado do pensamento, que não nos desembaraçaremos nem "da razão" nem de Deus.
"A 'razão' na linguagem: oh que velha e enganadora senhora! Receio que não nos livraremos de Deus, pois ainda cremos na gramática..."8 Com base no trecho de Zur Genealogie der Moral acima transcrito, fica claro que não é em termos de liberdade de arbítrio ou de liberdade da vontade que os problemas da subjetividade e da liberdade são colocados por Nietzsche. Sobretudo se os considerarmos pelo vértice do conceito de espírito livre.
Liberdade não é uma propriedade da vontade de um sujeito, definida como princípio espontâneo de movimento ou ação. O esquema das faculdades inerentes a um substractum, ou de suas capacidades (Vermögen) integradas numa realidade substancial ou formal à qual possa ser atribuída uma identidade subjetiva - um sujeito ou subjectum, que seria a instância de ipseidade, unitária, identitária e subjetiva - escapa completamente ao tratamento do problema dado por Nietzsche.
Com a frase: meus escritos falam apenas de mim, Nietzsche subverte completamente este esquema de interpretação. Em primeiro lugar porque 'eu e mim' de que o texto cogita nada tem a ver seja com a res cogitans de Descartes, com a apercepção transcendental de Kant ou com o ego volo de Schopenhauer. Em Nietzsche, aquilo a que a subjetividade se refere é, antes de tudo, a uma tarefa, a um problema filosófico a ser descoberto, a um modo particular de colocar perguntas e respostas, ao qual somente se tem acesso depois de um afastamento, que é também libertação.
Esse percurso aparece claramente descrito num contexto em que Nietzsche insiste na importância de não ser confundido com outros e pelos outros, de demarcar sua singularidade própria, sua 'destinação' ou fado. Referindo-se ao livro que, a seus próprios olhos, era sua obra capital (Assim falou Zaratustra), Nietzsche considerava indispensável, para entendê-la, satisfazer certos alguns rigorosos pressupostos, dos quais o primeiro consiste em ter lido todos os livros precedentemente escritos pelo filósofo, e compreender cada um deles séria e profundamente.
A razão de ser desta exigência indispensável é que só ao longo deste caminho poderia alguém compreender também a necessidade que rege a sucessão e a evolução vindas à luz na trajetória formada pela edição de seus livros. Foi esta, aliás, a mais forte razão que o levou a promover, no ano de 1886, uma segunda edição de suas publicações - significativamente, um ano depois da publicação completa de Assim falou Zaratustra. Numa carta dirigida a seu editor, Nietzsche escreve:
"O senhor notará que a Humano, demasiado Humano, Aurora, A Gaia Ciênciafalta um prefácio: havia bons motivos para que, quando essas obras nasceram, eu me impusesse então silêncio - eu estava ainda muito próximo, ainda muito 'dentro' delas, e quase não sabia o que me havia acontecido. Os meus escritos representam um desenvolvimento contínuo que não será apenas minha vivência e destino pessoal: - eu sou apenas o primeiro, uma geração que vai surgindo compreenderá, a partir de si própria, aquilo que eu vivenciei, e terá um paladar apurado para os meus livros. Os prefácios poderão tornar clara a necessidade interna no curso de tal desenvolvimento: razão pela qual, adicionalmente, dar-se-ia a seguinte vantagem: quem quer que tenha alguma vez mordido um de meus escritos, deve medir-se com todos os outros."9
A carta faz menção à indissociabilidade entre as vivências fundamentais do autor e suas obras, exibindo um devir-sujeito incrustado na escritura. Os livros de Nietzsche são, portanto, marcas num caminho, numa trajetória de constituição de si que jamais se completa, ou que não o faz senão post festum. Esse processo é um 'tornar-se o que se é', um devir permanente, consistindo em vivências fundamentais, que são deposições de si ao longo de um caminho do pensamento, fragmentos e pegadas de um si mesmo que só podem ser recuperadas parcialmente, como peças - e de maneira oblíqua, necessariamente desfigurada - em etapas privilegiadas do próprio caminhar - os prefácios de 1886 são, a meu ver, um eloquente exemplo de decifração das marcas desse tornar-se. Nele Nietzsche nomeou o problema-identidade, ou essa ipseidade problemática como a questão da Rangordnung. Ela resume o essencial da tarefa filosófica nietzscheana, constitutiva da subjetividade de Nietzsche, seu proprium et ipssissimus/ipssissimum.
Pois nesse plano fundem-se um problema filosófico e o próprio pensador Friedrich Nietzsche, numa identidade que expressa uma liberdade duramente conquistada, uma condição potencial à qual se chega, e não um dado pronto desde o início, a modo de uma faculdade do espírito ou da mente. Subjetividade expressa aqui uma legalidade própria, diferente do fundamento subjetivo do uso da liberdade, como em Kant, pensado como a máxima da vontade de todo ser racional, uma regra que paira abstratamente sobre todas as peripécias concretas de uma vida.
A liberdade da vontade de que trata Nietzsche é, ao contrário, uma lei absolutamente própria - auto-nomos -, e somente neste sentido é o penhor de uma independência conquistada apenas depois de uma dura servidão. Este é, para Nietzsche, o destino do tornar-se livre do espírito, aquele no qual quer vir à luz e fazer-se corpo a singularidade de uma tarefa própria, cuja força secreta e gravidez inconsciente esteve agindo ao longo do processo, independentemente da deliberação de um centro consciente autárquico, de um 'sujeito' identitário em todas as vicissitudes de seu 'vir à luz', muito antes do sujeito ter em vista e sequer saber o nome desta tarefa que o constitui.
"Nosso destino dispõe de nós, mesmo quando ainda não o conhecemos; é o futuro que dita as regras do nosso hoje. Supondo que nos seja permitido, a nós, espíritos livres, ver no problema da hierarquia o nosso problema: somente agora, no meio-dia de nossas vidas, entendemos de que preparativos, provas, desvios, disfarces e tentações o problema necessitava, antes que pudesse surgir diante de nós, e como tínhamos primeiro que experimentar os mais diversos e contraditórios estados de indigência e felicidade na alma e no corpo, como aventureiros e circunavegadores desse mundo interior que se chama "ser humano", como mensuradores de todo grau, de cada "mais elevado" e "um-acima- do-outro" que também se chama "ser humano" - em toda parte penetrando, quase sem temor, nada desprezando, nada perdendo, tudo saboreando, tudo limpando e como que peneirando do que seja acaso -, até que enfim pudemos dizer, nós, espíritos livres: "Eis aqui - um novo problema! Eis uma longa escada, em cujos degraus nós mesmos nos sentamos e subimos - que nós mesmos fomos um dia! Eis aqui um mais elevado, um mais profundo, um abaixo-de-nós, uma longa e imensa ordenação, uma hierarquia que enxergamos: eis aqui - o nosso problema!"10
Por que podemos falar, a esse respeito de uma dura servidão? Podemos fazê-lo porque esta libertação do espírito só pode ser experimentada a partir do rompimento da mais forte de todas as cadeias e prisões: aquela de nossas mais íntimas e adoradas reverências. "O que liga mais fortemente? que laços são quase indissolúveis? Para homens de espécie mais alta e seleta serão os deveres: a reverência que é própria da juventude, a reserva e delicadeza frente ao que é digno e venerado desde muito, a gratidão pelo solo do qual vieram, pela mão que os guiou, pelo santuário onde aprenderam a adorar - precisamente os seus instantes mais altos os ligarão mais fortemente, os obrigarão da maneira mais duradoura. A grande liberação, para aqueles atados dessa forma, vem súbita como um tremor de terra: a jovem alma é sacudida, arrebatada, arrancada de um golpe - ela própria não entende o que se passa. Um ímpeto ou impulso a governa e domina; uma vontade, um anseio de ir adiante se agitam aonde for, a todo custo; uma veemente e perigosa curiosidade por um mundo indescoberto flameja e lhe inflama os sentidos. 'Melhor morrer do que viver aqui' - é o que diz a voz e sedução imperiosa: e esse 'aqui', esse 'em casa' é tudo o que ela amara até então!"11
Estes venerados 'estar aqui' e 'estar em casa' são os nossos deveres sagrados (nossos 'tu deves'), as obediências à tradição cultivada nos santuários de nossa formação, que carregamos conosco, vergados sob seu peso, ao longo de nossas vidas, e dos quais carecemos de nos emancipar, se é que alguma vez poderemos vir a reconhecê-los como próprios, como nossos deveres e obrigações, e não como a normatividade válida para todos.
Esta emancipação é o princípio e o alvorecer de um autêntico 'eu quero', uma tarefa de leão, tal como tematizada no capítulo das três transformações do espírito, de Assim Falou Zaratustra. Lá também é apenas uma força como a do leão que pode fazer frente à onipotência do 'tu deves'. Aqui é necessário, antes de tudo, falar-se de guerra e de guerreiros, é nesse contexto que se compreende a dialética entre obediência e comando como um possível caminho de liberdade:
"Rebelião - esta é a nobreza do escravo. Que a vossa nobreza seja obediência! Que até o vosso mandar seja um obedecer. Para um bom guerreiro, 'tu deves' soa mais agradável do que 'eu quero'. E tudo de que gostais, deixai que primeiro vos seja ordenado".12 Existe, portanto, um orgulhoso 'tu deves', pois ele é o principal inimigo a ser combatido para chegar a ser 'si próprio'. É por isso que, no prefácio ao segundo volume de Humano, Demasiado Humano, Nietzsche escreve que seus escritos falam apenas de suas superações: "'eu' estou ali, com tudo que me era hostil, ego ipsissimus [meu próprio eu], até mesmo, se me permitem uma expressão mais orgulhosa, ego ipsissimum [meu mais íntimo eu]. Já se adivinha: eu tenho muito - abaixo de mim... Mas sempre foi necessário antes o tempo, a convalescença, a distância, até que em mim nascesse o desejo de explorar, esfolar, desnudar, 'apresentar' (ou como queiram chamá-lo) posteriormente, para o conhecimento, algo vivido e sobrevivido, algum fato ou fado próprio"13.
Portanto, é somente depois de muito sofrimento, doença, incerteza, angústia, debilidade e convalescença que podemos conquistar aquilo que nos nutriu e formou, nossos deveres e venerações, nosso estar 'em casa' conosco mesmos. E é somente a partir desse aprendizado e experiência, dessa descida aos infernos, que podemos discernir uma regra e uma divisa: o espírito livre sabe agora a qual "você deve" obedecer, e também do que agora é capaz, o que somente agora lhe é - permitido...Tal é a resposta que o espírito livre dá a si mesmo no tocante ao enigma de sua liberação, e, ao generalizar seu caso, emite afinal um juízo sobre a sua vivência. Tal como sucedeu a mim", diz ele para si, "deve suceder a todo aquele no qual uma tarefa quer tomar corpo e 'vir ao mundo'"14. Por que é necessária uma força tamanha? Por que tanto sofrimento e autodilaceração?
Porque somente assim pode-se conquistar uma amplitude de horizontes, pois o que é mais opressivo e estreito, o que mais fortalece o cativeiro do espírito é justamente o que mais amamos, o que se encontra o mais próximo possível de nós mesmos. E, justamente por esta razão, é o que se impõe como o mais limitado e o mais injusto. Se alguma justiça no mundo é possível, então ela o é somente depois de termos abandonado esta prisão: "Você deve sobretudo ver com seus olhos onde a injustiça é maior: ali onde a vida se desenvolveu ao mínimo, do modo mais estreito, carente, incipiente, e no entanto não pode deixar de se considerar fim e medida das coisas e em nome de sua preservação despedaçar e questionar o que for mais elevado, maior e mais rico, secreta e mesquinhamente, incessantemente"15.
Existe, portanto, uma injustiça necessária em todo tomar partido, seja ele a favor ou contra - uma injustiça da qual não nos livramos até que tenhamos aprendido a nos tornar adquirir poder sobre nossos próprios prós e contras, uma tarefa que só podemos levar a efeito a partir da renúncia a tudo aquilo que até então veneramos, de uma renúncia à própria veneração, de um ódio voltado contra nossas próprias virtudes:
"'Você deve tornar-se senhor de si mesmo, senhor também de suas próprias virtudes. Antes eram elas os senhores; mas não podem ser mais que seus instrumentos, ao lado de outros instrumentos. Você deve ter domínio sobre o seu pró e o seu contra, e aprender a mostrá-los e novamente guardá-los de acordo com seus fins. Você deve aprender a perceber o que há de perspectivista em cada valoração - o deslocamento, a distorção e a aparente teleologia dos horizontes, e tudo o que se relaciona à perspectiva; também o quê de estupidez que há nas oposições de valores e a perda intelectual com que se paga todo pró e todo contra. Você deve apreender a injustiça necessária de todos os pros e contras, a injustiça como indissociável da vida, a própria vida como condicionada pela perspectiva e sua injustiça"16.
É necessário odiar a si mesmo para retornar a si, ter aprendido a dominar-se na obediência, sujeitar-se à lei férrea do dever e da obrigação, para ser capaz de não permanecer subjugado pelas próprias venerações e impulsos do coração. "Solitário, então, e tristemente desconfiado de mim, tomei, não sem alguma raiva, partido contra mim e a favor de tudo o que precisamente me feria e me era penoso: - desse modo achei novamente o caminho para o valente pessimismo que é o oposto de toda mendacidade romântica, e também, como hoje me parece, o caminho para 'mim' mesmo, para minha tarefa"17.
Só então, depois de obedecer, de passar pela experiência do tormento e da incerteza com que nos emancipamos do comando de nossos deveres, é que conquistamos o domínio sobre nós mesmos, aquela αυτάρκεια, cujo sentido é tão diferente daquele que lhe confere Aristóteles.
"Por esse tempo pode finalmente ocorrer, à luz repentina de uma saúde ainda impetuosa, ainda mutável, que ao espírito cada vez mais livre comece a se desvelar o enigma dessa grande liberação, que até então aguardara, escuro, problemático, quase intangível, no interior de sua memória. Se por longo tempo ele mal ousou perguntar: "por que tão à parte? Tão solitário? renunciando a tudo o que venerei? renunciando à própria veneração? por que essa dureza, essa suspeita, esse ódio às suas próprias virtudes?" - agora ele ousa perguntar isso em voz alta e ouve algo que seria uma resposta"18.
Para alcançar este patamar da vida, no qual podemos exercer alguma pretensão à virtude da justiça, é necessário que antes tenhamos sido capazes de obedecer, com rigor e firmeza, para somente então, na distância em relação ao dever e a toda veneração, compreender a necessária injustiça e estreitamento de toda perspectiva. Somente na multiplicação dos vértices, no alargamento de nossos horizontes, é que podemos ter esperança de ser 'um pouco mais justos', um pouco mais objetivos, de compreender a inevitabilidade de nossa idiotia, idiossincrasia. "Você deve olhar com seus olhos o problema da hierarquia, e como poder, direito e amplidão das perspectivas crescem conjuntamente às alturas. 'Você deve' - basta, o espírito livre sabe agora a qual 'você deve' obedecer, e também do que agora é capaz, o que somente agora lhe é - permitido..."19.
Só depois de muitas andanças, travessias, dureza e alienação de si, somente depois de ter renunciado a ficar em casa, confortável debaixo do teto seguro das convicções herdadas, depois de errar, desse modo, 'fora de si' e adoentado, somente então é possível 'ver a si mesmo', curar-se para uma duradoura e penosa liberdade de espírito, chegar ao ponto de poder dizer: "'Eis aqui - um novo problema! Eis uma longa escada, em cujos degraus nós mesmos nos sentamos e subimos - que nós mesmos fomos um dia! Eis aqui um mais elevado, um mais profundo, um abaixo-de-nós, uma longa e imensa ordenação (Ordnung), uma hierarquia (Rangordnung) que enxergamos aqui - o nosso problema"20.
Proponho compreender nesta chave interpretativa o problema-Friedrich Nietzsche, ou seja, o problema Rangordnung. O conceito tem sido traduzido invariavelmente como hierarquia; de fato, a tradução não é desparate, e, no entanto, não existe no original nenhuma referência a ἱερός: sagrado ou santificado, nem a ἀρχή: princípio, origem, poder. Rangordnung poderia ser traduzido por ordenação em graus, gradação, ou espectro, no sentido das variações de cores, em pintura, dos matizes do círculo cromático, em suas diferentes gradações.
"Supondo que nos seja permitido, a nós, espíritos livres, ver no problema da hierarquia (Rangordnung) o nosso problema: somente agora, no meio-dia de nossas vidas, entendemos de que preparativos, provas, desvios, disfarces e tentações o problema necessitava, antes que pudesse surgir diante de nós, e como tínhamos primeiro que experimentar os mais diversos e contraditórios estados de indigência e felicidade na alma e no corpo, como aventureiros e circunavegadores desse mundo interior que se chama 'ser humano', como mensuradores de todo grau, de cada 'mais elevado' e 'um-acima- do-outro' que também se chama 'ser humano'"21.
Este é um novo olhar, uma nova perspectiva, um novo vértice pelo qual se pode divisar, a partir do devir si-próprio do filósofo Friedrich Nietzsche - e sem desprezar ou perder nada -, a prodigiosa riqueza em graus, diferenciações, matizes, a longa escada pela qual o 'ser humano' elevou-se à altura em que se encontra agora colocado, esse alargamento da distância no interior da própria alma, a "elaboração de estados sempre mais elevados, mais raros, remotos, amplos, abrangentes, em suma, a elevação do tipo 'homem', a contínua 'auto-superação do homem'"22.
Leiamos também, a partir desses elementos, o que se encontra escrito em Ecce Homo, na retrospectiva lançada sobre as Considerações Extemporâneas: "Agora que olho para trás e revejo de certa distância as condições de que esses escritos são testemunho, não quero negar que no fundo falam apenas de mim. 'Wagner em Bayreuth' é uma visão de meu futuro; mas em 'Schopenhauer como Educador' está inscrita minha história mais íntima, meu vir a ser. Sobretudo meu compromisso!.. O que sou, onde hoje estou". Soa plenamente congruente com o que encontramos na passagem acima a observação que também se encontra no mesmo texto: "sobre isso esse trabalho dá inestimável ensinamento, mesmo concedendo que no fundo não é 'Schopenhauer como Educador', porém seu oposto, 'Nietzsche como Educador', que assume a palavra"23.
Trata-se, pois, da construção de uma identidade, que é também a singularidade de um destino, e que não se produz por introspecção, mas pela mediação das experiências e das obras, a conquista da glória de uma personalidade singular, talvez a sobrevivência do nome próprio na memória coletiva da cultura. "Prevendo que dentro em pouco devo dirigir-me à humanidade com a mais séria exigência que jamais lhe foi colocada, parece-me indispensável dizer quem sou... Nessas circunstâncias, exige um dever contra o qual no fundo rebelam-se os meus hábitos, e mais ainda o orgulho de meus instintos, que é dizer: Ouçam-me! Pois eu sou tal e tal. Sobretudo não me confunda!"24.
Porém, para poder enunciar, com tal clareza e pregnância, a própria identidade pessoal, foi necessário antes recolher seus fragmentos no percurso dos escritos, mirá-los no espelho dos encontros com coisas e pessoas, enfim integrá-los no conjunto da obra de uma vida. Ao reconstituir os caminhos e veredas de sua reflexão sobre a história de proveniência dos preconceitos morais, Nietzsche localiza seus primórdios em pensamentos muitos antigos, concebidos ainda antes de sua primeira infância espiritual, antes, portanto de sua expressão literária em Humano, Demasiado Humano. Mesmo esta, parecia-lhe, então, ainda parca e provisória, como a considera no prefácio de Para a Genalogia da Moral. De todo modo, os pensamentos são mais antigos, e permaneceram os mesmos.
"O fato de que me atenho a eles ainda hoje, que eles mesmos se mantenham juntos de modo sempre firme, crescendo e entrelaçando-se, isto fortalece em mim a feliz confiança em que não me tenham brotado de maneira isolada, fortuita, esporádica, mas a partir de uma raiz comum, de algo que comanda na profundeza, uma vontade fundamental de conhecimento, que fala com determinação sempre maior, exigindo sempre maior precisão"25.
Esta vontade fundamental de conhecimento, no curso de suas vivências radicais, tornou-se senhora de um senso de objetividade adquirido por meio do exercício de mudança de perspectivas, da 'troca de peles', das mais variadas alternâncias de ângulos e cantos, que permite multiplicar olhos e ouvidos para o discernimento dos homens e das coisas, para o ofício de sintomatologista e 'médico da cultura', intérprete de sinais e decifrador de enigmas, ao crítico impiedoso, para quem tornou-se lícito a transvaloração de todos os valores:
"Da ótica do doente ver conceitos e valores mais sãos, e, inversamente, da plenitude e certeza de a vida rica descer os olhos ao secreto lavor do instinto de décadence - este foi o meu mais longo exercício, minha verdadeira experiência, se em algo vim a ser mestre, foi nisso. Agora, tenho-o na mão, tenho mão bastante para deslocar perspectivas: razão primeira porque talvez somente para mim seja possível uma 'tresvaloração dos valores'"26.
Também o perspectivismo nietzscheano - uma autêntica teoria nietzscheana do conhecimento e o pressuposto filosófico da tarefa de transvaloração dos valores -, é o resultado de uma saga de conquista e emancipação, da tarefa de emancipação do espírito por meio da impiedosa e cruel auto-vivisecação. O perspectivismo é tanto um meio para quanto um fator a ser considerado no problema da Rangordnung. Em certo sentido, o descortinamento de uma ordem de gradação é o resultado da multiplicação das perspectivas e das valorações.
"Devemos afinal, como homens do conhecimento ser gratos a tais resolutas inversões das perspectivas e valorações costumeiras, com que o espírito, de modo aparentemente sacrílego e inútil, enfureceu-se consigo mesmo por tanto tempo: ver assim diferente, querer ver assim diferente, é uma grande disciplina e preparação do intelecto para a sua futura 'objetividade' - a qual não é entendida como 'observação desinteressada' (um absurdo sem sentido), mas como faculdade de ter seu pró e seu contra sob controle e deles poder dispor: de modo a saber utilizar em prol do conhecimento a diversidade de perspectivas e interpretações afetivas ... Existe apenas uma visão perspectiva, apenas um 'conhecer' perspectivo; e quanto mais afetos permitimos falar sobre uma coisa, quanto mais olhos, diferentes olhos, soubermos utilizar para essa coisa, tanto mais completo será nosso 'conceito' dela, nossa 'objetividade'"27.
Quem é o filósofo Friedrich Nietzsche? Para chegar a responder esta pergunta, é necessário confrontar-se com a obra, pois nesse caso, o indivíduo, a pessoa, identifica-se com o caminho traçado por seus escritos, por suas experiências, pelas perguntas e respostas, caminho que ser percorre em diálogo com a tradição da história da filosofia. É um longo percurso para chegar-se a esta 'descoberta de si', vontade fundamental que, desde o fundo, comanda e determina a tarefa a ser realizada. Esta lei que impõe um 'tu deves' tornado, afinal, não apenas um 'eu quero', mas um 'eu sou'. Aqui estou 'eu'; não posso fazer de outra forma. Só então, quando se indiferenciam inteiramente Édipo e a esfinge, pode-se dizer, com Nietzsche, que se possui um país próprio, "um chão próprio, um mundo silente, próspero, florescente, como um jardim secreto do qual ninguém suspeitasse... Oh, como somos felizes, nós homens do conhecimento, desde que saibamos manter silêncio por algum tempo!..."28.
1 Professor titular do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas; bolsista de produtividade em pesquisa (PQ) do CNPQ, nível 1 B; consultor da Capes, CNPq. Fapesp e Faepex. Autor, entre outros, de: Por uma Ética da Vergonha e do Resto (N-1, 2018); Nietzsche: O Humano entre a Memória e a Promessa (Vozes, 2014); Heidegger Urgente (Três Estelas, 2014); Nietzsche X Kant (Casa do Saber, 2012).
2 Nietzsche, F. Aurora. Reflexões sobre os Preconceitos Morais. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 35. [ Links ]
3 Nietzsche, F. Além de Bem e Mal, aforismo 231. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 125. [ Links ]
4 Ibid.
5 Ibid.
6 Nietzsche, F. Ecce Homo. Por que sou tão inteligente, nº 9. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 48. [ Links ]
7 Nietzsche, F. Genealogia da Moral. II, 13. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.36. [ Links ]
8 Nietzsche, F. Crepúsculo dos Ídolos. A 'Razão' na Filosofia, § 5. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.28. [ Links ]
9 Nietzsche, F. Brief an Ernst Fritzsch, de 07 de agosto de 1886. In: Sämtliche Briefe. Kritische Studienausgabe (KSB). Ed. G. Colli und M. Montinari. Berlin, New York, München: de Gruyter, DTV. 1986, Band 7, p. 224s. [ Links ]
10 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 13s. [ Links ]
11 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 9. [ Links ]
12 Nietzsche, F. Assim Falou Zaratustra. I: Da Guerra e dos Guerreiros. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 48. [ Links ]
13 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano II. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 7. [ Links ]
14 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 13. [ Links ]
15 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 13. [ Links ]
16 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 12s. [ Links ]
17 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano II. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 10s. [ Links ]
18 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 12s. [ Links ]
19 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 12s. [ Links ]
20 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 14. [ Links ]
21 Nietzsche, F. Humano, Demasiado Humano I. Prólogo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 14. [ Links ]
22 Nietzsche, F. Além de Bem e Mal. Aforismo nº 257. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, p. 153.2005, p. 153. [ Links ]
23 Nietzsche, F. Ecce Homo. As Extemporâneas, 3. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras,1995, p. 70s. [ Links ]
24 Id. Prólogo 1. op. cit. p. 17.
25 Nietzsche, F. Genealogia da Moral. Prólogo, nº2. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, , p. 08. [ Links ]
26 Nietzsche F. Ecce Homo. Por que sou tão sábio, nº 1. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.24s. [ Links ]
27 Nietzsche F. Genealogia da Moral, III, 12.. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 108s. [ Links ]
28 Nietzsche, F. Genealogia da Moral. Prólogo, 3. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 9s. [ Links ]