SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.11 número2Reflexiones sobre los trastornos dysmorphophobiques en la adolescencia índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Compartir


Revista Mal Estar e Subjetividade

versión impresa ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.2 Fortaleza  2011

 

EDITORIAL

 

Sofrimento, corpo e olhar

 

Suffering, body and look

 

 

O olhar circula e impõe ao sujeito uma constante condição indagadora. O que ele vê em mim? O que quer de mim? Esse outro me deseja? Como me coloco? Diante dessa dinâmica, o sujeito se verte em uma posição. Um lugar subjetivo que atende à sua realidade psíquica e que afeta, ao mesmo tempo, a sua posição no laço social e na forma de conduzir suas relações.

Começamos este número por dimensionar o lugar do adolescente diante do olhar que circula e que o atravessa, exigindo-lhe uma resposta subjetiva. Neste sentido, o corpo fica tomado sempre pelo olhar do Outro, que implica o sujeito numa pergunta. As repostas são várias e indicam o sofrimento psíquico fruto do mal-estar inerente a esse lugar.

O transtorno dismórfico corporal - visto na adolescência - pode incidir sobre uma série de sintomas da distorção da imagem. Entretanto, a adolescência traz à tona a posição do sujeito diante da vergonha, categoria de extrema relevância para a construção de sentido frente ao sofrimento psíquico. O artigo sobre o transtorno dismórfico, que abre este número, recoloca o sujeito diante da pergunta do olhar do Outro. Sugere uma visita pela lógica apresentada no Estado do Espelho, desta feita na condição do lugar que pode vir a ocupar diante do outro sexo. No mesmo sentido, apresentamos a pergunta do sujeito ao Outro quando o corpo se apresenta pela via da obesidade ou da opulência como fetiche no contexto da modernidade. Um lugar de vergonha ou um lugar de gozo? Seja qual for o caminho, são duas formas de respostas às indagações do Outro, nas quais, necessariamente, não entra em cena a lógica da exclusão mútua.

Publicamos, na sequência, trabalhos que versam sobre o sofrimento em uma perspectiva mais ampla no artigo que trata de conceituar sujeito e subjetividade, de acordo com as teorias de Freud e Lacan, em particular, as formas de subjetivação e seus efeitos sobre a existência humana, o adoecimento e o convívio social na atualidade. Discutimos o sofrimento que exige uma revisão sobre a angústia e o complexo de Édipo na visão psicanalítica freudiana e pós-freudiana, com o intuito de situar a angústia na criança, tanto em um momento transitório, como em um momento de ordem mais edípico, apontando para o caminho relacionado à neurose infantil. Refletimos sobre o sofrimento que remete a uma constante atualização sobre a análise da dor física e psíquica na elaboração freudiana da teoria metapsicológica.

É posto em discussão o sofrimento consequente de perguntas que o sujeito não responde com a linguagem e intervém no corpo, utilizando-se de uma condição subjetiva afetada pela droga, resultando no ato da eliminação da própria vida. Levamos o sofrimento para uma visão constitutiva do sujeito e a pergunta sobre o lugar do feminino. Com isso, se estuda a relação entre o conceito e a ocupação do lugar, a noção de alteridade e quais os limites inerentes à constituição do sujeito nesta posição. E, em decorrência da discussão sobre a pergunta pela dor, situamos as transformações possíveis do discurso de vitimização de familiares, quando levados a um posicionamento conjunto, responsável pelo sofrimento psíquico vivido pelo sujeito.

Destacamos o sofrimento que encontra, talvez, na pergunta pelo sexo, a sua maior complexidade, quando seguimos as análises feitas sobre os efeitos dos enunciados das atuais políticas públicas acerca da diversidade sexual propostas para a educação, principalmente através do Programa Brasil Sem Homofobia. Pergunta que, ficando sem resposta para a vítima de estupro, mortifica o sujeito em uma posição de sofrimento insuportável. Resposta que na percepção de jovens mulheres vitimadas sexualmente associam violência e efeitos sobre a sua saúde nos aspectos emocionais, físicos e comportamentais.

Do ponto de vista institucional, o sofrimento psíquico levanta grandes polémicas epistemológicas e conceituais. Um caso de autismo com internação prolongada é analisado a partir da perspectiva da Psiquiatria e da Psicanálise. Um estudo sobre o sofrimento psíquico de professores diante das exigências de produção científica mostra que a saúde mental do trabalhador está diretamente ligada à gestão administrativa. Finalizamos com apresentação de uma experiência envolvendo psicanálise e capoeira no espaço de um CAPS-ad, e, com uma reflexão sobre o filme Clube da Luta, no intuito de repensar os conceitos de imago, imagem, papel e função paterna.

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e Organizador