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Psicologia em Revista

versión impresa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) v.14 n.1 Belo Horizonte jun. 2008

 

SEÇÃO ABERTA

 

Resenha

 

 

Sônia M. Gomes Sousa*

Universidade Católica de Góias

 

 

MAYORGA, C.; PRADO, M. C. M (Org.). (2007). Psicologia Social: articulando saberes e fazeres. Belo Horizonte: Autêntica. 328 p.

(Social psychology: articulating knowledge and practice)

(Psicología Social: articulando saberes y haceres)

 

O livro Psicologia social: articulando saberes e fazeres, organizado por Claudia Mayorga e Marco Aurélio Máximo Prado, é fruto do 15º Encontro Regional da Associação Brasileira de Psicologia Social - Minas. Como expressão do Encontro realizado, o livro se propõe: fazer o enfrentamento da relação complexa e conflituosa entre os diferentes saberes e fazeres da Psicologia Social; propiciar o debate sobre os problemas sociais brasileiros entre cientistas e militantes; e dar visibilidade aos saberes e olhares não enfatizados pela sociedade e pela academia.

Os organizadores tiveram como desafio articular três dimensões distintas, mas complementares, referentes aos olhares contemporâneos da/sobre a Psicologia Social: a história da disciplina, os diversos saberes (além dos acadêmicos) envolvidos na discussão acerca dos problemas da sociedade brasileira e o pensamento reflexivo sobre a própria disciplina.

O livro está estruturado em duas partes. Na parte I – Interlocuções histórico-conceituais em um campo de fronteiras –, são apresentados nove artigos: “Notas sobre a psicologia social e política no Brasil” (Odair Sass); “O estatuto da Psicologia Social: contribuições da história da psicologia social” (Ana Maria Jacó-Vilela); “A formação em psicologia social” (Maria Ignez Costa Moreira); “Revisitando a pedagogia do oprimido: contribuições à psicologia social comunitária” (Claudia Mayorga); “Entre o gris e a irisação: limites da teoria e da práxis ante a ideologia afirmativa do existente” (Kety Franciscatti); “Fronteiras negadas: contribuições da psicologia política para a compreensão das ações políticas” (Marco Aurélio Máximo Prado); Minorias, reconhecimento e fronteirização de saberes e experiências militantes (Cristiano Rodrigues); “Gênero: um conceito em movimento” (Mônica Bara Maia); e “Direitos sexuais, direitos de gênero: novos desafios conceituais e políticos” (Alessandra Sampaio Chacham).

Na parte II – Fronteiras de saberes e fazeres – são apresentados dez artigos: “A psicologia frente às políticas públicas” (Márcia Mansur Saadallah); “A participação de mulheres, negras, jovens: da construção da identidade à ação política” (Cássia Reis Donato e Larissa Amorim Borges); “Políticas públicas de juventude: questões para a participação” (Mary Garcia Castro); “Dilemas contemporâneos dos movimentos sociais GLBT” (Carlos Magno Fonseca, Lucia Aparecida do Nascimento e Frederico Vianna Machado); “O sentido do viver criativo: reflexões sobre a trajetória de vida da líder Valdete Cordeiro do Alto da Vera Cruz” (Adriana Dias Gomide e Valdete Cordeiro); “Território e trabalho: condições e limites para as ações do sujeito social” (Vanessa de Andrade Barros, Adriana Dias Gomide e Maria Luiza M. Nogueira); “Aproximações entre psicologia social e saúde coletiva” (Luciana Kind); “Psicologia social e saúde coletiva” (Cornelis Johannes Van Stralen); “Psicologia social em uma instituição escolar: relato de uma experiência com jovens e adultos” (Cássia Beatriz Batista, Jacqueline Alves de Oliveira e Markelly Ortlieb Cardoso); e “Desafios da parentalidade com adolescentes: como enfrentar os riscos?” (Márcia Stengel).

Com essa diversidade de autores (de várias áreas do conhecimento, de várias instituições e de vários momentos formativos) e de temas, o livro busca articular o conhecimento da Psicologia Social com as temáticas contemporâneas. Expressam ainda a relevância da Psicologia Social para a própria Psicologia e para outras áreas do conhecimento, apresentando, a partir desta multiplicidade, as atuais contribuições brasileiras ao debate internacional sobre a Psicologia Social.

Prova disto é o prefácio assinado por Maritza Monteiro (Venezuela), que, nas primeiras páginas do livro, nos coloca questões importantes (a que certamente a leitura do livro nos auxiliará a responder), tais como: “Por que a Psicologia Social é considerada uma subdisciplina da Psicologia? Se as origens da Psicologia Social são pluridisciplinares, então como são as suas fronteiras?”.

Maritza chama a atenção ainda para a articulação presente em todo o livro entre teoria e prática (saberes e fazeres), defendendo a busca da superação do colonialismo intelectual e destacando a necessidade de produção de um conhecimento psicológico que seja político e ético.

Com conteúdo diversificado, o livro aprofunda os temas apresentados, fundamentais na constituição do campo teórico/metodológico da Psicologia Social contemporânea, exigindo do leitor uma leitura atenta e cuidadosa.

Entre os mais significativos aspectos desta obra, destaco: a) esse livro é herdeiro da tradição crítica da Psicologia Social mineira que, desde o final dos anos 1970 tem problematizado o campo psi, colaborado na construção de uma Psicologia Social brasileira, mas em profundo diálogo com a Psicologia Social internacional, e buscado a socialização desta produção; b) realiza uma atualização das reflexões da Psicologia Social, importante no sentido de confrontar as teorias clássicas com as exigências da realidade brasileira contemporânea; c) amplia o debate interdisciplinar interinstitucional – rompendo fronteiras e construindo novos saberes –, valendo-se do conhecimento acumulado pelos movimentos sociais; d) apresenta e divulga “novos temas” que são objeto de reflexão da Psicologia Social, como a militância, o gênero, direitos sexuais, políticas públicas, a questão racial, movimentos sociais GLBT, saúde coletiva, o viver criativo etc, de modo a atualizar o debate sobre as “fronteiras” da Psicologia Social; e) estabelece uma crítica implícita e explícita acerca da tensão entre produção do conhecimento e ideologização da ciência.

Cabe, então, reafirmar a importância da leitura da obra para todos e todas que atuam ‘dentro’ das fronteiras da Psicologia (em especial da Psicologia Social), e também para aqueles que, trabalhando e refletindo sobre o homem contemporâneo, necessitam apreender dimensões que não se revelam na aparência dos fenômenos psicossociais, exigindo um olhar mais atento, minucioso e rigoroso, capaz de desvelar tal aparência. Nos textos desse livro certamente encontrarão um olhar crítico e criativo sobre a Psicologia, a Psicologia Social, a sociedade, o homem, os movimentos sociais etc.

 

 

*Psicóloga, Psicodramatista. Doutora em Psicologia Social pela PUC-SP. Professora no Departamento de Psicologia da UCG (graduação e pós-graduação) e pesquisadora do Instituto Dom Fernando (PROEX/UCG). Desenvolve estudos e pesquisas que visam compreender os aspectos psicossociais da infância e adolescência contemporânea, tais como trabalho infantil, violência psicológica, física e sexual, abandono e vínculos familiares. E-mail: smgsousa@terra.com.br

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