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Arquivos Brasileiros de Psicologia
versión On-line ISSN 1809-5267
Arq. bras. psicol. vol.72 no.2 Rio de Janeiro mayo/ago. 2020
https://doi.org/10.36482/1809-5267.arbp2020v72i1p.25-42
ESPECIAL COVID-19
Posicionamento Atitudinal, Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação em contrair a COVID-19
Attitudinal Positioning, Perception of Vulnerability and Concern on getting COVID-19
Posicionamiento Actitudinal, percepción de vulnerabilidad y preocupación por contraer la COVID-19
Maria Edna Silva de AlexandreI; Emerson Araújo Do BúII; Viviane Alves dos Santos BezerraI; Kaline da Silva LimaI; Vitória Medeiros dos SantosIII; Samille Spellmann Cavalcanti de FariasIII
IPrograma de Pós-Graduação em Psicologia Social. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa. Estado da Paraíba. Brasil
IIInstituto de Ciências Sociais
IIIUnidade Acadêmica de Psicologia. Universidade Federal de Campina Grande. Campina Grande. Estado da Paraíba. Brasil
RESUMO
Este programa de pesquisa objetivou testar um conjunto de hipóteses de modo a evidenciar como Posicionamentos Atitudinais e Políticos, Atitudes em face das Doenças, Traços de Personalidade e a Religiosidade de brasileiros relacionam-se com sua Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação em contrair a COVID-19. Para tanto, realizaram-se dois estudos. No primeiro, identificou-se o Posicionamento Atitudinal de internautas em 2.000 comentários sobre um pronunciamento do Presidente do Brasil acerca do novo coronavírus e da COVID-19. Já o estudo 2 resultou na proposição de um modelo explicativo com bons índices de ajustes [x2 = 67,72; g = 24; x2/gl = 2,6; CFI = 0,94; TLI = 0,9; RMSEA = 0,06 (IC90%: 0,04-0,08)], demonstrando que Posicionamentos Políticos, Atitudes em face das Doenças e Consienciosidade predizem a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação em contrair a COVID-19. Em suma, tais achados podem subsidiar estudos futuros e modelos interventivos na dinâmica social para contenção da atual pandemia.
Palavras-chave: Coronavírus; Pandemia; Psicologia Social; Preocupação em contrair a COVID-19.
ABSTRACT
This research program aimed to test a set of hypotheses in order to show how Attitudinal and Political Positions, Attitudes towards Diseases, Personality Traits and the religiosity of Brazilians are related to their perception of vulnerability and concern in contracting COVID-19. To do this, two studies were carried out. In the first, the Attitude Positioning of internet users was identified in 2.000 comments on a statement made by the President of Brazil about the new coronavirus and COVID-19. Study 2, on the other hand, resulted in the proposition of an explanatory model with good adjustment rates [x2 = 67.72; g = 24; x2/gl = 2.6; CFI = 0.94; TLI = 0.9; RMSEA = 0.06 (CI90%: 0.04-0.08)], demonstrating that Political Positions, Attitudes towards Diseases and Conscientiousness predict the perception of vulnerability and the concern to get COVID-19. In short, such findings may support future studies and interventional models in social dynamics to contain the current pandemic.
Keywords: Coronavirus; Pandemic; Social Psychology; Concern about contracting COVID-19.
RESUMEN
Esta investigación buscó probar un conjunto de hipótesis sobre cómo las posiciones actitudinales y políticas, las actitudes hacia las enfermedades, los rasgos de personalidad y la religiosidad de los brasileños están relacionadas con su percepción de vulnerabilidad y preocupación en contraer la COVID-19. Para esto, se realizaron dos estudios. En el primero, se identificó el posicionamiento actitudinal de los usuarios de Internet en 2.000 comentarios en una declaración del presidente de Brasil sobre el nuevo coronavirus y la COVID-19. El estudio 2, resultó en un modelo explicativo con buenas tasas de ajuste [x2 = 67,72; g = 24; x2/gl = 2,6; CFI = 0,94; TLI = 0,9; RMSEA = 0,06], demostrando que las Posiciones políticas, las actitudes hacia las enfermedades y la conciencia predicen la percepción de vulnerabilidad y la preocupación en contraer la COVID-19. En resumen, tales hallazgos pueden respaldar futuros estudios y modelos de intervención en la dinámica social para contener esta pandemia.
Palabras clave: Coronavirus; Pandemia; Psicología Social; Preocupación en contraer la COVID-19.
Introdução
As doenças infecciosas e infectocontagiosas têm representado, historicamente, uma ameaça ao bem-estar humano. Estima-se que tais doenças foram responsáveis por mais perdas de vida humana do que todas as guerras, as doenças não infecciosas e os desastres naturais combinados (Inhorn, & Brown, 1990). Nesse contexto, a Coronavirus Disease 19 (COVID-19), provocada pelo Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2), desde dezembro de 2019, foi agregada ao quadro dessas doenças, tendo provocado, até outubro de 2020, mais de 1 milhão e 108 mil mortes em todo o mundo.
Com seu início em Wuhan, na China, a COVID-19 é transmitida por meio de secreções respiratórias e por gotículas de saliva, bem como mediante o contato pessoal com indivíduos ou superfícies contaminadas pelo novo coronavírus (Xu et al., 2020). Além disso, um estudo desenvolvido por Liu et al. (2020) alerta que o SARS-CoV-2 pode também se dissipar pelo ar através de pequenas partículas exaladas por pessoas infectadas.
Sublinha-se que a COVID-19 afeta, principalmente, pessoas com doenças respiratórias, cardiovasculares e renais crônicas. Ademais, pessoas constantemente expostas ao vírus, com baixa imunidade e com fragilidade orgânica também podem ser consideradas como grupos de risco (por exemplo, profissionais da saúde e idosos) (Huang, Wuang, Xingwang, Ren, & Zao, 2020). Para contenção da pandemia da COVID-19, organizações internacionais de saúde sugerem que o distanciamento físico entre pessoas, a prática de higiene das mãos, o uso de máscaras e luvas, bem como a detecção precoce de pessoas infectadas se fazem urgentes e necessários (International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies, 2020; World Health Organization, 2020).
Trata-se de um cenário complexo, em que o mundo inteiro está tendo que lidar com esse novo fenômeno, que já tem ocasionado implicações e prejuízos nas dimensões social, psicológica, econômica e política. Esse contexto, assim como já ocorreu em outras pandemias, tem despertado a atenção das diversas áreas do conhecimento, que buscam compreender a forma como as pessoas se comportam em face da possibilidade de contrair doenças infectocontagiosas, bem como do desenvolvimento de estratégias de prevenção, enfrentamento e cura para estas.
Particularmente interessadas em compreender a relação entre os seres humanos e as doenças infectocontagiosas ao longo da história, abordagens evolutivas da psicologia social e da política sugerem que um conjunto de mecanismos psicológicos foi desenvolvido em resposta aos desafios adaptativos encontrados no ambiente ancestral da humanidade (Cosmides, & Tooby, 1996). Especificamente, a utilidade adaptativa de evitar patógenos e doenças infecciosas pode ter sido especialmente importante para a aptidão reprodutiva ao longo da história humana, revelando evidências da presença de um "Sistema Imunológico Comportamental", que auxilia este objetivo (Schaller, Park, & Faulkner, 2003). Sublinha-se também que a dimensão em que comportamentos e atitudes são afetados por sinais interpessoais e situacionais que conotam ameaça de doença depende de diferenças individuais nas percepções de vulnerabilidade (Duncan, Schaller, & Park, 2009).
Em suma, as percepções de vulnerabilidade às doenças (PVD) podem ser conceitualizadas como uma constelação de crenças pessoais sobre infecciosidade e a emoção negativa provocada por percepções de suscetibilidade à infecção. Nesse âmbito, existem dois fatores conceitualmente distintos que perpassam a questão das percepções de vulnerabilidade às doenças, sendo eles a Percepção de Infectabilidade e a Aversão a Germes (Duncan et al., 2009).
No que tange à Percepção de Infectabilidade, esta avalia as crenças dos indivíduos quanto à sua suscetibilidade às doenças infecciosas e, embora se correlacione com medidas de hipocondria e ansiedade de saúde, apresenta uma distinção significativa destas. Tal distinção ocorre, primeiramente, pelo fato de que a Percepção de Infectabilidade refere-se a preocupações futuras com problemas de saúde, que podem vir a aparecer e não com problemas já existentes. Em segundo lugar, a Percepção de Infectabilidade está relacionada, especificamente, a doenças infecciosas e não a doenças de qualquer tipo, como acontece com os outros casos citados (Duncan et al., 2009).
Por outro lado, o fator de Aversão a Germes avalia o desconforto dos indivíduos em situações que conotam uma probabilidade aumentada de transmissão de patógenos e está correlacionado com a Sensibilidade ao Nojo. Todavia, apesar de haver essa correlação, a Aversão a Germes e a Sensibilidade ao Nojo não são isomórficas, uma vez que as medidas de sensibilidade ao nojo avaliam uma ampla gama de circunstâncias potencialmente provocadoras de nojo, enquanto que a Aversão a Germes é específica para situações relacionadas à transmissão potencial de doenças infecciosas (Duncan et al., 2009).
Assim, alguns fenômenos no campo da cognição social são influenciados pela relevância temporária de doenças e por diferenças individuais nas preocupações crônicas sobre a transmissão destas (Schaller, & Duncan, 2007). Tais diferenças, como, por exemplo, os Traços de Personalidade dos indivíduos, são preditoras de atitudes negativas diante de grupos sociais percebidos como potenciais transmissores de doenças (Faulkner, Schaller, Park, & Duncan, 2004; Navarrete, & Fessler, 2006; Park, Faulkner, & Schaller, 2003; Park, Schaller, & Crandall, 2007).
Consoante a isso, é notável que as PVD estão associadas a uma maior preferência de grupo, à conformidade e ao apoio a práticas culturais. Dessa forma, a literatura pertinente revela que o conjunto de tendências ativadas pelas PVD pode ter implicações para um tipo de identificação mais abstrato, que seria o autoposicionamento ideológico.
Em termos específicos, as PVD são associadas ao conservadorismo político (Green et al., 2010). Desse modo, os objetivos imediatos do sistema imunológico comportamental ativado pelas PVD estão alinhados a valores e objetivos morais associados ao conservadorismo político (Caprara, & Zimbardo, 2004; Jost, Federico, & Napier, 2009). Além disso, a ênfase em conformidade e aderência às normas estabelecidas produzidas pelas PVD reflete lugares privilegiados de conservadorismo sobre a coesão social e a preservação de estruturas e modos de vida tradicionais. Um típico exemplo disso refere-se ao fundamentalismo religioso, que orienta as práticas sociais a partir do exercício literal de dogmas religiosos (Federico, Fisher, & Deason, 2011; Goren, 2012; Schwartz, 2007; Thorisdottir, Jost, Liviatan, & Shrout, 2007).
Ademais, levando em conta que o conservadorismo consiste em uma ideologia e, como tal, serve a necessidades psicológicas mais profundas, pesquisas sugerem que o conservadorismo político é motivado por uma necessidade geral de reduzir ameaças e incertezas (Jost, Glaser, Kruglanski, & Sulloway, 2003). Para tanto, o conservadorismo atende essas necessidades resistindo a mudanças no status quo que produzem instabilidade, desordem e danos imensuráveis.
Considerando-se os aspectos teóricos descritos, bem como o atual contexto pandêmico causado pela COVID-19, com destaque para o Brasil, o presente programa de pesquisa é estruturado a partir das seguintes problematizações: a) como os brasileiros têm avaliado a postura oficial do Presidente da República diante do novo coronavírus e da COVID-19?; b) há relações entre os posicionamentos políticos e religiosos de brasileiros e brasileiras e suas respectivas Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação em contrair a COVID-19? Se sim, como se dá a direção dessa relação?; c) será que diferenças individuais, como Traços de Personalidade, Atitudes em face das Doenças e Sensibilidade ao Nojo relacionam-se e predizem a Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação em contrair a COVID-19?; por fim, d) a Percepção de Vulnerabilidade às doenças prevê a Preocupação em contrair a COVID-19?
Buscou-se, assim, por meio de dois estudos, responder os questionamentos acima propostos. No estudo 1, investigar-se-á os Posicionamentos Atitudinais e as estruturas argumentativas de internautas perante um pronunciamento oficial do atual Presidente do Brasil sobre o novo coronavírus e a COVID-19. Já no estudo 2, explorar-se-á como variáveis, como Posicionamento Político, Traços de Personalidade, Nível de Religiosidade, Atitudes em face das Doenças e a Sensibilidade ao Nojo relacionam-se com a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação de brasileiros em contrair a COVID-19.
Estudo 1
Este estudo teve por objetivo identificar os Posicionamentos Atitudinais e o conteúdo dos argumentos contidos nos comentários de internautas sobre o pronunciamento oficial do Presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro, publicado no dia 25 de março de 2020, sobre o novo coronavírus e a COVID-19. O estudo teve como hipótese principal de que distintivas estruturas argumentativas, vinculadas a temas como saúde e economia, subsidiariam os Posicionamentos Atitudinais dos comentadores.
Método
Trata-se de um estudo misto, quantitativo e qualitativo, de cunho descritivo e exploratório.
Amostra
A amostra foi composta por 2.000 comentários de internautas sobre o pronunciamento do Presidente em relação ao novo coronavírus e à COVID-19, contidos em vídeo no canal da plataforma Youtube intitulado TV Brasil Gov. Sublinha-se que este canal consiste em um meio de comunicação oficial para transmissão de conteúdos ligados ao poder Executivo Federal. O referido pronunciamento fora escolhido por se tratar de um dos primeiros, em instância oficial, do Presidente Jair Messias Bolsonaro sobre o novo coronavírus e a COVID-19, tendo alcançado mais de 5 milhões de visualizações e de 70 mil comentários, o que denota a mobilização provocada na população em face do mesmo. Destaca-se, ainda, que o conteúdo deste pronunciamento se refere à apologia feita pelo Presidente Jair Bolsonaro à volta da normalidade de atividades laborais e ao fim da quarentena, em nome de uma preservação das atividades econômicas.
Procedimentos de coleta de dados
A coleta de dados foi realizada dois dias após o pronunciamento oficial, no vídeo do canal TV Brasil Gov., na sessão referente aos comentários dos internautas. Inicialmente, foram recolhidos os primeiros 1.000 comentários registrados no canal em relação ao pronunciamento e, em seguida, foram coletados mais 1.000, aleatoriamente.
Processamento e análise de dados
Os dados foram analisados em três etapas, em que a primeira consistiu na análise de juízes, que buscou categorizar os Posicionamentos Atitudinais dos internautas (favorável, desfavorável e não expresso) sobre o pronunciamento do Presidente. Destaca-se que as respostas dos juízes em relação aos comentários foram analisadas através da taxa de concordância kappa, que é a "razão da proporção de vezes que os juízes concordam (corrigido por concordância devido ao acaso) com a proporção máxima de vezes que os juízes poderiam concordar (corrigida por concordância devido ao acaso)" (Alexandre, & Coluci, 2011, p. 3066). Nesse sentido, ao determinar a confiabilidade inter-examinadores, a estatística kappa para análise foi superior a 0,81, sugerindo excelente concordância entre eles.
Na segunda etapa da análise, os comentários foram processados com auxílio do software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRaMuTeQ), que possibilitou realizar a Análise de Similitude (AS) (Camargo, & Justo, 2018). Esta análise permitiu identificar como os conteúdos dos comentários se associaram aos Posicionamentos Atitudinais dos internautas em relação ao pronunciamento do Presidente. Por fim, fez-se uma análise do conteúdo emergido a partir da AS. Nessa análise qualitativa dos dados, buscou-se evidenciar as estruturas argumentativas compartilhadas pelos comentadores sobre o pronunciamento do presidente.
Resultados
A categorização dos Posicionamentos Atitudinais presentes nos comentários dos internautas em relação ao pronunciamento do Presidente sobre o novo coronavírus e a COVID-19 indicou que 371 são favoráveis, 1.596 desfavoráveis e 26 não expressaram seus posicionamentos. Já a AS, descrita a seguir, possibilitou identificar as coocorrências de palavras mais frequentes no material coletado, evidenciando as especificidades grupais (Posicionamentos Atitudinais perante o pronunciamento de Jair Bolsonaro).
O gráfico resultante da AS, apresentado na Figura 1, demonstra as relações entre as atitudes dos internautas perante o pronunciamento em questão. Ressalta-se que tal gráfico deve ser interpretado a partir de duas características: as cores dos termos, que apresentam o conteúdo próprio de cada um dos três Posicionamentos Atitudinais dos internautas em alusão ao pronunciamento acima descrito e as arestas, que indicam os valores da associação (frequências de coocorrências mínimas de 40) entre as palavras e as variáveis supramencionadas (Camargo, & Justo, 2018).
Ao observar a relação entre as evocações e os Posicionamentos Atitudinais, nota-se a presença de elementos que são comuns entre os internautas quando se referem ao pronunciamento do Presidente, ou seja, são evocados no discurso independente dos seus Posicionamentos Atitudinais. Estes são representados pelos seguintes termos: pensar, Bolsonaro, entender, deixar, tornar, gente, Itália, família, falar, coisa, achar, mesmo, governo, mundo, gripezinha, precisar, esperar, matar, pessoa, idoso, morrer, risco, problema, ano, economia, pior, mandar, colocar, povo, burro e brasileiro. Ressalta-se que tais palavras, apesar de comuns no discurso dos internautas, são menos coocorrentes e guardam relação com outros vocábulos, sobretudo com o termo "Presidente", que aparece enquanto central e se correlaciona com os demais.
No que se refere às especificidades dos comentários em função dos Posicionamentos Atitudinais, é possível observar que aqueles internautas que se mostraram favoráveis ao pronunciamento do Presidente traziam em seu discurso os seguintes termos: parabéns, Presidente, brasa, país, parar, certo, ficar, casa, trabalhador, trabalhar, doença, quarentena e passar. Para melhor compreensão, segue alguns exemplos destes comentários: "Parabéns, presidente. Difícil falar a verdade como vossa excelência faz, acorda Brasil"; "Vamos voltar a trabalhar porque para se consertar o Brasil não se pode parar".
Tendo em foco os comentários desfavoráveis ao pronunciamento do Presidente, nota-se uma maior frequência das expressões: senhor, vergonha, pronunciamento, votar, lixo, pegar, avó, filho, puta, escola, criança, velho, acreditar, deus, idiota, merda, esse cara, atleta, louco, homem, boca e irresponsável. Exemplos de comentários que refletem esse Posicionamento Atitudinal são: "Esse cara só pode estar de brincadeira. Se sua mãe e seu pai pegar esta merda de vírus, eu quero ver você falar de gripezinha ou resfriadinho"; "Prefiro comer arroz e feijão do que ver os nossos velhinhos sem vida. Que Deus proteja os idosos de todos os países, devemos protegê-los desse louco".
Por sua vez, aqueles comentários em que os internautas não expressaram seus Posicionamentos Atitudinais tiveram mais frequentemente as palavras saúde, acabar, melhor, dinheiro, corona e pai. Comentários representativos desse posicionamento são: "Se não morrer de corona, morre de fome"; "Para que o sistema de saúde não entre em colapso é aquela decisão difícil. Se sua mãe e seu pai estão caindo de qual dos dois você segura a mão?".
Discussão parcial
Em linhas gerais, o conjunto de análises e resultados oriundos destas confirmam as hipóteses a priori estabelecidas, complementando-se e confluindo para a evidência de que o debate sobre o novo coronavírus e seus efeitos, bem como as medidas para contê-los, não são consensuais e despertam distintos Posicionamentos Atitudinais. Assim, para os internautas favoráveis ao pronunciamento do Presidente é notória a ênfase sobre o retorno das atividades laborais como uma forma para enfrentar a pandemia causada pela COVID-19, demonstrando uma preocupação maior com a economia do país, em detrimento das questões de saúde coletiva e pública.
Com relação ao discurso dos internautas desfavoráveis, destacam-se ataques diretos à figura do Presidente Jair Bolsonaro, assim como uma preocupação com aqueles que compõem os grupos de risco (idosos) e que podem ser fortemente prejudicados, caso haja um retorno imediato das atividades sociais. Já os comentários que não expressam um Posicionamento Atitudinal nem contra e nem favorável sinalizam para uma espécie de dualidade em relação à questão saúde versus economia, indicando uma ponderação sobre esses dois aspectos. Tais internautas, apesar de preocupados com a saúde, refletem também sobre as consequências econômicas que serão causadas pelas medidas de contenção do novo coronavírus.
A este respeito, Do Bú, Alexandre, Bezerra, Sá-Serafim e Coutinho (2020) ressaltam que o discurso oficial do governo de Jair Bolsonaro em relação às recomendações para conter a pandemia, especialmente aquela relativa à necessidade de distanciamento físico, tem sido de oposição. Assim como referido pelos autores e também observado no presente estudo, as justificativas para a retomada das atividades em plena pandemia estão assentadas na lógica de que os trabalhadores não devem paralisar em razão da "necessidade" de manutenção da economia. Outro aspecto observado por estes autores refere-se à desconsideração deste governo em relação aos idosos como grupo de risco para a COVID-19, como se a morte destes fosse "naturalmente" aceitável, tendo em vista que são improdutivos para a economia. Nessa direção, também conforme evidenciou a análise de similitude, a preocupação com os idosos como grupo de risco configura-se como uma especificidade dos internautas que discordam do Presidente.
A polarização diante de um grave problema de saúde coletiva e pública, como é o novo coronavírus e da COVID-19, desperta preocupação, requerendo compreensões adicionais sobre quais variáveis estão relacionadas aos Posicionamentos Atitudinais diante de tais fenômenos. Neste estudo, observou-se que os comentários que expressavam concordância com o Presidente denotam um conteúdo que nega o efeito real e potencial desta pandemia, a partir do endossamento do discurso de retorno das atividades laborais. Estes resultados parecem sugerir a existência de um componente político e ideológico, e até mesmo partidário, associado à organização dos argumentos sobre o novo coronavírus e a COVID-19, revelando que estes aspectos estão na base do Posicionamento Atitudinal.
Diante desse cenário, questiona-se: além do Posicionamento Atitudinal, que outras variáveis podem estar relacionadas à forma de dimensionar os efeitos desse vírus e até mesmo justificar a preocupação ou não de ser contaminado por ele? Será que há, por exemplo, um papel da religião e do Posicionamento Político nisso? E os Traços de Personalidade? Será que também se relacionam com tais fenômenos? E a Percepção de Vulnerabilidade às Doenças? Como se relaciona com a Preocupação de contrair a COVID-19? Tendo em vista as limitações do Estudo I para responder tais questionamentos, foi desenvolvido o Estudo II que será apresentando a seguir.
Estudo 2
Este estudo objetivou encontrar a relação e o papel preditivo de um conjunto de construtos e variáveis (Atitudes em face das Doenças, Sensibilidade ao Nojo, Traços de Personalidade, Posicionamento Político e Nível de Religiosidade) na Percepção de Vulnerabilidade e na Preocupação em contrair a COVID-19. Nesse sentido, a hipótese desse estudo é a de que os construtos avaliados são preditores importantes da Percepção de Vulnerabilidade e da Preocupação em contrair a COVID-19. Além disso, espera-se que a Percepção de Vulnerabilidade prediga positivamente a Preocupação em contrair a COVID-19.
Método
Amostra
Participaram deste estudo 427 indivíduos com idades variando de 18 a 63 anos (M = 28,01; DP = 8,66), sendo a maioria do sexo feminino (65,2%), do estado da Paraíba (64,1%) e com ensino superior incompleto ou completo (50,4%). Grande parte da amostra possuía renda entre 3 e 4 salários mínimos (32,8%) ou entre 1 e 2 salários mínimos (30,4%). Em relação à religião, 41,8% afirmaram ser católicos, 26,2% não possuem religião e 16,4% são evangélicos. A maioria dos entrevistados se considera moderadamente religiosos (32,3%), seguidos de religiosos (25,8%), pouco religiosos (22,7%) e nada religiosos (17,1%).
Instrumentos
Os instrumentos utilizados no presente estudo foram:
• A Escala de Atitudes em Face das Doenças, construída por Stewart e Watt (2000). Esta medida contém 27 itens respondidos a partir de uma escala likert de 1 a 5, que se subdividem em quatro fatores (Medos, Comportamentos, Crenças e Efeitos). A consistência interna geral do instrumento para o presente estudo apontou um alfa de 0,88.
• A Escala de Sensibilidade ao Nojo-Revista, versão Brasil, que consiste na adaptação portuguesa da DS-R (Haidt, McCauley, & Rozin, 1994; modificada por Olatunji et al., 2007; Olatunji, Haidt, McKay, & David, 2008) por Ferreira-Santos, Martins, Sousa e Mauro (2011). O referido instrumento contém 27 itens respondidos em uma escala de resposta de 0 (Discordo fortemente/Muito falso para mim) a 4 (Concordo Fortemente/Muito verdadeiro sobre mim). Olatunji et al. (2008) propõem três dimensões: (1) nojo básico/fundamental; (2) nojo relacionado com a natureza animal dos seres humanos; (3) nojo baseado na contaminação. A consistência interna geral da escala foi de 0,77 no presente estudo. Entretanto, apenas o terceiro fator foi testado nesta pesquisa.
• O Inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade (ICG; The Big Five Inventory), que foi originalmente elaborado nos Estados Unidos por Benet-Martínez e John (1998), e validado para o contexto brasileiro por Barbosa (2009) em versão reduzida com 20 itens. O instrumento é respondido em uma escala de cinco pontos de 1 (Discordo Totalmente) a 5 (Concordo Totalmente) e avalia os Traços de Personalidade segundo a Teoria dos Cinco Grandes Fatores. As dimensões analisadas são: Neuroticismo, Conscienciosidade, Abertura, Amabilidade e Extroversão. Em relação à qualidade psicométrica, o modelo de cinco fatores apresentou índices de qualidade de ajuste satisfatórios, tais como CFI = 0,93 e RMSEA = 0,051. Além disso, a ICG apresentou consistência interna que variou entre 0,45 e 0,66.
• A Escala de Percepção de Vulnerabilidade às Doenças, que consiste em um instrumento de autorrelato originalmente desenvolvido por Duncan et al. (2009), composto por 15 itens respondidos por uma escala de pontos de 1 (Discordo Totalmente) a 7 (Concordo Totalmente), que avaliam diferenças individuais em preocupações crônicas sobre a transmissão de doenças infecciosas. A escala mensura dois fatores distintos com satisfatórias consistências internas: Percepção de Infectabilidade (α = 0,87) e Aversão a Germes (α = 0,74).
• A Medida de Preocupação em contrair a COVID-19, composta por um item único (O quanto está preocupado em contrair a COVID-19)?) e respondida numa escala de 1 (Totalmente não preocupado) a 5 (Extremamente Preocupado).
• Utilizou-se, ainda, um questionário sociodemográfico com o objetivo de identificar a amostra a partir das seguintes características: gênero, idade, escolaridade, renda, Posicionamento Político em uma escala de 10 pontos (0 = Esquerda a 10 = Direita), religião e Nível de Religiosidade mensurado por uma escala de 5 pontos (1 = Nada Religioso a 5 = Extremamente Religioso).
Procedimentos de coleta de dados
A coleta de dados se deu de forma online, entre os dias 16 e 23 de março de 2020, através da plataforma de recolha de dados Qualtrics. O tempo de resposta foi, em média, 20 minutos.
Processamento e análise de dados
Foram efetuadas estatísticas descritivas para caracterização da amostra, análises de correlação de Pearson e Regressão Linear múltipla hierárquica com as variáveis investigadas. Por fim, realizou-se uma path analysis objetivando testar um modelo explicativo da Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação em contrair a COVID-19, por meio do método de modelagem por equação estrutural e estimador Maximum Likelihood (ML), utilizando como parâmetros de um modelo ajustado os seguintes indicadores (Byrne, 2013): χ2 (qui-quadrado), que testa a probabilidade do modelo se ajustar aos dados, sendo preferíveis valores baixos; considerando sua razão com os graus de liberdade (χ2/gl), em que valores entre dois e três indicam um bom ajuste; Comparative Fit Index (CFI) e Tucker Lewis Index (TLI), que comparam o ajuste relativo ao modelo nulo, cujos valores acima de 0,95 indicam ótimo ajuste; e o Root-Mean-Square Error of Aproximation (RMSEA), uma medida de discrepância acompanhada por um intervalo de confiança de 90%, sendo esperados valores abaixo de 0,05, mas aceitáveis até 0,08.
Aspectos éticos
Os procedimentos de coleta de dados seguiram todas as recomendações éticas para esse tipo de pesquisa (CAAE: 30616720.9.0000.0008), conforme preza a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde Brasileiro (Brasil, 2016).
Resultados
Com o objetivo de identificar as principais variáveis explicativas da Percepção de Vulnerabilidade às Doenças e a Preocupação em contrair a COVID-19, foram investigadas as variáveis que têm se correlacionado com a Percepção de Vulnerabilidade às Doenças - Atitudes em face das Doenças, Sensibilidade ao Nojo, Traços de Personalidade, Posicionamento de Direita e Nível de Religiosidade (Tabela 1).
Os resultados das correlações de Pearson evidenciaram que a variável Atitudes em face das Doenças se correlacionou positivamente com a Percepção de Vulnerabilidade (r = 0,35; p < 0,001) e com a Preocupação em contrair a COVID-19 (r = 0,30; p < 0,001). A Sensibilidade ao Nojo se correlacionou positivamente com a Percepção de Vulnerabilidade (r = 0,26; p < 0,001) e com a Preocupação em contrair a COVID-19 (r = 0,28; p < 0,001). Especificamente, o fator contaminação se correlacionou positivamente com a Percepção de Vulnerabilidade (r = 0,32; p < 0,001) e com a Preocupação em desenvolver COVID-19 (r = 0,24; p < 0,001). Em relação aos Traços de Personalidade, a Percepção de Vulnerabilidade se correlacionou positivamente com os Traços Conscienciosidade (r = 0,15; p = 0,002) e Neuroticismo (r = 0,15; p = 0,002). O Posicionamento de Direita (r = -0,16; p = 0,001) e a Religiosidade (r = -0,10; p = 0,039) se correlacionaram negativamente com a Preocupação em contrair a COVID-19. Além disso, a Preocupação em contrair a COVID-19 se correlacionou com a Percepção de Vulnerabilidade (r = 0,18; p < 0,001). A Percepção de Vulnerabilidade apresentou escores entre 1 e 7, com média 4,29 (DP = 0,85). Já a Preocupação em contrair a COVID-19, que variava entre 1 e 5, apresentou média 4,03 (DP = 1,04). Ou seja, a amostra de brasileiros utilizada apresentou Percepção de Vulnerabilidade acima do ponto médio e alta Preocupação em se contaminar com a doença.
Além dos testes de correlação, com objetivo de encontrar os melhores preditores da Percepção de Vulnerabilidade e da Preocupação em contrair a COVID-19, realizou-se análises de regressão múltipla hierárquica, utilizando como variáveis preditoras: Atitudes em face das Doenças; Sensibilidade ao Nojo; Traços de Personalidade (Conscienciosidade e Neuroticismo); Posicionamento Político (0 = Esquerda a 10 = Direita); e Nível de Religiosidade. Os resultados estão detalhados na Tabela 2.
Conforme indica a Tabela 3, as análises de regressão múltipla evidenciaram que foram preditores significativos da Percepção de Vulnerabilidade: Atitudes em face das Doenças (β = 0,27; p <0,001), Sensibilidade ao Nojo (β = 0,15; p < 0,01) e o Traço de Personalidade Conscienciosidade (β = 0,16; p < 0,01). Desta forma, quanto maior as atitudes negativas diante de doenças, quanto maior a Sensibilidade ao Nojo e o nível de Conscienciosidade, mais os indivíduos se percebem vulneráveis às doenças infectocontagiosas. Já o Nível de Religiosidade previu de forma marginalmente significativa a Percepção de Vulnerabilidade, quando incluídos os demais preditores. Ademais, foram preditores significativos da Preocupação em contrair a COVID-19: Atitudes em face das Doenças (β = 0,25; p < 0,001), Sensibilidade ao Nojo (β = 0,22; p < 0,001) e Posicionamento Político de Direita (β = -0,15; p < 0,01). O neuroticismo previu, de forma marginalmente significativa, a Preocupação em contrair a COVID-19, quando incluídos os demais preditores. Sendo assim, quanto mais negativas as Atitudes em face das Doenças, quanto maior a Sensibilidade ao Nojo, maior também a Preocupação em contrair a COVID-19. Na mesma perspectiva, quanto mais os indivíduos estão direcionados a um Posicionamento Político de Direita, menor a Preocupação em contrair a COVID-19.
Modelo Explicativo da Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação em contrair a COVID-19
Para verificar como as Atitudes em face das Doenças, a Sensibilidade ao Nojo, o Traço de Personalidade Conscienciosidade e o Posicionamento Político predizem a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação em contrair a COVID-19, uma path analysis foi efetuada seguindo as diretrizes de Hu e Bentler (1999), incluindo apenas os caminhos que mostraram previsões significativas. A análise mostrou bons indicadores de ajuste para o modelo [x2 = 67,72; gl = 24; x2/gl = 2,61; CFI = 0,94; TLI = 0,91; RMSEA = 0,06 (IC90%: 0,04-0,08)]. Os efeitos diretos reforçaram os resultados de que as Atitudes em face das Doenças e a Sensibilidade ao Nojo previram positivamente a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação em contrair a COVID-19, enquanto o Traço de Personalidade Conscienciosidade previu positivamente a Percepção de Vulnerabilidade, que por sua vez previu positivamente a Preocupação em contrair a COVID-19. Finalmente, o Posicionamento Político de Direita previu direta e negativamente a Preocupação em contrair a COVID-19. Para uma melhor visualização e compreensão do modelo proposto pela análise, é possível observar a sua representação gráfica na Figura 2.
Justifica-se que a variável Nível de Religiosidade, ao ser incluída no modelo, deixou de ser marginalmente significativa. Nesse sentido, a mesma foi retirada da presente análise.
Discussão parcial
Para oferecer evidências do direcionamento e o percurso em que os construtos averiguados no presente estudo predizem a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação em contrair a COVID-19, propôs-se um modelo explicativo com base na análise de modelagem por equação estrutural. Os resultados mostraram relações positivas e significativas que ajudaram a selecionar a composição de variáveis do modelo final, cujos indicadores de ajuste apresentaram-se favoráveis.
A partir dos coeficientes de regressão encontrados, observa-se que as Atitudes em face das Doenças, incluindo medo, comportamentos, crenças e efeitos em conjunto com Sensibilidade ao Nojo, preveem positiva e significativamente o modo com as pessoas se percebem vulneráveis às doenças, evidenciando a Preocupação em contrair a COVID-19. Tal resultado corrobora com o estudo de Bacon e Corr (2020), que constataram uma relação entre as Atitudes em face das doenças e a Preocupação em contrair a COVID-19, utilizando o mesmo instrumento no Reino Unido. Outro estudo de McKay, Yang, Elhai e Asmundson (2020) investigou possíveis rotas que levam ao medo de contrair a COVID-19. O estudo contou com 908 chineses e apoiou a hipótese de que há um papel moderador da Sensibilidade ao Nojo na relação entre ansiedade e medo de contrair a COVID-19. Com isso, demostra-se a importância da Sensibilidade ao Nojo no modelo ora testado.
Além disso, a análise evidenciou a Conscienciosidade como um possível Traço que acentua a Percepção de Vulnerabilidade. Nesse sentido, constata-se que indivíduos com maior controle de impulsos, bem como comportamentos direcionados a objetivos específicos, organização, cautela, e execução de obrigações/deveres tendem a se sentir mais vulneráveis. O estudo de Carvalho, Pianowski e Gonçalves (2020), com 715 brasileiros adultos sobre diferenças de personalidade e a COVID-19, indicou que, durante a pandemia, pontuações mais altas em Conscienciosidade foram associadas a um maior distanciamento social e à lavagem das mãos.
A respeito do Posicionamento Político, este se mostrou uma variável importante no modelo proposto, de modo que, quanto maior o direcionamento à Direita, menor a preocupação em contrair a COVID-19. Segundo Benton, Cobb e Werner (2020), no contexto dos Estados Unidos, a doença foi de início abordada em um processo de polarização afetiva, com claras divisões partidárias, desenvolvendo-se em torno de percepções de seus riscos. Tal abordagem também pode ter influências na percepção da doença pelos brasileiros.
Ainda em relação aos aspectos partidários e aos posicionamentos políticos, Gadarian, Goodman e Pepinsky (2020) realizaram uma pesquisa com 3000 norte-americanos, entre 20 e 23 de março do ano corrente, e descobriram que as diferenças políticas são o fator mais consistente que diferencia os comportamentos de saúde e as preferências políticas dos americanos. Entre os resultados encontrados, indicaram que é mais provável que os democratas apoiem algumas medidas de distanciamento social. Além disso, observou-se que os republicanos são menos propensos do que os democratas a realizarem comportamentos recomendados de prevenção e estão menos preocupados com a pandemia. Em conjunto com os resultados do presente estudo, essas descobertas reforçam as evidências de que o partidarismo é um preditor consistente de comportamentos e atitudes em saúde.
No que se refere à variável Nível de Religiosidade, não existem evidências claras de que esta variável prediga a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação em contrair a COVID-19. Nesse sentido, sugere-se que estudos futuros busquem, de forma sistemática, confirmar ou refutar os achados ora expostos.
Com isso, considera-se que foi confirmada a hipótese de que as Atitudes em face das doenças, a Sensibilidade ao Nojo, os Traços de Personalidade e o Posicionamento Político predizem a Percepção de Vulnerabilidade e a Preocupação em contrair a COVID-19. No entanto, necessitam-se estudos futuros para investigar a continuidade dessas variáveis no modelo proposto ao longo do avanço da pandemia. É possível que outras variáveis estejam implicadas no decorrer do tempo, na medida em que as pessoas convivem com essa nova realidade, em que novas informações são apresentadas pelo campo científico e pela mídia. Além disso, aspectos interculturais não investigados podem explicar diferenças importantes na Percepção de Vulnerabilidade e Preocupação. Portanto, tais construtos são relevantes para a prevenção do avanço da doença no Brasil e no mundo.
Discussão geral
Os dois estudos realizados neste programa de pesquisa permitiram identificar os Posicionamentos Atitudinais de internautas sobre a postura do Presidente do Brasil diante do novo coronavírus e da COVID-19, bem como possibilitaram conhecer algumas variáveis significativas para prever a Percepção de Vulnerabilidade às doenças e a Preocupação em contrair a COVID-19. Foi possível, portanto, verificar que os resultados destas análises deram sustentação para a proposição de um modelo explicativo plausível, com bons índices de ajustes.
Com o estudo 1, foi possível verificar como diferentes estratégias metodológicas podem contribuir para uma melhor compreensão de um fenômeno. Assim, além de identificar que o debate sobre o novo coronavírus e a COVID-19 é assentado em diferentes, e até polarizadas, lógicas argumentativas, como saúde versus economia, pode-se inferir também sobre o papel dos chefes de Estado, como o Presidente do Brasil, nesse debate. Isto porque quando Jair Bolsonaro, na condição de líder máximo de uma nação, veicula um pronunciamento oficial marcado pelo negacionismo dos efeitos da pandemia da COVID-19, sugerindo o retorno das atividades econômicas, em despeito às recomendações das organizações internacionais de saúde, ele pode influenciar e/ou reforçar comportamentos que impedem a contenção do estado pandêmico.
O estudo 2 também se mostrou relevante, confirmando a hipótese de que as Atitudes em frente das Doenças, a Sensibilidade ao Nojo, os Traços de Personalidade e o Posicionamento Político são bons preditores da Percepção de Vulnerabilidade e da Preocupação em contrair a COVID-19. Estes resultados contribuem com a literatura existente e inovam ao anunciar a Sensibilidade ao Nojo como um preditor da referida relação.
Chama atenção, ainda, que, além de evidenciar o papel das variáveis preditoras de natureza individual, os resultados do estudo 2 também ratificaram a compreensão de Doise (2002), de que o Posicionamento Político consiste em uma variável psicossociológica preditora de comportamentos. Esta relação, de modo especial, pode ser muito útil para compreender o panorama brasileiro em relação à COVID-19, pois, conforme sinalizou o estudo 1 e comprovado no estudo 2, a variação na forma de se posicionar em face dessa doença e de seus efeitos é atravessada por um viés político e ideológico.
Em linhas gerais, os estudos realizados contribuem para elucidações sobre a forma como os brasileiros estão lidando com a pandemia da COVID-19, identificando algumas variáveis que assumem um papel diferenciador nesse processo. Este conhecimento traz implicações para a dinâmica social, especialmente no que tange à proposição de modelos interventivos a nível individual, com foco nas questões psicológicas, bem como numa dimensão coletiva para conter o estado pandêmico. Então, possíveis modelos interventivos devem levar em consideração as variáveis aqui verificadas para sua formulação, aplicação e avaliação.
Todavia, estes estudos apresentaram limitações que carecem de reflexões e possíveis ampliações em investigações futuras. Nesse sentido, com relação ao primeiro estudo, aponta-se a impossibilidade, por exemplo, de identificar as variáveis sociodemográficas dos internautas, uma vez que se tem acesso apenas ao nome do usuário e ao comentário deste. Dados dessa natureza, conforme sinaliza Doise (2002), podem contribuir para explicar as ideias de força que operam sobre a construção do pensamento social e, consequente, tomada de posição atitudinal em face dos fenômenos que lhes interpelam. Outro aspecto refere-se ao tamanho da amostra de comentários analisada, que, embora seja justificável para um exercício exploratório de pesquisa, ainda é pouca diante do total disponível no canal de coleta.
Sugere-se, diante disso, que futuras pesquisas busquem ampliar o montante amostral, bem como utilizar, como fonte de pesquisa, os comentários veiculados a outros pronunciamentos do Presidente do Brasil sobre o novo coronavírus e a COVID-19, com o intuito de verificar possíveis mudanças no padrão atitudinal e nas amarras argumentativas. Tendo em vista a relevância de conhecer as atitudes da população brasileira diante da postura do Presidente da República para combater o problema de saúde pública e coletiva imposto por essa pandemia, indica-se, também, a necessidade de identificá-las empiricamente, inclusive relacionando-as com outras variáveis.
O estudo 2, embora tenha sido bastante elucidativo, com implicações práticas para a formulação de modelos interventivos, indicando a direção de um conjunto de variáveis, também apresenta limitações, que podem ser sanadas em futuras pesquisas. Um primeiro aspecto refere-se à falta de homogeneidade da amostra coletada, especialmente no que se refere à variável religião. Outra questão diz respeito à necessidade de testagem experimental do modelo proposto. Assim, sugere-se que novos estudos busquem suprir tais lacunas, homogeneizando a amostra e, inclusive, considerando o momento histórico político do país, tendo em vista que, conforme afirmam Conway, Woodard, Zubrod e Chan (2020), o Posicionamento Político, por exemplo, é sensível às mudanças que ocorrem na dinâmica social no decorrer do tempo.
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Submetido em: 01/06/2020
Revisto em: 01/06/2020
Aceito em: 22/06/2020