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Revista da Abordagem Gestáltica
versión impresa ISSN 1809-6867
Rev. abordagem gestalt. vol.23 no.2 Goiânia ago. 2017
EDITORIAL
Editorial
Adriano Furtado Holanda
(Editor)
No segundo número da Phenomenological Studies deste ano, apresentamos ao leitor um conjunto de produções que refletem a diversidade do pensamento e da pesquisa fenomenológica.
Começamos por um estudo sobre experiências pessoais "extraordinárias" e estigma. Na pesquisa intitulada Contemporaneidade e Experiências Anômalas: Dimensões Psicossociais de Vivências Culturalmente limítrofes, Leonardo Breno Martins, Wellington Zangari & Gabriel Teixeira de Medeiros, investigam variáveis psicossociais que intermedeiam relações entre crenças/experiências anômalas e cultura em contexto brasileiro, numa pesquisa qualitativa com 46 pessoas que reportaram contatos diretos com alegados "alienígenas", além de 35 que não as reportaram, para comparação. Clínica e violência em comunidade é o tema de liberdade: limites e Possibilidades de uma Experiência da Clínica Psicológica no Complexo da Maré, de Roberto Novaes de Sá & Sheila Corrêa Silva. Dialogando com a filosofia existencial, buscam pensar através da clínica, como a questão da liberdade se desvela, na especificidade do contexto de uma experiência junto ao Complexo da Maré na cidade do Rio Janeiro.
Já os sentidos da transformação do corpo são o tema de Para Ficar em Cima do Salto: A Construção do Corpo Travesti na Perspectiva Merleau-Pontyana, de Edmar Henrique Dairell & Maria Alves Toledo Bruns, que pesquisaram o uso de silicone, hormônios e cirurgias para atingir a modelagem corporal, a partir dos discursos de três travestis. Em obesidade Infantil. Compreender para melhor Intervir, Luciana Gaudio Martins Frontzek, Luana Rodrigues Bernardes & Celina Maria Modena buscam compreender a obesidade infantil a partir das narrativas de crianças e pais, numa pesquisa com 10 famílias de Belo Horizonte, Minas Gerais.
O artigo Daseinsanalyse e Psicoterapia no Brasil: uma revisão Integrativa da literatura, de Breno Augusto da Costa, apresenta uma revisão integrativa da literatura a partir da "Revista Daseinsanalyse", destacando influências teóricas, objetivos da psicoterapia e postura do terapeuta, e apontando como nova perspectiva a possibilidade do pensamento daseinsanalítico fundamentar a prática da redução de danos. Na sequência, Paulo Coelho Castelo Branco & Luísa Xavier de Brito Silva, em Psicologia Humanista de Abraham Maslow: recepção e Circulação no Brasil, apresentam aspectos relativos à vida, obra e projeto de Psicologia de Abraham Maslow, num conjunto de três investigações bibliográficas que analisam a recepção e a circulação das ideias de Maslow no Brasil.
Em Intervenções Psicossociais em Saúde Aplicada a Situações de Conflito Conjugal, Kamilly Souza Vale & Adelma Pimentel, a partir de uma pesquisa bibliográfica, buscam sistematizar um panorama das formas de compreensão do tema para subsidiar a formação de Psicólogos que atuam no campo. Novamente o tema da religiosidade e espiritualidade surge no artigo Psicoterapia e Espiritualidade: Da Gestalt-Terapia à Pesquisa Contemporânea, de autoria de Aline Ferreira Campos & Jorge Ponciano Ribeiro. Neste manuscrito, os autores fazem uma revisão da literatura com artigos do PsychINFO, SciELO, PePSIC e textos de Gestalt-terapia; e descrevem métodos utilizados, como meditação e oração.
A reflexão teórica e filosófica - fundamental para uma sólida fundamentação da prática clínica e para a própria Fenomenologia - aparece em dois manuscritos. Peter Schmid e a Alteridade radical: retomando o Diálogo entre rogers e lévinas, de autoria de Iago Cavalcante Araújo & José Célio Freire, trabalham a ética da Abordagem Centrada na Pessoa a partir da alteridade radical postulada por Lévinas. Nesta direção, apresentam as contribuições de Peter Schmid à Psicologia rogeriana. Já o texto A Fenomenologia do Asco de Aurel Kolnai: Contribuições para o Esclarecimento Fenomenológico dos Afetos, de Yuri Amaral de Paula & Tommy Akira Goto aponta para uma significativa "marca" do movimento fenomenológico: sua diversidade e grande variedade de investigações dirigidas à elucidação da afetividade e de vivências afetivas particulares, recuperando os trabalhos dos primeiros fenomenólogos, a partir da fenomenologia dos sentimentos hostis de Aurel Kolnai.
Finalizamos este número com uma excepcional tradução de José Olinda Braga, da primeira parte de um clássico texto de Pierre Thévenaz, originalmente publicado em 1952, que não apenas pretende "introduzir" a Fenomenologia - a partir de quatro brilhantes estudos, sobre Husserl, Heidegger, Merleau-Ponty e Sartre - como aponta para a direção de uma ontologia fenomenológica. Nas próprias palavras de Thévenaz, logo em seu primeiro parágrafo:
A fenomenologia parece um Proteu que ora surge como uma pesquisa objetiva das essências lógicas ou das significações, ora como uma teoria da abstração; por vezes como uma descrição psicológica profunda ou uma análise da consciência, outras vezes como uma especulação sobre o "Ego transcendental"; ora como um método de aproximação concreto da existência vivida, e às vezes parece, como em Sartre ou Merleau-Ponty, se confundir pura e simplesmente com o existencialismo.1 (p. 9)
A importância desse texto - aqui apresentamos o primeiro dos quatro textos que serão publicados ao longo do ano, em diversas revistas - se dá pela reflexão do próprio Thévenaz (que foi retomado várias vezes por Paul Ricoeur), quando assinala que "os verdadeiros herdeiros de Husserl são os existencialistas franceses".
Boa leitura a todos
(Este número foi finalizado em 05.06.2017)
1 Pierre Thévenaz, "Qu'est-ce que la Phénoménologie - Partie 1, La Phénoménologie de Husserl", Révue de Théologie et de Philosophie, 2, p. 9-30. [ Links ]