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Epistemo-somática

versión impresa ISSN 1980-2005

Epistemo-somática v.4 n.1 Belo Horizonte jul. 2007

 

ARTIGOS

 

Criança e discurso: a ética da psicanálise

 

Childhood and discourse: the ethics of psychoanalysis

 

Infancia y discurso: la ética del psicoanálisis

 

Enfance et discours : l'éthique de la psychanalyse

 

 

Sandra Seara Kruel

Círculo Psicanalítico de Minas Gerais – Belo Horizonte, Brasil

 

 


RESUMO

O discurso como laço social e o fantasma subjetivo são ambos tentativas de regulação do gozo. Na constituição subjetiva, é o supereu que trata da internalização de valores sociais. O inconsciente é discurso do Outro é a frase em torno da qual a ética da psicanálise pode ser colocada. As determinações geradas pelo lugar simbólico que aguarda o sujeito ao nascer são exemplificadas através da casuística de adolescentes que cometem atos infracionais.

Palavras-chave: Discurso, Fantasma, Supereu.


ABSTRACT

Discourse as a social ties and the subjective phantasy are both attempts at regulating jouissance. During subjective constitution, it is the super-ego that is responsible for the internalization of social values. The unconscious is the Other´s discourse is the aphorism through which the ethics of psychoanalysis can be studied. The determinations generated by the symbolic place that awaits the newborn is exemplified by case studies of adolescents that committed acts against the law.

Keywords: Discourse, Phantasy, Superego.


RESUMEN

El discurso como enlace social y el fantasma subjetivo son ambos intentos de regulación del goce. En la constitución subjetiva , es el superyó el que trata de la internalización de los valores sociales. El inconsciente es el discurso del Otro es la frase en torno a la cual la ética del psicoanálisis puede colocarse. Las determinaciones generadas por el lugar simbólico que aguarda al sujeto al nacer son ejemplificadas através de la casuística de adolescentes infractores.

Palavras clave: Discurso, Fantasma, Superyó.


RESUMÉ

Le discours comme lien social et le fantasme subjectif sont tout les deux essais de regulation de la jouissance. Dans la constitution subjective, c´est le surmoi qui amenage la internalisation des valeurs sociales. L´inconscient est le discours de l´Autre c´est l aphorisme autour duquel va tourner l´éthique de la psychanalyse. Les déterminations gerées par le lieu symbolique qu´attend le nouveau-né sont exemplifiées par des cas des adolescents qui ont comis des acts infrationelles.

Mots-clés: Discourse, Phantasme, Surmoi.


 

 

Os comitês de ética instalados em hospitais representam na atualidade uma resposta à evacuação da subjetividade pelo discurso da ciência. Definindo-se a ética como os motivos para as ações do homem, qual o interesse da ciência pela filosofia e em particular pela ética?

O discurso psicanalítico pode contribuir para aprofundar os laços entre ética e ciência ao compreender melhor a subjetividade humana.

No presente trabalho, a ética da psicanálise está implicada na atuação de profissionais na clínica ampliada com adolescentes que cometeram ato infracional. A questão da subjetividade estar presente também em programas sociais é trazida pelo discurso da psicanálise.

Como que o adolescente pode hoje em dia se orientar em suas ações quando se confronta com as injunções paradoxais do mundo atual, onde o discurso capitalista, que urge o sujeito a “se virar sozinho”, se contrapõe ao discurso do Mestre que apazigua com a imago de um pai todo-poderoso?

O discurso psicanalítico não corrobora com nem uma nem outra dessas posições. A ética do desejo é tida pela psicanálise na sua clínica como sempre possível, isto é, é sempre possível a posição de sujeito desejante em contraposição à posição de objeto onde o sujeito age por compulsão assujeitado ao discurso do Outro.

 

I – O inconsciente é o discurso do Outro

O inconsciente é discurso do Outro é a frase em torno da qual a ética da psicanálise pode ser colocada.

No texto “De... um tratamento possível da psicose”, Lacan escreve um aforismo que se repetirá em outros textos: “O inconsciente é o discurso do Outro”.

Ele chama a atenção para o caráter parasitário da linguagem. Fato que nos leva a cogitar: o automatismo mental da psicose teria relação com a compulsão (Zwang), o agir sem pensar, no neurótico?

Este é o tema deste texto e iremos tomá-lo pelo viés da constituição do sujeito.

A linguagem é considerada Outro (A) porque está aí antes do sujeito nascer e estará aí depois que ele morrer.

Citando Lacan: “uma psicanálise deve ter sua certeza na evidência de que o homem está, desde antes de seu nascimento e para-além de sua morte, tomado na cadeia simbólica, a qual fundou a linhagem antes mesmo que se intrometa a história...”. E continua: “Esta exterioridade do Simbólico com relação ao homem é a própria noção de inconsciente” (LACAN, 1966, p.468 – trad. da autora).

Na constituição subjetiva, é a partir da sua herança significante que o pequeno sujeito poderá operar os processos de alienação e separação.

A criança se aliena ao lugar simbólico que lhe é reservado ao nascer: sua nacionalidade, sua classe social, o tempo histórico de sua comunidade, etc.

Esses traços gerais se juntam aos mitos familiares próprios de cada família para delimitar de cara um destino possível para aquele novo ser.

Acrescenta-se a isso o fato de que a regulação inicial de seus hábitos – que inclui até mesmo a erogeinização de seu corpo – é devedora da posição que aquela particular criança ocupa no fantasma de seus pais no momento em que nasce.

Lacan situa a operação de separação na fase dos porquês (por volta dos 3 anos) por onde a criança situa o Outro como desejante, e por conseguinte como faltante. Só deseja quem não tem. Ao invés de se oferecer, de forma inconsciente, para preencher essa falta no Outro, cumprindo o destino que o Outro lhe traçou, o sujeito realiza a operação de separação, oferecendo a própria falta no lugar da falta do Outro. A pergunta podes perder-me? chega a ser feita pela criança a seus pais. É pelo “recobrimento das duas faltas”, a do sujeito e a do Outro, a do filho e a do pai no caso, que pode se iniciar “a dialética dos objetos de desejo”, as trocas simbólicas fálicas, a sexualidade aí incluída, diz Lacan no Seminário 11 ( LACAN, 1973, p.203).

‘Quem sou eu para você?’ se torna então um enigma uma vez que o sujeito sempre poderá se perguntar: ’Ele me pede isso, mas o que que ele realmente quer ao me pedir isso?’. O que querem meus pais comigo ao me chamarem de delinqüente?’ poderia perguntar-se o filho estigmatizado, por exemplo.

A operação de alienação não se dissocia da operação de separação e, no entanto, muitos são os sujeitos que cumprem o que lhes foi destinado.

A criança inicialmente perversa polimorfa cria pontos de fixação que serão retomados a posteriori para dar consistência aos fantasmas. É no fantasma idealizante do romance familiar que surge a figura do pai todo-poderoso que constitui o super-eu, o pai morto.

Podemos estudar esse ponto da estrutura que se dá após a decepção edipiana através de uma casuística de meninos que parecem ’destinados’ a se tornarem ’bandidos’ e efetivamente durante a adolescência incorrem em todo tipo de ato infracional de forma recorrente.

No discurso corrente, no contato entre classes sociais alta e baixa, fica em geral implícita uma demanda de morte da classe alta para a baixa. Os membros da classe social baixa recebem essa demanda de morte ao entrarem em contato com o discurso da classe dominante até mesmo através da mídia. ’Que morram!’ parece ser o voto que se inscreve nas entrelinhas do discurso.

Ao absorver essa demanda de morte na subjetividade de cada membro da classe social baixa, comportamentos autodestrutivos tais como drogadicção, porte de armas, iniciação sexual precoce e outros passam a ser banalizados e até mesmo esperados. A chamada ’baixa auto-estima’ parece permear uma série de comportamentos de maus-tratos e desprezo entre as famílias e vizinhos, utilização de linguagem chula, as creches que não aceitam brinquedos novos...

Como que a subjetividade absorve valores sociais tão danosos? Pela tendência masoquista, que pode vir a se instalar quando há uma dificuldade do sujeito em se perguntar quem sou eu para você?, que queres de mim?, e dessa forma “se separar do supereu” no dizer de Freud, isto é, reciclar os valores com que foi educado e criar os seus próprios valores sociais.

Percebe-se essa tendência masoquista já instalada em jovens adultos (morte violenta é a maior causa de morte nessa faixa etária). É a tendência a ceder de seu desejo para cumprir com as exigências do Outro (o Outro já internalizado, se poderíamos dizer assim). Ceder de seu desejo gera a depressão clínica. O adolescente que trabalha e estuda resolve desfazer esses laços e se lançar no tráfico de drogas. Essa decisão muitas vezes é fruto de um momento de depressão clínica em que o adolescente está, por inúmeros motivos, com dificuldades de sustentar o seu desejo. O discurso de fachada do adolescente posteriormente poderá ser “Preferível morrer rico do que viver pobre”, numa aparente reação de triunfo maníaco sobre a depressão.

 

II – A constituição subjetiva

A internalização de valores sociais se dá através da formação do supereu após o declínio do Édipo.

A decepção do filho com os pais gera como defesa, uma imagem mental ao mesmo tempo apaziguadora e opressora: o Ideal do eu.

A formação do supereu pode ser acompanhada na fase de latência pelo destino dado à fantasia do chamado “romance familiar”, trabalhada por Freud em 1909. É a fantasia de ter sido adotado, tão comumente relatada na clínica psicanalítica. A fantasia é criada de forma a gerar uma nostalgia do pai: ’esses pais que eu tenho não podem ser os meus pais verdadeiros’; ’meus pais verdadeiros são muito importantes’; e assim por diante de forma a reforçar a idéia de que a vida do filho poderia ser melhor se o pai dele fosse outro melhor.

Cria-se fantasmaticamente a figura imaginária de um pai todo-poderoso que serve como o Ideal do Eu do supereu. Um pai “digno de ser amado”, como diz Philippe Julien, que forneça garantias permanentes. A voz ’grave e potente de quem sabe dar ordens’ é o objeto a que vem dar consistência de gozo a esse fantasma.

A imago de pai exemplar tem a função de modelo e “assim a função de modelo é dar uma imagem de como a relação com o espelho, isto é, de como a relação imaginária com o outro e a captura do Eu Ideal servem para arrastar o sujeito para o campo em que ele se hipostasia no Ideal do Eu” (LACAN, 1998, p.686).

Isso quer dizer que o Ideal do eu vai extrair elementos do eu ideal, protótipo corporal fundador de uma imagem ideal do ego. O amor próprio, o narcisismo, é idealizante porque é baseado na imagem do corpo.

Quanto mais o sujeito se apega a uma imagem idealizada para se orientar na vida mais ele próprio se sente imperfeito e inferior no que consegue realizar, pois nada se compara a essa imagem de perfeição. Quanto maior o amor pelo ideal, menor o amor próprio do sujeito.

O que Freud descobriu sobre o mal-estar na civilização, paradoxo que explica o que é a opressão própria do supereu: quanto mais o sujeito cede de seu desejo, mais ele segue sem pensar os preceitos do discurso do Outro.

O pai real tem essa função de promover a queda desses ideais, mostrando para o filho como que ele lida com as suas próprias falhas.

 

III – O Outro não existe

Na adolescência há crise subjetiva provinda do abalo dos fantasmas até aqui por causa do encontro faltoso com o real do sexo. É uma crise subjetiva onde seriam possíveis remanejamentos estruturais.

No entanto, é possível que o adolescente se apegue novamente a figuras ideais, diminuindo assim sua auto-estima e aumentando a tendência a exigir muito de si e dos outros. O fracasso ou o erro ou o engano é visto aqui pelo sujeito como esmagador, gerando na clínica muitos sintomas de excesso de justificativas, preguiça, excesso de sono etc., que vêm da dificuldade de se implicar subjetivamente com seus erros.

Na adolescência há violência quando se tenta manter o fantasma de um pai todo potente apesar de saber que o Outro não existe. Por que se apegar a um grupo? Porque se está inseguro. A identidade grupal fornece uma certa estabilidade. No entanto, seguindo o paradoxo freudiano, quanto mais o sujeito se apega ao grupo, menos confiança ele tem em suas próprias determinações. O exemplo é o pânico na guerra resultante da morte do chefe no lugar de ideal do eu; os soldados não conseguem pensar por si próprios na ausência do chefe idealizado.

Lacan, no Seminário da Ética, diz que a psicanálise é uma experiência moral na medida em que ali o sujeito pode se interrogar sobre o que ele quer: “Vai ele se submeter ou não a esse dever que sente em si mesmo como ’estranho’, ’mais além’, num segundo grau? Deve ele submeter-se ou não ao imperativo do supereu, paradoxal e mórbido, semi-inconsciente e que, além do mais, revela-se cada vez mais em sua instância na medida em que a descoberta analítica progride? (...) Seu verdadeiro dever, se assim posso expressar-me, não é ir contra esse imperativo?” (LACAN, 1988, p.16).

A psicanálise ao diferenciar massa e coletivo contribui para orientar o trabalho com grupos de modo a evitar os chamados ’fenômenos de massa’. Os fenômenos de massa são aqueles que Freud descreve no seu texto “Psicologia das massas e a análise do eu” de 1924: a homogeneização, o contágio e o líder. O efeito maior desses três fenômenos, também chamados por Lacan de ’obscenidades de grupo’, é a perda da individualidade ou ainda a perda da capacidade do indivíduo de julgar e pensar por si próprio. Sua vontade pode se tornar tão sugestionável pelo grupo como o seria por um hipnotizador.

Os fenômenos de homogeneização, que têm como conseqüência a segregação, o contágio que leva à atuação, e o fenômeno do líder que acarreta a desresponsabilização. Em função desses efeitos, o trabalho em grupo precisa ter como metodologia a abordagem individual de cada caso, a ênfase nas diferenças mais do que nas igualdades e a implicação subjetiva.

No fenômeno da homogeneização, as diferenças entre os membros se apagam e todos tendem a se parecer uns com os outros. A conseqüência é um grupo forte e coeso, mas que segrega quem pensa diferente ou tem uma aparência diferente. Se a homogeneização leva à segregação, a tolerância à diversidade e às diferenças é a defesa contra isso.

O fenômeno do contágio é também conseqüência da homogeneização: todos têm o mesmo discurso e quando é lançada uma palavra de ordem, todos os membros se contagiam, se deixando influenciar de imediato. A rapidez com que uma fofoca corre no grupo é um exemplo disso. A conseqüência do contágio é a atuação compulsiva, o agir sem pensar, que pode levar até mesmo à violência. Vemos aqui a relação aparentemente paradoxal entre a conformidade ao grupo e os comportamentos compulsivos, que permite à psicanálise explicar tão bem os sintomas da modernidade. Como evitar o contágio? Dando sempre valor ao individual, à lógica do um a um implicada no não-todo.

Mas há ainda o fenômeno do líder, que tem como conseqüência a desresponsabilização dos membros do grupo. O famoso exemplo do nazista Eichmann que justificou seus crimes de guerra dizendo estar cumprindo ordens de seus superiores. Exemplo mais comum é o das chefias se queixarem da não participação de seus chefiados. Para não permitir o fenômeno do líder, só a implicação subjetiva de cada um dos membros do grupo.

Assim, a tolerância às diferenças, a atenção ao individual, a implicação subjetiva talvez pudessem criar um coletivo que não fosse grupo.

A essa altura, não podemos deixar de concordar com Freud quando ele diz que “a psicologia individual é também, inicialmente e simultaneamente, uma psicologia social” (FREUD, 1921/1980, p.91).

O inconsciente é o discurso do Outro, diz Lacan; e numa psicanálise o sujeito pode assumir como seu, pode se implicar em seu discurso inconsciente. Se implicar subjetivamente no discurso inconsciente é se implicar no inconsciente como discurso do Outro.

A fantasia da onipotência do Outro e da necessidade de barrar esse Outro nasce, como já descrevemos, da dificuldade de lidar com a castração inerente à estrutura psíquica, isto é, da dificuldade de lidar com a castração do Outro (A).

O grande Outro mesmo que eu o ame não me dará pois não tem nenhuma verdade última que pudesse ser a chave da regulação total do gozo, da mestria a respeito da vivência humana.

O gozo do Outro não existe: um pedaço do corpo do Outro vem dar consistência a um fantasma assim como em religiões primitivas existia o sacrifício humano para dar consistência às crenças religiosas.

 

IV – Discurso e fantasma – regulação do gozo

Dos matemas de Lacan, o matema dos discursos e aquele do fantasma são os únicos em que está o objeto pequeno a condensador de gozo. Efetivamente, tanto o discurso como laço social regula o gozo de forma coletiva quanto o fantasma o faz no nível do psiquismo individual.

Trabalhar durante a semana e folgar no fim de semana, por exemplo, faz parte do discurso corrente. O folclore, as festas populares também cumprem algo dessa função: no carnaval o homem pode se vestir de mulher, o resto do ano não.

É dos discursos a que tem acesso que o sujeito extrairá os elementos que compõem suas fantasias as mais íntimas, numa tentativa de obter uma regulação parcial da dor e do prazer que vivencia.

A fantasia masoquista típica do neurótico obsessivo muitas vezes se associa a sintomas de agressividade. Na casuística considerada, a maioria dos adolescentes podem ser considerados como de estrutura obsessiva. “Você me trata mal porque eu sou negro, então eu estou justificado em te agredir para me vingar”.

A identidade grupal gera a violência especular sempre em escalada: “Nosso grupo é igual ou melhor que o seu”. A polaridade “ou mata ou morre”.

É o fantasma masoquista que se associa a inúmeros sintomas de agressividade. Efetivamente a dúvida obsessiva se presta a ruminações mentais em que não há como decidir entre duas polaridades a partir do modo de organização do erotismo anal de reter e expulsar: matar ou morrer vai se degradar em reter/expulsar. “Essa cidade é muito pequena para nos dois, você deve partir antes do pôr-do-sol ou haverá um duelo”. É o tema preferido dos filmes de cow-boy.

O discurso da universidade às vezes é referido como discurso do obsessivo: a ênfase na erotização do pensamento, o amor pelo racional, S2 que agencia esse discurso esconde sob a barra sua verdade que é a busca de ser Mestre, o saber a serviço da mestria. No nível superior da barra sujeito e Outro, saber e gozo se dialetizam de forma hegeliana para encenar o escravo e o mestre. Rabinovich interpreta a parte superior do matema como o professor universitário colocando os estudantes para trabalhar para ele, o aluno na posição de escravo. O produto desse discurso só poderá ser o sujeito doente, sintomático, o aluno cansado.

A falta de garantias leva ao pânico ou ao complexo de castração? Para Lacan, o complexo de castração é a “mola maior da subversão” operada pela psicanálise e não deve estar ausente de nenhum pensamento contemporâneo sobre o sujeito humano.

 

V – Conclusão

A ética da psicanálise pode guiar o profissional que trabalha com o público de adolescentes que cometeram ato infracional. Para a psicanálise, a operação de separação emocional do sujeito e do Outro se dá quando o sujeito oferece sua própria falta no lugar da falta do Outro. O que quer dizer isso?

Não se trata nem de tampar as faltas, nem de oferecer um Outro consistente, substituindo uma ideologia por outra, uma vez que podemos lembrar aqui que a definição de amor dada por Lacan subverte a noção de caridade: amor é dar o que não se tem.

A escuta psicanalítica abre uma brecha para que os próprios adolescentes, os mais interessados, sejam ouvidos e eles próprios possam vir a criar soluções. O profissional não sabe as respostas de antemão, mas quer estar junto no percurso de construção dessas respostas. Dar voz aos adolescentes parece fazer parte da noção política de protagonismo juvenil ao mesmo tempo em que permite que algo novo surja.

 

Referências

FREUD, S. “Psicologia de grupo e a análise do ego” (1921). in: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1980, p.91-179.        [ Links ]

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ZIZEK, S. Ils ne savent pas ce qu´ils font. Paris : Point hors ligne, 1990.        [ Links ]

 

 

Recebido em: 01/07/2007
Aprovado em: 15/07/2007

 

 

Sobre o autor:
Psicóloga • Psicanalista • Membro do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais – Belo Horizonte, Brasil • DESS pela Unversité de Paris V • AESA pela Unversité de Paris VII • Endereço eletrônico: olakruel@terra.com.br

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