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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versión On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.8 no.1 Juiz de fora jun. 2015

 

ARTIGOS

 

Moralidade: estudo acerca do sentimento de vergonha com estudantes universitários

 

Morality: studying shame in college students

 

 

Mayara Gama de Lima1; Heloisa Moulin de Alencar; Claudia Broetto Rossetti

Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil

 

 


RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo principal investigar o juízo de estudantes universitários acerca do sentimento de vergonha decorrente de uma falta moral. Realizamos a pesquisa com quatro estudantes universitários. Utilizamos o método clínico piagetiano, com uma entrevista de roteiro semiestruturado. No que diz respeito ao juízo dos participantes acerca do sentimento de vergonha, os dados coletados revelam que poucos conteúdos morais são mencionados na definição, nos exemplos e nas justificativas. Nesses três aspectos investigados, no entanto, aparece a categoria juízo e/ou olhares alheios. Destacamos, também, que, na presença de um observador externo, todos os participantes associam o sentimento de vergonha ao protagonista. Esperamos que os dados contribuam para a reflexão teórica acerca da moralidade, que inclui a importância da afetividade para o juízo moral. A partir dos resultados encontrados, pretendemos subsidiar e promover a realização de outros estudos e propiciar discussões sobre o referido tema.

Palavras-chave: Moralidade; Vergonha; Universitários.


ABSTRACT

The current research paper has the main goal of investigating the influence of shame on the mental state of college students arising from a lack of ethics (self-confidence). We conducted the research with four different college students using the piagetian clinical method with semi-structured interview. The collected data sheds light on how the participants feel about shame: they did not mention much moral content in the definition, examples, and justifications given. However, we studied, among three different aspects, the judgment and/or gaze of others. We highlighted the difference made by an external observer, since all participants associate the feeling of shame with the protagonist. We hope that this data contributes to a theoretical reflection on morality, which includes the importance of affectivity for moral judgment. Based on the results found, we hope to promote other studies and discussions about the aforementioned subject.

Keywords: Morality, Shame; College students.


 

 

A presente pesquisa buscou investigar, por meio do juízo de estudantes universitários, o sentimento de vergonha decorrente de uma falta moral, e a possível interferência de um observador externo no sentimento de um protagonista em uma história fictícia.

Compreendemos a vergonha enquanto uma emoção moral, sensível a violação das normas e ligada ao sentido da transgressão da lei, à perda de autoestima e do autorrespeito, ou seja, a honra do sujeito. Diante disso, focamos a nossa investigação sob o aspecto moral da vergonha ligada a honra, uma vez que a vergonha e a honra também podem estar associada à aspectos não morais ou imorais como veremos neste trabalho.

O epistemólogo suíço Jean Piaget foi o pioneiro no estudo da moralidade infantil. Em 1932, lançou o livro O juízo moral na criança, um clássico da Psicologia da Moralidade. Para realizar os estudos publicados nesse livro, Piaget (1932/1994) entrevistou crianças de 5 a 12 anos sobre regras de jogos e dilemas morais, abordando situações habituais como roubo, mentira, punição, responsabilidade, justiça e cola. No caso dos dilemas morais, as crianças respondiam a um inquérito, no qual eram juízas dos casos apresentados. O método empregado permite ter acesso ao pensamento de cada criança, ou seja, ao seu juízo moral em evidência, na ocasião das entrevistas.

Com estes estudos, Piaget (1932/1994) chegou à conclusão de que a evolução da consciência das regras passa por etapas: anomia, heteronomia e a autonomia, ou seja, a criança, ao longo do desenvolvimento moral, passa da anomia para a heteronomia, podendo chegar à autonomia. É importante ressaltar, entretanto, que Piaget destaca que se trata de tendências dominantes, e não de estágios fixos e estanques, e que sempre ocorrem na mesma ordem; ou seja, não é possível que uma criança passe da anomia para a autonomia sem passar pela heteromia.

A anomia é um período em que a criança ainda não entrou no universo moral, não há compreensão das regras (La Taille, 2006; Piaget, 1932/1994). Quando a criança adentra o universo moral e começa a compreender as regras, ela ingressa na heteronomia. Esse momento do desenvolvimento moral é marcado pelo realismo moral e pelo respeito unilateral. De acordo com Piaget (1932/1994), na heteronomia, os deveres são vistos como externos, impostos coercitivamente, e não como obrigações elaboradas pela consciência. O bem é visto como o cumprimento da ordem, o certo é a observância da regra que não pode ser transgredida nem relativizada por interpretações flexíveis. A responsabilidade pelos atos é avaliada de acordo com as consequências objetivas das ações e não pelas intenções; logo, o indivíduo obedece às normas por medo da punição. Nesses casos, na ausência da autoridade, pode ocorrer a desordem, a indisciplina. Na heteronomia, predomina o respeito unilateral e a regra coercitiva, onde a desigualdade entre o adulto e a criança é nitidamente visível como sendo uma relação de dever e obrigação.

Piaget (1932/1994) destaca que, no decorrer do desenvolvimento, a criança pode passar da heteronomia para a autonomia. Nesse momento, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidade e significação. Na ausência da autoridade, o indivíduo continua o mesmo e responsável. A responsabilidade pelos atos, nesses casos, é proporcional à intenção, e não apenas pelas consequências do ato. Caracteriza-se pela colaboração social, em que o respeito mútuo é fator preponderante e proporciona sentimentos de responsabilidades. Deve-se obedecer porque a regra é boa, caso contrário, a desobediência é legítima (La Taille, 2006; Piaget, 1932/1994).

Tendo em vista o que foi explicitado até aqui acerca do desenvolvimento moral, destacamos a importância de explicar dois importantes conceitos para a área da moralidade, a saber, os conceitos de moral e ética. Para tanto, retomaremos autores da Psicologia da Moralidade e discutiremos estes termos. Embora muitas vezes sejam adotados como sinônimos, compreendemos que os tais possuem definições distintas, conforme assumem Comte-Sponville (1995), La Taille (2006), Ricoeur (1991) e Tugendhat (1996). Nessa perspectiva, a moral é compreendida por um conjunto de deveres, princípios e regras que devem ser obrigatoriamente observados, ou seja, o que é bom ou mau, certo ou errado numa cultura. Para Piaget (1932/1994), "toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras" (p.23).

Portanto, "falar em moral é falar em deveres, e falar em ética é falar em busca de uma 'vida boa', ou se quiserem, de uma vida que 'vale a pena ser vivida'" (La Taille, 2006, p.30). E o que vem a ser ética? Adotaremos a posição de La Taille, que reserva a palavra ética para as questões ligadas aos temas da "vida boa" e das virtudes, ou seja, uma autoelevação por meio do cultivo das virtudes, que corresponderia, assim, à pergunta: "que vida eu quero viver?" (p.29). Desse modo, falar em ética é se referir a uma reflexão sobre a ação moral. Logo, é "a perspectiva da 'vida boa' com e para o outros nas instituições justas" (Ricoeur, 1991, p.202).

Tendo em vista a distinção entre os termos moral e ética, La Taille (2006, 2010) propõe uma análise mais profunda nessas esferas, distinguindo o que ele chamou de "plano moral" e "plano ético". O plano moral diz respeito à dimensão intelectual, ao saber fazer moral, e o plano ético se refere à dimensão afetiva, ao querer fazer moral. Este autor aponta que o sentimento de obrigatoriedade marca o plano moral, ao passo que a busca da expansão de si marca o plano ético.

E o que seriam esses valores? Tudo pode se tornar valor, uma vez que tudo é passível de investimento afetivo. Para La Taille (2001), três são os tipos de valores que podem compor as representações de si, a saber: os que possuem relação com a moral, os que não possuem relação e os que são contrários à moral. As virtudes são os nossos valores morais (Comte-Sponville, 2009; La Taille, 2000a, 2001). Segundo La Taille (2002b), a personalidade humana corresponde a um conjunto de representações de si, que são os conceitos que cada um tem de si mesmo, os quais remetem a valores. De fato, temos a autoestima quando os valores associados às representações de si forem estranhos ou contrários à moral, e teremos honra ou autorrespeito quando esses valores forem morais. O autorrespeito corresponde à força motivacional que leva a pessoa a agir e a pensar moralmente. Desse modo, adotamos a perspectiva de La Taille (2002a, 2006) de que o autorrespeito é o sentimento que une os planos moral e ético, e que, portanto, são complementares.

Destacamos, aqui, a importância da dimensão afetiva para o estudo da moralidade, uma vez que as diversas formas de "vida boa" implicam um amplo leque de investimentos afetivos, e que o vínculo entre moral e ética se encontra na dimensão afetiva, no conceito de autorrespeito-honra (La Taille, 2006). Aqui se destaca a importância do sentimento de vergonha para a construção do autorrespeito. La Taille (2002b, 2006) elege o sentimento de vergonha enquanto um sentimento importante experimentado tanto no plano moral quanto no ético, responsável, portanto, pelo autorrespeito.

Na psicologia, o estudo do sentimento de vergonha vem sendo realizado atrelado ao sentimento de culpa. Embora, muitas vezes, sejam vividas pelos sujeitos de forma associada, são sentimentos de natureza distinta e não devem ser confundidos (La Taille, 2002a, 2002b, 2006). Uma diferença entre os sentimentos de culpa e de vergonha diz respeito ao lugar do outro em ambos. Na culpa, o lugar de outrem é o de objeto da ação, ao passo que na vergonha é o de juiz, é o olhar do outro que instaura inicialmente a vergonha. La Taille (2006) destaca que o sentimento de culpa incide sobre a ação, e a vergonha, sobre o ser: "sente-se culpa do que se fez, não do que se é. (...) com a vergonha é diferente: sente-se vergonha do que se é." (p. 134, grifos do autor). Ou seja, a vergonha age sobre o eu, o conjunto de representações de si (identidade). Isto posto, entendemos por vergonha o "desconforto psíquico, às vezes até insuportável, decorrente de dois tipos de situação – a exposição e o juízo negativo" (La Taille, 2007, p. 24). Na primeira, exposição, a pessoapode experimentar a vergonha pelo simples fato de se estar exposta ao olhar alheio (por exemplo, falar em público). Por outro lado, pode-se sentir vergonha quanto ocorre um juízo negativo: por exemplo, vergonha de se achar feio, de ter cometido um gafe, de fracassar em alguma atividade etc.

Vejamos as definições de vergonha, segundo o Dicionário Aurélio: 1) vergonha humilhante, opróbrio, ignomínia; 2) sentimento penoso de desonra, humilhação ou rebaixamento diante de outrem; 3) sentimento de insegurança provocada pelo medo do ridículo, por escrúpulos, etc., timidez, acanhamento; 4) sentimento da própria dignidade, brio, honra (Ferreira, 2010). Elegeremos, dessa definição, duas palavras que se relacionam com a vergonha: humilhação e honra. Escolhemos essas associações, pois alguns autores, em suas pesquisas, destacam que a vergonha, frequentemente, está associada a esses termos (Alencar & La Taille, 2007; Andrade & Alencar, 2010; Araújo, 1998, 1999, 2001; Borges & Alencar, 2006; La Taille, Maiorino, Storto & Roos, 1992; La Taille, 1996, 2000b, 2002a, 2002b, 2006, 2007).

Comecemos pela associação da vergonha com a humilhação. Essa associação encontra-se no sentido do rebaixamento, inferioridade. A humilhação refere-se ao fato de ser rebaixado por alguém, inferiorizado, e, sem dúvida, esse acontecimento pode causar um sentimento penoso, que também pode ser chamado de vergonha (La Taille, 2002a, 2002b). O que há de comum em ambos os sentimentos é o fato de o sujeito se sentir inferiorizado. Na vergonha, entretanto, compartilha-se a imagem negativa imposta, ao passo que na humilhação ela pode não ser aceita, e, se for aceita, teremos os sentimentos de humilhação e de vergonha juntos (Alencar & La Taille, 2007).

Além da humilhação, o sentimento de vergonha está associado a outro constructo; a honra. De acordo com La Taille (2002a), além de a honra e a vergonha serem sentimentos muito próximos, eles são, em parte, complementares. De fato, cumpre notar que a capacidade de sentir vergonha moral corresponde ao conceito moral clássico, ou seja, a honra (La Taille 2007). Adotaremos, aqui, a definição de honra proposta por Pitt-Rivers (1965),

honra é o valor que uma pessoa tem aos próprios olhos mas também aos olhos da sociedade. É sua apreciação de quanto vale, da sua pretensão ao orgulho, mas é também o reconhecimento dessa pretensão, a admissão pela sociedade da sua excelência, do seu direito ao orgulho (p.13).

A honra-virtude não se trata aqui daquele sentimento que leva o sujeito a agir "pela honra", por exemplo, reagir a um insulto por meio da violência, sem dar chances ao outro de se defender, mas aquele que leva ao sujeito a agir "com honra", ou seja, o indivíduo age em nome de um ideal moral do qual se considera representante (La Taille, 2002a, 2002b, 2006).

Araújo (1998, 1999, 2001), outro autor que estudou esse tema, destaca a importância do sentimento de vergonha para a constituição do self. A vergonha está associada a uma "autorreflexão baseada em valores pessoais e no de outras pessoas, e o fracasso em atingi-los levará o sujeito a um estado que poderá fazê-lo experienciar ou não o sentimento, dependendo da objetivação de sua reflexão" (Araújo, 2001, p.3).

Dado o exposto, a vergonha instaura-se a partir do sentimento de inferioridade e exposição. Além desses sentimentos, outros fatores importantes devem ser considerados para que a vergonha seja experimentada: ela pode ser retrospectiva (o sujeito pode sentir vergonha por anteceder uma situação na qual os valores da representação de si estão em conflito) ou prospectiva (o sujeito sente vergonha por uma situação já passada) e pode incidir sobre valores morais, amorais e imorais.

Para melhor compreender as ideias acima apresentadas é importante saber que o sentimento de vergonha incide sobre o eu, ou seja, as representações que o sujeito tem de si. E que essas representações são sempre valores. As representações de si estão, na sua gênese, vinculadas aos juízos alheios, porém tal vínculo não pressupõe uma total dependência a esses juízos. La Taille (2006) aponta que o juízo negativo de outrem apenas resulta em vergonha se o envergonhado assumir esse juízo para si; logo, pressupõe um autojuízo negativo.

Harkot-De-La-Taille (1999) lista cinco situações em que o sujeito pode sentir vergonha: 1) estar em evidência: falar em público, chegar cedo demais a uma comemoração; 2) expor sua condição: diferente, pobre, doente, ignorante; 3) ficar impotente: vítima de riso, roubo, traição, tortura; 4) fracassar: ser demitido, reprovado num exame, sofrer o rompimento de uma relação amorosa, e; 5) cometer uma falta moral: crime, maldade, omissão de socorro, omissão ou mentira por silêncio.

A partir desses conteúdos, verifica-se que o sentimento de vergonha pode estar relacionado a ações que envolvam: a exposição pura ao olhar dos outros (vergonha de exposição); algum estado da pessoa com relação à sua origem, à sua situação social, familiar, etc. (vergonha de condição); fracassos nos mais variados projetos (vergonha de fracasso); vergonha atribuída a outro (vergonha de contágio); e vinculada às normas morais, no caso de uma falta moral (vergonha moral) (Alencar & La Taille, 2007; La Taille, 2002b).

Todo envergonhado por falta moral atribui a si mesmo algum tipo de responsabilidade, seja esta objetiva ou decorrente de ignorância, ou de ingenuidade inadmissíveis sobre o motivo que o leva a ter vergonha (Harkot-De-La-Taille, 1999; Araújo, 1998, 1999). Sendo assim, a vergonha moral pode ser um sentimento eficaz para deter ação contrária à moral, isto é, pode exercer um papel regulador entre a ação e o juízo.

Schimith (2013), em sua dissertação de mestrado, realizou um estudo empírico, de natureza qualitativa e exploratória, envolvendo 15 participantes do sexo masculino, com idade entre 25 e 30 anos, e com escolaridade de nível superior completo. O objetivo foi investigar o sentimento de vergonha e a sua relação com a moralidade. Para tanto, foram apresentadas aos participantes duas histórias fictícias; a primeira história traz uma situação de transgressão moral e a segunda, uma situação de exposição. Os resultados revelam que os participantes apresentam o sentimento de vergonha não ante a situação imoral, mas ante a situação de exposição, e a concepção desse sentimento está ligada, principalmente, à exposição e ao juízo do próprio sujeito e/ou de outrem.

Araújo (1998), em sua tese de doutorado, já havia destacado que, em situações de conflito moral, quando questionados sobre o que o protagonista da história sentiria, apenas 12 sujeitos de 16 anos, de uma amostra de 60, mencionaram, de maneira espontânea, o sentimento de vergonha.

Dado o exposto, vejamos, então, o método utilizado nesta pesquisa, os resultados e a discussão que suscitaram, bem como as considerações finais sobre o presente estudo.

 

Método

Participantes

Quatro estudantes universitários matriculados em cursos de graduação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), igualmente divididos quanto ao sexo. Os estudantes foram escolhidos de modo aleatório no campus da universidade.

Instrumento e Procedimentos

O instrumento utilizado para essa etapa foi uma entrevista individual semiestruturada tendo como base o método clínico piagetiano (Delval, 2002; Piaget, 1932/1994, 1926/2005). O roteiro de entrevista possui uma versão masculina (Marcelo) e uma feminina (Marcela), e, está dividido em duas partes, conforme apresentado no Quadro 1.

Ressaltamos que seguimos os padrões éticos Resolução Nº 466/2012 do Ministério da Saúde - MS (Brasil, 2012). O anonimato dos entrevistados será garantido, utilizando nomes fictícios para a divulgação dos dados.

Utilizamos, nas entrevistas, o método clínico proposto por Piaget (1932/1994, 1926/2005). O método clínico é um conjunto de procedimentos, tanto para coleta quanto para análise de dados, que visa a investigar como pensam os participantes acerca de algum fenômeno. De acordo com Delval (2002, p 12), esse método tem como base a "intervenção sistemática do pesquisador". Ao longo da entrevista, o método clínico permite acompanhar o percurso do pensamento do participante no decorrer do protocolo de perguntas e dos possíveis casos narrados.

 

Tratamento e análise dos dados

Uma vez realizada a transcrição dos dados, realizamos uma leitura minuciosa de todos os protocolos de entrevistas, elaboramos as categorias detalhadas, com base na teoria piagetiana e na sistematização proposta por Delval (2002).

Dado o exposto, segue a apresentação dos resultados e discussão.

 

Resultados

No que diz respeito ao conceito de vergonha, no total de 19 respostas, encontramos as seguintes categorias que indicam que esse sentimento está relacionado a sensações físicas (n=7)2, constrangimento (n=6), juízo e/ou olhares alheios (n=4) e a humilhação (n=2).

Vejamos os exemplos e definições de cada categoria. A primeira categoria de definição aponta para a dimensão física da vergonha, as sensações físicas, como na fala da participante Ediléia: "Vergonha, para mim, é um sentimento que, em mim, me toma o corpo todo. Quando [...] eu fico envergonhada, eu sinto minhas bochechas queimarem, eu sinto um frio na barriga muito grande [...]". Na segunda categoria, constrangimento, a vergonha está relacionada ao constrangimento, ao fato de se sentir mal em alguma situação; por exemplo, "Ah para mim vergonha é quando você não se sente bem em alguma situação [...] você não se sentir à vontade, você ter a consciência pesada em alguma situação constrangedora, é isso!" (Sandra). Vejamos agora a categoria juízo e/ou olhares alheios, os participantes definem o sentimento relacionando-o com o olhar de outrem; exemplo: "Ficar sob olhares e tal [...] a definição que eu tenho de vergonha está relacionada ao que as pessoas pensam de você." (Eduardo). Temos ainda a categoria que relaciona o sentimento de vergonha à humilhação, como em "eu me sinto humilhada" (Ediléia).

Sobre as situações que desencadeiam a vergonha, os participantes apresentaram um total de 19 exemplos, reunidos nas seguintes categorias de respostas: estar exposto ao olhar do outro (n=6); decepcionar/ desapontar alguém (n=3); ser recriminado (n=3); ser humilhado (n=2) e outros (n=5). Essas últimas respostas apareceram somente uma vez com os seguintes conteúdos: desvalorização das condições de vida, preconceito, fracasso, vergonha por perdoar uma traição e vergonha por contágio. As justificativas (n=31) para os exemplos foram reunidas nas seguintes categorias: juízo e/ou olhar alheio (n=6), injustiça (n=5), consequência dos atos (n=5), valores pessoais (n=3), educação familiar (n=3), culpa (n=3), sentimento envolvido (n=2) e outros (n=4). Reunimos na última categoria as repostas que apareceram apenas uma vez, que são referentes aos seguintes conteúdos: cultura, características pessoais, inato, rebaixamento próprio.

A categoria com maior número de resposta, juízo e/ou olhar alheio, indica para a presença do olhar do outro como justificativa para desencadear a vergonha. A segunda categoria injustiça, seguida por consequências dos atos, com o mesmo número de respostas. Na primeira, aparecem justificativas que indicam que agir com injustiça causa vergonha. A segunda justifica a vergonha devido às consequências dos atos, ou seja, sentem vergonha em determinada situação por causa das consequências.

Nas categorias valores pessoais e educação familiar, temos justificativas que apontam para a educação e para o caráter. Sandra apresenta uma justificativa com os dois conteúdos de respostas,

"Porque eu não aceito isso. É como se fosse parte do meu caráter, eu acho. Eu não fui criada para uma situação dessas, eu não aceito, ou talvez eu estou aceitando e isso para mim está difícil. Acho que seria isso o porquê. Porque é uma questão de caráter dos seus conceitos, dos seus valores."

Passemos, pois, à descrição da representação do sentimento de vergonha na história apresentada. Quando questionados sobre o que Marcelo/Marcela sentiu após ter agredido o (a) professor (a), os participantes citaram espontaneamente: vergonha (n=2), alívio (n=2), medo (n=2) e outros (n=3). Quando direcionamos a pergunta para o sentimento de vergonha, um participante apontou que Marcelo/Marcela sentiu vergonha, dois consideraram que não sentiu vergonha e um disse que dependeria do caráter dele (a), isto é, se tivesse bom caráter, sentiria vergonha; se não tivesse, não sentiria. Como mostram os exemplos: "Ah se Marcelo tivesse boa índole sentiria vergonha, sentiria muita vergonha" (Eduardo), e, "Não, não acho que ela sentiu vergonha" (Sandra).

As justificativas para a categoria sentiu vergonha indicam que Marcelo/Marcela sentiu vergonha porque: a emoção sobrepujou a razão (n=2), a reação foi na forma de agressão (n=2) e rebaixou a si mesmo (n=1). Exemplos: "Pela questão da agressão. Eu acho que você não... se você for intimidado de alguma forma tem outros jeitos de você reagir" (Ediléia), e, "E a pessoa de boa índole vai sentir vergonha sim, porque ele deixou no caso ali a emoção passar sob a razão" (Eduardo). Para a categoria não sentiu vergonha, apontam que Marcelo/Marcela não sentiu vergonha porque: a reação é a uma ofensa (n=2) e a ação está correta (n=1). Como no exemplo: "Mesmo sendo uma coisa pesada de se fazer não sentiria vergonha, assim como o professor... teve coragem de falar aquilo com ele sendo uma atitude ruim, ele retribuiu na mesma moeda" (Saulo).

Prosseguindo nos dados, apresentamos aos participantes uma nova informação: a de que Marcelo/Marcela foi visto por outra pessoa agredindo o (a) professor (a), e questionamos o que Marcelo/Marcela sentiria, então. Todos os participantes responderam que o(a) protagonista da história sentiria vergonha (n=4). As justificativas apontam para: a ação pode ser divulgada (n=3), o juízo alheio (n=2) e outros (n=4). Vejamos alguns exemplos: "tem a questão de que outros estão vendo essa ação e aí depois vão começar a falar" (Ediléia), e, "pelo fato de que ele não sabe o que essa pessoa vai pensar, se a pessoa sabe sobre a situação" (Saulo).

No caso de esse observador ser um professor, os universitários apontaram que Marcelo/Marcela sentiria vergonha (n=3), arrependimento (n=1) e preocupação com a má impressão que ele passou (n=1). As justificativas foram: má reputação (n=4), envolvimento de professores (n=2), emoção sobrepujou a razão (n=2), inimizade com o observador (n=1). Seguem alguns exemplos: "porque fazendo isso, mesmo que o professor soubesse até da situação, dá a entender que Marcelo não respeita um pouco... não respeita os professores" (Saulo), e, "pela pessoa que ela agrediu ser uma professora" (Sandra).

Se o observador for um colega de classe, encontramos apenas a categoria de vergonha (n=4) com as seguintes justificativas: juízo alheio (n=4), envolvimento de alunos (n=1), ausência de represália (n=1) e olhar alheio (n=1). Se for um amigo, obtivemos 5 respostas reunidas nas seguintes categorias; vergonha (n=4) e nada/nenhum sentimento (n=1). As justificativas foram agrupadas nas seguintes categorias: cumplicidade com o amigo (n=2), ação incorreta (n=1) e decepção do amigo (n=1), e um participante não justificou a resposta.

Por último, questionamos se esse observador fosse um inimigo/pessoa de que Marcelo/Marcela não gosta. Os universitários responderam que Marcelo/Marcela: não iria se importar (n=2), sentiria medo/receio (n=2), se sentiria feliz (n=2) e sentiria vergonha (n=1). As justificativas foram agrupadas nas seguintes categorias: o prejuízo que o inimigo pode causar (n=3), o fato de não mudar nada (n=3), a demonstração de força do agressor (n=1) e a má relação de ambos (n=1). Vejamos alguns exemplos: "que essa inimiga poderia... já que é inimiga, ela pode usar a cena contra ela para poder prejudicar de alguma forma" (Ediléia), "se é inimigo... não tem nada a perder mesmo, não é?" (Eduardo), e, "porque mostrando para ele que Marcelo não vai ficar aguentando nada assim, não é uma pessoa que fica apática frente às situações" (Saulo).

Temos que, nessa situação, apenas uma resposta atribui o sentimento de vergonha ao participante, quando na presença de um observador que é inimigo. A maior parte das respostas diz respeito ao medo, ao não se importar e aparece menção ao sentimento de felicidade. Uma vez que não se tem uma boa relação com essa pessoa, ou seja, não a legitima enquanto juiz, então não se sente vergonha. Ao invés disso, esse observador é visto como uma ameaça, e a ação pode ser vista, ainda, como uma demonstração de força.

 

Discussão

Chegamos, pois ao capitulo de discussão, no qual discorreremos sobre os principais resultados e discussões que encontramos acerca dos dados apresentados anteriormente. O objetivo norteador deste trabalho foi, em linhas gerais, investigar por meio de um estudo descritivo, o juízo dos estudantes universitários sobre o sentimento de vergonha. Para tanto, organizamos a discussão dos dados de acordo com os seguintes conteúdos: as definições de vergonha - juízo ligado à dimensão física do sentimento, a humilhação, ao juízo e/ou olhar alheio, e a educação e caráter pessoal; a falta moral ligada à honra; e o vínculo com um possível observador externo.

No que concerne à definição de vergonha, observamos que as reações fisiológicas, causadas pela vergonha, são a principal evidência desse sentimento, pois se trata da forma de reconhecimento público do sentimento. A dimensão física da vergonha já havia sido destacada por Pitt-Rivers (1965) e pelo biólogo Darwin ainda no século XIX. Nas palavras deste autor, "o enrubescer é a mais especial e a mais humana de todas as emoções" (Darwin, 1872/1981, p.332). Sendo assim, a identificação da vergonha parece estar ligada às transformações que ela produz no corpo do sujeito. A vergonha é sentida não só como sentimento (afeto), mas como um estado do corpo (sensações). O reconhecimento da vergonha enquanto constrangimento foi outra categoria de destaque na definição do sentimento. Além das sensações físicas que desencadeia no corpo, o sentimento, também é reconhecido pelo desconforto psíquico, ao não se sentir bem diante de determinada situação.

No que tange à humilhação, este conteúdo aparece na definição de vergonha e também na pergunta "o que faz você sentir vergonha?", com respostas que ressaltam as cenas de ser humilhado, e nas justificativas para esta pergunta quando o participante explica o motivo da vergonha por meio da menção ao rebaixamento próprio. De fato o sentimento de inferioridade e rebaixamento irão aparecer na configuração da vergonha. A vergonha muitas vezes pode estar vinculada à humilhação, sendo que consequências psíquicas danosas podem resultar dessa relação. Nas situações que despertam vergonha vinculada à humilhação, o sujeito se sente humilhado por outro que ele legítima.

Outro dado de destaque são os que relacionam a vergonha ao juízo e/ou olhar alheio. Este conteúdo aparece nas definições do sentimento, nos exemplos de situação que desencadeia a vergonha e nas justificativas para este exemplo. Estes dados confirmam que o simples fato de ser olhado desperta vergonha, ao se perceber que é objeto para o outro e que este outro o julga. Ocupar esse lugar em que se é objeto para o outro é a principal justificativa para sentir vergonha, pois, como afirma La Taille (2002b), na vergonha, o lugar do outro é o de juiz, é o olhar do outro que, inicialmente, instaura a vergonha. Aqui a exposição e o juízo negativo aparecem associados no conceito de vergonha e nas justificativas dos exemplos, ambos corroborando para o sentimento.

Por fim, neste conteúdo, o juízo ligado à educação e ao caráter pessoal. Nas categorias de justificativas para que determinada situação desencadeie a vergonha temos conteúdos que apontam para a educação, o caráter, a possível perda de valor pessoal e a consequência do ato. Para que uma pessoa seja feliz, ela, necessariamente, tem que julgar-se uma pessoa de valor. Isso só é possível quando as atitudes da pessoa são condizentes com a "boa imagem" que ela tem de si mesma. Por outro lado, quando o sujeito não mantém essa coerência entre as atitudes e a "boa imagem", pode surgir o sentimento de vergonha. Dessa forma, "trata-se do sentimento de perda de valor pessoal" (La Taille, 2009, p. 14). Os argumentos anteriormente mencionados justificam a vergonha, devido a perda de valores, que, para os respondentes, são centrais, ou a educação recebida da família, que priorizam certas condutas, criando a "boa imagem", e, no caso de incoerência com esta, surge à vergonha.

Quanto ao conteúdo da história analisada, a falta moral ligada à honra. Vemos que a honra é o valor moral em nome da qual o indivíduo procura defender-se das humilhações alheias. Isto posto, podemos dizer que o protagonista da história apresentada reagiu em defesa de sua honra, mas reagiu "pela honra" e não "com honra" (La Taille, 2002a,2002b, 2006).

Os participantes que atribuem o sentimento de vergonha a quem agiu pela honra justificam com os conteúdos de perda da razão e reação errada, a uma perda da razão em detrimento da emoção e a possibilidade de uma má reputação devido ao ato. Esses conteúdos corroboram a afirmação de que a pessoa honrada sentiria vergonha se agisse em nome da honra, ao invés de agir com honra.

A razão aparece em dois argumentos diferentes, quando faz alusão a uma perda e quando é sobrepujada pela emoção. De fato a razão, no senso comum, são atribuídas as escolhas sensatas, as "boas escolhas", e as emoções são atribuídas as escolhas precipitadas e mal feitas. É comum ouvirmos a aparente dicotomia dos termos afeto e cognição. Por exemplo, quem nunca ouviu a frase, "Pensa com a cabeça não com o coração". Essa frase marca a máxima de que as emoções seriam desconhecidas pela razão confirmando o que Pascal disse: "O coração tem razões que a própria razão desconhece" (Souza, 2011). Esse paradigma cartesiano clássico, cuja essência é a divisão secular entre mente e corpo, razão e coração foi a muito adotado pela psicologia. Entretanto, a psicologia já vem buscando abordagem mais amplas de modo à considerar o sujeito como um todo integrado e dinâmico (Souza, 2011). Contudo, os dados aqui encontrados ressaltam que para os participantes parece haver essa dicotomia e que a vitória da emoção sobre a razão, acarretaria em um prejuízo.

Outro argumento, que justifica porque o protagonista deve sentir vergonha, aponta para o perigo de se suscitar uma má reputação devido o ato, e por isso o protagonista deve sentir vergonha. A reputação diz respeito a uma construção social que deriva de juízos alheios que busca estabelecer a estima que alguém possui. Desse modo podemos constar que a reputação está fortemente ligada à honra e no caso de uma possível corrupção desta se esta passível ao sentimento de vergonha devido ao juízo alheio.

Por fim, os participantes que disseram que o protagonista não deveria sentir vergonha, apresentam justificativas que remetem para a legitimidade da reação, uma vez que houve a humilhação. Ou seja, uma vez ocorrida a humilhação, o indivíduo está legitimado a reagir, e, portanto, sua reação é vista como correta.

No que concerne ao vínculo com um possível observador externo e a presença deste na cena fictícia apresentada. Os dados encontrados corroboram a analise apresentada no começo desta discussão: a de que o olhar e o juízo alheio desempenham um papel importante na experiência do sentimento de vergonha. Em quatro casos de observador externo (outra pessoa, um professor, uma amigo e um colega de classe) os participantes mencionaram que o (a) protagonista sentiria vergonha. Nas justificativas há menção a possibilidade de o fato ser divulgado, ao prejuízo que se pode ter na própria reputação e o fato de haver um julgamento por parte desse observador. De fato o que se tem é que o lugar do outro no sentimento de vergonha, é o de juiz.

Araújo (1998), em sua tese, investigou se o sentimento de vergonha moral é influenciado pela presença ou não de um observador externo. Assim como encontrado em nossa pesquisa, os dados de Araújo mostram que a ação que contraria valores morais com a presença de um observador externo é a situação mais eliciadora do sentimento de vergonha.

No que tange a presença do observador, investigamos também o vínculo existente entre este e o protagonista. A influência do tipo de vínculo (amigo, inimigo, desconhecido) já foi confirmada em relação a virtudes como generosidade (Vale & Alencar, 2009) e o amor (Alves & Alencar, 2011). Portanto buscamos investigar se o vínculo com um observador interfere também no sentimento de vergonha. De fato, os dados apontam que havendo um vínculo (professor, colega de classe ou amigo), ou em ausência dele o sujeito sentira vergonha. Assim, a presença do observador por si só parece desencadear ou potencializar a vergonha. Mas, no caso de uma inimizade com o observador (inimigo), não ouve menção a vergonha, uma vez que esta pessoa não ocupa um lugar legítimo de juiz para o sujeito.

Vejamos agora as considerações finais desse trabalho.

 

Considerações finais

Por meio da análise dos dados, averiguamos que, no que diz respeito ao juízo dos participantes acerca do sentimento de vergonha, poucos conteúdos morais foram mencionados. Não obstante, o conteúdo que remete ao juízo alheio e aos olhares alheios (exposição) aparece ao longo da análise dos dados, nas explicações do conceito, nos exemplos e nas justificativas; ao analisar a história de falta moral nas justificativas que apontam para o perigo da má reputação, para o protagonista diante de uma agressão ao professor; e nos dados que indicam que o protagonista deveria sentir vergonha diante de um observador externo. Os resultados alcançados na dissertação de mestrado de Schimith (2013) revelam que os participantes apresentam o sentimento de vergonha não ante a situação imoral, mas ante a situação de exposição, e que a concepção desse sentimento está ligada, principalmente, à exposição e ao juízo do próprio sujeito e/ou de terceiros, e os dados aqui encontrados parecem também corroborar com esta análise.

Assim, a concepção de vergonha e as situações que a disparam aparecem, em nossos resultados, predominantemente ligadas ao juízo e aos olhares alheios. Nesse caso, estaria diminuindo o sentimento de vergonha decorrente de uma falta moral? Diante disso, propomo-nos, aqui, estudar um pouco acerca do sentimento de vergonha moral. Por isso, elegemos o conteúdo de honra. Obtivemos que apenas dois participantes associam o sentimento de vergonha a alguém que reage a uma humilhação por meio de uma agressão, ou seja, age "pela honra". As justificativas para os que responderam que não haveria vergonha indicam que a ofensa legitima a reação.

Dado o exposto, os resultados apontam que a vergonha acontece, principalmente, em situação de exposição, que está fortemente ligada ao juízo de quem que observa (o que é confirmado quando acrescentamos à história a presença de um observador externo: todos os participantes apontam a vergonha na presença de um observador). Constatamos, ainda, que o vínculo com o observador e a hierarquia em relação a ele também influenciam nesse sentimento, mas não pudemos, entretanto, mensurá-la neste estudo (algo a que propomos investigar em uma nova pesquisa).

Diante do que foi exposto, ressaltamos a importância do sentimento de vergonha para a Moralidade e a relevância de estudos que explorem sua relação com a humilhação e a honra, e também com a falta moral. Esperamos, com os dados do presente estudo, contribuir para a reflexão teórica acerca da moralidade, que inclui a importância da afetividade para o juízo moral. Assim, a partir dos resultados encontrados, pretendemos subsidiar e promover a realização de outros estudos e propiciar mais discussões sobre o referido tema.

 

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Recebido em: 16/12/2014
Aceito em: 20/02/2015

 

 

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