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Revista Psicologia Organizações e Trabalho
versión On-line ISSN 1984-6657
Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.17 no.2 Brasília Apr.-Jun. 2017
https://doi.org/10.17652/rpot/2017.2.12796
Síndrome de burnout: análise da literatura nacional entre 2006 e 2015
Burnout syndrome: analysis of national literature between 2006 and 2015
Síndrome de burnout: análisis de la literatura nacional entre 2006 y 2015
Hugo Ferrari CardosoI; Makilim Nunes BaptistaII; Denise Francioni Amorim de SousaI; Edward Goulart JúniorI
IUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Bauru, SP, Brasil
IIUniversidade São Francisco, Campinas, SP, Brasil
RESUMO
As pesquisas sobre a síndrome de burnout tiveram seu início no Brasil em meados da década de 1970. Este estudo teve por objetivo investigar a literatura científica de artigos empíricos sobre burnout publicados em duas bases de dados nacionais (SciELO e PePSIC) entre os anos de 2006 e 2015. Foram analisados 141 artigos científicos e, dos principais resultados, constatou-se variabilidade no que tange ao número amostral investigado nos artigos. A fase do desenvolvimento humano mais investigada foi de adultos jovens, e o instrumento mais utilizado para a avaliação da síndrome foi o Maslach Burnout Inventory (MBI). Os resultados são comparados com estudos nacionais que também tiveram como objetivo avaliar a literatura em períodos diferentes, utilizando indicadores similares e/ou diferentes dos aqui avaliados. Além disso, as limitações são apontadas ao final da discussão.
Palavras-chave: revisão de literatura; burnout; Brasil.
ABSTRACT
Research on burnout syndrome had its start in Brazil in the mid-1970s. This study aimed to investigate the scientific literature of empirical articles on burnout published in two national databases (SciELO and PePSIC) between the years 2006 and 2015. We analyzed 141 scientific articles, and among the main results, variability was found in relation to the sample size investigated in the articles. The phase of human development most investigated was for young adults, with the Maslach Burnout Inventory (MBI) being the instrument most frequently used to assess burnout. The results are compared with national studies that were also conducted to evaluate the literature in different periods, using similar and /or different indicators from those evaluated here. In addition, some limitations are indicated at the end of the discussion.
Keywords: literature review; burnout; Brazil.
RESUMEN
La investigación sobre el síndrome de burnout tiene su inicio en Brasil a mediados del 1970. Este estudio tuvo como objetivo investigar la literatura científica de los artículos empíricos sobre el burnout, publicados en dos bases de datos nacionales (SciELO y PePSIC), entre los años 2006 y 2015. Se analizaron 141 artículos científicos y, uno de los principales resultados, consiste en el hallazgo de la variabilidad en relación con el tamaño de la muestra investigada en los artículos. La fase de desarrollo humano más investigada fue de adultos jóvenes, y el instrumento más utilizado para la evaluación del síndrome fue el Maslach Burnout Inventory (MBI). Los resultados son comparados con estudios nacionales que también tuvieron como objetivo el evaluar la literatura en diferentes periodos, utilizando indicadores similares y/o diferentes de los que aquí se evalúan. Además de eso, las limitaciones se señalan al final de la discusión.
Palabras-clave: revisión de la literatura; burnout; Brasil.
O gradativo aumento das doenças ocupacionais pode estar relacionado, entre outros aspectos, ao acentuado ritmo de trabalho e à intensificação do que é exigido ao trabalhador na execução de suas funções laborais (Silva, 2013). Para Zanelli (2010), diversos são os fatores que tendem a colocar o trabalhador em situações de vulnerabilidade, como, por exemplo, a sobrecarga de trabalho, metas inatingíveis, condições de trabalho inadequadas, baixo reconhecimento profissional, cobranças por produtividade, conflitos interpessoais ou medo de perder o emprego.
Uma doença ocupacional reconhecida pela previdência social no ano de 1999 é a síndrome de burnout (Benevides-Pereira, 2003; Decreto 3.048/1999). O Ministério da Saúde (2002) define a síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, como um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no ambiente de trabalho e a incluiu na relação de doenças ocupacionais, classificando-a como um transtorno mental e do comportamento relacionado ao trabalho, por meio do Código Internacional de Doenças, código Z73.0 (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2000).
Atualmente, a definição da síndrome mais aceita é embasada na perspectiva sociopsicológica, a qual se enquadra na teoria proposta por Maslach e colaboradores (Maslach & Jackson, 1981; Maslach & Leiter, 1997; Maslach, Schaufeli, & Leiter, 2001). A síndrome de burnout pode ser considerada uma resposta crônica aos estressores interpessoais advindos da situação laboral, uma vez que o ambiente de trabalho e sua organização podem ser responsáveis pelo sofrimento e desgaste que acometem os trabalhadores. Nessa mesma direção, o burnout é constituído por três dimensões, que são exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho (Maslach & Jackson, 1981).
Os autores discorrem que a exaustão emocional ocorre na medida em que há a carência de energia, entusiasmo e o sentimento de que os indivíduos já não têm mais condições de enfrentar os estressores aos quais estão submetidos no trabalho. O segundo fator do burnout, a despersonalização, diz respeito ao distanciamento afetivo e pessoal promovido pelo indivíduo, podendo ser constatado por meio de comportamentos e atitudes negativas, cinismo e indiferença do indivíduo em relação a clientes e ao ambiente laboral. Por fim, a diminuição da realização profissional está atrelada ao fato de que o sujeito, geralmente influenciado pela exaustão emocional e despersonalização, faz uma autoavaliação em que tende a perceber diversos aspectos negativos sobre a sua vida profissional (Maslach & Jackson, 1981; Maslach & Leiter, 1997; Maslach et al., 2001).
Os sintomas do burnout podem ser de cunho psicossomático, psicológico e comportamental e geralmente produzem consequências negativas nos níveis individual, profissional e social (Zanatta & Lucca, 2015). Em geral, os indivíduos apresentam-se emocional e fisicamente exaustos, estão frequentemente irritados, ansiosos ou tristes. Além disso, as frustrações emocionais podem desencadear úlceras, insônia, dores de cabeça e hipertensão, além de abuso no uso do álcool e medicamentos, promovendo problemas familiares e conflitos sociais (Carlotto, 2002). Entre as consequências para as instituições, destacam-se elevado índice de absenteísmo, acidentes de trabalho, licença saúde, diminuição da qualidade de vida no trabalho e aumento de conflitos interpessoais.
A síndrome pode afetar diferentes profissionais e de qualquer faixa etária. Algumas atividades profissionais são mais propensas ao seu desenvolvimento, como área de assistencialismo, professores e profissionais da saúde (Roncato, 2007). Segundo o Ministério da Saúde (2001), os profissionais que estão mais sujeitos são, principalmente, aqueles da área de serviços ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como os trabalhadores da educação, da saúde, policiais, assistentes sociais e agentes penitenciários.
No contexto nacional, alguns estudos já publicados tiveram como objetivo sistematizar a literatura sobre burnout em determinados períodos (Andrade, Casagrande, Brandt, & Viana, 2012; Carlotto & Câmara, 2008; Ferrari, França, & Magalhães, 2012; Pereira & Antoniassi, 2014; Santos & Santos, 2015). Como o presente estudo tem um propósito de avaliar a literatura mais atualizada nacional sobre burnout, cabe destacar algumas das iniciativas que já foram publicadas até agora, mesmo que em base de dados diferentes, com objetivos e/ou com foco em outros profissionais/grupos amostrais. Tais informações estão sistematizadas na Tabela 1.
Dos estudos que tiveram como propósito realizar a revisão da literatura sobre burnout no contexto brasileiro, apresentados na Tabela 1, percebe-se que análises da produção científica bem como revisão integrativa da literatura foram os tipos de pesquisa mais frequentes. Em relação aos anos investigados, tomando por base os cinco estudos, percebe-se que o período analisado foi entre 1999 e 2013, sendo que em algumas investigações o público-alvo foi delimitado, como é o caso de Andrade et al. (2012), que analisaram a produção científica sobre burnout em atletas, e em Ferrari et al. (2012), Pereira e Antoniassi (2014) e Santos e Santos (2015), que analisaram a literatura em burnout em profissionais ligados à área da saúde. Das bases de dados utilizadas para realizar as pesquisas, LILACS (n = 3) e SciELO (n = 2) foram as mais recorrentes. O instrumento que apresentou a maior frequência na mensuração do burnout foi o Maslach Burnout Inventory (MBI).
Conforme apresentado, algumas iniciativas brasileiras analisaram a literatura sobre burnout. Esta pesquisa também tem por objetivo investigar a literatura científica sobre a temática a partir de duas bases de dados (SciELO e PePSIC). Entretanto, justifica-se a elaboração na medida em que tal proposta se difere dos estudos já publicados, principalmente pelo fato de não limitar a um público específico, como no caso de Andrade et al. (2012), Ferrari et al. (2012), Pereira e Antoniassi (2014) e Santos e Santos (2015).
De certa forma, este estudo analisou um período diferente do proposto por Carlotto e Câmara (2008), uma vez que se prontificou a investigar a literatura sobre burnout na última década, ao passo que o período analisado pelas autoras supracitadas consistiu entre 1999 e 2006. Nesses termos, o objetivo deste artigo foi analisar a produção científica nacional sobre a temática burnout entre os anos de 2006 e 2015. Como objetivo secundário, esta investigação pode ser considerada uma complementação, ou melhor, uma atualização, tendo como base o manuscrito publicado por Carlotto e Câmara (2008).
Método
Fonte e procedimentos
A busca bibliográfica dos artigos publicados foi realizada nas bases de dados eletrônicos PePSIC e SciELO, em fevereiro de 2016. Para a revisão bibliográfica, o termo burnout foi utilizado como palavra-chave, sendo que ele deveria estar presente nas palavras do título dos artigos.
Os critérios de inclusão foram os seguintes: (a) foi estabelecido o período compreendido pelos últimos dez anos de publicações, isto é, de 2006 até 2015; (b) os artigos deveriam ser de caráter empírico e (c) a amostra da pesquisa deveria ser composta por participantes brasileiros. Por meio da Figura 1 o leitor poderá compreender o caminho metodológico empregado, assim como a quantidade de artigos excluídos da análise.
Como pode ser visualizado na Figura 1, foram analisados 141 artigos. Cabe destacar que a categoria "Não é artigo" contemplou cartas aos editores ou apenas uma nota publicada pela revista. Nessa mesma direção, as variáveis investigadas em cada artigo foram ano de publicação, idioma, nome do periódico em que foi publicado, tipo de amostra investigada (população estudada nos artigos), classificação da amostra com base no número de participantes, classificação da amostra em relação à fase do desenvolvimento humano, os construtos associados ao burnout e os instrumentos utilizados para se mensurar o burnout.
Para descrição dos dados referentes ao número da amostra bem como a classificação quanto à faixa etária, foram utilizados como referenciais para as categorizações Papalia, Olds e Feldman (2006) e Prieto e Muñiz (2000), respectivamente. De forma mais específica, Prieto e Muñiz (2000) classificam as amostras com base no número de participantes, quais sejam: pequena (até 150 participantes), suficiente (de 150 a 300), moderada (300 a 600), grande (de 600 a 1.000) e muito grande (número de participantes superior a 1.000). Já Papalia et al. (2006) classificam, com base na faixa etária, os seres humanos em período pré-natal (da concepção ao nascimento), primeira infância (período entre o nascimento e 3 anos), segunda infância (de 3 a 6 anos), terceira infância (de 6 a 11 anos), adolescência (de 12 a 20 anos), jovem adulto (de 21 a 40 anos), meia-idade (de 41 a 65 anos) e terceira idade (de 65 anos em diante).
Resultados
A primeira análise realizada com base nos 141 artigos encontrados é em relação ao seu ano de publicação, como pode ser verificado na Figura 2. A partir da análise da Figura 2, verifica-se que as maiores frequências de publicações ocorreram nos anos de 2014 (n=25; 17,7%) e 2012 (n=24; 17,1%). Cabe destacar que o período entre 2012 e 2015 foi o de maior concentração de estudos.
Em relação ao idioma no qual os artigos foram publicados, verificou-se que 114 (80,9%) foram redigidos em língua portuguesa do Brasil, 13 (9,2%) em língua inglesa, 13 (9,2%) em língua espanhola e apenas uma publicação (0,7%) redigida em português de Portugal.
Os artigos revisados foram publicados em 65 periódicos diferentes, sendo 58 nacionais e sete internacionais. A revista Psicologia: Reflexão e Crítica foi o periódico com o maior número de publicações (n=9) referente à temática da síndrome de burnout no período. Outros dois periódicos apresentaram frequência de publicações próximas, que são a Revista da Escola de Enfermagem - USP (n=8) e a Revista Latino-americana de Enfermagem (n=7). Vale ressaltar que a maior parte das revistas está relacionada à psicologia ou à saúde no geral. A seguir serão elencados os periódicos com as maiores frequências de publicações.
Ainda em relação aos periódicos, 28 diferentes revistas publicaram mais do que um artigo no período analisado, variando entre dois e seis manuscritos publicados sobre burnout. As seguintes revistas contaram com apenas uma publicação: São Paulo Medical Journal Produção; Clinics; Revista Mal-Estar e Subjetividade; Revista Brasileira de Educação; Psicologia Clínica; Saúde e Sociedade; Fisioterapia e Pesquisa; Revista Brasileira de Medicina do Esporte; Motriz: Revista de Educação Física; Summa Psicológica; Organizações & Sociedade; Revista de Psicologia; Psicologia e Sociedade; Alternativas en Psicología; Revista Brasileira de Anestesiologia; Arquivos Brasileiros de Cardiologia; Revista Brasileira de Educação Física e Esporte; Revista Diversitas: Perspectivas en Psicología; Psicologia: Ensino & Formação; Universitas Psychologica; Psicologia Hospitalar; Psicologia em Pesquisa; Revista Psicologia e Saúde; Ciência & Cognição; Psicologia: Teoria e Prática; Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional; Psicologia da Educação; Revista Brasileira de Psiquiatria; Jornal de Pediatria; Revista Paidéia; Revista de Odontologia-Unesp e Revista Brasileira de Enfermagem.
Como poderão ser visualizadas na Tabela 3, as maiores frequências em termos de população estudada se deram em relação aos docentes, profissionais de enfermagem, médicos, estudantes, amostra que não identifica a categoria do trabalhador (não foi identificado o tipo de amostra), trabalhadores da saúde da família, agentes comunitários, trabalhadores da atenção primária a saúde, psicólogos e funcionários públicos. Isso provavelmente reflete o fato de que as pesquisas ainda estão voltadas em sua maioria aos profissionais ligados à saúde.
A categoria Outros engloba um total de 21 diferentes grupos estudados, que são residentes da atenção básica, saúde da família e vigilantes de saúde; policiais; cadetes; jogadores de futebol; árbitros; bailarinos; nadadores; motoristas de ônibus e cobradores; profissionais que atendem a vítimas de violência; atletas de vôlei de praia; monitores; funcionários que trabalham embibliotecas; assistentes sociais; soldados investigadores; pacientes; técnicos de prevenção de riscos laborais; funcionários da proteção e assistência social; perícia médica; profissionais da saúde mental e cuidadores. Cada um desses grupos obteve apenas uma publicação.
Por meio dessa análise, em relação ao grupo amostral, pode-se constatar que docentes e profissionais de enfermagem se destacam quando comparados às demais categorias. Em outras palavras, é notório, com base no período analisado no presente trabalho, o interesse por parte dos pesquisadores nacionais em se estudar o fenômeno burnout em docentes e profissionais de enfermagem.
No que tange à classificação da amostra em termos de faixa etária, a partir da idade média contida nos estudos, os dados foram categorizados conforme as fases do desenvolvimento humano propostas por Papalia et al. (2006). Foram encontrados 77 (54,6%) estudos com o público categorizado como adulto jovem, 27 (19,1%) com pessoas classificadas como sendo de meia-idade e três (2,1%) estudos com adolescentes. Do total, 34 (24,2%) não informaram a média de idade dos participantes.
Em relação ao tamanho da amostra para a classificação, no presente estudo foram utilizados os critérios propostos por Prieto e Muñiz (2001). Dos artigos analisados, 71 (50,4%) tiveram amostras pequenas, 43 (30,5%), amostras suficientes, 13 (9,2%), amostras moderadas, 11 (7,8%), amostras grandes, e três (2,1%) tinham amostras muito grandes.
Outra análise realizada diz respeito aos construtos associados ao burnout que foram avaliados nos estudos que fizeram parte desta revisão. Pode-se observar na Tabela 4 que há alta frequência de pesquisas que avaliaram apenas o burnout. Em outras palavras, grande parte desses artigos empíricos avaliou o burnout e realizou análises estatísticas com base em questionários sociodemográficos. No que tange às demais categorias, estresse no trabalho foi o construto que mais foi associado ao burnout nas pesquisas (n=8; 5,7%), seguido por estratégias de enfrentamento e condições do ambiente laboral (n=5; 3,5% cada categoria), conteúdo do trabalho e satisfação no trabalho (n=4; 2,8% cada) e sintomas de depressão, transtornos psíquicos menores e Coping ocupacional (n=3; 1,4% cada).
Cinco diferentes categorias apresentaram cada uma duas publicações. Essas categorias são (a) qualidade de vida, (b) habilidades sociais educativas e comportamentos pró-sociais, (c) autoeficácia geral e sobrecarga de trabalho, (d) estresse no trabalho e coping ocupacional e (e) estresse global. A categoria Outros foi composta por 29 diferentes conjuntos de construtos associados ao burnout (conteúdo do trabalho e qualidade de vida; rendimento acadêmico, qualidade de vida e sonolência diurna; saúde geral e dor musculoesquelética; suporte social e satisfação no trabalho; autoeficácia geral, afetos positivos e negativos; vitalidade subjetiva e satisfação com a vida; estado de humor, valores organizacionais, desgaste no trabalho, bem-estar psicológico, justiça organizacional e comprometimento organizacional; ideação suicida, engajamento no trabalho, violência no trabalho e transtornos psíquicos menores; sofrimento moral, sintomas de ansiedade, depressão e estresse ocupacional; desgaste profissional e satisfação no trabalho; autoeficácia docente, fadiga, conteúdo do trabalho e satisfação no trabalho; saúde organizacional, personalidade, clima de segurança no trabalho e contexto de trabalho; resiliência no trabalho, fontes de desajustes indivíduo-trabalho, satisfação no trabalho, estresse ocupacional e autoeficácia geral; sintomas de ansiedade e depressão; estresse ocupacional e conflitos no trabalho e sintomas cardiovasculares).
Por fim, a última análise realizada diz respeito aos instrumentos utilizados nos estudos para a mensuração do burnout. Como apresentado na Tabela 5, pode-se identificar que o Maslach Burnout Inventory e suas variações foram os mais utilizados totalizando 105 (74,5%).
Alguns instrumentos utilizados para a avaliação do burnout não foram nomeados pelos autores dos estudos (Batista, Carlotto, Coutinho, & Augusto, 2011; Carlotto & Pizzinato, 2013; Diehl & Carlotto, 2014; Esteves-Ferreira, Santos, & Rigolon, 2014; Feliciano, Kovacs, & Sarinho, 2011; Gianasi & Oliveira, 2014; Oliveira, 2006; Tomaschewski-Barlem et al., 2013). Os demais instrumentos apareceram uma vez cada: Inventário de Oldenburg para estudantes (Halbesleben & Demerouti, 2005); Copenhagen Burnout Inventory for College Students (Kristensen, Borritz, Villadsen, & Christensen, 2005); Spanish Burnout Inventory (Gil-Monte, 2005); Burnout Inventory for Referees (Weinberg & Richardson, 1990); Athlete Burnout Questionnaire -ABQ (Raedeke & Smith, 2001); Cuestionario Breve de Burnout -CBB (Moreno-Jiménez, Bustos, Matallana, & Miralles, 1997); Burnout of Psychologist Inventory- IBP (Benevides-Pereira, Moreno-Jiménez, Hernández, & Gutiérrez, 2002); Inventário da Síndrome de Burnout (Benevides-Pereira, 2007); e Maslach Burnout Inventory em versão reduzida (Maslach, Jackson, & Leiter, 1996).
Discussão
A síndrome de burnout é hoje um dos danos laborais de caráter psicossocial mais importantes da sociedade (Carlotto, 2010). Segundo Murofuse, Abranches e Napoleão (2005), estudos feitos nos Estados Unidos mostram que a síndrome constitui-se como um dos grandes problemas psicossociais atuais, despertando interesse e preocupação não só por parte da comunidade científica internacional, mas também das entidades governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas e europeias, devido à severidade de suas consequências, tanto em nível individual como organizacional.
Este artigo se propôs a realizar uma análise da literatura científica nacional sobre o tema burnout nos últimos 10 anos (entre 2006 e 2015) por intermédio das bases eletrônicas PePSIC e SciELO. Além disso, como objetivo secundário, o presente manuscrito também consistirá em uma atualização do estudo de revisão da literatura sobre burnout publicado por Carlotto e Câmara (2008), no qual foi investigada a literatura brasileira sobre a temática entre os anos de 1999 e 2006. A seguir, os resultados encontrados nesta revisão serão debatidos com base tanto na literatura nacional como internacional.
Sobre os dados encontrados, em relação ao ano de publicação, pode-se perceber que há maior concentração dos estudos nos últimos cinco anos, ou seja, entre 2011 e 2015, com destaque para o ano de 2014, uma vez que apresentou a maior frequência, seguido pelo ano de 2012. Verificou-se que não há um aumento progressivo de publicações ao longo dos anos. Em sua revisão, Carlotto e Câmara (2008) também verificaram que a distribuição das publicações por ano se apresentou de forma irregular. Esse fato também é verificado por Ferrari et al. (2012), na medida em que não houve regularidade (aumento constante das produções) ao longo dos anos que analisaram. Em pesquisas que tiveram por objetivo a análise da literatura internacional sobre burnout, pode-se constatar um dado semelhante na medida em que os estudos sobre a temática não tiveram uma distribuição regular ao longo dos anos investigados (Andrade et al., 2012; Juarez-Garcia, Idrovo, Camacho-Avila, & Placencia-Reyes, 2014; Li, Pyun, & Kee, 2013; Morelli, Sapede, & Silva, 2015; Pereira, Fonseca, & Carvalho, 2011; Seidler et al., 2014; Trufelli et al., 2008; Westermann, Kozak, Harling, & Nienhaus, 2014).
Quanto ao idioma em que os artigos foram publicados, a maior parte estava escrito em língua portuguesa e em menor número em inglês e espanhol. A esse respeito era esperado realmente um elevado número de artigos publicados em português, uma vez que as bases utilizadas para a busca dos artigos congregam um grande número de revistas científicas brasileiras.
Dos periódicos em que os artigos foram publicados, verificouse que a revista Psicologia: Reflexão e Crítica apresentou a maior frequência de publicações, seguida de Revista da Escola de Enfermagem (USP) e a Revista Latino-americana de Enfermagem. Esse dado corrobora as discussões promovidas por Carlotto e Câmara (2008), na medida em que constataram que as pesquisas sobre burnout geralmente são publicadas em revistas científicas da psicologia e de áreas afins (especialmente ligadas à área da saúde). Ademais, as revistas ligadas à saúde apresentaram um número significativo de publicações. Ferrari et al. (2012) também verificaram que as maiores frequências de publicações foram em periódicos científicos ligados à psicologia e à saúde. Essa informação também corrobora os achados da presente pesquisa, especialmente em relação ao periódico que apresentou a maior frequência de publicações, Psicologia: Reflexão e Crítica, seguido pela Revista da Escola de Enfermagem - USP, ou seja, são revistas que abordam, respectivamente, questões ligadas à psicologia e à área de saúde em geral.
Quanto ao público investigado, as maiores frequências se de-ram em relação a docentes, profissionais de enfermagem, médicos e estudantes. Carlotto e Câmara (2008) também verificaram tais constatações, uma vez que encontraram as maiores frequências de amostras entre professores e profissionais da área da saúde. Na revisão de Santos e Santos (2015), o público investigado em sua maioria foi de enfermeiros, seguido de outros profissionais de saúde de diversas categorias. Ferrari, França e Magalhães (2012) identificaram que as amostras mais investigadas incluíam médicos, enfermeiros, odontólogos, agentes comunitários e equipe de saúde em geral.
Dos dados dos estudos que investigaram o burnout na literatura internacional, Pereira et al. (2011), Seidler et al. (2014) também constaram que as pesquisas realizadas com enfermeiros apresentaram a maior frequência. Já Juarez-Garcia et al. (2014) encontraram como maiores frequências os estudos que avaliaram burnout em médicos. Com base nos dados e nas discussões, é possível afirmar que há uma clara divisão dos públicos investigados. O primeiro con-junto de trabalhadores é da área da saúde (em especial, médicos e enfermeiros), e o segundo conjunto é de docentes e discentes. A análise em relação à faixa etária estudada foi realizada com base em Papalia et al. (2006). Nesta pesquisa, foram encontradas com maior frequência investigações com adultos jovens. Essa informação corroborou os achados de investigações internacionais, tais como Li et al. (2013) e Seidler et al. (2014).
No que tange ao tamanho da amostra, a classificação foi realizada com base em Prieto e Muñiz (2000). Identificou-se a maior frequência de pesquisas que fizeram uso de amostras pequenas, seguidas por amostras suficientes e moderadas. Nas revisões realizadas por Li et al. (2013), Trufelli et al. (2008) e Westerman et al. (2014), as maiores frequências observadas também foram de amostras pequenas. Em dois outros estudos de revisão da literatura, os resultados foram discrepantes aos observados na presente pesquisa. Morelli et al. (2015) encontraram como maiores frequências, nas pesquisas analisadas, as amostras classificadas como suficientes, e Seidler et al. (2014) encontraram como maiores frequências a avaliação do burnout em amostras consideradas muito grandes.
Na análise dos construtos associados ao burnout, observou-se que as categorias mais estudadas foram estresse no trabalho, estratégias de enfrentamento e condições do ambiente no trabalho. Não foram encontradas pesquisas que realizaram a análise da literatura sobre burnout e que tenham levado em consideração a discussão dos construtos associados ao tema, impossibilitando ter um comparativo para uma discussão mais elaborada sobre essa variável.
Paralelamente, Carlotto e Câmara (2008) sinalizaram que existem pesquisas que buscam identificar os fatores de risco para o burnout. Com base nessa informação, percebe-se que os estudos nacionais sobre o tema se atentaram, no período analisado, tanto para a investigação de fatores de risco, como é o caso do estresse no trabalho (Guido, Goulart, Silva, Lopes, & Ferreira, 2012; Santos & Cardoso, 2010; Trindade, Lautert, Beck, Amestoy, & Pires, 2010; entre outros), assim como para fatores protetivos, por meio das estratégias de enfrentamento (Mazon, Carlotto, & Câmara, 2008; Silva, Barbosa, Silva, & Patrício, 2015; Telles & Pimenta, 2009), bem como para fatores ligados às condições de trabalho, as quais podem ser benéficas ou não, podendo levar o trabalhador ao adoecimento (Lorenz & Guirardello, 2014; Mallmann, Palazzo, Carlotto, & Aerts, 2009; Palazzo, Carlotto, & Aerts, 2012; entre outros).
Quanto aos instrumentos de avaliação do burnout, o MBI e suas variações (MBI-HSS e MBI-SS) foram os mais utilizados nos estudos analisados. Tal constatação corrobora com achados de diversos outros estudos, tanto nacionais como internacionais, de revisão sobre burnout (Ferrari et al., 2012; Juarez-Garcia et al., 2014; Pereira & Antoniassi, 2014; Pereira et al., 2011; Seidler et al., 2014; Trufelli et al., 2008; Westermann et al., 2014). Sobre essa informação, Tamayo e Tróccoli (2009) afirmaram que o MBI é o instrumento mais utilizado para a mensuração da síndrome.
A temática burnout apresenta um histórico de mais de 40 anos de investigação científica. Diversos estudos já foram realizados, sendo percebido que o referido fenômeno tende a ser mais investigado em públicos ligados a ocupações da área da saúde, docência, esportes, bem como estudantes. Com o passar dos anos, investigações que realizaram revisão sobre burnout passaram a ser foco de pesquisadores, tanto no âmbito internacional como nacional. Pela presente pesquisa, que apresentou uma análise da literatura científica sobre burnout entre os anos de 2006 e 2015, constatou-se a alta frequência de estudos entre os anos de 2012 e 2015; houve publicações em diferentes revistas, sendo as mais frequentes aquelas ligadas à psicologia e áreas da saúde. Sobre os anos investigados para a escrita da pesquisa (2006 a 2015), mesmo que seja um período adequado para a análise da literatura sobre determinados assuntos, isso não traduz a realidade dos estudos ao longo dos tempos. Dessa forma, sugerem-se novos estudos de análises da literatura sobre a temática sem delimitação de um período específico.
Ademais, alguns diferenciais desta pesquisa foram: as análises no que tange ao tamanho amostral, faixa etária avaliada e construtos associados ao burnout. Em relação ao número amostral, foi verificado que as maiores frequências se deram com mensuração do burnout em grupos pequenos e geralmente um determinado público é avaliado (enfermeiros, médicos, docentes, discentes, esportistas, etc.). Com base nessa afirmação, é recomendado que os pesquisadores busquem realizar estudos com um número amostral mais elevado, podendo ser verificada a percepção de burnout em diferentes espaços (p. ex., organizações públicas e privadas) e ocupações.
Quanto à faixa etária, as maiores frequências de investigações foram com trabalhadores classificados como adulto jovem. Embora essa seja a faixa etária que em tese condensa grande parte dos trabalhadores, com a expectativa de vida cada vez mais elevada é comum encontrar atualmente idosos que ainda estejam ativos no mundo do trabalho (ou que já se aposentaram, porém voltaram ao mundo laboral). Nesses termos, novas investigações que avaliem o burnout com esse público podem ser consideradas diferenciais na literatura científica. Além disso, sugere-se que estudos longitudinais sejam conduzidos a fim de verificar se os sintomas do referido fenômeno tendem a diminuir ou não com o decorrer da carreira profissional.
Em relação aos construtos associados ao burnout, na presente pesquisa constatou-se que no período analisado as maiores frequências de investigações se deram tanto em variáveis consideradas de risco (estresse), como protetivas (enfrentamento de problemas) e contextuais (condições de trabalho). Cabe sinalizar a importância de continuar as investigações sobre construtos associados ao burnout, ou seja, analisar o fenômeno de forma ampla e levando-se em consideração aspectos protetivos, de risco e contextuais.
Outra constatação feita a partir dos estudos analisados foi a maciça utilização do instrumento MBI (geral e específicos para algumas amostras) para avaliar o burnout nas pesquisas publicadas no contexto nacional. Embora tais instrumentos sejam adequados para a análise do referido construto, percebe-se que há carência de instrumentos construídos no Brasil para a análise do burnout. A partir dessa constatação, sugere-se que novos estudos sejam realizados no sentido de construir e buscar evidências de validade e precisão para instrumentos brasileiros que avaliem o burnout.
Referências
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Endereço para correspondência:
Hugo Ferrari Cardoso
Av. Eng. Luís Edmundo Carrijo Coube, 14, Nucleo Res. Pres. Geisel
Bauru, SP, Brasil, 17033-360
E-mail: hfcardoso@fc.unesp.br
Recebido em: 24/08/2016
Primeira decisão editorial: 29/10/2016
Versão final em: 29/12/2016
Aceito em: 09/01/2017