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Estudos Interdisciplinares em Psicologia

versión On-line ISSN 2236-6407

Est. Inter. Psicol. vol.2 no.2 Londrina jun. 2011

 

Relato de Experiencia

 

Intervenção em psicologia escolar: ética, cidadania e afetividade

 

School psychology intervention: ethics, citizenship and affectivity

 

Intervención en psicología de la escuela: ética, ciudadanía y afectividad

 

 

Juliani Martins,i

Universidade São Francisco.

 

 


Resumo

A experiência a seguir é produto de uma intervenção em psicologia escolar realizada no contexto público municipal com crianças advindas de lares carentes. Nesse contexto, a direção da escola solicitou uma intervenção na qual pudesse desenvolver nas crianças comportamentos mais amistosos e positivos em relação aos seus pares e a sua realidade. Assim sendo, optou-se por se trabalhar a Ética, a Cidadania e a Afetividade. Para tanto, o objetivo do projeto foi desenvolver e instalar comportamentos mais empáticos e que oferecessem um modo mais assertivo e ético de lidar com a realidade. Os impactos da intervenção foram observados nos comportamentos dos alunos participantes. Os dados foram discutidos em termos das implicações psicoeducacionais.

Palavras-chave: intervenção psicológica, afetividade, psicoeducacional.


Abstract

The following experience is the product of an intervention in school psychology held in the municipal context with children coming from disadvantaged homes. In this context, the school board requested an intervention in which children could develop more friendly and positive behaviors in relation to their peers and their reality. Therefore, we chose to work with the Ethics and Citizenship and Affectivity. Therefore, the objective of the project was to develop and install more empathic behavior and offer a more assertive and ethical dealing with reality. The impacts of the intervention were observed in the behavior of the students. The data were discussed in terms of psychoeducational implications..

Key-words: psychology intervention, affectivity, psychoeducacional.


Resumen

La siguiente experiencia es el producto de una intervención en psicología de la escuela, celebrada en el contexto municipal, con niños procedentes de familias desfavorecidas. En este contexto, el consejo escolar solicitó una intervención en la que los niños pueden desarrollar conductas más amable y positiva en relación con sus compañeros y su realidad. Por lo tanto, se optó por trabajar con la Ética y Ciudadanía y la afectividad. Por lo tanto, el objetivo del proyecto era desarrollar e instalar un comportamiento más empática y ofrecer un trato más asertivo y ético con la realidad. Los impactos de la intervención se observó en el comportamiento de los estudiantes. Los datos se analizaron en cuanto a las implicaciones psicoeducativas.

Palabras-clave: intervención en psicología, afectividad, psicoeducativas.


 

 

Introdução

Ética é o nome geralmente dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra "ética" é derivada do grego e significa aquilo que pertence ao caráter. Diferencia-se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano (esta citação é de domínio público e pode ser consultada on-line na Wikipédia, em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Etica).

Baseado no conceito pretendeu se criar a oficina, realizada durante o ano letivo de 2010 e 2011, que pudesse trabalhar alguns aspectos da ética na vida dos alunos, sendo assim surgiu a oficina de Ética, Cidadania e Afetividade numa escola municipal de bairro carente da cidade de Tietê, interior do estado de São Paulo. A solicitação veio por meio da direção da Escola com anuência da Secretaria de Educação Municipal à autora deste relado, haja vista, que a mesma atua com consultoria e assessoria no âmbito da psicologia escolar. A escola atende cerca de 470 crianças com idade que variam de 6 a 11 anos, três salas de 1° anos, três salas de 2° anos, três salas de 3° anos, três salas de 4° anos e três salas de 4ª serie. No período da manhã os alunos tiveram aulas do currículo básico regular de fundamental I e a tarde participavam das oficinas, todos os alunos fizeram parte do projeto. Essa escola foi a primeira da cidade a implantar projetos no período integral, tornando se um desafio para os profissionais para que os projetos funcionassem e fossem seguidos em outras unidades. O começo bastante conturbado buscava estratégias para que os alunos se sentissem motivados a permanecer oito horas diárias dentro da escola. Quanto à contextualização da comunidade, pode-se dizer que é carente em vários sentidos, a maioria dos pais tinha professas associados com o envolvimento de entorpecentes, pais separados, crianças criadas pelos avôs, tias, vizinhos e parentes próximos, a maioria das crianças atendidas eram advindas de outros estados, o que diferenciava o bairro dos outros. Os fatores preponderantes nas crianças eram a baixa auto-estima e a agressividade. Em uma pesquisa feita logo no começo das aulas mostrou que a maioria dos alunos não tinha boas perspectivas de vida. Ao perguntar-lhes o que comprariam se fossem milionários por um dia, muitos responderam, bolachas, doces e comida. Baseado nestas informações, foi criado o projeto em que os alunos pudessem aprender e ao mesmo tempo tivessem a oportunidade de se expressar.

Trabalhando com a emoção por meio do comportamento ético

Esse relato é o sumário do projeto realizado, portanto, algumas das principais atividades desenvolvidas, ações simples, mas que foram efetivas, serão expostas na sequência. No primeiro momento o projeto inseriu no cotidiano das crianças aspectos como ética, normas de conduta, regras, limites e cidadania. Todavia, com a pesquisa de levantamento inicial observou-se a necessidade de se trabalhar principalmente as emoções e os sentimentos dos alunos, principalmente os que apresentavam problemas de comportamento. Por terem a auto-estima baixa, muitas crianças agiam com agressividade, usavam palavras negativas, usavam frequentemente palavrões quando se dirigiam aos colegas e não respeitavam professores e funcionários. Infelizmente, quem tem baixa auto-estima se deixa influenciar por outras pessoas e, muitas vezes, muda o curso de sua vida por causa delas. A decorrência é uma vida infeliz precisamente porque vão contra seus próprios desejos e planos. Portanto, a meta foi ensinar as crianças a pensarem por si próprias e que tivessem capacidade de discernir entre o que era bom ou ruim para a vida delas, já que a comunidade em que viviam não apresentava muitas alternativas para terem modelos de comportamentos éticos.

A primeira atividade aplicada na turma foi a criação de um diário, no qual cada aluno decorou o seu como gostava, com colagens, figurinhas, desenhos, onde registrariam dia a dia como estavam se sentindo e o que mais desejassem. Esta ideia trouxe à tona várias situações que a cada semana era trabalhado em grupo. Uma situação que enterneceu bastante a turma foi de um aluno de nove anos que era obeso e todos os dias era chamado na direção da escola por agredir outras crianças, ele escreveu no seu diário que se sentia feio, rejeitado e que nunca iria conseguir emagrecer e que só batia nos colegas por medo que tirassem sarro dele. Essa situação mostrou que saber lidar com as emoções é o mais importante dos aprendizados.

Outro caso de agressividade extrema, com o intuito de ilustração, foi de um aluno de oito anos que se tornou um desafio para equipe gestora, pois se irritava facilmente quando era contrariado, batia nos colegas até machucá-los, quebrava os cestos de lixo, escalava janelas, lançava objetos nos funcionários e por várias vezes arremessou cadeiras e carteiras em colegas que não gostava, quando era encaminhado à direção, chorava sem parar e não conseguia explicar o que sentia, nem por que agia daquela forma. Como esse aluno era um caso extremo ele recebeu uma atenção especial por parte dos professores e psicóloga, os professores foram orientados em como lidar com ele e toda semana na oficina de Ética e Saúde ele recebia orientações de como ter autocontrole. Nesse sentido, foram apresentadas regras e limites e em cada ação correta ele era reforçado e os colegas de turma foram orientados ao invés de reclamarem e brigarem com ele passasse a elogiá-lo com mais frequência, convidando o a fazer parte dos trabalhos, ressaltando suas qualidades. Além de todo empenho da equipe e dos colegas o aluno foi encaminhado para o grupo de cinoterapia com a psicopedagoga que acontecia uma vez por semana com duração de dois meses. Este recurso estimulou o aluno às brincadeiras, a expressão de carinho, às conversas e ao autocontrole. Sob essa perspectiva, salienta-se a necessidade de um trabalho em parceria com outros profissionais como os educadores e os psicopedagogos, além da direção da escola e encontros com os familiares.

Apesar de haver muitos alunos de inclusão nesta unidade escolar os outros alunos também receberam instruções e ensinamentos que mudaram a forma como concebiam sua realidade, passando a enxergá-la de forma mais positiva. Como crianças aprendem muito mais o que observam do que o que ouve, foram espalhados nas paredes da sala, cartazes nos quais havia ‘as palavras mágicas’ em que deveriam usar sempre, como: Obrigado; Desculpe-me; Com licença; Por favor, dentre outras. Tais palavras foram introduzidas em uma sessão com as crianças na qual se trabalhou a importância de uso destas para uma convivência pacífica com as pessoas.

Trabalhando com a emoção e a cidadania

Alguns problemas que nos deparamos atualmente são tão complexos que não temos soluções imediatas para eles, como exemplo mudar a realidade da comunidade em que a escola estava inserida, mas pudemos inserir alguns valores que fizeram toda a diferença nas escolhas de vida das crianças. A cada semana a equipe gestora reunia todos os professores para debates e orientações a alguns casos específicos de crianças problemas, nestes encontros todos poderiam contribuir com idéias que pudessem ajudar a aprimorar a escola. Baseado no livro Aulas de Transformação, por exemplo, foi criado uma relação de valores a serem trabalhados semanalmente. Para que houvesse resultados satisfatórios todos os professores deveriam participar e reforçar os valores em sala de aula. Qualquer situação ruim que surgisse nas aulas era pretexto para trabalhar o valor escolhido da semana e mesmo que não houvesse situações ruins o professor teria que criar um período para trabalhar esse valor com os alunos. Na Tabela 1 foi ilustrado um modelo de como era apresentado os valores a serem trabalhados pelos professores.

Tabela 1. Proposta de valores a serem trabalhados pelos professores.

 

 

Após alguns meses de trabalho os alunos passaram a cobrar os valores dos colegas e professores, estes opinavam na resolução de problemas e debatiam questões que julgavam pertinentes a eles. Nada lhes passava despercebido, se alguém jogava papel no chão, por exemplo, havia a cobrança ‘lugar de lixo é no lixo e não no chão’, só recorriam aos professores em último caso, na fila do almoço um avisava o outro, só pegue o que aguenta comer, não pegue demais que vai pro lixo. Observamos uma consciência maior por parte deles em relação à sua realidade.

 

Considerações finais

No mundo da educação, se professor, aluno e outros facilitadores, como o caso do psicólogo não estiverem "jogando junto" não funciona. Dificilmente o individualismo consegue transpor barreiras. Para que o projeto alcançasse seus objetivos e tivesse uma boa repercussão na escola e na comunidade, foi necessário um trabalho em equipe. Muitas vezes o papel do psicólogo é dar a partida, motivar e preparar a equipe para que faça seu papel e todos juntos alcancem a meta proposta. O psicólogo deve conhecer a realidade da escola e da comunidade, saber escutar sem julgar e realizar projetos em que todos tenham condições de participarem, professores, pais, gestores e alunos.

Este projeto mostra a importância e necessidade de um psicólogo no âmbito escolar. Não importa a realidade da comunidade em que a escola está inserida, sempre vai ser possível realizar um trabalho eficaz em que todos podem ser beneficiados.

Nesta escola os resultados foram tão satisfatórios que surpreendeu a todos, a escola que tinha fama de "pior" da cidade hoje é modelo a ser seguido. No ano de 2011 a escola se destacou em comportamento e aprendizado. Hoje os próprios alunos criam as regras de convivência da escola e passam os valores aprendidos na escola para os pais e irmãos mais novos o que faz com que os pais ou responsáveis se interessem e participem das ações movidas na escola. Nas provas BRASIL, SAREMT (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar Municipal Tieteense), SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) os alunos tiveram os melhores índices em comparação aos alunos de outras escolas da cidade. Na última reunião de conselho de classe pode se constatar somente três reprovas de alunos, por faltas e nenhum aluno encaminhado para a recuperação realizada em janeiro. No ano de 2012 mais duas escolas da cidade de Tietê entrarão no Programa Escola Tempo Integral, o mesmo projeto será implantado e o mesmo empenho será dirigido. Com pequenos passos dados em projetos desenvolvidos em escolas públicas, poderemos chegar longe.

 

Endereço para correspondência
julijuni21@hotmail.com

Recebido em: 14/10/2011
Revisado em: 19/11/2011
Aceito em: 15/12/2011

 

 

iPsicóloga escolar graduada pela Universidade São Francisco. Atua como Psicóloga escolar e Coordenadora do projeto Ética, Cidadania e Afetividade desenvolvido em uma escola pública da Cidade Tietê.

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