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Revista Brasileira de Psicanálise

versión impresa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.3 São Paulo jul./set. 2013

 

LANÇAMENTOS

 

Lançamentos

 

 

Pelos poros do mundo: Uma leitura psicanalítica da poética de Flávia Ribeiro

 

 

Silvana Rea
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, 2012, 268p.

Este livro, organizado a partir de tese de doutorado defendida no Instituto de Psicologia da usp, se propõe a discutir intensa e extensamente a conjunção da Estética com a Psicanálise, trazendo a proposição: "De que maneira a psicanálise poderia auxiliar para a compreensão do fenômeno criativo em artes plásticas?". A autora, seguindo caminho aberto por Freud e seguido por vários grandes autores da Psicanálise que chegaram a criar inovações nessa esfera, corajosamente se aprofunda em um universo particular da produção artística para analisar sua constituição e apresentar fundamento inédito e original na medida em que evidencia um novo processo de criar. O livro apresenta leitura da produção da artista contemporânea brasileira, Flávia Ribeiro. Fica estabelecida preciosa base analítica ao ter em vista que entre artista e receptor da obra artística configura-se uma jornada específica a cada recepção. Justifica esse princípio estético analogicamente com a ação analítica baseada nos pressupostos de Freud de fala, escuta e transferência. Sobrepondo os métodos, Rea demonstra que semelhantemente ao ato de escuta do paciente pelo analista, também a obra de arte suscita o resgate da unidade desejada pelo artista no espectador. Este livro, no entanto, vai além dos campos da Estética e da Psicanálise, pois se serve de raízes filosóficas que fortalecem as estruturas de seu estudo, utilizando-se de autores e comentadores dos processos humanos de construção do conhecimento pelo exercício da reinvenção, o que é característico da obra de arte aberta à interpretação constante. A obra plástica de Flávia Ribeiro é visitada pela autora com abundância, fazendo com que pela análise dos processos de criação envolvidos, possam ser encontrados os motivos que a justificam como elemento formativo. A autora, ao associar a obra de arte com a força constitutiva de um novo homem - o artista e seu leitor -, entende a alquimia desse encontro como a busca da essência transformadora, na medida em que arte é linguagem, e esta, por sua vez, está como fundamentação do campo da psicanálise. Livro instigante, complexo, enriquecedor, afigura-se como leitura altamente indicada para psicanalistas e pesquisadores, leitores da arte contemporânea.

 

O momento freudiano

 

 

Christopher Bollas
Tradução: Rafael Zeni
Revisora Científica: Celina Giacomelli
São Paulo: Roca, GEN/Grupo Editorial Nacional, 2013, 76p.

Os ensaios, entrevistas e palestras que compõem este livro foram realizados em 2006. Aqui estão presentes algumas das considerações mais recentes e importantes de Bollas sobre o pensamento inconsciente e de como se pode articular o conceito de inconsciente em nossas práticas clínicas contemporâneas. Destaca-se a questão de como a teoria constitui forma de percepção inconsciente, ampliando a compreensão de como um objeto de percepção possui qualidades objetivas abertas para a apreensão inconsciente. Bollas é veemente em sua crítica a um excesso de técnica psicanalítica, especialmente na questão de se privilegiar por demais a interpretação da transferência do "aqui e agora" em detrimento da escuta da associação livre do paciente. Seu famoso artigo sobre o objeto de transformação (transformational object) passou a funcionar como uma contribuição de base na medida em que permitiu compreender, em uma dinâmica diferente, mais complexa, a mútua relação inconsciente entre mãe e criança. Além disso, proporcionou que aprofundássemos nosso conhecimento a respeito da maneira pela qual o objeto pode afetar e influenciar o que chamamos de self, destacando que mesmo como sujeitos inconscientes que somos, ainda assim somos moldados pelo efeito do outro sobre nós. Deve-se louvar a presente tradução desse livro para o português, por possibilitar ao público brasileiro poder conhecer melhor o original e criativo pensamento desse importante autor da Psicanálise contemporânea. "Transformações psíquicas", "Articulações do inconsciente", "Identificação perceptiva", "O que é teoria?" e "A interpretação da transferência como uma resistência à associação livre" compõem os capítulos da coletânea aqui apresentada. Não é sempre que encontramos reunidos em um único livro ideias e contribuições tão importantes de um autor tão significativo da Psicanálise atual.

 

 

Fairbairn em Sete Lições

Luis Claudio Figueiredo
Teo Weingrill Araujo
São Paulo: Escuta, 2013, 112p.

O mais recente livro de Luis Claudio Figueiredo - realizado a partir de aulas ministradas na PUC-SP, e agora acompanhado por Teo Weingrill Araujo - compartilha com seus leitores mais um importante autor da Psicanálise, o escocês William Ronald Dodds Fairbairn, contemporâneo de Melanie Klein e que vem sendo redescoberto nas últimas duas décadas pelos analistas brasileiros. Figueiredo se utiliza do interessante método de desconstruir um texto, uma obra, detalhe a detalhe, fazendo com que desse modo possamos entrar em contato íntimo com o estilo e o modo de pensar do autor estudado, compreendendo sua visão criativa e seu percurso produtivo. A obra de Fairbairn possui originalidade incontestável. A partir de seu livro Estudos psicanalíticos da personalidade (1952), sua contribuição pode ser subdividida em uma vertente fenomenológica, na qual se atenta para a patologia, de natureza esquizoide, da vida psíquica, na qual se estabelece uma organização defensiva frente à frustração inevitável para com o ambiente; e em uma vertente estrutural, na qual se apreende o modo como essa organização defensiva, com seus componentes, dinamismos e desenvolvimento se estabelece. Conceitos como libido e noção de objeto são revistos a partir de outro ponto de vista. Fairbairn aponta para a ideia de que a libido busca objetos, ao invés de se ocupar da, até então, postulada descarga, com os consequentes alívio e prazer. A libido é entendida a partir do Eu, e não como expressão energética do Id. Buscar objetos significa, nesta teoria, buscar reconhecimento de existência, além de instituição e validação do próprio movimento de busca. Os objetos, nesse sentido, tornam-se veículos de cuidado, de reconhecimento e identificação. Diante da falha inevitável do ambiente, do adulto cuidador, ocorre intensa decepção, implicando um processo de cisão do Eu, com o recalcamento concomitante das estruturas dinâmicas, representantes das novas descobertas sobre o mundo humano. Todo esse arranjo defensivo inconsciente envolve uma espécie de volta sobre si mesmo frente ao malogro do investimento e da crença amorosa, visando poupar a realidade da maldade e manter a esperança de uma postura corretiva do sujeito que garantisse proteção futura, ainda que superegoica, por parte da realidade. Como se pode perceber neste brevíssimo resumo, trata-se de livro extremamente importante ao trazer para discussão um autor cuja obra nos parece tão contemporânea.

 

 

Campo analítico: Um conceito clínico

Antonino Ferro
Roberto Basile (Orgs.)
Tradução: Roberto Cataldo Costa
Consultoria, Supervisão e Revisão Técnica: Patrícia Fabrício Lago Porto Alegre: Artmed, 2013, 200p.

Esta obra congrega nove artigos que tratam de modo convergente uma das mais originais concepções sobre a relação analítica que foi inicialmente formulada na América Latina por Willy e Madeleine Baranger, o conceito de Campo analítico. Este tema tem sido um grande estímulo para novas e criativas abordagens clínicas na Psicanálise. Neste livro, organizado por Ferro e Basile, presentes no primeiro artigo, podemos ver alguns dos desenvolvimentos derivados de diferentes ambientes psicanalíticos, enriquecidos por esclarecedoras ilustrações clínicas, que tornam evidente como uma ideia inovadora e frutífera influencia novas reflexões e novos diálogos entre os psicanalistas, reforçando uma marca registrada da Psicanálise: sua permanente construção. Em todos os artigos a ideia básica, original, da noção de Campo analítico é resgatada, ou seja, destaca-se a partir da exploração de um vértice relacional, em Psicanálise, em que a dupla analítica cria um campo dinâmico, uma situação entre dois seres humanos que permanecem ligados e complementares enquanto compartilharem a situação analítica e estiverem envolvidos por um único processo dinâmico. Nessa condição, nenhum membro do par pode ser compreendido sem o outro, uma vez que no Campo analítico todas as estruturas presentes, ou que venham a surgir, dependem da interação entre os dois participantes. Objetivo específico deste livro é apresentar não só discussões teóricas sobre a noção de Campo analítico, como também contribuições sobre o trabalho clínico e técnico. Fica evidente que esse conceito altera o paradigma do trabalho analítico, que passa a desvelar um sentido oculto a facilitar a possibilidade de pensar por si mesmo sobre possíveis novos sentidos do sofrimento humano, fazendo com que a clínica psicanalítica torne-se como um laboratório dedicado não apenas ao passado psíquico, mas também ao que pode vir a ser. Como resultado disso, o aspecto relacional se amplia, tornando-se uma corrente que flui através do campo, ampliando as compreensões e entendimentos do funcionamento psíquico.

 

 

Sobre amores e exílios: Na fronteira da Psicanálise com a Literatura

Andréa Brunetto
São Paulo: Escuta, 2013, 128p.

A autora deste livro, psicanalista, psicóloga, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano de Campo Grande, fiel ao preceito de Lacan de que o psicanalista não deve tentar encontrar, a partir de sua obra, as neuroses de um autor, vale-se dos textos de renomados escritores, do mesmo modo que Freud fizera com a Gradiva, de Jensen, para ensinar aquilo que o romancista revela, demonstrando o que está anunciado nas primeiras páginas de seu livro: a Psicanálise pouca importância teria para a Literatura, mas esta muito valor teria para o analista. De maneira íntima e agradável, a autora nos convida a que acompanhemos sua trajetória por uma dimensão que mostra como, seja no amor ou no exílio, somos todos estrangeiros, "desterrados do país-infância", exilados do inconsciente, habitantes de uma cena estranha a nós mesmos. Passeando por autores e lugares tão diversos como Imre Kertész, Elfried Jelinek ou Orhan Pamuk, entre outros, e Auschwitz, Viena ou Istambul, a autora evidencia que não só a Psicanálise, também a literatura, não tem pátria ou fronteiras. A aparente simplicidade do texto é fruto de profunda leitura e enorme familiaridade com todos os escritores citados, informando que o gosto que herdou pela literatura foi, no entanto, inteiramente conquistado por ela mesma, na medida em que é resultado de ter assumido seu desejo pela literatura e vinculado tal desejo à sua aliança com a Psicanálise. Como escrito pela autora: "A honra da literatura é evidenciar que o homem não é a 'fina flor da criação' - essa é a ilusão de seu ser religioso - e sim Sicutpalea, isso que Lacan almejava que um analista descobriria ser ao final de sua análise: nada, dejeto, estrume. E dessa condição de 'exilado das coisas', de falta do objeto, seu ser de desejo pode emergir. Isso é o que melhor a literatura nos mostra".

 

 

No limiar do silêncio e da escrita: Traços da autoria em Clarice Lispector

Maria Lucia Homem
São Paulo: Boitempo, Editora da Universidade de São Paulo, 2012, 195p.

A autora deste livro é psicanalista, pesquisadora do Núcleo Diversitas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da usp, professora da faap, pós-graduada em Psicanálise e Estética pelo Collège International de Philosophie e pela Universidade Paris viii, com doutorado em Literatura Comparada pela usp. Respeitando os conceitos que a própria obra de Lispector produz, a autora pergunta: "Por que a questão do silêncio tem sido considerada recorrente e fundamental quando se trata de pensar a escrita de Clarice Lispector?". Dando corpo àquilo que a autora chama de "subversão do universo da escrita" produzida pela escritora, Maria Lucia Homem demonstra como uma das mais representativas escritoras brasileiras contemporâneas foi capaz de formalizar uma experiência da linguagem, que parece seguir de perto os esforços de Lacan em mostrar até onde pode ir uma clínica do sofrimento psíquico baseada exclusivamente na reorientação da fala do analisando. Clínica psicanalítica e crítica literária se entrelaçam neste texto para mostrar os sintomas e as sublimações de um sujeito marcado pelo questionamento de seus ideais modernos de unidade, autenticidade e autonomia. Na dissociação da figura clássica do autor operada por Lispector, a autora consegue encontrar modos de vivenciar o que a experiência clínica psicanalítica nos mostra como impossível de esquecer. Para além da rica bibliografia crítica de Lispector, Maria Lucia Homem permite, com sua obra, que a reflexão sobre a natureza do fenômeno literário a partir de setores mais avançados da literatura brasileira dê um belo passo a frente. Existe uma concepção comum em certa tradição da filosofia da linguagem, que estabeleceria a relação existente entre linguagem e silêncio, de forma que este seria a condição de possibilidade daquela. Assim, não se trata de opor os registros do silêncio e da linguagem, mas de buscar, em contrapartida, seus entrelaçamentos. É justamente isso que a autora procura pensar com toda a sua complexidade e densidade, de forma simultaneamente rigorosa e vigorosa. Desta maneira, a fim de interpelar e apreender em estado nascente os traços de autoria em Clarice Lispector, trabalha sua obra focada em três de seus livros - Água viva, A hora da estrela e Um sopro de vida. Sua leitura se inscreve nas bordas entre a filosofia (Foucault e Adorno) e a psicanálise (Freud e Lacan), pelas quais procura articular a crítica literária em um outro viés.

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