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Revista da SPAGESP

versión impresa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP v.2 n.2 Ribeirão Preto  2001

 

PARTE I - EQUIPE, INSTITUIÇÕES E GRUPOS

 

Comentário da mesa de temas livres – V Jornada da SPAGESP – Franca – março/2001

 

 

Solange A. Emílio 5

Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares - NESME

Endereço para correspondência

 

 

Trabalhos Comentados na Jornada:

- Grupo de acolhimento - não entregue para publicação.

- Experiência com grupos: da reflexão à análise - Dorothy Bono de Abreu

- Minha primeira experiência em grupoterapia - Rosimara Escolano da Silva de Paula

- Grupo de luto - Não entregue para publicação.

- O Editor acrescentou o trabalho sobre Equipe, de Sérgia Moraes da Silveira, entendendo que os comentários seriam úteis e pertinentes ao mesmo.

 

(...) no futuro os estudiosos da sociologia e da psicologia do ser humano perguntar-se-ão, perplexos: “Como é que há mais tempo nós não nos interessamos por grupos, se vivemos e convivemos em uma permanente, intensa, extraordinária e complexa relação do indivíduo com o seu mundo?”?

David E. Zimerman, 2000

 

Quando recebi os trabalhos escritos que seriam comentados por mim na Jornada, sabia que se tratavam de temas livres e que haviam sido produzidos, separadamente, por seus autores. No entanto, dentro da minha cabeça, ao lê-los e relê-los, foi se formando um grupo 6, pois apesar de trazerem diferenças significativas quanto aos contextos, à formação de seus autores e às situações descritas, era possível encontrar neles alguns eixos comuns. Por este motivo, nos meus comentários, considerei inviável discuti-los separadamente.

Selecionei, então, três principais temas que emergiram das leituras e será a partir deles que comentarei os trabalhos. São eles: necessidade, dificuldade e possibilidade.

 

Necessidade

Os grupos têm sido a cada dia mais necessários, em diversos contextos. Seja na formação de grupoterapeutas, seja no acolhimento a pacientes, os utilizados na prevenção e tratamento de doenças físicas e mentais, ou aqueles que servem como suporte nas situações difíceis, entre outros.

A mola propulsora para montar estes grupos é a necessidade: das instituições públicas, para dar conta da demanda crescente de pacientes, dos profissionais que precisam viver os grupos para aprender a coordená-los, e dos participantes que precisam receber o acolhimento, o conforto e o espaço de escuta que o grupo muitas vezes oferece.

Podemos tomar emprestada a imagem da menina que havia sido adotada e se sentia rejeitada pelos pais para pensarmos que o grupo vem muitas vezes preencher uma necessidade de aceitação, de afiliação e de pertença que trazemos, seja enquanto coordenadores, terapeutas e co-terapeutas ou como participantes do grupo.

 

Dificuldade

Apesar da demanda crescente pelos grupos, da disponibilidade dos profissionais em experimentar esta forma de trabalho, há inúmeras dificuldades presentes, quando pensamos na concretização dos mesmos. Uma delas, diz respeito à própria constituição do grupo: como agrupar os participantes; conciliar horários; e ultrapassar as resistências iniciais em trabalhar em grupo; são algumas das questões presentes. Outra questão importante é como manter o grupo em funcionamento: vimos, nos trabalhos apresentados, que as faltas de alguns membros, o esvaziamento do grupo e a dificuldade de acolhimento das diferenças, podem gerar fantasias de aniquilamento em todos os participantes.

Além disso, os silêncios e os ataques à coordenação e aos demais membros do grupo são dificuldades importantes enfrentadas pelo mesmo. Ficou claro nos relatos presentes nos trabalhos que é fundamental que o coordenador ou terapeuta do grupo tenha recursos (ou onde resgatá-los) para superar tais situações e permitir ao grupo continuar e crescer com elas.

 

Possibilidade

Como vimos, as dificuldades não são pequenas e não há receita ou solução pronta para elas. Apesar de tudo, os trabalhos apresentados trazem experiências que podem ser consideradas como bem-sucedidas.

Percebemos que o trabalho em grupo requer um enorme esforço de todos os participantes, tanto para que sejam enfrentadas as dificuldades iniciais, como para que ele possa se manter. Porém, ficou também evidenciado que o grupo pode ser um excelente recurso em benefício das pessoas, que se sentem acolhidas e aderem à psicoterapia, que podem aproveitá-lo para elaborar perdas ou para “ventilar”, “diminuir a pressão” de suas vidas, ou  que podem utilizá-lo para aprender a viver em grupos e  trabalhar com eles.

Pelo exposto, posso concluir, com os autores dos trabalhos comentados, que os grupos são de fato necessários, para não dizer imprescindíveis, geralmente difíceis, mas, sobretudo, possíveis e, principalmente,  possibilitadores.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PICHON-RIVIÈRE, E. O Processo Grupal. 5ª. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1994.        [ Links ]

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Básicos das Grupoterapias. 2.ed. Porto Alegre. Artes Médicas Sul, 2000.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Solange A. Emílio
E-mail: solange.emilio@bol.com.br

 

 

5 Psicóloga clínica; mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Mackenzie; doutoranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo; psicóloga responsável pelo departamento de psicologia do Centro de Ensino São José; coordenadora da Área de Grupos do NESME.
6 Destaco que não estou me referindo ao conceito de grupo proposto por Pichon-Rivière (1994), que seria um conjunto de pessoas “ligadas entre si por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita ou implícita, uma tarefa que constitui sua finalidade” (op. cit. p. 177).