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Psicologia em Revista

 ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.19 no.1 Belo Horizonte abr. 2013

 

SEÇÃO ABERTA

 

Psicologia: diálogos contemporâneos

 

Psychology: contemporary dialogues

 

Psicología: diálogos contemporáneos

 

 

Melo, Patrícia Eliane de & Deusdedit Júnior, Manoel (Org.). (2012). Psicologia: diálogos contemporâneos. Curitiba: CRV.

 

 

Patrícia Eliane de Melo*

 

 

O livro é apresentado pelos autores como o resultado do esforço em organizar algumas das produções realizadas por profissionais que buscam não apenas produzir conhecimento, mas colocá-lo a serviço da transformação social em diferentes contextos. O interesse por uma Psicologia mais ampliada e articulada com as práticas sociais marca, de certa maneira, a práxis desse grupo de professores-pesquisadores da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Núcleo Betim), e que se manifesta não somente em suas metodologias em sala de aula, como também em grupos de pesquisa dos quais são coordenadores e colaboradores. Os textos produzidos são, portanto, resultados das reflexões oriundas dos fazeres de cada um desses profissionais, tendo como um eixo comum o compromisso com a transformação da realidade em que atuam; não por acaso, encontraremos nas discussões propostas pelos autores não apenas uma análise histórico-retrospectiva sobre os temas contemplados, como também reflexões sobre as possibilidades que se abrem para atuações presentes e futuras.

Nesse contexto e com o propósito de contribuir, atualizar e se fazer presente nesse debate em que se conectam as várias possibilidades do "fazer a Psicologia", o livro que apresentamos reúne um conjunto de textos sobre algumas reflexões que são pautadas tanto em pesquisas quanto nas várias práticas que esse pequeno grupo desenvolve junto à comunidade acadêmica. É característica desse grupo de professores-pesquisadores responder pelo desejo de se fazer uma pesquisa mais orgânica e voltada para a interrogação da realidade social.

Ao tomar como foco de investigação a tessitura da realidade social e os "encontros" da Psicologia com os vários campos de intervenção, o grupo pretende contribuir para o enfrentamento das questões que a todo tempo interrogam a práxis da Psicologia e nos faz confrontar com a necessidade de desenvolver formas mais criativas e inventivas de intervenção.

O livro começa, em seus três primeiros capítulos, com as professoras Rosa Maria Corrêa, Patrícia Eliane de Melo e Camila Graciella Santos Gomes nos apresentando a análise do projeto inclusivo de crianças especiais nas escolas, perspectivando a discussão das práticas de inclusão que vêm ganhando corpo entre os professores da rede pública de ensino. Consideram os dispositivos de poder atravessados na formação docente e os diversos modos de gestão do trabalho. Problematizam a inclusão como um dispositivo tensionador entre ensino especial e regular; ao mesmo tempo em que abrem a discussão acerca da constituição histórica na educação especial e as possíveis rupturas feitas ao longo desse processo.

Prosseguindo, no quarto capítulo, a escola é exposta no sofrimento psíquico em que atualmente se encontram seus professores. Os autores Manoel Deusdedit Junior e Patrícia Eliane de Melo apresentam os dados de uma pesquisa desenvolvida pelo Fundo de Apoio à Pesquisa da PUC Minas (FIP), pela qual chegaram à contundente conclusão de que a profissão docente não somente vem apresentando uma grande desvalorização (observada, tanto nos aspectos ligados à remuneração quanto naqueles relacionados ao reconhecimento social), como a existência de um maior adoecimento entre o corpo docente, tanto em nível físico quanto mental.

O quinto capítulo, de Paula Ângela Figueiredo de Paula, professora e psicanalista, aponta como que em tempo de escassez de direitos e exclusão sociais a solidariedade sempre foi convocada como esperança de a sociedade conquistar justiça social. Ela nos mostra como e por que a solidariedade é incapaz disso, alertando-nos para o fato de ser portadora de um dispositivo de hierarquização social, que mantém as desigualdades sociais sem liberar o sujeito do sintoma do qual queixa.

No sexto capítulo, o autor Renato Silveira Diniz, engajado em sua prática profissional como psiquiatra com um projeto de saúde mental que contemple uma maior articulação no campo do social entre o saber e as práticas psiquiátricas, coloca como objetivo principal analisar a metodologia utilizada na tese "Projeto Lopes Rodrigues: continuidades e rupturas nas conexões entre ensino psiquiátrico e prática assistencial em Minas Gerais (1920- 1930)", apontando para o esforço de elucidar as ferramentas metodológicas no campo da História, nas suas confluências com os saberes do território da saúde mental.

No sétimo capítulo, a professora e também psicanalista Mônica Assunção Costa Lima aborda o problema da constituição do corpo pelo sujeito, sob o ponto de vista da psicanálise, e destaca o complexo de Édipo e a adolescência como momentos cruciais nesse processo. Parte do pressuposto de que o corpo próprio é algo que não está dado, de início, ao ser falante, mas deve, ao contrário, ser construído no plano psíquico.

No oitavo capítulo, Maria José Gontijo, partindo da experiência em Psicologia jurídica com base na orientação lacaniana da psicanálise, considera o contexto de criação da especialidade no Brasil, analisando seus determinantes políticos e sociais, problematizando as demandas feitas pelo direito à Psicologia.

E, fechando o campo das reflexões desse livro, que tem como fio condutor a atuação da Psicologia nos vários nichos de saber, o nono capítulo apresenta a contribuição de Paulo Roberto Ceccarelli, psicólogo e psicanalista, que traz algumas reflexões que se acumularam ao longo dos anos (com base em sua experiência como orientador e coorientador de pesquisa) para a polêmica discussão sobre a cientificidade da psicanálise e, por conseguinte, sobre a pesquisa em psicanálise.

É um livro, que segundo seus autores, tem como pretensão contribuir tanto para a discussão quanto para o entendimento das várias possibilidades de "fazer Psicologia" na contemporaneidade. O objetivo final é tecer diálogos fundamentados nas experiências concretas oportunizadas pelas práticas com os múltiplos campos do saber da Psicologia.

 

 

* Pós-doutora e doutora em Psicologia Social (UERJ), professora adjunta IV da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail:patriciaelmelo@gmail.com.