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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

 ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.14 no.spe Belo Horizonte dez. 2021

https://doi.org/10.36298/gerais202114e17001 

ARTIGOS

 

Estratégias de regulação emocional maternas e de crianças: revisão da literatura

 

Mother's and children's strategies of emotional regulation: literature review

 

 

Ana Beatriz Mota SouzaI; Deise Maria Leal Fernandes MendesII; Stella Rabello KapplerIII

IUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: anabeatrizmota@oi.com.br.(orcid.org/0000-0002-4196-5285)
IIUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: deisefmendes@gmail.com.(orcid.org/0000-0003-3487-7284)
IIIUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: stella.rkappler@gmail.com.(orcid.org/0000-0002-5903-9845)

 

 


RESUMO

A regulação emocional é uma habilidade essencial para o bem-estar do indivíduo, sendo construída a partir da relação da criança com os seus cuidadores. O objetivo do presente estudo foi examinar características da produção acadêmica, entre 2008 e 2017, com foco na relação entre as estratégias maternas de regulação emocional e a regulação emocional em crianças. Para isso, foram realizadas buscas em três bases de dados, tendo sido selecionados, após utilizar os critérios de inclusão e exclusão definidos, 36 artigos. Algumas categorias foram concebidas para analisar os estudos. Verificou-se uma maior concentração de estudos em países norte-americanos e europeus, e em crianças de zero a três anos de idade. Conclui-se pela premência de estudos brasileiros sobre o tema, o que representaria um importante passo para a estruturação de programas de intervenção, endereçados a pais, professores e crianças, adequados à realidade cultural brasileira.

Palavras-chave: Regulação emocional. Socialização de emoções. Estratégias de regulação emocional.


ABSTRACT

Emotional regulation is an essential skill for the well-being of the individual, being built from the child's relationship with their caregivers. The aim of this study was to examine characteristics of academic production, between 2008 and 2017, focusing on the relationship between maternal strategies of emotional regulation in children. Searches were conducted in three databases, and 36 articles were selected, after using the inclusion and exclusion criteria defined. Some categories were designed to analyze the studies. More studies were verified in North American and European countries, especially among children from zero to three years of age. In conclusion, the study showed an urgency of Brazilian investigations on the subject, which would represent an important step for the structuring of intervention programs, addressed to parents, teachers and children, appropriate to the Brazilian cultural reality.

Keywords: Emotional regulation. Emotion socialization. Emotional regulation's strategies.


 

 

Embora a expressão, a compreensão e a regulação emocional sejam igualmente relevantes para o desenvolvimento da competência emocional, a regulação das emoções tem sido, nas últimas décadas, um tópico de grande interesse para os pesquisadores na área das emoções (Eisenberg & Morris, 2002; Gross, 2014; John & Gross, 2007; Thompson, 2011). A regulação emocional é uma habilidade essencial para o bem-estar do indivíduo, em todas as etapas do ciclo vital, bem como para o funcionamento psicológico saudável (Compas et al., 2014; De Steno, Gross, & Kubzansky, 2013). Dessa forma, estudos que abordem os fatores que intervêm de maneira significativa no fomento dessa capacidade são singularmente relevantes.

Eisenberg e Morris (2002) observam que, assim como não se tem uma definição unívoca para o termo emoção, há também certa variação conceitual para a regulação das emoções. Entretanto, a despeito de controvérsias, há um relativo consenso no que tange aos processos implicados na regulação emocional e, mesmo entre diferentes definições para o termo, podem ser encontrados alguns elementos comuns. Sendo assim, a regulação emocional pode ser definida como "processos intrínsecos e extrínsecos responsáveis por monitorar, avaliar e modificar as reações emocionais, especialmente sua intensidade e característica temporal, a fim de se alcançar um objetivo" (Thompson, 1994, pp. 27-28).

Eisenberg e Morris (2002) descrevem, como um dos relevantes marcos no desenvolvimento da regulação emocional, a dependência da regulação externa, especialmente nos anos iniciais de vida, em direção a uma regulação predominantemente interna, significando uma transição de uma dependência quase total da criança dos seus agentes socializadores para uma habilidade, cada vez maior, de autorregulação, já durante o período pré-escolar. Como argumentam Goldsmith, Pollak e Davidson (2008), os avanços na direção de formas mais complexas de manejo das emoções vão depender da natureza do cuidado parental que a criança recebe, particularmente nos primeiros anos de vida. Além disso, a cultura também imprime a sua marca nesse processo, na medida em que as predisposições temperamentais interagem com as normas culturais que regem as regras de exibição consideradas mais adequadas em um determinado nicho cultural, privilegiando certas estratégias de regulação emocional (Fox & Calkins, 2003; Trommsdorff & Cole, 2011). Nesse sentido, para uma melhor compreensão dos fatores que intervêm no desenvolvimento da regulação emocional, argumenta-se pela premência de estudos envolvendo populações oriundas de contextos culturais diversos, como discutido por Henrich, Heine e Norenzayan (2010).

Os processos extrínsecos da regulação emocional são traduzidos nas estratégias utilizadas pelos cuidadores principais da criança, revelando os principais mecanismos implementados por estes para a socialização da regulação emocional. Eisenberg, Cumberland e Spinrad (1998) observam que a socialização da regulação emocional, assim como a socialização dos demais componentes da competência emocional, é um processo complexo e multifacetado, sendo influenciado por fatores diversos, que interagem entre si. É relevante observar que a socialização das emoções não se estabelece em um sentido único, partindo dos cuidadores em direção à criança. Características da criança, como o seu temperamento, por exemplo, bem como seus comportamentos e reações, repercutem na forma como os cuidadores irão agir (Ayoub, Bartlett, & Swartz, 2014; Eisenberg, Cumberland, & Spinrad, 1998; Mendes & Pêssoa, 2013; Mendes, 2018).

Considerando-se as concepções teóricas previamente expostas e buscando uma compreensão do impacto dos pais, especialmente das mães, na regulação emocional da criança, o modelo tripartido, desenvolvido por Morris, Silk, Steinberg, Myers e Robinson (2007), assim como o modelo de socialização das emoções desenvolvido por Eisenberg et al. (1998), mostram-se profícuos. Segundo esses modelos, os pais influenciam a regulação das emoções da criança, por meio de três mecanismos principais: a observação da criança da regulação emocional dos pais (modelagem e contágio emocional), as práticas parentais relacionadas às emoções (treinamento e as reações dos pais às emoções de seus filhos) e do clima emocional da família (padrão de apego, estilo parental e o padrão de expressividade emocional da família).

Considerando ser a regulação das emoções uma habilidade relevante no desenvolvimento da criança, sendo construída a partir da relação desta com os seus cuidadores, pesquisas que busquem articular as estratégias maternas de socialização da regulação emocional com os processos regulatórios na criança revelam-se de especial importância. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura, analisando estudos com foco na relação entre as estratégias maternas de regulação emocional e a regulação emocional em crianças. Este trabalho pretende, ainda, destacar os mecanismos de socialização da regulação emocional implementados por mães como parte dos fatores relevantes no desenvolvimento de processos autorregulatórios em seus filhos.

 

Método

Para atingir os objetivos traçados por este estudo, foram realizadas buscas em três bases de dados: PsycNet (da American Psychological Association), Web of Science e Lilacs. Foram utilizados os termos de busca emotion, regulation, maternal strategies, para as bases PsychNet e Web of Science, e emoção, regulação e estratégias maternas, para a base de dados Lilacs, aplicando-se, entre as palavras de busca, o operador booleano "and" (na Lilacs, não há uso de booleano previsto).

Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: (a) estudos empíricos, transversais ou longitudinais; (b) estudos cuja amostra incluísse mães e crianças, podendo fazer parte da seleção estudos que, além das mães, tivessem na amostra pais e/ou outros perfis de adultos; (c) estudos publicados entre os anos de 2008 e 2017 (inclusive); (d) estudos envolvendo a regulação emocional e (e) estudos escritos nos idiomas inglês, português ou espanhol. Dos artigos encontrados, excluíram-se aqueles com crianças diagnosticadas com transtornos neurológicos e/ou psiquiátricos, além daqueles cuja amostra de participantes fosse constituída apenas de adolescentes e adultos.

As buscas nas bases de dados mencionadas resultaram na identificação de 154 artigos (47 na PsycNet, 101 na Web of Science e 06 na Lilacs), dos quais 41 eram duplicados, restando, então, 113 artigos. Destes, após a leitura dos títulos e resumos, 77 foram eliminados em função dos critérios de inclusão e exclusão, restando 36 artigos para a leitura completa e análise. Dos 77 artigos excluídos, 11 não eram artigos empíricos, 43 eram estudos com crianças diagnosticadas com transtornos neurológicos e psiquiátricos e estudos envolvendo adolescentes e adultos, 17 eram estudos cujo foco não era a regulação das emoções, quatro foram estudos escritos em idiomas diferentes do inglês, português e espanhol e dois não correspondiam à janela temporal de publicação delimitada para este estudo.

Dessa forma, totalizaram-se 36 artigos analisados, todos lidos integralmente. Para a análise dos dados, foram definidas as seguintes categorias: ano de publicação (buscou averiguar o período no qual houve maior concentração de publicações sobre o tema); país de origem do estudo (com o objetivo de identificar a localidade em que os estudos foram conduzidos e seu contexto cultural); abordagem teórica empregada (análise de modelos teóricos nos quais a pesquisa estava embasada: o que os estudos consideravam como características do constructo da regulação emocional e modelos de socialização das emoções utilizados); categoria das emoções investigadas no estudo (se as emoções alvo do estudo eram emoções de valência positiva e/ou negativa); delineamento da pesquisa (se estudo transversal ou longitudinal); participantes (caracterização dos participantes da pesquisa - crianças e mães; crianças, mães e pais; crianças, mães e outros perfis de adultos); faixa etária das crianças participantes (com o objetivo de verificar a que momento do desenvolvimento da criança a pesquisa estava mais direcionada); técnicas de coleta de dados (verificar as diferentes técnicas empregadas nos estudos e se foram aplicados instrumentos (padronizados ou não) e de que natureza (entrevistas, tarefas, registro em vídeo, escalas para mensuração dos aspectos relacionados à regulação emocional e às estratégias maternas de socialização da regulação emocional), quais e com que predominância.

 

Resultados

Em conformidade com os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos para a presente revisão de literatura, 36 artigos foram selecionados e analisados. Os resultados das análises revelaram que a maioria deles foi publicada entre os anos de 2014 e 2016 (n= 20, 55,55%), sendo que o ano de 2016 concentrou 22,22% das publicações sobre o tema.

A maior parte dos estudos (n=26, 72,22%) foi conduzida em países do continente norte-americano, sendo importante destacar que, destes, 24 (66,67%) foram realizados nos Estados Unidos e dois no Canadá. Da América Central, identificou-se um estudo (2,78%) realizado no México. De países asiáticos, foram identificados dois estudos (5,56%), um na China (Han, Quian, Gao, & Dong, 2015) e outro em Israel (Feldman, Dollberg, & Nadam, 2011). Do continente europeu, obtiveram-se cinco estudos (13,89%), sendo dois deles em Portugal, um na Itália, um na Hungria e um na Romênia.

Vale ressaltar que dois (5,56%) dos estudos selecionados nesta revisão foram transculturais (Bozicevic et al., 2016; Weiss, Trommsdorff, & Muñhoz, 2016). O estudo de Bozicevic et al. (2016) teve como objetivo, dentre outros aspectos, comparar a influência da cultura na regulação emocional da criança e nas práticas parentais, por meio de um estudo longitudinal com crianças e mães de dois contextos sul-africanos (urbano e rural) e crianças e mães inglesas. Essa investigação obteve resultados indicando diferenças na regulação emocional das crianças e nas estratégias maternas ao lidar com a angústia das crianças atribuídas à diversidade cultural. Tanto nas crianças africanas residentes em áreas urbanas, quanto nas inglesas, foi observado, em situações evocando a emoção da raiva, um uso maior de estratégias de regulação ativas, nas quais a criança buscava distrair-se da situação frustrante ou pedia o suporte do adulto para lidar com o que estava acontecendo. Nas crianças africanas residentes em área rural, os resultados indicaram uma reação predominantemente passiva a situações de frustração, que evocavam a emoção da raiva. Os autores atribuíram esses resultados aos valores e metas de socialização culturais que caracterizam as populações estudadas, particularmente no que concerne à expressão de emoções negativas. Bozicevic et al. (2016) observaram que as crianças residentes no contexto urbano africano, assim como as inglesas, são socializadas em contextos que priorizam trajetórias de desenvolvimento mais autônomas, nos quais há uma valorização da expressão de emoções, incluindo as negativas, o que, segundo os autores, faz com que elas demonstrem esforços mais ativos na superação de situações frustrantes. No contexto rural africano, os processos de socialização caminham em direção a trajetórias de desenvolvimento mais interdependentes e com grande respeito à autoridade, havendo, por conseguinte, um não encorajamento à expressão de emoções negativas, o que pode ter levado as crianças ao uso de estratégias de regulação da raiva mais passivas.

No que se refere à abordagem teórica dos estudos, observou-se que, dos estudos analisados, 14 (37,84%) se utilizaram da definição de regulação emocional proposta por Thompson (1994). Os demais estudos, embora não fizessem menção direta à definição de regulação emocional desse autor, abordaram o constructo de forma semelhante. Nessa categoria, foram analisados também os modelos de socialização das emoções nos quais os estudos estavam ancorados. Acerca desse ponto, o modelo tripartido de Morris et al. (2007), assim como o modelo de Eisenberg et al. (1998), foram referenciados em uma parcela significativa dos estudos (n= 12, 33,33%). A importância da regulação emocional para a saúde mental, para o desempenho acadêmico e para os relacionamentos sociais foi ressaltada na totalidade dos 36 artigos.

Morelen, Shaffer e Suveg (2014) realizaram um estudo com mães e crianças americanas, objetivando examinar a relação entre a regulação emocional materna, as estratégias utilizadas pelas mães no manejo das emoções de seus filhos e a regulação emocional da criança. O estudo dessas autoras buscou investigar dois domínios do modelo de Morris et al. (2007): a modelagem (examinada aqui pela regulação emocional materna, considerada na medida em que esta informa à criança a maneira como a mãe lida com as próprias emoções) e os comportamentos parentais relativos às emoções. Os resultados indicaram, dentre outros aspectos, que mães que reportaram dificuldades em se regularem emocionalmente foram menos contingentes às emoções expressas por seus filhos, quando comparadas a mães que não relataram tais dificuldades. Tal resultado parece evidenciar que mães com maiores habilidades de regulação emocional têm maior probabilidade de se utilizarem de estratégias de socialização da regulação emocional mais acolhedoras, que não desqualifiquem as emoções expressas pelos filhos. As autoras ressaltaram a relevância de que as experiências emocionais das crianças não sejam minimizadas ou punidas pelos pais, pois isso representa um fator de risco para no desenvolvimento das habilidades de regulação emocional da criança.

A depressão materna e o estilo de apego entre o cuidador e a criança são considerados, de acordo com os modelos de Eisenberg et al. (1998) e Morris et al. (2007), características que podem afetar as estratégias maternas de socialização da regulação emocional e, consequentemente, a regulação emocional da criança. Sendo assim, foram destacados nove artigos (25%) que investigaram as relações entre a depressão materna e a regulação emocional de crianças e sete estudos (19,44%) que tinham como objetivo averiguar se o estilo de apego entre o cuidador e a criança exercia influência significativa na regulação emocional desta.

Ainda no tocante aos aspectos teóricos abordados, oito estudos (22,22 %) ressaltaram o fato de os processos de socialização das emoções serem bidirecionais, ou seja, de o quanto as características das crianças também afetam as estratégias de socialização das emoções implementadas pelos cuidadores. Um estudo representativo dessa categoria foi o desenvolvido por Mirabile, Scaramella, Sohr-Preston e Robison (2009). Esses autores, em estudo com mães e crianças americanas, buscaram investigar como a propensão da criança em direção a uma emotividade negativa, como traço temperamental, interage com os esforços das mães para socializarem a regulação emocional. Os resultados indicaram que as crianças com alta reatividade emocional negativa, medida neste estudo pela angústia frente a situações frustrantes, eram menos responsivas às tentativas de suas mães em ajudá-las a lidar com as emoções negativas evocadas por essas situações. As autoras discutiram que esse traço do temperamento da criança faz com que as mães tenham estratégias diferentes de socialização das emoções, quando comparadas a mães com filhos menos reativos emocionalmente.

No que tange à categoria das emoções investigadas no estudo, apenas dois deles (5,55 %) tiveram como alvo a investigação da regulação de emoções positivas (alegria e interesse) nas crianças participantes, embora não de maneira exclusiva, pois investigaram também a regulação de emoções negativas. O estudo de Roque e Veríssimo (2011), realizado com mães e crianças portuguesas, teve como objetivo investigar a importância de contextos eliciadores de emoções positivas e negativas e dos comportamentos maternos frente às emoções das crianças nas estratégias de regulação emocional das crianças. Alguns dos resultados encontrados indicaram que a expressão emocional das crianças variou em função do contexto eliciador da emoção. As crianças exibiram mais expressões emocionais durante episódios de medo e raiva do que em situações que eliciavam emoções positivas. Esses resultados sugerem, segundo as autoras que, em episódios que evocam emoções negativas, as crianças expressam mais as suas emoções como uma forma de suscitar o comportamento materno de apoio. Outra observação interessante das autoras foi a de que o desenvolvimento de estratégias de regulação emocional pode seguir trajetórias diferentes, quando vêm de contextos eliciando emoções positivas e contextos que eliciam emoções negativas, particularmente o medo.

Wu, Feng, Hooper e Ku (2016) realizaram um estudo com mães e crianças americanas, com o objetivo de testar um modelo de emotividade (positiva e negativa) da criança como moderador das relações entre a socialização materna das emoções e a regulação emocional da criança. Os resultados que obtiveram indicaram que crianças que expressavam com maior frequência emoções negativas eram mais suscetíveis à influência de estratégias maternas de regulação emocional menos acolhedoras, o que levou os autores ao entendimento de que a emotividade positiva (maior frequência de expressão de emoções positivas) é um fator protetor a aspectos mais nocivos do ambiente familiar em que a criança está inserida.

A grande maioria dos estudos, 32 (88,89%), teve como participantes crianças e suas mães. Dois estudos (5,56%), apenas, coletaram dados com as crianças, suas mães e pais. Vale ressaltar que o fato de ter sido encontrado um número pouco expressivo de estudos incluindo os pais pode ser atribuído à escolha dos termos de busca escolhidos para esta revisão. Dois estudos tiveram como participantes crianças e outros perfis de adultos, como professores (n=1, 2,78%) e outros perfis (n=1, 2,78%).

A maior parte dos estudos selecionados foi transversal (n=23, 63,89%), tendo sido encontrados 13 estudos longitudinais (Blandon, Calkins, Keane, & O'Brien, 2008; Bozicevic et al., 2016; Coppola, Ponzetti, Aureli, & Vaughn, 2016; Edwards et al., 2017; Feng et al., 2008; Graziano, Calkins, & Keane, 2011; Kim, Stifter, Philbrook, & Teti, 2014; Lowe et al., 2012; Penela, Walker, Degnan, Fox, & Henderson, 2015; Planalp & Braungart-Riecker, 2015; Premo & Kiel, 2014, 2016; Thomas, Letourneau, Campbell, Thomfor-Madsen, & Giesbrecht, 2017). Esses estudos ressaltaram o quanto as estratégias maternas de regulação emocional se tornam mais complexas à medida que a criança cresce e se desenvolve em todos os domínios.

Em relação à faixa etária das crianças participantes, optou-se por classificá-las em três faixas de idade: zero a três anos, três anos e um mês a cinco anos e onze meses (usualmente denominada na literatura de "pré-escolar") e seis a 12 anos ("escolares"). Alguns estudos utilizaram mais de uma faixa de idade. Dos 23 estudos transversais, 20 coletaram dados com crianças na mesma faixa de idade, sendo que oito (22,22%) coletaram dados com crianças na primeira faixa etária, seis (16,67%) com crianças pré-escolares e outros seis (16,67%) abordaram a faixa etária de seis a 12 anos. Os outros três estudos transversais compararam aspectos da regulação emocional em crianças de diferentes faixas de idade, sendo que um (2,78%) contrastou crianças na faixa etária de zero a três anos com crianças pré-escolares e dois (5,56%) compararam crianças pré-escolares com crianças na faixa de idade escolar.

Dos treze estudos longitudinais, quatro avaliaram a mesma criança em duas ou mais faixas de idade. Um deles (2,78%) avaliou as crianças participantes quando elas estavam na idade pré-escolar e escolar, e três estudos (8,33%) avaliaram as crianças na faixa etária de zero a três anos e na idade escolar. Os demais estudos longitudinais, nove (25%), avaliaram as crianças em idades diferentes, porém, fazendo parte da mesma faixa de idade, a faixa de zero a três anos. Os percentuais destacados em parênteses se referem à porcentagem em relação ao total de artigos selecionados neste estudo (36).

Dessa forma, sobre a faixa de idade contemplada nos estudos presentes nessa revisão, observou-se um significativo número de pesquisas, tanto longitudinais quanto transversais, que coletaram os dados, ainda que não exclusivamente, na faixa de idade correspondida entre o nascimento e os três anos de idade (Ancona, Cabrero, Lena, & Cruz, 2013; Bozicevic et al., 2016; Coppola et al., 2016; Edwards et al., 2017; Feldman et al., 2011; Feng et al., 2008; Graziano et al., 2011; Khoury et al., 2016; Kim et al., 2014; Lowe et al., 2012; Manian & Bornstein, 2009; Mirabile, Scaramella, Sohr-Preston, & Robison, 2009; Penela et al., 2015; Planalp & Braungart-Rieker, 2015; Premo & Kiel, 2014, 2016; Roque & Veríssimo, 2011; Roque, Veríssimo, Fernandes, & Rebelo, 2013; Susa et al., 2014; Thomas et al., 2017).

Em relação às técnicas de coleta de dados, verificou-se que a quase totalidade dos artigos selecionados (n= 34, 94,44%) não se utilizou de uma técnica exclusiva para coleta de dados. Foram encontrados estudos que combinaram várias delas, tais como tarefas, entrevistas, questionários padronizados, inventários, escalas, medidas fisiológicas e vídeo-gravações, não tendo sido verificado um tipo de combinação mais frequente. Não obstante, observou-se que grande parte dos estudos (n=24, 66,67%) utilizou-se da associação de tarefas com uma ou mais técnicas.

A utilização de tarefas teve como objetivo avaliar as estratégias de regulação emocional das crianças participantes, assim como a interação entre a mãe e as crianças, visando verificar aspectos relacionados a estratégias de regulação das emoções implementadas pelas mães e seus impactos na regulação emocional das crianças. Dentre as tarefas, constatou-se em seis estudos o uso da tarefa descrita na literatura como "Delay of Gratification" (atraso de gratificação), que visa avaliar o grau em que a criança adia um resultado imediato em favor de uma recompensa maior no futuro (Luerssen & Ayduk, 2014). Houve ainda quatro estudos que se utilizaram da tarefa denominada na literatura de "Still Face" (Paradigma do rosto imóvel), que visa avaliar a regulação emocional entre crianças pequenas e suas mães. Feldman, Dollberg e Nadam (2011) salientam, em um estudo realizado com mães e crianças israelenses, que tanto a tarefa de atraso de gratificação, quanto a que utiliza o paradigma do rosto imóvel, são bastante fidedignas na avaliação das estratégias de regulação emocional de crianças, assim como, no caso do paradigma do rosto imóvel, na observação dos comportamentos regulatórios entre a mãe e a criança. Foram utilizadas, em quatro estudos, medidas fisiológicas (tais como nível de cortisol e tônus vagal). Em 10 estudos, foram utilizados questionários, em 12 estudos os dados foram obtidos por meio de vídeo-gravações e seis estudos empregaram inventários para averiguar a depressão materna.

Apenas dois estudos (5,56%) coletaram dados utilizando-se de apenas uma técnica. Um desses estudos usou a observação em uma situação experimental, com a mãe e a criança, que eliciava a emoção da raiva (Ancona et al., 2013) e o outro se utilizou da tarefa do paradigma do rosto imóvel (Manian & Bornstein, 2009).

No que concerne à utilização de instrumentos padronizados, observou-se que, dos estudos que empregaram questionários padronizados, o mais utilizado (n=7, 19,44%) foi o Emotion Regulation Checklist (Shields & Cicchetti, 1997). Esse questionário é um instrumento de heterorrelato (no caso dos estudos mencionados, o preenchimento foi feito pelas mães), com o objetivo de avaliar o nível de regulação emocional de crianças. Em seguida, o Infant Behavior Questionnaire (Garstein & Rothbart, 2003), utilizado em cinco estudos (13,89%), que se propõe a medir dimensões específicas do temperamento da criança. O Child Behavior Checklist (Achenbach, 1991), em sua versão original ou reduzida, foi utilizado em quatro estudos (11,11%). Este questionário tem como objetivo avaliar uma ampla gama de padrões de comportamento relacionado ao temperamento (reatividade positiva e negativa e mecanismos de autorregulação) em crianças de três a oito anos de idade. Observa-se que todos os instrumentos citados até aqui são instrumentos de heterorrelato, ou seja, objetivam avaliar aspectos concernentes à regulação emocional das crianças por meio do relato de seus cuidadores. Além desses, seis estudos (16,67%) usaram o Inventário de Ansiedade de Beck (Beck, Steer, & Brown, 1996), um instrumento de autorrelato que objetiva medir a intensidade de episódios depressivos maternos.

Das escalas utilizadas, a escala "Coping with Children's Negative Emotions Scale (CCNES)" (Fabes, Eisenberg, & Bernzweig, 1990) foi a mais empregada nos estudos, estando presente em nove deles (25%). Essa escala, um instrumento de autorrelato, visa investigar as práticas mais comumente adotadas pelos pais diante as emoções negativas expressas pelos filhos em idade pré-escolar e escolar.

 

Discussão

O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão da literatura, abrangendo o período de publicação entre 2008 e 2017, dos estudos empíricos que abordavam a relação entre estratégias maternas de regulação emocional e a regulação emocional em crianças. Com isso, teve-se o propósito de traçar um panorama do que vem sendo produzido sobre essa temática, promovendo subsídios que favoreçam o avanço das investigações. Foram lidos 36 artigos, na íntegra, e, a partir de categorias pré-definidas, sistematizados alguns aspectos de análise para discussão.

No tocante ao ano de publicação dos estudos, verificou-se que uma parcela significativa deles concentrou-se entre os anos de 2014 e 2016 e, embora o ano de 2017 tenha apresentado um número pequeno de estudos, observa-se, especialmente a partir do ano de 2014, um maior interesse pelo tema. Dada a importância da regulação emocional para os diversos aspectos que integram o desenvolvimento da criança (Compas et al., 2014; De Steno et al., 2013), o aumento de investigações acerca dessa habilidade e dos fatores extrínsecos, particularmente as estratégias maternas de socialização da regulação emocional, que nela intervêm, é significativo, devendo ser fomentado de modo continuado.

A maior parte dos estudos foi conduzida nos Estados Unidos da América e na Europa, não tendo sido encontrado nenhum estudo envolvendo populações brasileiras ou de outro país da América do Sul, com exceção do Chile, o que revela uma lacuna importante na literatura. No que concerne à população brasileira, sublinha-se a importância de ser explorada sua diversidade intracultural. Sobre essa questão, Henrich et al. (2010) argumentam que essas populações, denominadas de WEIRD (Western, Educated, Industrialized, Rich and Democratic), são pouco representativas da espécie humana, embora grande parte do arcabouço teórico da psicologia humana tenha sido construído em achados de estudos provenientes dessa população. Os autores observam ainda que os norte-americanos e europeus que usualmente compõem as amostras dos estudos em psicologia não são, em si mesmos, representativos das populações norte-americanas e europeias, visto se tratarem, em uma significativa parcela, de estudantes universitários. A proposição de Henrich et al. (2010) é de que devem ser desenvolvidos estudos comparativos, contemplando diversas sociedades humanas, combinadas com estudos com outros primatas, o que levaria a uma compreensão da psicologia humana que transcendesse o estabelecimento de universalidades e variabilidades.

No que concerne à compreensão teórica acerca do constructo da regulação emocional, observou-se que a definição proposta por Thompson (1994) para a regulação emocional foi diretamente citada em um número relevante de estudos. Embora, como já mencionado, não se tenha uma definição única para o constructo da regulação emocional (Eisenberg & Morris, 2002), há na literatura sobre o tema um certo consenso no tocante aos processos envolvidos na regulação das emoções, que vai ao encontro do conceito desenvolvido por Thompson (1994). Dessa forma, todos os estudos ressaltaram os processos intrínsecos e extrínsecos (especialmente os relacionados às estratégias de socialização da regulação emocional) que estão imbricados no desenvolvimento dessa habilidade.

O impacto dos pais, especialmente das mães, foi ressaltado nesta revisão por um relevante número de estudos, nos quais foi salientada a relevância das estratégias de socialização das emoções utilizadas pelas mães na regulação emocional de seus filhos, como a literatura científica sobre o tema já destaca desde a década de 1990 (Eisenberg et al., 1998; Morris, Silk, Steinberg, Myers, & Robinson, 2007). Dessa forma, estudos que investiguem a repercussão dos mecanismos parentais de socialização das emoções no desenvolvimento da regulação emocional são pertinentes, podendo, inclusive, contribuir para a elaboração de programas de intervenção, voltados para pais e educadores. Outro aspecto que merece destaque é a considerável parcela de estudos que abordou o fato de o processo de socialização das emoções ser bidirecional. Esses estudos examinaram em que medida as características das crianças irão também influenciar as estratégias de socialização das emoções implementadas pelos cuidadores. A literatura na área indica que tanto os processos da criança quanto os de seus cuidadores modelam e são modelados no desenvolvimento emocional da criança (Ayoub et al., 2014; Mendes & Pêssoa, 2013).

Outra questão que vale ser sublinhada nesta revisão é a de que a quase totalidade dos estudos tinha como objetivo a investigação da regulação emocional de emoções de valência negativa, predominantemente a raiva e a tristeza. Tal resultado vai ao encontro do que a literatura na área aponta, na medida em que grande parte dos problemas relacionados à regulação das emoções versa em torno da regulação de emoções de valência negativa (Compas et al., 2014; De Steno et al., 2013), o que, provavelmente, conduz as pesquisas acerca da regulação emocional para essa categoria de emoções. Os estudos de Roque e Veríssimo (2011) e Wu et al. (2016) salientaram a importância de pesquisas sobre a regulação de emoções positivas, argumentando que o estudo de estratégias de socialização que mantém ou aumentam a frequência de experiências de emoções positivas nas crianças, pode ser particularmente relevante para fomentar a resiliência a eventos estressores. Esse é um tópico que merece ser examinado por pesquisas futuras, indicando uma lacuna.

Os estudos longitudinais selecionados, embora em menor número, merecem destaque por permitirem, por sua própria natureza, o acompanhamento do curso do desenvolvimento da regulação emocional. Dessa forma, os estudos assim desenhados favorecem a identificação dos marcos no desenvolvimento da regulação emocional e de como as estratégias de socialização sofrem mudanças à medida que as crianças se tornam mais velhas, tendo sido essa a temática central dos estudos longitudinais selecionados nesta revisão. No tocante ao maior número de estudos transversais, pode-se pensar que isso tenha ocorrido em decorrência das dificuldades inerentes à realização de pesquisas longitudinais, especialmente a manutenção do número de participantes definido, além de demandarem maior investimento de recursos, inclusive financeiros. Entretanto, a despeito das limitações inerentes aos estudos com desenho longitudinal, argumenta-se pela necessidade de que as investigações acerca da temática aqui tratada primem por delineamentos longitudinais pelas vantagens oferecidas.

No que tange à faixa de idade, Lowe et al. (2012), assim como Mirabile et al. (2009), mencionam que o período entre o nascimento e os três anos de idade é bastante rico para a avaliação de aspectos da regulação emocional e da interação da criança com os cuidadores, especialmente as mães. Parece ter sido essa a causa do significativo número de estudos encontrados nesta revisão que utilizaram, em sua amostra, crianças nesse período de desenvolvimento. Não obstante a regulação das emoções represente uma capacidade presente em todas as etapas do ciclo vital, é na infância, especialmente nos anos iniciais, que se estabelecem as bases para as suas diferenças individuais na vida adulta (John & Gross, 2007).

No tocante às técnicas de coleta de dados, observou-se que a grande maioria dos estudos selecionados utilizou da associação de técnicas variadas, que objetivavam avaliar aspectos diversos da regulação emocional. Esse resultado está de acordo com o que a literatura sobre o tema ressalta acerca da necessidade de avaliação da regulação emocional por meio de múltiplos métodos, dada a complexidade desse constructo. Nessa perspectiva, Eisenberg e Morris (2002) salientam que o uso de duas ou mais técnicas é mais eficaz, quando se deseja examinar a regulação emocional. Isso se justifica na medida em que essa habilidade envolve processos intrínsecos (tais como o temperamento, desenvolvimento de habilidades cognitivas, dentre outros) e extrínsecos (relacionados especialmente às estratégias de socialização da regulação emocional), que se apresentam, ao longo do ciclo vital, de maneira integrada (Thompson, 1994). Sendo assim, na avaliação dessas variáveis e de suas inter-relações, a utilização de técnicas combinadas na coleta de dados, tais como a observação em situação experimental, inventários e tarefas, dentre outras, torna-se profícua na busca por uma melhor caracterização do aspecto da regulação emocional que o estudo almeja investigar.

Na análise dos instrumentos padronizados que buscavam avaliar as estratégias de socialização da regulação emocional, a escala "Coping with Children's Negative Emotions Scale" (Fabes et al., 1990) destacou-se como o mais utilizado para a investigação dos mecanismos de socialização das emoções negativas expressas pelas crianças. Seria interessante, em decorrência da carência de estudos brasileiros sobre a temática desta revisão, que instrumentos como esse fossem adaptados à população brasileira, de maneira a viabilizar o uso de instrumental amplamente empregado em diferentes países (além dos mais específicos)nas pesquisas sobre regulação emocional em contextos brasileiros.

Ainda no que concerne aos instrumentos padronizados, os três questionários mais empregados, o Emotion Regulation Checklist, o Infant Behavior Questionnaire e o Child Behavior Checklist são instrumentos de heterorrelato, objetivando avaliar determinados aspectos da regulação emocional das crianças por meio do reporte de suas mães. Como ressaltam Eisenberg e Morris (2002), os instrumentos que utilizam do reporte dos pais e outros adultos para avaliarem os comportamentos de regulação emocional das crianças têm vantagens e desvantagens. No que se refere aos pontos positivos, essas autoras argumentam que os adultos são, em geral, mais hábeis em responder questões relacionadas às emoções, tendo, sobretudo os pais e professores, mais oportunidades na observação da regulação emocional da criança ao longo do tempo e em uma grande variedade de situações sociais. Em contrapartida, o relato dos pais está sujeito a certas tendências, tais como o efeito da desejabilidade social, que pode levar os pais a responderem ao pesquisador o que julgam mais aceitável socialmente; no caso dos professores, estes estão também susceptíveis de realizar uma avaliação enviesada, o que pode levá-los a qualificar, de imediato, as crianças que apresentam um melhor desempenho acadêmico como mais hábeis na regulação emocional (Eisenberg & Morris, 2002). Assim sendo, para uma análise mais acurada da regulação emocional da criança, estudos combinando os instrumentos de heterorrelato com outras técnicas parecem prover dados importantes.

O desenvolvimento da regulação emocional, considerada uma competência de significativa importância para o bem-estar do indivíduo, é um processo diádico no qual os cuidadores exercem uma poderosa influência, sobretudo no início do ciclo vital. Dessa forma, a investigação de fatores que possam favorecer o desenvolvimento dessa habilidade, nos quais as estratégias maternas de socialização da regulação emocional constituem forças poderosas, torna-se primordial.

 

Considerações finais

A partir dos resultados e sua discussão, um dos aspectos que merece destaque no presente estudo é o fato de não terem sido encontradas nas bases de dados selecionadas pesquisas brasileiras sobre o tema. Tal fato é significativo, dada a importância da regulação das emoções para o desenvolvimento emocional da criança. Nesse sentido, a realização de estudos acerca dos fatores envolvidos no desenvolvimento da regulação emocional que contemplem a população brasileira, abrangendo os seus diferentes contextos socioculturais, é imperiosa, na busca por uma compreensão mais acurada de como essa habilidade se desenvolve em um país de dimensões tão abrangentes. Pesquisas nacionais representariam, ainda, um importante passo para a definição e estruturação de programas de intervenção endereçados a pais, professores e crianças, adequados à realidade cultural brasileira.

Dessa forma, e considerando-se a regulação emocional como uma habilidade que se desenvolve em um ambiente social, sendo fortemente influenciada por forças oriundas do nicho cultural no qual o indivíduo está inserido (Fox & Calkins, 2003; Thompson, 2011), argumenta-se pela relevância de que sejam realizados estudos considerando contextos diversos, além dos que têm sido comumente contemplados na literatura. Ressalta-se, portanto, a necessidade de pesquisas sobre como as estratégias maternas de regulação emocional impactam a regulação emocional de crianças, abrangendo outros países e nichos culturais, além dos norte-americanos e europeus. Adicionalmente, vale sublinhar a relevância de investigações que deem conta da diversidade intracultural de países, como é o caso do Brasil.

Outro resultado importante obtido por este estudo refere-se ao grande número de estudos investigando as estratégias de regulação das emoções consideradas negativas. Embora a literatura científica na área aponte que boa parte das dificuldades na regulação emocional relaciona-se às emoções de valência negativa, alguns estudos salientam a importância da investigação de estratégias de socialização que promovam a experiência de emoções de valência positiva nas crianças, que parecem favorecer o desenvolvimento da resiliência. Isso pode ser de grande valia no auxílio à elaboração de programas de saúde mental, voltados para pais e outros agentes socializadores, com foco em prevenção primária.

Com o objetivo de se atingir uma seleção mais ampla de investigações tratando da temática aqui em questão, pode ser considerada a conveniência de contemplar-se outras bases de dados e portais de busca, dando prosseguimento e ampliando a compreensão dos aspectos ressaltados nesta revisão. Sendo assim, considera-se imprescindível que novas pesquisas nessa temática cubram as lacunas apontadas, aprofundem aspectos a serem investigados e, assim, promovam avanços no conhecimento a respeito.

 

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Recebido em: 20/10/2018
Aprovado em: 2/12/2019

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