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Boletim de Psicologia

 ISSN 0006-5943

     

 

TRABALHOS DO ENCONTRO DE PSICOLOGIA JUNGUIANA

 

Abertura do Encontro de Psicologia Junguiana. Saudação

 

Opening of the Jungian Psychology Meeting

 

 

Maria Helena Souza Patto*

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

 

 

Antes de mais nada, quero cumprimentar os organizadores deste evento e os que aderiram a ele, levados pelo desejo de pensar. Cumprimento especialmente a Laura, minha colega de Instituto, que conheço desde que ambas éramos muito jovens. Eu, uma jovem professora; ela, uma jovem aluna.

Universidade é docência, pesquisa e prestação de serviços. Universidade é lugar de reflexão teórica, de criação de teorias e de conceitos que interpretam a realidade. No caso das Ciências Humanas, lugar de reflexão e de interpretação da condição humana: dos homens e das sociedades que eles criam a cada momento da história.

Como interpretações que são, as teorias não são neutras. Contêm concepções sobre o que são os homens e como se relacionam. O que são os grupos, as instituições e as sociedades humanas, a cada momento da história. Concepções datadas, que só podem ser entendidas se remetidas ao tempo histórico em que foram concebidas. Concepções, que contêm, mesmo que os que as criaram e as adotam não o saibam, uma dimensão política, ou seja, que carregam entendimentos sobre as relações de poder que podem somar com elas ou opor-se a elas. E, ao conter estas concepções, contribuem para a adesão sem crítica das pessoas ao que existe &– induzindo-as ao conformismo &– ou para a formação de uma postura crítica dos homens frente ao mundo que eles próprios constróem.

Se a Universidade é lugar de reflexão, ela não pode ser lugar de conhecimentos cristalizados e tidos como definitivos. Ela deve ser lugar de produção de saberes. Quando se mineraliza, o conhecimento é tomado como verdade definitiva e acima de qualquer suspeita.

O pensamento, assim constituído, não pensa a si mesmo, não é reflexivo, perde a capacidade de ser crítico. A teoria, assim entendida, torna-se mero instrumento para a realização de fins práticos ou pragmáticos. Nesse âmbito, o objetivo de quem se dispõe a aprendê-la é meramente um pragmático saber fazer.

O saber, ao contrário, é o conhecimento que não se cristaliza, que não vira fôrma ou fórmula, que é avesso aos automatismos, à eterna repetição. Permanentemente aberto, ele convida à reflexão e faz saber.

Jung sabia disso. Seu grande mérito talvez esteja na coragem de refletir, discordar e inovar, de dizer não ao Mestre. Ou seja, ele teve a coragem de pensar o pensamento psicanalítico. São exatamente esta capacidade e esta coragem que constituem uma instituição merecedora do nome de Universidade. Por isso, desejo a todos um dia pleno de reflexão e crítica, como propôs o Mestre que preside este evento.

 

 

Recebido em 30/05/06
Aceito em 10/06/06

 

 

* Endereço para correspondência: Instituto de Psicologia da USP. Av. Prof. Mello Moraes, 1721. São Paulo - SP. CEP: 05508-900.

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