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Boletim de Psicologia

 ISSN 0006-5943

     

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Algumas considerações sobre a psicologia analítica no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

 

Some considerations about Analytical Psychology at the Psychology Institute in the University of São Paulo

 

 

Laura Villares de Freitas*

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica

 

 


RESUMO

A partir da experiência de trabalho da autora com a Psicologia Analítica de Jung no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo nos âmbitos do ensino, pesquisa e prestação de serviços à comunidade ao longo dos últimos vinte e quatro anos, o artigo apresenta e busca articular dados históricos, impressões, expectativas econsiderações, com a intenção de suscitar novas reflexões e interlocuções. É apresentada também a proposta de Tacey de uma taxonomia que faz pensar em estilos junguianos na universidade.

Palavras-Chave: Psicologia analítica, Jung, Universidade, Ensino, Taxonomia junguiana, Universidade de São Paulo.


ABSTRACT

The author uses her practice concerning Jung’s Analytical Psychology at the Psychology Institute in the University of São Paulo, which includes teaching, research and assistance for the last twenty-four years, the author presents historical data, impressions, expectations and considerations, aiming to motivate further reflexions and new dialogues. Tacey’s proposal of a Jungian taxonomy is also presented, eliciting thoughts about Jungian styles at the university.

Keywords: Analytical Psychology, Jung, University, Teaching, Jungian taxonomy, University of São Paulo.


 

 

Venho compartilhar a experiência de trabalhar com a Psicologia analítica de Jung nos últimos 24 anos no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, na expectativa de despertar reflexões e impulsionar novos diálogos e avanços. Será dada aqui uma ênfase à prática vivida, a qual percorre os âmbitos de graduação e pós-graduação em Psicologia, além da extensão universitária e da pesquisa acadêmica. Tal prática traz questionamentos, sucessos e insucessos, lacunas e conquistas.

Também se pretende alguma inspiração e interlocução com a comunidade acadêmica junguiana internacional, a partir tanto da participação na “Second International Academic Conference of Analytical Psychology and Jungian Studies” quanto da consulta a publicações a respeito do ensino universitário da Psicologia de Jung (Tacey,1997; Brooke Tacey, 1997; Papadopoulos, 1997; Adams, 2004). Será apresentada também uma instigante taxonomia de estudos junguianos, que faz pensar em estilos de trabalho na universidade.

 

UM POUCO DE HISTÓRIA

A Universidade de São Paulo (USP) foi criada em 1934. Ela é atualmente a maior instituição de ensino superior e pesquisa do país e está entre as cem primeiras organizações similares do mundo. São trinta e cinco unidades, distribuídas em seis campi universitários, além de alguns prédios isolados.

A USP tem a finalidade de “promover a pesquisa e o progresso da ciência, transmitir pelo ensino conhecimentos que enriqueçam ou desenvolvam o espírito e que sejam úteis à vida; e formar especialistas em todos os ramos da cultura e em todas as profissões de base científica ou artística” (Portal da USP, 2006).

Merece destaque aqui o trecho que se refere a desenvolver o espírito e ser útil à vida, bastante condizente com a postura de Jung frente à vida e à ciência. Ele se referia com bastante freqüência ao ‘espírito’, no sentido de algo que transcenda o cotidiano da vida e a estreiteza inerente ao ego. Jung (2003), quando indagado sobre questões religiosas, não costumava afirmar suas crenças, mas abria-se para considerar as mais diferentes religiões e atividades humanas, sempre buscando sua base psicológica e seu valor enquanto acervos de símbolos culturais. Para ele, cultivar o espírito era sinônimo de dedicar-se ao próprio desenvolvimento psíquico, numa postura de constante abertura para o novo, inclusive com todas suas implicações éticas. A ética aqui é considerada na dimensão da ação responsável no mundo, do que possa vir a ser útil à vida.

Consta ainda das finalidades da universidade: “desenvolver um ensino vivo, acompanhando as transformações na área do conhecimento e mantendo-se em permanente diálogo com a sociedade, numa produtiva integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão” (Portal da USP, 2006).

Existe uma afinidade entre tais objetivos e a postura junguiana, na alusão a um ensino vivo, isto é, os símbolos, vida psíquica em movimento, como prioridade. Prioridade, mas não um fim em si, o que levaria a um corpo de conhecimentos soltos em algum espaço desenraizado. Segue a necessidade de um diálogo com a sociedade e a integração dinâmica na área de conhecimento em questão.

Se não fossem informações do site oficial da USP, poder-se-ia pensar em alguém tentando definir o processo de individuação proposto por Jung, com destaque à dimensão do ensino e do conhecimento. Algo em processo, dinâmico e contínuo, algo profundamente contextualizado e não isolado ou fechado em si. Algo impossível de separar da dimensão social, tanto no sentido histórico e cronológico do que já existe, quanto no sentido interacional-horizontal e participante de um contexto maior, numa complexa rede de interações.

A Psicologia na USP em 1934 resumia-se a uma disciplina do curso de Filosofia e outra do Instituto de Educação. Irmãs mais velhas, Filosofia e Pedagogia, trazendo pelas mãos a caçula Psicologia.

É interessante constatar que se instaura em primeiro lugar a Psicologia Clínica, num movimento, não compartilhado por outras áreas, que vai do específico para o geral. Será porque a prática antecede a reflexão? Será porque a Psicologia, como área de conhecimento, nunca teria existido sem a patologia, a dor, o sofrimento psíquico, a necessidade de curar? A história da criação da Psicologia, que nos remete a Freud (2006) e suas histéricas, parece ter-se repetido de alguma maneira na introdução da Psicologia na USP. O patológico abrindo caminhos; a dor e o que perturba forçando a reflexão, o posicionamento, o trabalho, a elaboração de teorias, demandando respostas.

No Brasil, apenas em 1962 regulamentou-se por lei a profissão de psicólogo (Lei 4119) e estabeleceram-se os parâmetros para os cursos de formação em Psicologia. Em 1969 foi criado o Instituto de Psicologia da USP (IPUSP).

O site oficial da USP oferece a seguinte definição para a Psicologia, não deixando dúvidas sobre a grande amplitude de seu alcance:

“É uma ciência que gera uma prática profissional. Enquanto ciência, tem por objetivo explicar como o ser humano pode conhecer e interpretar a si mesmo e ao mundo em que vive (aí incluídas a interação dos indivíduos entre si, a interação com a natureza, com os objetos e com os sistemas sociais, econômicos e políticos dos quais façam parte). Enquanto prática profissional, a Psicologia coloca o conhecimento por ela acumulado a serviço de indivíduos e de instituições” (www.usp.br/ip).

A USP é organizada em três grandes áreas das Ciências: exatas, biológicas e humanas. A Psicologia consta como integrante da área de Ciências Biológicas, o que pode surpreender. Oriunda da Filosofia e da Educação, como foi ela se alocar nas Ciências Biológicas?

Parece que foi decisiva a questão de dotação de verbas na época. No entanto, até hoje há discussões quanto ao local de pertinência da Psicologia: Ciência Humana, Ciência Biológica, ou mesmo, mais recentemente, Ciência Exata? Há uma enorme diversidade nas abordagens e linhas de estudo na Psicologia, bem como grande grau de interdisciplinaridade, divergência e convergência de seus temas.

Talvez esse desconforto na própria identidade seja peculiar e intrínseco à Psicologia, uma área de conhecimento em que o ser humano visa refletir e conhecer a si próprio não tem como escapar a ser inerentemente bastante frágil e delicada. Há a necessidade de “espelhos”, e neles o risco de distorções é enorme, assim como o de solipsismo e isolamento.

Justamente na busca por não permanecer em isolamento talvez se configure o maior potencial criativo da Psicologia. Essa dificuldade na definição, que já me deixou bastante inquieta, atualmente fornece-me alento e estímulo para dialogar com pessoas de diferentes áreas e para não permitir que a Psicologia seja reduzida a algum “- ismo”. A meu ver, o psicológico é o que permanece no espaço, desconfortável mesmo, do “entre”. Entre a física e a metafísica, entre o nascimento e a morte, entre o eu e a sociedade, entre o eu e o outro. O sujeito psicológico é solitário, mas não é sozinho. É sólido, mas é inseguro. Seus apoios são frágeis e, paradoxalmente, neles ele encontra consistência. Ele vive processos, está sempre em um contexto. Do ponto de visto psicológico, nada é absoluto, tudo é relativo. E, na melhor das hipóteses, o ser humano encontra-se numa progressiva diferenciação de sua individualidade e sempre buscando formas próprias de participação nesse mundo.

O IPUSP oferece cursos regulares de graduação e pós-graduação, além de cursos de extensão cultural. Conta com diversos serviços, laboratórios e núcleos de pesquisa, além de importante centro de biblioteca e documentação. São mais de noventa docentes, mais de cem funcionários e mais de mil alunos. Para dar conta de suas metas, organiza-se em departamentos: Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade; Psicologia Clínica; Psicologia Experimental; e Psicologia Social e do Trabalho. Na pósgraduação, há ainda a área de Neurociências e Comportamento.

Novamente, na divisão dos departamentos, surge a questão: afinal a qual área pertence a Psicologia? Parece que boa parte de seu valor esteja na necessidade que traz de justamente estarmos sempre retomando a reflexão sobre as definições das áreas de conhecimento.

 

A PSICOLOGIA JUNGUIANA NA GRADUAÇÃO

A Psicologia de Jung passou a ocupar um lugar no currículo do curso de graduação do IPUSP graças a uma iniciativa, em 1982, do professor Norberto Abreu e Silva Neto, então responsável pela área de Psicologia da Personalidade. Procurando implementar essa área de estudos, ele convidara no ano anterior Paulo Albertini para apresentar aos alunos a Psicologia de Wilhelm Reich e, em 1982, a mim, para fazer o mesmo com a Psicologia de Carl Gustav Jung.

Minha participação naquele ano consistiu numa monitoria de pós-graduação. Findo o semestre, alguns alunos manifestaram interesse em alguma continuidade e foi montado então um grupo de estudos sobre a Psicologia de Jung, bastante informal, com encontros semanais no horário de almoço. Sem uma programação pré-estabelecida, ao final da discussão de um texto era definida a leitura seguinte. Esse grupo, que não conferia créditos ou certificado de nenhuma natureza, existiu entre 1982 e 1984, nutrido exclusivamente pelo interesse de estudantes do IPUSP, o meu e o de alguns colegas de outras unidades da USP e mesmo da PUC. Encontrávamo-nos numa sala do Serviço de Aconselhamento Psicológico e aqui registro também o significativo apoio da professora Rachel Lea Rosenberg.

A Psicologia entrou na USP trazida pela Filosofia e a Educação. A Psicologia Analítica encontrou como brechas férteis espaços propiciados pela Psicologia da Personalidade e pelo Aconselhamento Psicológico. Talvez seja injusto fazer uma formulação tão impessoal &– os professores em questão, Norberto e Rachel, sem dúvida primavam por sua abertura pessoal e pela visão ampla, dinâmica e abrangente da Psicologia. Fossem eles na época responsáveis por outras disciplinas no curso de graduação, não teriam dado as mesmas boas vindas à Psicologia de Jung? Difícil a resposta. O fato é que a Psicologia de Jung até hoje compõe parte do elenco das disciplinas diretamente ligadas à área de Psicologia da Personalidade e também mantém relações na prática de bastante afinidade com a equipe do Aconselhamento Psicológico.

Em 1983, estudantes do IPUSP, conscientes da lacuna curricular em relação à Psicologia de Jung, elaboraram um abaixo-assinado pedindo sua inserção nas disciplinas regulares. E foi a partir daí, e da possibilidade de contratação como docente, que iniciei o ensino regular no curso de graduação.

A filiação da Psicologia de Jung ao elenco de disciplinas em Psicologia da Personalidade parece bastante pertinente. Trata-se de uma matéria básica, em que a questão de se focalizar a personalidade e as inúmeras tentativas, segundo os diferentes autores, de apreendê-la e descrevê-la é a tônica. Jung, em sua postura abrangente, unificadora e simultaneamente múltipla tem muito a contribuir nesse momento do curso de graduação.

Na disciplina obrigatória, os alunos são apresentados à concepção de ser humano de Jung. São estudados o contexto histórico do surgimento da Psicologia Analítica e a noção de processo de individuação, além dos conceitos de Self, inconsciente, arquétipo, consciência, ego, sombra, complexo e símbolo. Nos últimos três anos inaugurou-se também uma aula, compartilhada com os professores Paulo Albertini e José Leon Crochik, em que os alunos podem levantar questões e relações entre as concepções relativas à personalidade, a partir de Freud, Reich, Jung e autores da teoria crítica da Escola de Frankfurt.

Já em 1983, foram criadas duas disciplinas optativas para aprofundamento nas idéias de Jung:

A Psicologia Analítica de Carl G. Jung tem como objetivo que o aluno seja capaz de reconhecer e usufruir textos embasados na Psicologia junguiana, identificar temas básicos considerados por Jung e seguidores, articular idéias próprias nesse referencial e estabelecer pontos de diálogo com outras abordagens teóricas. São aprofundados os conceitos fundamentais, focaliza-se a estrutura da personalidade e seu aspecto dinâmico, além de temas específicos como sonhos, contos de fadas, o papel das imagens e noções básicas sobre a psicoterapia. Os alunos, além de leituras, encarregam-se da apresentação de seminários e elaboram um trabalho escrito final.

A outra disciplina optativa, Psicologia Analítica e Arte Educacional, abordava os conceitos de símbolo e de elaboração simbólica a partir da utilização de recursos expressivos não-verbais, com embasamento em leituras sobre o Self, a função transcendente, os símbolos, a energia psíquica, a criatividade e a patologia, a relação transferencial, a filosofia da alquimia e a possibilidade de trabalho psicológico vivencial em pequenos grupos visando o desenvolvimento da personalidade, sobretudo em seu potencial criativo. Metade da carga horária era dedicada a atividades vivenciais com uso de recursos expressivos e esperava-se que, ao final, o aluno fosse capaz de refletir sobre sua experiência e relacioná-la aos conceitos teóricos básicos.

Em 2004 essa última disciplina optativa foi substituída por outra, Energia Psíquica e Criatividade na Psicologia de Carl G. Jung, mantendo-se os objetivos básicos, mas com um tempo um pouco menor para atividades vivenciais e com uma ênfase um pouco maior na questão da criatividade.

Observa-se que a Psicologia junguiana, embora de tradição acentuadamente clínica, não está alojada no Departamento de Psicologia Clínica. Na verdade, há uma lacuna ali e os estudantes ultimoanistas acabam não tendo a oportunidade de realizar um estágio supervisionado de atendimento clínico numa perspectiva junguiana, por exemplo. Seria bem interessante tal possibilidade. Mas o fato de ela estar alojada na área de Psicologia da Personalidade garante o contato com a concepção junguiana de ser humano, a qual pode ser ali aprofundada e então se dirigir a diferentes contextos de aplicação e interação.

Um dado que parece relevante é que nas optativas têm se inscrito um número significativo de estudantes de outras unidades, sobretudo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, da Faculdade de Educação e da Escola de Comunicações e Artes. São esses os que predominam, embora também compareçam alunos da Biologia, da Física, do Direito e até da Escola Politécnica, entre outros.

O crescente e diversificado interesse pela Psicologia Analítica parece revelar o quanto Jung tem a contribuir para a compreensão da realidade atual, seja em âmbito brasileiro ou internacional, seja permitindo permanecer numa região de interface entre as diferentes áreas de conhecimento, seja dando continência conceitual para uma visão de ser humano que o considera em sua complexidade, profundidade, pluralidade dentro da unidade, num constante movimento energético de desenvolvimento a partir da elaboração de tensões entre polaridades, que aborda, além dos aspectos patológicos, o potencial criativo do ser humano e da cultura e oferece a perspectiva do processo de individuação.

A diversidade quanto à área de origem dos alunos nas disciplinas optativas costuma exigir um período inicial de construção de uma linguagem comum e revisão dos conceitos básicos. Discutir temas teóricos fundamentais, buscando exemplos na experiência de cada um, em seu contexto pessoal e na área de conhecimento específicos, tem sido polêmico, instigante e, ao final, muito criativo. Além do enriquecimento quanto ao conteúdo propriamente dito, tais esforços iniciais muito acabam contribuindo para a constituição de um grupo fértil e dinâmico, o que é essencial, sobretudo para o bom andamento da parte vivencial das disciplinas, das discussões em aula e da apresentação dos trabalhos pessoais .

As turmas têm também criado grupos na Internet, onde ocorrem trocas de informações e idéias, preparação de seminários e elaboração de temas no intervalo entre as aulas. Alguns grupos se mantêm mesmo depois de findo o semestre letivo.

As disciplinas optativas relativas à Psicologia de Jung não conferem horas de estágio e, ainda assim, têm sido sempre procuradas pelos alunos. Observa-se aí uma amostra significativa, embora não quantitativamente homogênea ao longo dos anos, do constante interesse existente pela Psicologia de Jung, expressando seu reconhecimento como abordagem que traz contribuições de peso ao mundo atual e também a consciência das lacunas existentes no curso de graduação.

A maneira de condução das aulas também é foco de atenção. Os alunos são convidados a participar do campo interacional constelado pelo arquétipo do mestre-aprendiz, onde o processo de ensino-aprendizagem é concebido como iniciático, isto é, envolvendo a personalidade total, dando-se ênfase à vivência, às quatro funções da consciência e recorrendo-se à imaginação e ao uso de recursos expressivos.

As aulas, pouco expositivas e muito mais um convite à troca e elaboração das leituras e reflexões, buscam apoiar e remeter o saber teórico à experiência pessoal de cada um. E, sobretudo na segunda metade do semestre, quando da elaboração do trabalho final, dá-se o processo inverso: é a experiência pessoal que impulsiona a definição do tema a ser adotado e a busca da bibliografia condizente. Muitas vezes, não sendo este o método de estudo habitual, há sofrimento e dificuldades; mas, ao final, o grau de satisfação e aprendizado costuma ser grande.

Convém registrar ainda o significativo auxílio que monitores de pós-graduação têm prestado no acompanhamento bastante individualizado aos alunos. Mestrandos e doutorandos podem conseguir alguns créditos &– poucos na realidade &– trabalhando como monitores em alguma disciplina da graduação. Fico muito feliz e grata ao constatar que nos últimos anos há interesse nessa atividade, para os pós-graduandos uma oportunidade de aprofundamento no referencial teórico e, para os alunos de graduação, uma possibilidade preciosa de serem melhor acompanhados nos estudos.

 

JUNG NA PÓS-GRADUAÇÃO

Sua inserção ali foi se dando lenta e gradualmente, a partir de duas professoras, ambas da área de concentração em Psicologia Clínica, que se dispuseram, já na década de 80, a orientar dissertações e teses com ênfase junguiana, embora esta não fosse sua área de especialidade. São elas a Dra. Odette Lourenção van Kolck e a Dra. Therezinha Moreira Leite. Esta, a partir de suas pesquisas sobre o sono e o sonho, atraiu orientandos interessados pela Psicologia analítica e pôde acompanhá-los, alguns tanto no mestrado quanto no doutorado.

A Figura 1 reproduz o que se encontra no Dedalus, o “Catálogo On Line Global” do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP a respeito das teses e dissertações defendidas na universidade entre 1979 e 2006, relativas à Psicologia analítica.

 

 

Figura 1. Freqüência de Dissertações de Mestrados e Teses de Doutorado na USP relativas à Psicologia analítica.

Foram defendidos 21 trabalhos de pós-graduação fora do IPUSP, que se valeram da Psicologia analítica: dois mestrados e um doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH); dois mestrados e três doutorados na Escola de Comunicações e Artes (ECA); cinco mestrados e uma livre-docência na Faculdade de Educação (FE); dois doutorados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU); um mestrado e um doutorado na Faculdade de Economia e Administração (FEA); um doutorado na Faculdade de Medicina (FM); um mestrado no Instituto de Matemática e Estatística (IME); um mestrado na Faculdade de Saúde Pública (FSP).

Quanto ao IPUSP, há o registro de 21 dissertações de mestrado e 14 teses de doutorado, perfazendo um total de 35 trabalhos. Pode-se observar que o IPUSP nunca esteve sozinho na apresentação de trabalhos que adotaram o referencial junguiano. O primeiro mestrado defendido foi em 1979 e, o primeiro doutorado, em 1986. Destaca-se a participação da professora Therezinha, responsável pela orientação de oito entre os 35 trabalhos no IPUSP, sendo que os demais se distribuem por 18 orientadores, sendo outros seis orientadores da Psicologia Clínica, quatro da Psicologia Social e oito da Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. E nos últimos anos tem-se intensificado o número de teses referentes à Psicologia analítica.

Embora várias teses tenham sido defendidas na área de Psicologia Clínica, elas não puderam se respaldar em disciplinas específicas sobre a abordagem junguiana. Cada pesquisador precisou buscar fora do IPUSP seu embasamento teórico mais especializado. E, afora uma pequena inserção da Psicologia junguiana no elenco de disciplinas ligadas à Psicologia Social, é bem recente a inclusão desta abordagem no elenco de disciplinas da área de concentração Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano.

Trata-se da disciplina “Psicologia Analítica de Jung e Grupos Vivenciais: Subsídios para a Pesquisa em Saúde e Educação”, que tem sido oferecida desde 2001. A ela têm concorrido também alunos de outros programas de pós-graduação, notadamente da Faculdade de Educação, além da Escola de Comunicações e Artes.

Na pós-graduação, a Psicologia de Jung encontra-se, portanto, oficialmente abrigada atualmente na linha de pesquisa “Saúde e Desenvolvimento Humano”, e tem inspirado projetos como “Máscaras e Grupos Vivenciais” e “Mitos e Vivência Simbólica”. Foi adotado como um dos focos principais de pesquisa a construção de conhecimento sobre trabalhos psicológicos em pequenos grupos, com a utilização de recursos expressivos, numa perspectiva junguiana.

Considero o grupo como o local por excelência para a construção da identidade em vários aspectos fundamentais, sobretudo o da possibilidade de uma consciência de alteridade &– tanto na relação eu-outro, quanto na relação ego-self, as duas situações alimentando-se, alternando-se continuamente e, além disso, muitas vezes sendo participantes de sincronicidades significativas.

Ademais, os recursos expressivos não-verbais trazem uma dimensão de abertura de possibilidades e linguagens, apelam à criatividade e permitem ao ego uma postura lúdica e exploratória, favorecendo os processos de elaboração simbólica.

Finalmente, o grupo constela uma totalidade própria, o self grupal, que tem a possibilidade de articular os dois conceitos mais originais, e talvez mais fundamentais, de Jung: o inconsciente coletivo e o processo de individuação. No grupo, podemos nos experienciar de maneira mais ampla do que no âmbito dual no que temos de mais universal e coletivo, e também nos afirmar e sermos confirmados no que temos de mais individual e próprio.

Trabalhos em grupos vivenciais consistem um tema pouco desenvolvido mesmo no meio junguiano propriamente dito. Talvez seja um tanto por isso que a motivação e o desafio tenham-se mantido em elevados níveis e estejam, desde o final de 2001, vindo integrar o corpo dos primeiros orientandos regulares alguns estudantes e profissionais interessados no aprofundamento da compreensão de fenômenos grupais e comunitários na perspectiva da Psicologia analítica. Temos aí um grande desafio.

Os dois primeiros mestrados sob essa orientação foram defendidos no início de 2005 (Mendes, 2005; Scandiucci, 2005). Seus temas refletem a preocupação com contextos locais, brasileiros e paulistas, e de parcelas da população economicamente desprivilegiadas: a migração, vista no âmbito da pastoral do migrante em um bairro periférico de São Paulo; o movimento HipHop e a questão da negritude, vistos do âmbito de outro bairro periférico de São Paulo. Em 2006 foram defendidas mais duas dissertações, (Oliveira, 2006; Miorim, 2006), uma sobre a consideração da materialidade no trabalho psicológico e outra sobre a relação entre a Psicologia analítica e as partes corporais taoistas. Em 2007, mais uma dissertação de mestrado, que pesquisa o efeito de tornar-se pai no processo de individuação do homem (Almeida, 2007).

Embora tanto minha especialização quanto meu mestrado e doutorado tenham se desenvolvido na área de Psicologia Clínica e eu trabalhe também em consultório particular no atendimento em psicoterapia e análise junguiana, no IPUSP dedico-me à área de Psicologia da Personalidade, na linha de pesquisa “Saúde e Desenvolvimento Humano”.

Esta situação tem sido rica e estimulante. Na universidade, dedico-me por um lado ao desenvolvimento teórico-conceitual da Psicologia analítica e, por outro, a uma busca de formas de intervenção que se diferenciam da análise individual exercida no consultório. Eu diria que na prática clínica, minha preocupação principal é a de desenvolver relações transferenciais que promovam o trabalho com a sombra individual e propiciem o desenrolar, o mais fluente possível, do processo de individuação. E na universidade minha preocupação principal é o desenvolvimento de uma persona criativa, teórico-prática, que mobilize pesquisas embasadas na Psicologia analítica, interações com outras áreas do conhecimento em geral e da Psicologia em particular, e que favoreça a exploração de práticas, sobretudo grupais, que levem em conta o desenvolvimento da personalidade, com ênfase em seu potencial criativo.

A psicóloga clínica em mim, que coexiste com a professora universitária, é necessária em algumas situações acadêmicas em que se fazem necessários o reconhecimento e o encaminhamento ou a delimitação de alguma situação fronteiriça. Na busca de propiciar um ensino iniciático, em que a vivência é valorizada e se almeja uma fala que seja embasada no vivido e dele integradora, às vezes beiramos momentos de indiscriminação entre persona e sombra ou entre realidades individuais e coletivas, e a experiência clínica é então de grande valia, muitas vezes ao apontar caminhos a não serem percorridos. Esse é, aliás, um saber que também pertence ao campo constelado pelo arquétipo do mestre-aprendiz e é ali mobilizado, seja em aulas teóricas, vivenciais ou supervisões.

 

JUNG NA EXTENSÃO CULTURAL

Os esforços nessa área têm sido modestos, mas consistentes e constantes. Há mais de quinze anos, no então Laboratório de Psicologia do Movimento, foi iniciado o projeto “Do Gesto ao Verbo: Expressão do Sensível no Meio Universitário”, responsável pelos cursos de difusão cultural “Jung e Corpo” e “Corpo e Movimento”, que exploram o potencial e o alcance da utilização de recursos expressivos e técnicas de abordagens corporais e nos quais se vivenciam e ensinam algumas práticas corporais criadas por Pëtho Sandor (1982).

Entre 2001 e 2003 oferecemos semestralmente o curso “Jung e a Elaboração Simbólica: Mitos, Contos e Recursos Expressivos”, que explora especificamente o potencial criativo da utilização de mitos e contos em grupos vivenciais que se valem de recursos expressivos, no mundo atual.

O LEP - Laboratório de Estudos da Personalidade tem, na medida do possível, promovido grupos de estudos e pesquisa na abordagem junguiana. Dedicamo-nos, por exemplo, por mais de dois anos ao estudo e vivência simbólica dos mitos de Eco e Narciso, numa composição grupal multidisciplinar.

Fui consultada sobre a disponibilidade em prestar tutoria a três estudantes oriundas de Cabo Verde, na África. Um convênio internacional permite que alunos estrangeiros façam a graduação na USP. Esses estudantes encontram diversas dificuldades de adaptação e integração à vida universitária uspiana e muito se beneficiam da participação em grupos vivenciais, onde podem, por um lado, relacionar-se com dados novos apresentados pela situação universitária e, por outro, serem reconhecidos e interagir a partir de sua especificidade sócio-cultural de origem, vindo a contribuir também com a ampliação de perspectivas e conhecimentos dos estudantes brasileiros.

Não pude deixar de me lembrar que, muitas vezes, a Psicologia de Jung e eu própria como a docente por ela responsável, é que somos considerados estrangeiros dentro do Instituto. Para cuidar de estrangeiras, melhor alguém também “estrangeira”? Será de interesse como tutora de alunos de outros países alguém que trabalha com uma abordagem psicológica que constantemente causa estranheza, desconforto e até uma certa ‘preguiça’ de aproximação e contato, já que com grande freqüência, antes de abordar temas específicos, torna-se necessário esclarecer conceitos e referenciais teóricos? Alguém de certa maneira habituado a ser visto como estranha, isto é, estrangeira poderá melhor empatizar com dificuldades de estudantes recém-chegadas de outro continente? Não sei. O fato é que a tutoria tem-se dado, num âmbito tanto individual quanto grupal.

Outro grande desafio é formar uma equipe de estudantes e profissionais que componham um núcleo junguiano no IPUSP. Temos dispendido esforços nesse sentido e agregado pessoas que trazem contribuições significativas e mantido ativo o Laboratório de Estudos da Personalidade, nos âmbitos de estudo e pesquisa. Desafio maior ainda é compor a possibilidade de alguma remuneração dessa equipe.

Temos procurado também integrar as diversas atividades entre si, num ‘jeito junguiano de ser’, que respeite características específicas, mas mantenha a interação entre elas, tanto no que diz respeito às pessoas envolvidas, quanto aos conteúdos e finalidades de cada tarefa desempenhada no IPUSP.

Em 2005 destaca-se a realização do “I Simpósio de Psicologia Analítica do IPUSP”, que teve a duração de um dia inteiro, assim como o “Encontro de Psicologia Junguiana”. No Simpósio, historiamos a criação e o percurso do LEP e apresentamos suas pesquisas em andamento: além dos quatro mestrados já referidos, um estudo que provê uma perspectiva mitológica ao ensino da língua inglesa; uma pesquisa sobre a paternidade e sua influência no desenvolvimento do homem tornando-se pai; um estudo do papel das imagens e da imaginação no desenvolvimento humano; e um projeto sobre a Psicologia analítica e a Educação. Em 2006, integraram-se pós-graduandos com projetos de pesquisa relacionados ao trabalho em instituição, à consideração do corpo deficiente e ao trabalho com a sombra em contextos grupais.

O “I Simpósio” foi um momento de compartilhar, com os mais de cem participantes que a ele compareceram, nosso trabalho e nossas inquietações sobre atividades futuras. Por sua vez, o ‘Encontro de Psicologia Junguiana’, também em 2005, teve uma amplitude maior já desde a organização, congregando profissionais de outras instituições. E num futuro próximo pretendemos inaugurar seminários de pesquisa, que favoreçam a atualização entre diferentes pesquisadores e referenciais articulados à Psicologia analítica de Jung.

 

ESTILOS JUNGUIANOS

A seguir será sintetizada a taxonomia dos estudos junguianos proposta pelo australiano David Tacey (2005) na recente conferência acadêmica no Texas.

Antes de mais nada, ele assume que o essencial em Jung é sua consideração pelo numinoso na experiência humana e, em seguida, identifica quatro figuras arquetípicas, relacionando a cada uma delas certas características e atitudes básicas no ensino universitário da Psicologia de Jung: o sênex, o trickster, o puer e o discípulo.

Em primeiro lugar, o sênex, que inspira e emana respeitabilidade. A atitude nele apoiada busca conformar-se e adequar-se a algo já estabelecido. O professor, pesquisador ou estudante que se coloca nessa perspectiva tenta adaptar qualquer nova questão ao que já é conhecido. Essa postura tende a enfatizar que Jung foi um cientista e não um místico. Acomoda as diferenças, mas, por outro lado, tende a ignorar ou manipular certos fatos ligados à qualidade de envolvimento e ao potencial para transformação, presentes na abordagem junguiana.

Tacey salienta que, ironicamente, a postura sênex, ao tanto buscar incluir Jung no meio acadêmico, corre o sério risco de excluí-lo, reduzindo-o a alguns conceitos que o saber vigente não questiona. E, talvez pior, corre risco maior ainda, na medida em que tende a ignorar transformações que estão se dando no meio acadêmico como um todo, em especial nas Ciências Humanas, as quais atualmente encontram-se empenhadas numa profunda revisão de constructos já estabelecidos.

A segunda figura arquetípica destacada por Tacey é o trickster, que, por sua vez, leva à busca incessante de atualização e construção de novas teorias. Inspirado na dinâmica do deus Hermes, interessa-se pela interdisciplinaridade e coloca-se na posição de quem irá atualizar, “reconstruir” e reformar os conhecimentos. Nessa perspectiva, o professor ou pesquisador busca conexões e diálogos, liga-se ao movimento denominado “pós-junguiano” e muitas vezes critica os junguianos “clássicos”.

Essa abordagem, assim como a divindade Hermes que a inspira, tem muita mobilidade entre idéias e teorias, mas costuma dedicar pouca consideração a temas que não constam da trilogia mais abordada pela universidade atualmente &– classe, gênero e raça &– e praticamente ignorar o envolvimento da Psicologia de Jung com a religiosidade do ser humano.

O puer, por sua vez, valoriza, sobretudo, o cultivo da vida interior e o trabalho de “fazer a alma”. Praticamente ignora o contexto em que está e dá grande valor ao numinoso, o que é importante em se tratando da Psicologia de Jung. Tacey o relaciona à divindade Dioniso, que através de seus rituais subvertia a ordem estabelecida. Nesta perspectiva, a Psicologia junguiana identifica-se com um movimento de contra-cultura e, com grande idealismo, busca revolucionar o que está estabelecido no meio acadêmico, opondo-se a uma postura sênex. Usa com grande ênfase termos religiosos, como ‘alma’, ‘deuses’, ‘deusas’, ‘espírito’, e praticamente ignora o que universidade tem de conhecimento duramente construído ao longo do tempo, valorizando o que é antigo, essencial e primordial, lembrando-nos um profeta que quer disseminar seu conhecimento, mas permanece com pouquíssima abertura para interlocução. Professores e pesquisadores, identificados com essa postura, têm dificuldade de reconhecimento e troca com colegas, mas costumam encontrar alunos entusiasmados, que mais parecem ‘adeptos’. Tacey aqui lembra do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”.

A quarta figura a inspirar a postura do professor e pesquisador junguiano na universidade é a do ‘discípulo’. Neste caso, trata-se mais de um estereótipo do que de uma figura arquetípica. É uma perspectiva purista, que tende a ignorar os movimentos teóricos ao seu redor, e identificada, sobretudo, com a tarefa de informar a respeito da Psicologia analítica, mantém-se praticamente numa “bolha junguiana”. É como se considerasse Jung um ‘mestre’ e sua função passa a ser divulgar seus conhecimentos sob a forma de ‘descobertas’.

Esta postura busca que os alunos se tornem “junguianos”, mas não estimula o pensamento crítico a respeito da teoria junguiana, que fica assim isolada e, muitas vezes, considerada irrelevante para a vida acadêmica.

Resumindo, Tacey identifica cada uma das quatro abordagens com as finalidades, respectivamente, de ‘conformar’, ‘reformar’, ‘transformar’ e ‘informar’. Conflitos entre essas posturas são comuns. Não costumam ser encontradas puras num professor, mas é comum se reconhecer a dominância de uma ou duas, como numa tipologia, e, às vezes, é possível identificar períodos de prevalência de uma delas. Há também a questão do que é que uma instituição acadêmica específica valoriza e promove numa determinada época.

Idealmente, não se pode almejar um tipo exclusivo, mas sim, ao longo do tempo, uma mescla ou alternância entre suas características e dinâmicas. Todos os ingredientes nos parecem necessários ao exercício do trabalho com uma linha teórica em Psicologia da personalidade num contexto universitário. Talvez seja ainda possível identificar outras tendências. O importante parece ser o reconhecimento e a reflexão sobre o que está se fazendo na prática.

O conhecimento e a confiança no que está estabelecido como referência. A busca de diálogo com outras áreas e linhas de pensamento, em constante questionamento do que é estabelecido. A conexão do conhecimento com a experiência pessoal, seu embasamento na vivência. Uma pureza conceitual, a capacidade de temporariamente tomar tal corpo de conhecimentos como o verdadeiro e nele pautar um projeto de pesquisa com consistência teórica.

O parágrafo acima expressa componentes indispensáveis à postura acadêmica, que não pode admitir enrijecimentos ou fixações, tampouco excesso de mobilidade ou enclausuramento, pois visa um pensamento e um saber que se movam entre diferentes polaridades e esteja vinculado a uma prática, no exercício contínuo da reflexão.

A taxonomia sugerida por Tacey (2005) parece instigante e inspiradora, fornecendo significativos elementos para a constante avaliação de nosso trabalho na universidade. Poder identificar em nosso cotidiano a inspiração, simultânea ou alternada ao longo do tempo, das quatro figuras arquetípicas, assim como promover maneiras de articulação entre o que cada uma delas favorece, parece ser um desafio vivo e significativo.

 

FINALIZANDO

Durante o “I Simpósio de Psicologia Analítica do IPUSP”, solicitamos aos participantes que registrassem e depositassem numa urna quaisquer imagens que lhes ocorressem ao longo daquele dia. Foi com alegria que constatamos uma grande profusão de imagens colhidas, inclusive algumas sem palavras, envolvendo apenas dobraduras de papel. Destaco algumas: uma aurora; o desabrochar de um botão de rosa vermelha; um sol brilhante; um vaso alquímico; um labirinto; feijões brotando no algodão e prontos para serem plantados na terra; um herói virando guerreiro; o mapa do Brasil no divã; uma estação, plataforma, porto seguro, lugar de chegadas, partidas, encontros, despedidas, reencontros, transições, compartilhamento; um baile de máscaras.

Deixo-as aqui, apenas mencionadas, a interagir com o que este texto tiver suscitado.

 

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Recebido em 22/05/06
Revisto 24/04/07
Aceito em 30/04/07

 

 

* Endereço para correspondência: Av. Prof. Mello Moraes, 1721. São Paulo &– SP. CEP: 05508 - 900. Telefone: (11) 3845 4526; Fax: (11) 5543 4372; E-mail: lauvfrei@usp.br.

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