Boletim de Psicologia
ISSN 0006-5943
ARTIGOS ORIGINAIS
Vitimização secundária: O irmão testemunha o abuso sexual da irmã1
Secondary victimization:The brother witnesses the sexual abuse of his sister
Claudia Aparecida Cantelmo I *; Karen Weizenman da Matta I; Liana Fortunato Costa I, Karla Lopo Paiva II
I Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura - PSICC/ PCL/ IP/ Universidade de Brasília
II Curso de Psicologia da Universidade de Brasília
RESUMO
Este texto trata de um estudo de caso de um menino de 11 anos que observou a irmã de 10 anos ser abusada sexualmente pelo pai. O referencial teórico é o da Teoria Sistêmica, em seu escopo de intersubjetividade, contextualização e complexidade. Após o testemunho do abuso, o menino passou a ter problema "de nervoso" apresentando tremores nas pernas. Foram utilizadas observação do menino em situação de atividades numa instituição de serviço social e uma entrevista com sua mãe, como instrumentos. Os resultados centram o sofrimento do menino em seu conflito de lealdade: em seu sentimento e vínculo com o pai, ele o quer de volta; em seu sentimento e vínculo com a mãe, ele compreende que o pai colocou a irmã em perigo. Como resolver o impasse: amar a mãe e odiar o pai ou ser igual ao pai e ficar sem a família?
Palavras-Chave: Abuso sexual, Testemunho de abuso sexual, Violência na família, Conflito de lealdade.
ABSTRACT
This text deals with a case study of an eleven years old boy who have witnessed the sexual abuse of his ten years old sister by their father. The theoretical referential is the Systemic Theory, in its intersubjectivity, contextualization and complexity scope. After having witnessed the abuse, the boy started to have nervous problems, presenting trembling legs. It was utilized, as instruments, the observation of the boy while in activity at a social service institution and an interview with his mother. The results focus on the suffering of the boy in his loyalty conflict: in his feeling and ties with his father he wants him back; in his feeling and ties with his mother, he understands that his father endangered his sister. How to solve this impasse? To love his mother and to hate his father or to be just like his father, losing his family?
Keywords: Sexual abuse, Witness of sexual abuse, Violence in the family, Loyalty conflict.
Este artigo discute um estudo de caso de um menino de 11 anos que observou a irmã de 10anos ser sexualmente abusada pelo pai. Trata-se de um tema muito pouco explorado pela literatura, já que a ênfase maior tem sido sobre a criança abusada sexualmente. Na verdade, conhecemos muito pouco do que se passa com os irmãos nessa circunstância, especialmente aqueles que presenciaram a ocorrência da violência e permanecem tendo contato com a irmã abusada e com o abusador. Essa questão é o que nos interessa discutir. De modo geral, os autores dão maior importância à mãe, seja porque ela tem um papel mais preponderante na proteção da criança, seja porque, se ocorrer a denúncia, recairão sobre ela maiores responsabilidades a partir de então (por exemplo: Azevedo e Guerra, 1997; Faleiros, 2005; Habigzang e Caminha, 2004; Nogueira e Pereira de Sá, 2004; Sanderson, 2005).
Este artigo é um estudo qualitativo que tem como objetivo aprofundar o conhecimento do que se passa com o irmão que foi testemunha do abuso sexual de sua irmã, na perspectiva de uma observação voltada para esse sujeito, buscando contribuir na ampliação do tema e na discussão dos efeitos do testemunho sobre as condutas desse irmão. O referencial teórico para a construção do objeto e sua interpretação é o da Teoria Sistêmica, em seu escopo de intersubjetividade, contextualização e complexidade (Vasconcellos, 2002), e na consideração da família como um todo-sujeito (Mincuchin, 1982). Nosso propósito neste texto, em relação ao tema do abuso sexual infantil, é enfocar com prioridade essa vítima desconhecida do abuso sexual, como diz Rosa (2006).
O TESTEMUNHO DO ABUSO SEXUAL
De modo geral, pode-se dizer que a literatura sobre abuso sexual infantil tem aumentado na última década e os trabalhadores neste tema têm se beneficiado desse avanço. No entanto, existem algumas lacunas sobre determinados aspectos que fazem parte da violência. A questão do testemunho do abuso sexual tem sido abordada de dois modos: por um lado, pelo Direito com a preocupação da veracidade do testemunho e por outro lado, pela Psicologia com a preocupação sobre a circunstância na qual é obtida a informação dada pela vítima. O projeto Depoimento sem Dano (2006) é um exemplo destas preocupações. Cada vez mais os autores estão apontando para a necessidade de que outros membros do sistema familiar tenham atenção e lhes sejam oferecida ajuda, tanto quanto para a vítima direta da ação violenta (Santos e Dell’Aglio, 2008; Sinclair e Martínez, 2006) e nos casos em que envolvem os irmãos como testemunhas do abuso sexual, essa necessidade se faz premente.
Segundo Sinclair e Martínez (2006), a vitimização secundária diz respeito às conseqüências traumáticas que podem afetar outras pessoas da família, como a mãe ou os irmãos, na qual uma criança sofreu abuso sexual. Neste texto, vamos tratar esse conceito nessa perspectiva. Furniss (1993) também aponta a vitimização secundária como os efeitos que surgem, a médio e longo prazo, na vítima e em outros membros da família. Furniss ressalta a situação delicada desses irmãos que participaram, de alguma forma, da situação do abuso sexual. Eles passam a ter comportamentos arredios, expressões de medo, evitam falar ou mesmo negam o assunto.
Hooper (1994), embora tenha como foco a mãe, também chama a atenção sobre a situação de vitimização secundária, caracterizando-a como o acometimento de um sofrimento profundo, apresentando sintomas principalmente de depressão e ansiedade. Este sofrimento é sentido e relatado como algo permanente, associado à ira, culpa, frustração, impotência, baixa auto-estima, isolamento, e é reforçado, muitas vezes, pelos danos concretos conseqüentes do desvelamento do abuso.
Após a denúncia do abuso sexual na família, muitas mudanças passam a ocorrer e Furniss(1993) chama a atenção para o fato de que estas mudanças afetam a todos, desde o impacto da revelação, da crise familiar que se instala, até das mudanças geográficas decorrentes da decisão da família de mudar de residência na tentativa de proteger as crianças. Os irmãos da vítima são parte do sistema de segredo e acobertamento e devem ser envolvidos em todas as etapas de intervenção que venha a ser proposta. Eles sabem o que está acontecendo com a criança abusada, porém têm medo do que possa acontecer, uma vez que eles admitam que sabem sobre aquilo que não se pode falar. O autor ressalta também que, muitas vezes podem ser observadas mudanças no comportamento de um irmão em relação à irmã, como, por exemplo, passar a protegê-la em todas as situações. Esse fato pode ser revelador de que esse irmão identifica que o que ocorre com a irmã é um perigo e ele passa a protegê-la em excesso, numa tentativa de compensação por saber da violência e não conseguir interrompê-la. Em uma pesquisa de Mestrado, Rosa (2006) encontrou indicativos de que estes irmãos apresentam condutas típicas de instalação de traumas, desorganização de ordem emocional e muito sofrimento por acharem que o mesmo irá acontecer com eles.
MÉTODO
A importância do estudo de caso se dá na descoberta de peculiaridades da população emparticular, mesmo que não se possa generalizar o conhecimento obtido (Luna, 1988). SegundoGaragorry (1980) o que justifica o estudo de caso como método é que o "caso" já existia anteriormenteao estudo, que a informação deve ser obtida com minúcias e a preocupação deve ser pela qualidadeda informação. Para André (2005) a adoção do estudo de caso ocorre em função de que o objeto deestudo requer que seja estudado de forma particular.
Contexto
O contexto de pesquisa foi o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) de uma cidade de periferia de grande capital que oferece Grupos Multifamiliares (GM) a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Essa ação se deu em função da pesquisa de doutoramento de uma das autoras e contou com a participação das autoras no atendimento e supervisão dos GMs. A pesquisa se inseriu na proposta de parceria entre a universidade e a instituição pública de assistência social que viabiliza a experimentação de metodologias e oportuniza a execução de pesquisas.
Sujeitos
Gean2 tem 11 anos e testemunhou o abuso sexual de sua irmã Karina (10 anos), sendo ameaçado com faca pelo pai (40 anos) para não contar o ocorrido para ninguém. Desde então, tem problema "de nervoso" apresentando tremores nas pernas. A família não recebeu nenhum atendimento logo após o fato. O pai ainda permaneceu na casa por um bom tempo depois do episódio. A mãe de Gean informou que ele é muito apegado ao pai e ficou muito confuso com o que ocorreu, mostrando-se ambivalente em relação ao pai e à irmã. Nesse período, ocorreram episódios em que Gean pegou a irmã, jogou-a no chão e deitou em cima dela numa dramatização de ato sexual. Gean estuda de manhã na quarta série de uma escola pública, mas tem muita dificuldade tanto de leitura como de escrita. Ele também freqüenta, à tarde, um programa de reforço escolar dessa mesma instituição pública, que é coordenado por uma pedagoga e agentes sociais.
A família é constituída pela mãe, Amélia (46 anos), e os filhos de Gean (11), Karina (10), Karla(8) e Antonio (5). A mãe possui ainda outros quatro filhos mais velhos, sendo três rapazes que foram criados pelos avós, por serem homens, e uma jovem de 19 anos, mãe de um bebê de sete meses, que foi expulsa de casa pela mãe, por seu envolvimento com prostituição e drogas. A mãe é analfabeta, atualmente está desempregada, mas já trabalhou como doméstica. Quando a família foi encaminhada para atendimento no GM, a equipe retomou a denúncia junto à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e assim o pai foi afastado do convívio familiar. Em função disso, a situação socioeconômica da família se tornou bastante precária e a mãe passou a fazer artesanato para venda. A família possui ainda o benefício Bolsa Família no valor de R$100,00.
O abuso sexual se deu na ausência materna do lar. A família tinha ido à cidade natal da mãe em busca de trabalho para o pai. Sem sucesso, o pai voltou primeiro com Gean e Karina, deixando a mãe com os filhos menores que voltariam posteriormente. O pai alcoolizado tentou intercurso sexual com a filha, ameaçando a menina com uma faca. Gean presenciou o fato e foi ameaçado pelo pai para não contar para a mãe. Os três, pai e filhos, estavam vendo televisão em um colchão colocado no chão da cozinha, Gean adormeceu e acordou com o pai em cima da irmã. Quando a mãe voltou da viagem pressentiu que algo não estava bem. Pouco depois Gean contou a ela o que havia acontecido, dizendo que o pai havia colocado o "pinto" na perna da irmã. A mãe inicialmente não soube o que fazer e, em busca de desabafo, comentou com a professora de Karina. A professora a convenceu a fazer a denúncia, colocando-se à disposição para acompanhá-la e apoiá-la. Com a instalação da crise, soube-se que o pai também havia abusado da outra filha de 8 anos. Esse fato não foi presenciado por Gean. Ambas as meninas foram avaliadas no Instituto Médico Legal, não sendo constatada a perfuração do hímen.
Hipótese
Parte-se aqui da hipótese, na perspectiva de Demo (2001), que tem como função o direcionamento da observação e não o compromisso com a comprovação de sua existência. Foi elaborada, a princípio, a hipótese de que Gean, por sua grande aproximação afetiva com o pai, estava confuso em permanecer vinculado a ele ou rejeitá-lo e se afastar. Tomou-se como ponto de partida para a elaboração dessa hipótese, a indicação feita por Furniss (1993) de que o irmão pode apresentar comportamento de acting out (como exemplo um ataque à irmã) por estar identificado com seu pai, frente à ameaça de conscientizar o dano perpetrado pelo pai.
Instrumentos
Foi utilizada a observação como um instrumento para apreender as relações informais do pesquisador no campo e poder captar uma variedade de situações que não são obtidas por meio das entrevistas formais. As informações foram registradas no Diário de Campo (Minayo, 1996). A observação foi usada como o modo prioritário de obter informações de Gean. Também foi utilizada a entrevista como um facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação, uma vez que, conforme Minayo, esta se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos participantes, enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Foi também realizada uma entrevista com a mãe de Gean para conhecer com maior profundidade a sua situação individual e familiar. O objetivo da observação de Gean foi avaliar seu possível processo de identificação com a figura paterna e tentar estabelecer alguma intervenção psicossocial em seu estado de sofrimento e confusão.
Procedimento
A pesquisa foi aprovada em 8/12/2008 pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília. Logo após o término do GM no qual Gean e a família tomaram parte, a equipe de atendimento compreendeu que o menino permanecia ainda em vulnerabilidade, pois, embora o pai não mais estivesse em casa, o menino estava permanecendo muito tempo na rua. A mãe se mostrou preocupada, pois a família mora em um local de extrema pobreza e cercada de grupos de traficantes de drogas. Tomou-se a decisão de aprofundara compreensão da situação de Gean, bem como de lhe oferecer uma oportunidade de alguma intervenção psicossocial específica.
Foi realizada uma entrevista com sua mãe no sentido de explicar o atendimento suplementar ao menino e pedir autorização para tal. Nesta ocasião a mãe relatou estar cansada de ser freqüentemente requisitada para comparecer à instituição após a ocorrência da situação de abuso sexual. Ela reconheceu a importância de se conversar, contudo o que diz precisar mesmo é de recursos financeiros, pois com a saída do pai está absolutamente sem dinheiro. Ela estava desesperada com a possibilidade de ser despejada da casa onde moram por falta de pagamento do aluguel. Sua preocupação com o filho se refere a sua agitação, nervosismo, que teria se iniciado após a situação de abuso. Informou que aceitava o oferecimento de uma ação com o filho, desde que ela não tivesse que comparecer para mais nada.
Assim, além das informações obtidas durante o GM e em complementação a elas, foram realizados cinco encontros de Gean com uma psicóloga da equipe da universidade e uma auxiliar de pesquisa que ficou responsável pelas anotações do Diário de Campo. No primeiro encontro foram feitas observações de brincadeiras de pingue-pongue e de futebol, que Gean jogou com outros meninos. No segundo encontro foram feitas mais observações do futebol e já ocorreu um contato mais próximo, possibilitando a execução de desenhos. No desenho de Gean o que chamou a atenção foi a figura humana, contendo partes anatômicas do corpo destacadas, como o umbigo e o pênis. No terceiro encontro foi feita a observação da disputa de Taekwondo, realizada na instituição, na qual Gean ficou em primeiro lugar. No quarto encontro, outro momento de maior aproximação com a psicóloga, foram realizadas outras atividades de expressão como desenhos e escultura de massinha. E finalmente no último encontro, além de desenhos da família, foi pedido a ele que desenhasse a história do Chapeuzinho Vermelho e, que a partir do desenho, fosse feita uma reflexão sobre a história. A escolha desta história se deu em função dos elementos simbólicos contidos que vão desde a perseguição do Lobo Mau a Chapeuzinho Vermelho, até a ajuda representada pela ação salvadora do Caçador. Estes elementos simbólicos dizem respeito a interações de dominação /perseguição / violência.
Antes do término das atividades da instituição, em função do final do ano, foi realizada uma reunião com a coordenação da atividade pedagógica para serem transmitidas as observações sobre esses atendimentos de Gean. No início do ano seguinte ainda não tinha sido possível um encontro com a mãe para a devolução das observações.
Análise das informações
Foi adotada a perspectiva de análise de González Rey (2005), que é realizada a partir de indicadores que aparecem nos instrumentos, nas relações entre eles, bem como em quaisquer das situações e processos formais e / ou informais que constituem o campo da pesquisa e que representem alguma dimensão de sentido presente no estudo. Os indicadores podem ser definidos como elementos ou conjunto de elementos que adquirem significação por meio da interpretação do pesquisador e representam um momento hipotético no processo de produção da informação, mesmo que conduzam ao surgimento de outros novos indicadores por meio de novas idéias do pesquisador associadas aos indicadores precedentes (González Rey, 2002). Os indicadores são organizados para a definição de zonas de sentidos sobre o problema estudado. As Zonas de Sentido são construções do pesquisador no seu contato com o sujeito pesquisado e com o material por ele produzido sistematizado nos indicadores (González Rey, 2005).
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para realizar a análise das informações procedeu-se a uma leitura de todo o Diário de Campo, registrado pela auxiliar de pesquisa, juntamente com o registro feito pela psicóloga, após os atendimentos e os registros destas duas com relação à supervisão realizada com a orientadora da pesquisa, após cada atendimento a Gean, somando-se ainda as informações obtidas durante o GM com a família. Deste modo, foram construídas quatro zonas de sentido que informam sobre o sofrimento psíquico e familiar de Gean e sobre o contexto sócio-institucional que lhe oferece apoio.
No momento, quais são as preocupações da mãe de Gean?
A mãe está muito preocupada com a agressividade dos filhos, tanto de Gean como de Karina,o que indica que, no meio do tumulto pelo qual a família está passando, estes aspectos não estão lhe escapando. É preciso lembrar que a família de Gean já havia passado pelo GM que teve a duração de nove semanas. Neste momento, após o GM, a mãe somente aceitou uma proposta de atendimento ao filho, quando percebeu que não precisaria estar junto e que a ajuda que mais precisava era financeira para conseguir pagar o aluguel.
Percebeu-se que a mãe se mostra muito protetora, o que corrobora a posição de Sinclair e Martínez (2006) de que não necessariamente as mães de crianças abusadas são coniventes e passivas em relação aos acontecimentos. No caso em análise, a mãe se mantém firme na decisão de manter o marido fora de casa, abrindo mão do maior suporte financeiro que este daria se permanecesse. Rangel (2008) chama a atenção para os casos em que a menina abusada pode contribuir para as finanças da família, se ficar em silêncio sobre o abuso e, nesta circunstância, a mãe pode ter um papel importante na cobrança deste silêncio. Mas a questão da carência financeira permanece e Saffioti (1997) tem razão em vincular de forma enfática a questão da pobreza e de carências múltiplas ao surgimento e manutenção dos atos violentos em família.
É interessante acrescentar que a família recebe dois benefícios: Bolsa Família e Renda Minha, o que se constitui em algo problemático, pois é proibido receber dois benefícios do governo. Porém a instituição faz vista grossa para este fato em função de reconhecer as dificuldades financeiras da família, bem como seu esforço para manter o pai longe de casa, já que muitas outras mães acabam por aceitá-lo de volta em função destas dificuldades, especialmente, se o pai era o único provedor. Este reconhecimento adquire especial significado, porque a instituição percebe que a relação da mãe com o marido é ambivalente, pois parece que "a Justiça quer o meu marido longe de mim, mas ele é o único que me ajuda". Por outro lado, esta mãe também parece se mostrar confusa em relação ao filho Gean. Teme que ele, por ser parecido com o pai, acabe ficando igual ao mesmo e, além disso, foi Gean quem contou sobre o ocorrido, deflagrando assim todas as decisões que ela teve que tomar e que instauraram a crise pela qual a família ainda se ressente.
É evidente o conflito da mãe em privilegiar seu papel parental e abrir mão de seu papel conjugal. Cottle (1993) relata inúmeros casos de mães que silenciaram, por motivos variados, o abuso sexual intrafamiliar e com isso mantiveram a violência. Mas o que se pretende colocar ênfase aqui é sobre o papel das instituições em qualificar a denúncia, apoiar a família como um todo e oferecer as condições concretas para que o sistema familiar, que permanece unido após a denuncia, possa se equilibrar e manter as necessárias ações contínuas de proteção, como dizem Vizir et al. (2004).
Outro aspecto que traz preocupação é o contexto comunitário no qual a família mora. A mãe contou que Gean já viu traficantes, mais de uma vez, colocando drogas em buracos perto da casa, sendo que numa ocasião um deles percebeu que Gean o viu fazer isso e o ameaçou. Num dos atendimentos a psicóloga se deu conta de que Gean tinha algo errado em um dos olhos. Foi então que ele informou que não enxerga de um olho. Ele relatou que, em uma dada situação em que brincava com a irmã mais nova na rua, eles foram abordados por um assaltante, que colocou uma arma na cabeça da irmã. Ao tentar defendê-la, ela se assustou e, sem querer, jogou um objeto nele que bateu em seu olho e prejudicou sua visão.
É óbvia a constatação de que Gean permanece em um contexto de risco. Sua condição de risco aumenta na medida em que a família sofre um processo de desestabilização em um meio ambiente que não é favorável a condições seguras de sobrevivência, nem para ele, nem para suas irmãs. Giffin (2002) acrescenta que as vulnerabilidades de gênero não podem ser abstraídas das vulnerabilidades decorrentes da pobreza. Apesar de tudo, Gean conta mais com a presença e iniciativas da mãe.
Gean, suas dúvidas e competências
Os desenhos de Gean forneceram muitas informações preciosas. Em um deles, fez um jogo de futebol no qual havia partes anatômicas destacadas dos jogadores como o umbigo e o pênis. Neste desenho ele estava feliz entre os colegas. Parece que o futebol, por sua atividade de ação, de integração e de resultados positivos, atrai profundamente o menino. Gean se destaca em atividades esportivas e isso funciona como um equilíbrio para sua ansiedade e preocupação com os momentos nos quais ele se sente "atacado" por seus colegas de sala de aula. Nessa instituição de apoio, Gean é bastante elogiado por suas habilidades no Taekwondo. No entanto, ele se queixa com sofrimento de ser xingado pelos colegas da escola, que dizem "coisas feias" sobre sua mãe. Ele não suporta isso e assim, acaba brigando com outros meninos.
Das cinco observações realizadas pela psicóloga, três foram de situações que Gean estava em atividade esportiva. Considera-se que seus êxitos nesta área funcionam como um equilíbrio para suas frustrações e mostram suas habilidades em se manter competente apesar das angústias que experimenta. Cottle (1993) relata um caso de um irmão gêmeo adolescente que presenciou o abuso sexual da irmã pelo pai. O autor narra sua interpretação sobre o relato do adolescente ao ver a cena, identificando um adolescente meio horrorizado e constrangido, mas também atraído pelo que presenciou. Nessa situação, o adolescente foi capaz de realizar alguma elaboração sobre seus sentimentos contraditórios. No entanto, para Gean, parece que o que prevaleceu foi a ansiedade dever sua família desmanchada. Pode-se considerar que o esporte, nesse caso, entra como um forte ponto de satisfação frente a essa angústia. É compreensível que prefira jogar futebol a conversar sobre a cena temida, principalmente, porque foi Gean quem contou à mãe o ocorrido e assim, sente-se responsabilizado ou pode estar sendo responsabilizado, pela saída do pai de casa.
No desenho de sua família, fez o pai e a mãe no centro e uma irmã do lado do pai e a outra do lado da mãe. As figuras eram muito grandes e não sobrou espaço para outros membros, então ele desenhou a si mesmo e ao irmão em outro papel. Gean disse que quem ele desenhou primeiro foi o pai, depois a mãe, a irmã de 8 anos e por fim a irmã de 10 anos. O pai é legal, gosta de andar de bicicleta com ele, está morando perto de sua casa, e ele e o irmão passam o fim de semana com o pai. As qualidades do pai são: trabalhador e beber só de vez em quando uma lata de cerveja. Como defeito ele diz: o pai dorme demais. A mãe é boa, corrige, quando ele está errado, conversa e, às vezes, bate. Ao final disse que o título do desenho era "Uma família feliz". Quando perguntado sobre a saída do seu pai de casa, respondeu que foi ruim e o motivo foi porque o pai bebia demais.
O desenho da família expressa bem claramente que na atual situação Gean e o irmão estão afastados e somente têm lugar em outro contexto, que é o dos encontros com o pai nos fins de semana. A família se encontra dividida, seus membros estão em diferentes folhas de papel. Furniss (1993) aponta que a situação do irmão que denuncia é bastante delicada, pois recai sobre ele a responsabilidade do rompimento familiar, além de poder ser uma experiência tão traumática para ele, quanto para a criança diretamente abusada. Ou, como diz Rosa (2006), esta testemunha torna o abuso sexual um ato público. A "família feliz" não mais existe, mas é preciso preservá-la em sua fantasia, pois é extremamente perturbador reconhecer isto. Furniss (1993) ainda acrescenta que, posteriormente, o irmão tende a dizer que não viu nada ou a reformular a história de modo a negar o que ocorreu. Desse modo, deve-se reconhecer que ele precisa de ajuda para entender o que se passou, as mudanças irrompidas e a necessidade de adaptação a novas circunstâncias.
Em relação à família Gean destacou que é bom ser o filho mais velho, porque cuida e defende todos. Ele disse que não deixa as irmãs entrarem em briga e nem briga com elas. Leva o irmão mais novo na creche e também cuida da mãe, porque a mãe cuida de todos. Nesta narrativa Gean identifica que está parentalizado, ou seja, está alçado à condição de "parceiro" da mãe nos cuidados com os irmãos (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1983). Esta constatação aumenta a percepção de que permanece em condição de risco e que, como testemunha do abuso e responsável pela denúncia, desenvolve um processo de identificação com o pai e com o lugar paterno, assumindo suas funções protetoras junto com a mãe.
Gean e as instituições que podem dar apoio
Quanto a sua relação com a escola, o desenho de Gean e a escultura da escola com massinha de modelar evidenciam as circunstâncias que o estão preocupando. Representou-se sozinho na escola, disse não saber o que acontece com ele que se envolve em tantas brigas. Os colegas xingam a ele e a sua mãe e, não conseguindo se controlar, ele bate nos colegas. Ele ama tudo na mãe e não admite que falem nada dela. Disse ainda que, se receber mais uma advertência, será expulso da escola, foi reprovado na primeira série por causa de bagunças e na segunda também, porque viajou com a mãe em função da morte de um tio. Sobre tal viagem da família, segundo informações da mãe, o motivo real foi buscar trabalho para o pai. Essa viagem foi a mesma que precedeu ao abuso sexual de Karina.
O que há de bom na escola? As brincadeiras, as professoras, estudar. E ruim? A zombaria que os amigos fazem dele. Gean disse que, apesar disso tudo, gosta muito da escola e que não tem vontade de sair dela. Também informou gostar muito da instituição que o acolhe no período datar de, de brincar no parque, do jogo de botão, moeda e dominó. Além disso, é importante ressaltar que é na escola que as crianças da família garantem as principais refeições, aspecto este informado pela mãe no GM.
A importância da escola como apoio a Gean é bastante clara e não se pode esquecer que a mãe recebeu ajuda nesse contexto para concretizar a denúncia, por meio do incentivo de uma professora. No entanto, as queixas do menino identificam como a violência presente na escola está dificultando sua permanência e melhor aproveitamento. Compreende-se que Gean tem um vínculo forte de afeto com os colegas e com as atividades escolares, mas está ressentido por não receber proteção. O ambiente na escola se mostra tão ameaçador quanto o da casa. Dabas (2005) discorre sobre a importância de a escola identificar seu lugar na rede social de pertencimento e participação social das famílias. A escola de Gean tem papel fundamental de apoio e suporte nesta fase de desorganização interna e externa em que ele vive. O território de ocupação de Gean (Dabas, 2005) inclui a escola como um lugar importante, no sentido de provê-lo de atividades que contribuem para sua organização interna, para sua diversão e sociabilidade.
Com toda razão, Rosa (2006) denuncia o quanto estas vítimas secundárias do abuso sexual estão esquecidas e não constituem prioridade nos serviços de assistência e saúde. Esta autora aponta que o fato de um irmão presenciar a cena abusiva aumenta a possibilidade da proteção se refazer em relação à criança abusada, porque os vínculos dos irmãos podem se constituir em um poder para pedir ajuda a vizinhos, por exemplo. Nós acrescentamos que a observação mais acurada do irmão na escola poderia também aumentar o âmbito desta proteção e prevenir maiores sofrimentos.
Gean e seu maior sofrimento psíquico: Amar a mãe e odiar o pai ou ser igual ao pai e ficar sem a família?
Um dado que teve destaque durante os encontros com Gean foi sua necessidade de afirmar que sente muito amor por sua mãe, ama tudo dela e não deixa que ninguém fale nada dela, que gosta de dormir com ela e o irmão na mesma cama e gosta, quando ela faz café da manhã para ele. Faleiros (2008) aponta que, neste contexto de pobreza, a relação física entre os membros da família se dá deforma próxima: os cômodos da casa não têm portas ou dormem várias pessoas numa cama ou, ainda,as crianças pequenas dormem na mesma cama que os pais ou mesmo padrastos, o que, de certa forma, favorece situações de risco à violência sexual.
Dois fatos também corroboram essas observações: o desenho feito por Gean destacava as partes genitais das figuras humanas e em um jogo intitulado de "gato e rato" (que serviu de aquecimento no GM para o trabalho sobre proteção), no qual Gean insistiu muito em ser o gato e perseguir as meninas. Em várias situações durante o trabalho no subgrupo das crianças, Gean quis repetir tal papel. Compreende-se que essas situações ilustram sua ambivalência em relação ao pai e ao ato paterno, confundindo seu papel de protetor ou agressor em relação às irmãs e que também denotam suas próprias questões frente ao desenvolvimento de sua identidade de gênero e masculinidade. Tudo isso, referenciado não apenas pelo modelo paterno de Gean, mas também pelo imaginário masculino e pela ideologia de gênero difundida em nossa cultura patriarcal e machista, que posiciona o homem no papel de caçador e a mulher no papel de caça (Saffioti, 1997).
A possibilidade de Gean conversar sobre a observação do abuso surgiu no trabalho com a história do Chapeuzinho Vermelho. Na resolução da história, ele escolheu a mãe para abrir a barriga do lobo e tirar a vovó de lá e impedir que Chapeuzinho fosse devorada pelo lobo. Assim foi possível,com muita dificuldade, dizer que o pai tinha tentado agarrar a irmã, como o lobo tentou agarrar Chapeuzinho. Gean afirmou que o pai estava errado em ter feito isso e que ele tinha que contar para mãe, demonstrando um forte laço de lealdade para com ela (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1983). Porém Gean também afirmou que não gosta do fato do pai não poder estar mais em casa, dizendo que as mulheres são contra o pai, mas os homens são a favor do pai, sabem que ele cometeu um ato errado, mas gostam dele e não o querem longe.
Para finalizar este encontro, foi pedido a ele que desenhasse o seu coração e colocasse tudo que havia nele. Gean disse que havia alegria e mágoa de um lado e tristeza e amor do outro. O lado esquerdo, no qual estavam a alegria e a mágoa, ele pintou de vermelho; o lado direito em que estavam a tristeza e o amor ele pintou de azul. Refletindo, disse que a alegria existe quando brinca, quando treina taekwondo. A tristeza está relacionada ao fato do pai ter saído de casa e, se pudesse,traria o pai de volta. O amor está relacionado à mãe e ao pai. Quando solicitado que desse um nome ao coração, escreveu "Coração sem Mágoa".
O "Coração sem Mágoa" se constitui na tentativa de apagar a experiência que lhe causa a perturbação. Novamente convém lembrar as observações de Furniss (1993), de que é muito comum o menino se identificar com o pai e defender a irmã em excesso, na tentativa de aplacar a gravidade do que o pai fez. No caso de Gean, parece que isto ocorre com toda a família. Ele expressa seu luto, sua mágoa ao se dar conta do rompimento familiar. Esta constatação indica que precisa de ajuda para compreender o que está se passando e se adaptar à nova realidade. Seu sofrimento vem também de seu conflito de lealdade: em seu sentimento e vínculo com o pai, ele o quer de volta; em seu sentimento e vínculo com a mãe, ele compreende que o pai colocou a irmã em perigo.
Rosa (2006) fala de uma irmã que foi testemunha do abuso de outra irmã e que tem medo deque o mesmo aconteça com ela, mas no caso de Gean, ele não culpa, nem se ressente da mãe, nem dos irmãos, ele apenas queria o pai de volta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Rosa (2006) tem razão em dizer que esta testemunha chave também se constitui em uma vítima e tem recebido pouca atenção dos programas de atendimentos às vítimas diretas de abuso sexual. A pouca literatura sobre o tema também reflete o desconhecimento sobre o que ocorre comesses irmãos. Furniss (1993) lembra que essa vítima não pode ser esquecida, pois ela ocupa um lugar de grande repercussão dentro da família e seu drama necessita ser considerado, correndo o risco de tornar-se invisível, uma vez que a atenção geralmente fica centrada na criança que sofreu abuso. No caso de Gean, em sua condição de pertencente a uma família com graves problemas de sobre vivência material, este drama está totalmente condicionado pela vulnerabilidade social que as carências de várias ordens promovem (Giffin, 2002). A mãe está extremamente preocupada em garantir recurso financeiro para pagar aluguel e ainda continua dependente da ajuda do pai, assim, o sofrimento de Gean fica, mesmo que momentaneamente, em segundo plano. Ela sabe que a família está vulnerável, mas tem que fazer escolhas e escolhe investir, por enquanto, em perseguir ganhos materiais.
As observações de Gean fora do contexto do GM foram realizadas durante sua participação em um programa institucional de reforço e acompanhamento escolar. É positivo ele ter essa oportunidade e que poderá, a partir do interesse dos profissionais, continuar sendo observado e atendido. Essa foi a expectativa da devolução final das pesquisadoras com a equipe: apontar com ênfase a importância que o programa tem para a vinculação de Gean com atividades mais saudáveis e de expressão de seus afetos e ansiedades. Ao final não se tem nenhuma segurança de que a mãe de Gean, apesar de toda sua boa vontade em olhar por ele, tenha energias para prosseguir em outros atendimentos.
Neste ponto, retoma-se a hipótese elaborada de que Gean, por sua grande aproximação afetiva com o pai, estava confuso em permanecer vinculado a ele, ou rejeitá-lo e se afastar, e que sua conduta agressiva identifica sua tentativa de se manter próximo ao pai. Mesmo considerando a hipótese como um construto diretriz, retoma-se as observações sobre Gean que são fundamentais para a discussão: com sofrimento, denunciou o ato abusivo do pai para a mãe e com isso propiciou a denúncia do abuso sexual; coloca-se disponível para apoiar a mãe e arrisca-se na parentalização com ela; inicia brigas com colegas na escola em defesa da honra da mãe; seu desenho indica concreta e simbolicamente a ruptura entre os membros da família e destaca seu lugar junto ao pai e ao irmão,que também mantém o vínculo com o pai; não abre mão de visitar o pai e manter-se ligado a ele.Prefere fazer o papel do "gato" na brincadeira de "gato e rato" perseguindo as meninas; informa que queria o pai em casa; declara-se a favor do pai, embora reconheça o ato violento do mesmo; afirma ainda que o pai não fez nada. Desde o começo das observações, essa confusão estava expressa em seu comportamento de dramatizar um ato sexual com a irmã; na resolução dada para a história de Chapeuzinho Vermelho, na qual o "salvador" foi sua mãe e não um elemento masculino como está expresso na história; e também nos momentos em que conseguiu verbalizar, de alguma maneira, seus sentimentos de ambivalência e de conflito de lealdade com a mãe, o pai e as irmãs. Estas observações evidenciam uma percepção de ambivalência e confusão, tanto comportamental quanto afetiva de Gean.
Para a equipe foi extremamente perturbador perceber que parece que, ao final, a visão da cena violenta do abuso da irmã, não se constituiu em algo aparentemente tão traumático, ou pelo menos, foi percebida como menos dolorosa do que a saída do pai de casa. Isto certamente se configura como algo problemático. Faleiros (2008) ressalta que, muitas vezes, a decisão de interromper a violência, significa afastar o agressor do lar e com isso surge a questão que é a permanência e vinculação com outros membros da família. Gean sabiamente encontrou uma forma de manter o vínculo com o pai, embora isto não tenha terminado com seu conflito de lealdade. Afastar o agressor de casa também implica em desorganizar aspectos internos de aproximação física e não somente afetiva. Finalmente, deve-se reconhecer que o testemunho de Gean sobre a violência sexual sofrida pela irmã vislumbrou sua condição de vulnerabilidade, seja porque acabou assumindo uma condição parentalizada com os irmãos, seja porque está instalado um conflito de lealdade no qual seu pai e sua mãe estão triangulados com ele.
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Recebido em 26/02/09
Revisto em 18/12/09
Aceito em 20/12/09
* Endereço para correspondência: Cláudia - SQN 206, Bloco K, Ap. 405, Brasília – DF. CEP: 70844-110.
E-mail: ccantel@cnpq.br; karenwm@gmail.com; lianaf@terra.com.br; karlalop@gmail.com.
1 Este texto é um recorte da pesquisa "A relação de proteção mãe e filha em famílias com história de abuso sexual infanto-juvenil", conduzida por Claudia Aparecida Cantelmo e orientado por Liana Fortunato Costa. As demais autoras foram auxiliares de pesquisa.
2 Nomes fictícios